Travessias - Diários de Campanha

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John Lessard
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Travessias - Diários de Campanha

Mensagem por John Lessard » 06 Fev 2017, 09:04

Espaço reservado para os jogadores de Mil Olhos postarem seus diários após cada sessão. Comentários são bem vindos.

Os Heróis

Halder: Humano, Guerreiro 1 - MORTO

Artorias: Minotauro, Cruzado de Tauron 2

Hanamu Senimaru: Humano, Samurai 2

Tyrnnath Agca: Aggelus, Adepto do Vazio 3

Árion: Elfo, Bárbaro da Savana 1/Guerreiro 2


Índice

Parte 1 - Mil Olhos

Carta de Fangandos, repórter da Gazeta

O Ser e o Vazio - Relatos de Viagem: Tomo I
Editado pela última vez por John Lessard em 14 Mar 2017, 16:41, em um total de 6 vezes.
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Aldenor
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Sessão 01 - Sob a ótica de Fangandos, o jornalista da Gazeta

Mensagem por Aldenor » 18 Fev 2017, 13:50

Caro editor Talarico,

Espero que este pergaminho lhe encontre bem. E creio que trago boas notícias para você, meu chefe. Tu ganhou a aposta. O rapaz quem eu investigava não passava de um borra botas. Um guerreiro humano como tantos outros, mas com cabelos vermelhos. Ora, já está na hora de pararmos de perseguir cada garoto ruivo na idade dos vinte anos achando que será quem procuramos. Cada vez mais eu fico convencido que o senhor está certo, senhor Talarico. Os Vlamingen talvez estejam mesmo acabados.

Tudo começou quando eu recebi a informação de um kobold amigo meu dizendo que um parente amigo de um goblin servo de um nobre qualquer em Valkaria comentou sobre um augúrio conjurado por uma vidente. É, eu sei, parece uma história da carochinha, mas eu não ignoraria o que essas videntes são capazes de fazer. Principalmente se tem Thyatis, o deus das profecias, no meio. Enfim, segundo a vidente contou para o nobre e que o goblin parceiro do parente do meu amigo kobold, os Vlamingen viviam. E havia pelo menos três deles vivos.

Eu pensei: “caramba, isso é um furo de reportagem, uma puta notícia”. Afinal, quem não se lembra da guerra que o ducado a leste de Valkaria sofreu? Bom, pouca gente se lembra graças às Guerras Táuricas, anos depois, mas as pessoas gostam de saber das fofocas dos nobres, não é? De qualquer forma, fui atrás dessa vidente. Gastei uma boa porção de ouro, então envio o valor anexado a este pergaminho para futuro reembolso. Ela me disse que um dos Vlamingen estava em Villent. Viajei pra lá na primeira oportunidade.

A família Melltrant é uma das mais importantes de Villent. Oswald é o atual patriarca e havia convidado aventureiros para um trabalho simples, escoltar algum carregamento de cerveja, ou algo parecido. Antes que brigue comigo sobre a escassez de informação, pense que este detalhe é irrelevante para a história do falso Vlamingen. Ah, você pode estar se perguntando, então, “por que diabos Fangandos me mandaria uma história sobre um falso Vlamingen?”. Ora, fofoca, meu caro Talarico. Fofoca.

Enfim, houve uma festa. Consegui me infiltrar com sucesso. Apesar de goblin, eu tenho boas roupas e uma carta de recomendação de um aristocrata valkariano, dos meus tempos de bardo. Oh, isto deve ser uma surpresa para você, não é? Sim, eu fui um bardo! Bom, munido de meu melhor smoking e minha carta de recomendação, fui aceito na festa de Oswald Melltrant e observei com meus vermelhos olhos que Megalokk um dia há de comer (espero que demore muito) o rapaz ruivo. Ruivo nada. Era vermelho vivo. Esse é o traço mais marcante dos Vlamingen, não é? Pois bem, o rapaz tinha tudo. Era alto, forte, vestia armadura e tinha os cabelos ruivos. Estava desarmado, mas quem estaria numa festa de gala de um nobre? O samurai, é claro. Não falei de seus companheiros, não é? Havia o samurai Senimaru, um elfo barbudo que parecia um clérigo e um minotauro sacerdote de Tauron. Pois é. Nunca nutri amor por minotauros e depois das Guerras Táuricas eu simplesmente peguei um desprezo pelos sujeitos, sabe? Mas esse tal de Artorias era calmo, tranqüilo e também estava desarmado. Sujeito simpático, conversava com anões. O samurai, o tal de Senimaru, era um homem esnobe para caramba. Sempre de narizinho em pé e carregava suas armas. O elfo barbudo – talvez um meio-elfo – se chamava Tyrnnath. Sujeito muito simpático também.

