Contos de Gelo e Vingança

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Greerlan Nerlee
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Contos de Gelo e Vingança

Mensagem por Greerlan Nerlee » 25 Mar 2017, 15:19

Prólogo: Pleno e Imortal

Era um salão oval amplo, com quatro arquibancadas em arco de frente para o trono de raízes e caules trançados, adornados por folhas de várias cores.

Frente a cada arquibancada se erguiam estátuas das quatro divindades que norteavam aquela civilização:

A principal era representada como uma elfa de feições suaves e expressão altiva. Tinha curtos cabelos púrpuros. Estava sob uma armadura leve e portava um arco tensionado pelas duas mãos. Era Glórienn, a mãe genitora, a quem atribuíam a criação da raça e de toda a perfeição que a marcava;

A outra era também uma elfa de expressão serena. Vestia um manto aberto de folhagens que a deixava semi-nua. Os longos cabelos castanhos cobriam-lhe os seios simétricos e dela parecia emanar uma aura viva e esverdeada. Era Alihanna uma das mães provedoras, senhora das florestas a morada élfica. Os elfos atribuíam à natureza o dom da vida, ao contrário dos humanos que atribuíam o dom da vida à Lena;

O terceiro era um elfo de cabelos negros esvoaçados, de traços marcantes e expressão agressiva. Vestia uma armadura completa e segurava firme uma espada longa com as duas mãos. Keen, o pai guerreiro e estrategista a quem atribuíam, junto a Glórienn, os sucessos na guerra dos mil anos.

A quarta era uma elfa de longos cabelos negros e pele muito alva, de olhos completamente negros assim como o manto que a cobria era negro e cintilado de preciosidades brilhantes, como estrelas em um céu noturno. Tennebra, a outra das mães provedoras, a quem atribuíam os dons da visão no escuro, para que pudessem viver os segredos da noite.

Atrás das estátuas, nas arquibancadas, estavam os membros do clero de cada uma das divindades bem como alguns membros de alta patente do exército.
Do trono, Kinlanas ouvia um relatório de guerra:

-(...) Exatamente, vossa alteza. São aproximadamente cinquenta mil. Parecem ter se dividido, há uns trinta mil acampando a sete dias da floresta e outros vinte mil estão vindo na frente.

- Perfeito, general. Mobilize as linhas de contenção na floresta. Neutralizem a primeira horda, dentro da floresta eles não podem manter formação. Não quero nenhuma baixa!

- Vossa alteza, por favor. – Era um sacerdote atrás da estátua da mãe natureza.

- Sim, conselheiro.

- Há meses Razlen Greenleaf nos avisou. Através dos dons concedidos por Alihanna, seus espiões eram insetos e animais. Ele nos entregou o panorama dos inimigos, seus números, suas armas de cerco, catapultas, aríetes, serras de tração animal. Já derrubaram seis reinos humanos!

- Sim. São informações valiosíssimas, devemos muita gratidão a Razlen Greenleaf. Também por isso eu sei como anulá-los e enfrentá-los. Superioridade numérica é alguma surpresa? Há mil anos estas aberrações trepam e se reproduzem como animais no cio. Só não cobriram cada palmo da terra porque a cada geração eles vêm aos milhares encontrar a morte.

- Mas e Ironfist, senhor? E a profecia? Dessa vez é diferente. Duas das três se manifestaram, meu senhor. A natureza e a noite vem dizer que, para o nosso bem, busquemos refúgio e aliança com os reinos do norte. Pela primeira vez em mil anos, isso não é nenhuma vergonha.

- Então deixamos Tanya como brinquedo daquele demônio? Tapamos nossos ouvidos aos conselhos da mãe genitora e do pai guerreiro que nos conduzem ao sucesso já há mil anos, para ouvir divindades auxiliares e mendigar exílio entre... humanos, como sugeria Razlen Greenleaf?!

- Não, senhor. Estou pronto para morrer pelo que acredito.

- E em que você acredita, conselheiro?

- Que nada pode parar os verdadeiros defensores deste povo, Lord Kinlanas. Que se cumpram as suas ordens.

- Ótimo, D’erleon. Reunião encerrada, amados. Que a mãe genitora nos abençoe



(...)



- Chegou um falcão mensageiro para o senhor. Parece ser do sumo-sacerdote.

Os dias naquele acampamento passavam vagarosos. Ele ansiava pela chegada dos sumo-sacerdote e general, mas o falcão acabou sendo satisfatório:

“ Prezado comandante Holgor, temos progressos interessantíssimos aqui. Precisaremos de mais algumas noites antes de partir. O general pede que você conduza os primeiros ataques e o avanço do cerco da forma que desejar. Em trinta dias nos juntaremos a vocês. Que você honre a morte com sangue inimigo, ou ela lhe honre com o seu.”