De qualquer forma, eu foquei no rapaz de cabelos vermelhos. Seu nome era Halder. Porém, se eu estivesse correto, ele seria Alandyr Vlamingen, o filho de Rhayner Vlamingen, o grande causador da Guerra da Aliança Escarlate. Observei o menino perambular meio sem jeito pelo lugar. Era óbvio que nunca tinha ido a uma festa de requinte da aristocracia. Parou para falar com outra menina ruiva como ele. Por um instante meu coração acelerou: “caramba, será que é Darla Vlamingen, sua irmã? Será que ele estava viva também?” meus pensamentos foram interrompidos quando dei uma boa olhada para a menina. Ela tinha olhos de cores díspares e era filha de Oswald. Como ela tinha olhos assim, eu não sei, não me pergunte.

Os dois pareciam que iam flertar, como dois jovens no cio, mas a confusão aconteceu. Homens e mulheres gritaram e eu quase engasguei no meu camarão. Vi homens vestindo preto e manejando adagas atacando os convidados, buscando a filha de Oswald, a menina Irulan. Os quatro aventureiros mostraram seu serviço na luta. Vi que Tyrnnath tinha uma arma oculta, uma esquisitíssima espada de lâmina brilhante, diferente de tudo que já vi. Com certeza era mágica. Senimaru logo sacou sua katana e lutou com maestria e perícia. Parecia a porcaria de um artista com aqueles golpes limpos. Coisa bonita de se ver.

Triste foi ver Artorias e o tal Halder. Que luta ruim! O minotauro deve estar condenado a fazer penitência pra sempre por sua atuação pífia. Halder deveria ter morrido ali, coitado. Pouparia do que estava por vir. Apesar de tudo, Tyrnnath mostrou tamanha perícia com sua espada mágica que eu fiquei pensando se não era um semideus, um deus menor das espadas ou algo parecido. Ele simplesmente saltava mais alto que todos e desviava de estocadas movendo seu corpo mais rapidamente do que meus olhos podiam acompanhar. Bom, eu estava debaixo de uma mesa, mas observava tudo com a acuidade de um bom jornalista.

Por fim, tudo acabou bem. Os homens encapuzados com trajes negros e pesados foram mortos. E eu acabei descobrindo que Tyrnnath era um “adepto do vazio”, uma religião bem estranha que cultua o “Nada e o Vazio”. Segundo algumas pesquisas que fiz, essa ordem é bastante discreta e tem poucos membros. Mas sempre que aparece um, coisas impressionantes acontecem.

Quando tudo parecia que ia voltar ao normal, quando eu pude sair de meu esconderijo capcioso para poder comer aqueles maravilhosos camarões, eis que Oswaldo grita por sua filha. Irulan havia sido capturada. Fiquei bem triste pela menina, mas não podia parar por aí. Sabe como sou atrevido, Talarico. Eu me enfiei entre outros convidados para ouvir que os captores haviam fugido para os esgotos. Como eu sou um jornalista experiente, já visitei muitos buracos na minha vida. Ora, eu moro literalmente em um buraco, mas isso não vem ao caso.

Segui Halder e os demais nas pontas dos pés. Eu sou bem ágil, bem furtivo, você sabe bem. Lá, o grupo se dividiu como um bom grupo de novatos em aventuras. Todo mundo sabe que não se deve se dividir. Bom, eu quase apareci para alertá-los, mas, diabos, sou um jornalista. Minha tarefa é escrever fatos, escrever histórias e não ficar interferindo. Revirei os olhos e segui Halder e Artorias para um dos lados do esgoto.

Mais pareciam uma dupla de palhaços. Eles acabaram encontrando ratos enormes. Ratazanas como daquelas que comíamos nos churrascos de Valag, lembra? Pois os dois paspalhos bateram cabeça tentando cortá-las com espada e machado! Acredite se quiser! Halder ainda conseguiu ser mordido e vi, juro que vi, sua pele ficar um pouco pálida. Pensei comigo mesmo: “O garoto ficou doente. O garoto ficou doente”. Mas aquela preocupação se tornou secundária, pois os dois gênios da batalha encontraram Senimaru e Tyrnnath em seguida e eles se jogaram na luta contra outros homens vestindo preto.

Foi só ali que percebi: eram cultistas de Sszzaas. Veja, eu tinha suspeitas, mas aqueles trajes eram tão na cara, tão descarados que eu custei em acreditar que eram mesmo os famosos sacerdotes negros. Sszzaasitas não deveriam ser mais cuidadosos, ardilosos? De qualquer forma, tinha uma imensa nagah no meio de tudo isso e Iluran deitada sobre uma mesa de sacrifício. Não, não estava nua. Aliás, nunca soube por que as oferendas em sacrifícios geralmente ficavam nuas. Afinal, é só dar uma adagada no meio do peito, não é? Com ou sem roupa o resultado era o mesmo. Bom, a nagah cultista tinha mais decência e não tirou as roupas da pobre menina.

Todos lutaram. Tyrnnath e Senimaru, como sempre, magistrais. Artorias finalmente parecia ser um verdadeiro abençoado por Tauron e lutou bem também. Até mesmo Halder não fez (muito) feio. Derrubou um cultista meio atrapalhado. Por fim, a nagah morreu. Os grandes heróis recuperaram Iluran e encontraram um pergaminho no meio da pilhagem. Uma carta. Ficaram com caras de confusos sobre o que era e eu, infelizmente, não pude dar uma boa olhada. Mas observarei com mais cautela.

O fato agora tragicômico foi o Halder. Após a batalha ele simplesmente largou seu escudo e sua espada no chão e caiu em seguida. Tonto. Febril. Ele estava pálido e deu um longo engasgo em uma espuma verde apavorante. Morreu ali mesmo.

Veja, a vidente pode estar certa. Pode ser que Alandyr, Darla ou outro parente Vlamingen estivesse vivo mesmo em Villent. Os Vlamingen sempre foram conhecidos por sua altivez e sangue de dragão forte. Não morreriam com uma simples doença de rato. Por isso, pode ser que ainda haja Vlamingen vivo por aí. Mas Halder, certamente não era um deles.

Atenciosamente, Fangandos.

P.S: precisamos marcar aquele churrasco, chefe.
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Padre Judas
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O Ser e o Vazio - Relatos de Viagem: Tomo I

Mensagem por Padre Judas » 18 Fev 2017, 15:24

INTRODUÇÃO

Permitam que me apresente. Sou Tyrnnath Agca, Iniciado da Ordem dos Adeptos do Vazio, uma organização dedicada à busca pela compreensão do maior mistério de todos: o Vazio, a entidade cósmica que envolve toda a realidade. O Vazio é uma força que dá coesão à Criação e a mantém unida. Todos estamos conectados ao Vazio, fazemos parte dele. Ele nos cerca, nos penetra, amalgama-se à nossa alma. Tudo é Vazio.

Foi-me solicitado que discorresse sobre minhas missões e aventuras, assim que o farei aqui. Espero que este documento possa servir às futuras gerações, como lições de como agir ou não agir em determinadas situações. Somos todos passíveis ao erro, mesmo os chamados Deuses Maiores. Somente o Vazio (e seu consorte, o distante Nada) é perfeito. Espero que meus erros possam ser úteis. Se com isso eu puder evitar que outros os repitam, estarei satisfeito.

Antes de começar este relato, devo falar um pouco sobre mim.
QUEM SOU

Nasci na cidade de Follen, na porção sudeste de Tollon. Minha mãe é uma elfa – o que deveria me fazer um elfo também, mas não é bem assim. De qualquer modo, não conheci meu pai. Quando nasci minha mãe era uma refugiada recém-chegada ao reino, fugindo dos terrores promovidos pela Aliança Negra em Arton Sul. Em Follen ela foi acolhida e protegida. A cultura local valoriza a proteção da mulher (eu diria que “supervaloriza” é um termo melhor, mas não estou aqui para julgar) e isso se revelou adequado à condição difícil a qual minha mãe, crescida na exuberante civilização élfica, estava submetida. Além disso, a paisagem urbana – com casas construídas em grandes árvores – relembrou minha genitora de seu passado agradável em Lenoriénn, e ela ficou.

Eu comecei a crescer naquela cidade. Desde bebê, as coisas comigo eram diferentes. Eu tinha... habilidades incomuns. E uma aparência chamativa (mesmo para um elfo). As pessoas começaram a dizer que eu era especial. Acreditei nisso quando comecei a ouvir uma voz em minha mente infantil, me dizendo que eu possuía um raro dom – e que precisava aprender a controla-lo ou seria dominado por ele. Com aquela voz comecei a aprender. Sobre quem eu era. O quê eu era. E, aos sete anos de idade, a voz veio até mim. Em carne.

Kreia Agca era uma humana que chegou à Follen nessa época. Eu senti sua presença antes de vê-la e soube quem era assim que a encontrei pessoalmente pela primeira vez. Eu brincava de bola na rua e ela estava lá. Eu a cumprimentei formalmente, despedi-me de meus amigos e levei-a para casa.