- Enviem os gnolls incendiários e as tropas de apoio! Vamos começar a cansá-los!



(...)




E a lua cheia iluminava um céu límpido e estrelado em Okho’gala, o mais alto monte em todo Lamnor. Dali de cima se podia ver as ruínas do que outrora foram grandes reinos humanos. E uma mancha que vibrava e se movia como sombra, bem ao norte, antes da mancha oposta que era Myrvallar. O cume era quase plano, com uma grande cratera cavada ao centro.

Vinte bugbears tocavam imensos tambores, vestidos de peles, com mascaras de ossos. Seis humanos aguardavam nus, vendados e amordaçados. Todos portavam suas coroas, resquícios do que havia sido consumido em chamas.

Eis que um bugbear de pelos e cabelos longos e muito brancos, portando um cajado bem seguro por uma mão repleta de anéis de ouro e rubis, como a outra que segurava um cálice trabalhado em crânio humanoide, projetava sua voz que ecoava em um dialeto muito antigo e pouco conhecido, secreto, revelado apenas à raça eleita.

Assim chegou ao cume um bugbear cujo tamanho superava em duas cabeças o tamanho do mais alto entre os que tocavam tambor. Ele avançou à passos firmes, contraindo e firmando cada músculo bem desenhado e recoberto de pelos aparados. À cabeça os cabelos negros e castanhos tramavam dreadlocks grossos, amarrados ao centro das costas.

A mão trazia a corrente com a qual ele arrastava uma jovem elfa de beleza plena, esfolada, mas serena.

E os tambores se intensificaram, e o céu enegreceu-se ali. Raios e trovões ilustraram uma tempestade que caiu e em pouco tempo encheu a cratera.

Então o sacerdote degolou um por um dos reis e os jogou às águas da cratera e o sangue se misturou às águas em um vermelho ralo.

- Sangue de seis linhagens reais humanas. E agora... – Ergueu a mão da elfa por sobre a cratera e, usando a unha aguda e alongada, a perfurou derramando gotas. – Sangue da linhagem real élfica, nossa valiosa Tanya. – As águas da cratera borbulharam em um escarlate vivo.

O gigante soltou a corrente e saltou mergulhando de ponta. Emergiu banhado em sangue, de pé dentro da cratera e o sacerdote sorriu e encheu o cálice. Ironfist bebeu.

- Pleno e imortal! Contemplem o escolhido! A sombra da morte!


(...)


- Vossa alteza Kinlanas, já são quinze dias de enfrentamento incessante. Eles ateiam óleo e fogo à cada ataque, os elementalistas precisam de descanso, já estão esgotados.

- Façam isso. Recuem dois anéis de contenção, obriguem eles a entrar na floresta. Estando eles próprios nela não terão coragem de continuar incendiando. Na floresta eles não tem como manter formação, eles vão se dispersar e cada um dos nossos valerá dez deles.


(...)


Dias depois, um esquadrão de trinta elfos recebeu ordens de acabar com uma tropa goblinóide.
Era Lannoráh’Nerlee o então capitão e seus filhos, o mais velho, Greerlan’Nerlee, e o mais novo, Allecsi’Nerlee, soldados sendo este ultimo um batedor. D’erleon era o primeiro tenente, segundo em comando e o melhor amigo de Lannoráh.

E armaram uma emboscada baseada na informação do batedor Allec de que a tropa de goblinóides estava em uma determinada região da floresta de Myrvallar.

Aconteceu que ao se prepararem sobre as árvores, foram surpreendidos por uns cem goblinóides que pareciam já saber a posição e o tamanho do grupo élfico.

Um combate intenso teve início. Os elfos conseguiam reduzir os números inimigos em maior proporção que os inimigos reduziam os seus. Quando restavam aproximados trinta hob-goblins e dezoito elfos, os líderes de cada parte se enfrentaram em um embate central que pareceria decidir o rumo da batalha.

Lannoráh alternava entre distanciamentos com ataques mágicos e aproximações cruzando sua espada contra o machado do inimigo que abusava de força e ferocidade, mas vinha se cansando e se tornando mais lento.

Quando o capitão finalmente conseguiu desarmar o goblinóide e estava prestes a desferir o golpe final, sentiu algo entre as costelas tirar-lhe o ar.