Minha mãe não aceitou aquilo muito bem de início. Eu era seu filho e éramos somente nós dois – ela nunca colocou um homem dentro de casa, embora houvesse muitos pretendentes. E agora eu devia partir. Para aprender. Crescer. Para ser o que sou hoje.

No fim nós a convencemos. Eu sabia que tinha que ir – embora não quisesse partir. Aquilo era importante, eu não podia virar as costas para meu futuro. No dia seguinte eu fui embora com minha mestra. Não olhei para trás. Se o fizesse, teria voltado.

E viajamos. Para muito longe. A maioria não sabe, mas há mundos além deste. Vários deles. Governados pelos ditos “deuses” ou por outras entidades. Mundos de energia. De fogo, água, terra e ar. Mundos desertos. Mundos mortos. E há Skerry. Um mundo destruído.

Em Skerry fui acolhido no Monastério Yao, sede de nossa Ordem. Ali fui educado no básico, como um Noviço. Aprendi a ler, escrever e fazer contas. Aprendi os fundamentos de minhas habilidades inatas. E descobri o que eu era. O filho de um ser celestial. Um aggelus. Meu pai provavelmente era um anjo de Nivenciuén. Meu pai provavelmente está morto, destruído pela Tormenta.

Mas não há morte, há o Vazio. Tudo é Vazio. Exceto a Tormenta. Mesmo na Ordem não sabemos exatamente o que a Tormenta é. Sabemos apenas que é uma abominação, uma existência além do Vazio. Algo que deve ser destruído. Mas a Tormenta está aqui. E aqui, no Vazio, a Tormenta está em desvantagem. Podemos vencê-la. Basta melhorar nossa compreensão do Vazio e então poderemos usar sua força para expurgar o mal de nosso mundo. De todos eles.

Uma vez terminado meu treinamento básico, Mestra Kreia retornou e me tornei seu Aprendiz. Foi um bom período. Minha Mestra é uma mulher que sabe temperar rigidez e ternura. Eu a admiro. Tanto que tomei seu sobrenome como meu – um elemento do nome que não existe entre os elfos.

Meu período como Aprendiz terminou. Obtive o direito de portar meu sabre de luz e seguir independente pelas estradas da Criação. Mas não sozinho – nunca estamos sós. Somos o Vazio.

E foi assim que recebi minha primeira missão. Estava em Valkaria, em uma das capelas da Ordem (um pequeno prédio perto da estátua – venha nos visitar se quiser, quando quiser), quando o Mestre Kol, o responsável pelo local, veio me dizer para ir até Villent, auxiliar um antigo benfeitor de nossa Ordem. Assim parti para aquela cidade. Somente não sabia qual a natureza da minha missão.
A PRIMEIRA MISSÃO

Na cidade, bem próxima à fronteira de Yuden, não foi difícil encontrar a mansão do Senhor Oswald Meltrant. Ao chegar fui levado a um escritório onde havia outras duas pessoas. Posteriormente chegaria uma terceira. Um humano branco, típico do Reinado, um tamuraniano (pelos traços e vestimenta) e um minotauro.

O primeiro se apresentou simplesmente como Halder, um mercenário. O tamuraniano era um samurai chamado Hanamura Senimaru. Pelo porte e alta qualidade das roupas (e da bainha da espada que levava à cintura), me pareceu um nobre – ou pelo menos alguém adaptado ao refinamento de uma corte. Achei curioso que tal indivíduo estivesse por aqui considerando que os tamuranianos estavam reconstruindo sua nação, mas nada disse.

O terceiro, o minotauro, chamava-se Artorias. Um sacerdote de Tauron. Embora os deuses empalideçam diante do Vazio – ao qual todos pertencemos e no qual somos um – eu conheço alguma coisa da religião tapistana dado que meu padrasto é um minotauro devoto, embora não escravagista. O minotauro não parecia particularmente proselitista. Suponho que prefira que sua fé fale por seus punhos, como parece comum entre os devotos do Deus da Força.

Conversamos um pouco, apresentando-nos, quando o Senhor Meltrant apareceu. Ele nos cumprimentou e falou sobre a missão: uma escolta de um carregamento de vinhos. Não posso negar que aquilo pareceu pequeno e que a Ordem bem poderia ter me oferecido um desafio mais... adequado. Mas talvez fosse uma importante lição de humildade e contive meu desapontamento.

Fomos informados de uma festa à noite – à qual estávamos convidados – e que partiríamos no dia seguinte. Como havia ainda muito tempo até lá, propus a mim mesmo passear pela cidade e conhece-la melhor. Os demais também seguiram seus próprios rumos. Hm... talvez fosse melhor se tivéssemos ido a uma taverna conversarmos, mas não sou o melhor no que se trata de puxar conversa com desconhecidos e temas menores que podem agradar mercenários e guerreiros me enfadam rápido.

Na festa não havia muito a se fazer. Caminhei um pouco pelo salão, cumprimentando as pessoas. Algumas correspondiam, outras me ignoravam. Nada inesperado. Então notei algo errado. Alguns homens portavam armas – cuidadosamente ocultas em suas vestes. Alguns guardas se moviam de forma estranha, como se assumissem posição. Para o quê? A filha do Senhor Meltrant, Irilan, conversava com Halder e depois saía. O rapaz parecia encantado com as mulheres locais e não estava atento à sua volta, mas percebi que os outros dois também notaram problemas. Meu sabre já estava em minha mão quando caiu a primeira vítima – um homem foi trespassado por um guarda. Começava o combate.

Sinto-me aqui impelido a abrir parênteses em meu relato. De todos os primogênitos do casal primordial, nenhuma criatura é tão triste quanto Sszzaas. Não que Keenn ou Megalokk – ou Ragnar – estejam muito longe. Os dois primeiros praticam a autoimolação com sua violência descerebrada enquanto o último, coitado, rege o que nem mesmo existe. Mas Sszzaas é algo realmente patético. Tudo é Vazio, disto nós sabemos bem. Logo, trair ao próximo é trair a si mesmo. Uma criatura que trai a si mesma é, no mínimo, tola. Eu tenho pena deste deus e seus devotos, atolados em ignorância.

De qualquer modo, foi uma luta razoavelmente difícil. O Vazio estava comigo, é claro. Um poderoso aliado ele é, como ouvi dizer um velho mestre goblin. Derrotei meus primeiros oponentes com certa facilidade, aparentemente magos com adagas, mas então encarei os lanceiros que já haviam derrotado o jovem mercenário, Halder. Eles eram hábeis, mas consegui vencer com a ajuda do samurai. No fim havia muitos cadáveres pelo salão – e nosso anfitrião gritou histérico. Haviam sequestrado sua filha. Rapidamente vasculhamos os corpos de nossos inimigos em busca de pistas e encontramos um medalhão que indicava atuação sszzaasita. Nós seguimos sua pista através dos esgotos e criptas antigas que existiam no subsolo da cidade. Chegamos a um fosso que se revelou complicado para ser cruzado por dois de meus colegas, assim Halder e Artorias decidiram entrar no mesmo e ir por baixo. No caminho enfrentaram ratazanas e Halder acabou por contrair uma doença – ele saiu do buraco pálido e um pouco... fatigado. Mais do que deveria. Infelizmente este seguidor do Vazio nada pode fazer para ajuda-lo.

Apesar de estarem em menor número, sobreviveram – por um tempo, pelo menos. Chegamos até uma grande câmara onde um ritual sszzaasita era realizado. Enfrentamos os cultistas, liderados por uma nagah, e os derrotamos. No corpo da tola encontramos uma carta escrita em um pergaminho. Fazia referência a um lugar chamado Tranco do Saltimbanco e a clériga deveria encontrar algo lá.

Conseguimos resgatar Irulan, mas a tragédia se abateu sobre nós. Halder, adoecido, caiu logo após a vitória. Trouxemos seu corpo de volta. Jovens guerreiros sofrem deste destino todos os dias, eu sei, mas não deixa de ser lamentável. De qualquer modo, ele uniu-se ao Vazio. Espero que encontre paz no Todo. Ou talvez alguns dos ditos “deuses” recolha sua alma e lhe dê uma segunda chance em algum de seus paraísos particulares. Não tenho como saber.

Tendo enterrado nosso jovem e recente aliado e devolvido à garota ao pai, cabe agora descobrir o que é este Tranco do Saltimbanco e o que a clériga queria lá. Talvez os mestres tenham alguma informação que possam nos fornecer.
BAÚ DO JUDAS
JUDASVERSO

Alexander: Witch Slayer [Kaito_Sensei]
Dahllila: Relíquias de Brachian [John Lessard, TRPG]
Jonz: Tormenta do Rei da Tempestade [John Lessard, D&D5E]
Syrion: Playtest T20 [Aquila]
Takaharu Kumoeda: Crônicas do IdJ [Aquila]
Yellow: Defensores de Mega City [John Lessard]

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