Greerlan quase enlouqueceu ao ver lâmina da adaga de D’erleon atravessar as costas do pai, seus olhos acusavam alguém que ele não podia acreditar.

- Por que?! – Ele gritou avançando contra o elfo e ouviu a resposta de instantâneo:

- Por liberdade! – Era a voz de Allec, acompanhada de um forte impacto na cabeça do jovem Greerlan, que caiu desacordado.



(...)



As torres de Lenórienn eram reflexo do orgulho élfico. Caíam uma a uma perante a superioridade bélica da Aliança Negra e suas armas de cerco. Os muros ruíam quando, na praça central, a esperança se acendia novamente:

- A mãe genitora ouviu nossa prece! A divina Glórienn se manifestou entre nós! – Exclamavam os sacerdotes. E de fato uma elfa de cabelos púrpura tomou o protagonismo defensivo fazendo chover flechas sobre as tropas inimigas.

Lançou-se em um salto colossal e encontrou a mais alta torre de defesa, tencionou o arco e soltou: dezenas de setas carregadas de energia elemental explodiram contra as armas de cerco inimigas. Outro salto e uma queda em rolamento, mais setas estilhaçavam energia arcana entre as linhas da Aliança Negra. A infantaria a alcançou, reduziram o espaço. Com um giro ela guardou o arco, com outro ela sacou as duas espadas com as quais cortou e feriu inimigos às dezenas.

Acelerou em uma marcha assassina, decepando e decapitando tropas góblins, orcs, gnolls, hob-góblins, bugbears e tudo o que compunha aquela ofensiva maçante.

Não piscava, não ofegava, não suava.

Os goblinóides vinham cada vez em maior número encontrar a derrota frente a elfa que parecia inigualável.

Então seus olhos encontraram o que procurava. Ela recuou veloz e saltou novamente para o alto da torre.

O braço tencionava e soltava a corda e as flechas elementais voavam às dezenas, mas encontravam-se contra um machado de lâmina negra que ziguezagueava no ar, empunhado por gigantescas mãos rudes e grossas, parcialmente recobertas de uma pelagem marrom.

Por de trás do machado um sorriso de caninos pontiagudos se alargava no enorme rosto de maxilar largo e quadrado somado a um olhar que parecia recoberto por um sombrio sobrenatural. Uma cicatriz trespassava a sobrancelha grossa e arqueada que terminava na testa onde os pelos marrons cresciam e se enegreciam à medida que se tornavam cabelos tramados em dreadlocks longos, adornados por anéis de ossos e madeira.

Uma das flechas acertou-lhe o ombro e um choque elétrico percorreu o corpo rígido de musculatura muito inchada e cheia de veias aparentes.

Um segundo de hesitação e então a ferida ardeu em brasa, a flecha começou a se desintegrar e a ferida parecia cauterizar enquanto uma fumaça subia da pele reconstituída – Era Gaardalok e suas magias nefastas dando suporte ao general.

Isso se repetiu por várias vezes enquanto o bugbear avançava cidade a dentro, até que os elfos interviram em favor da deusa, confrontando Gaardalok. O clérigo da morte foi obrigado a se concentrar na sua própria batalha e Ironfist perdeu potencial de regeneração.

Embalado, por onde passava o general agarrava um refém, elfo ou goblinóide, e o utilizava como escudo às flechas que os explodiam e o laceravam. Nada que abalasse sua força de vontade.

Chegou ao pé da torre, a golpeou com força miraculosa e as bases cederam trazendo-a para baixo. Glórienn saltou e começou a correr de costas, Ironfist a perseguiu. Ela empunhou as espadas e trocou golpes contra o machado. O general levou vantagem, pela primeira vez a elfa suprema ofegou.

Ela saltou para trás, empunhou o arco e o tencionou ao máximo, mas desta vez mirou o chão imediatamente à frente do general. A explosão criou uma cratera, Ironfist pisou em falso e foi de encontro ao chão.

“Vitória” Imaginou a divindade que pisou no pescoço do bugbear. Um segundo de silêncio total em todo o campo de batalha:

Glórienn sorriu, tencionou mais uma vez o arco e magicamente uma flecha se materializou do arco e atravessou a musculatura do peito e as costelas para atingir o coração do bugbear. O sangue negro escorrendo pelo chão.

– VITÓRIA! – Exclamou um dos elfos que confrontava Gaardalok.
O clérigo da morte riu o que pareceu um grunhido: – Rrrr. Pleno...

Glórienn virou-se e fez mira contra o velho bugbear.

-... E IMORTAL! – Exclamava um surpreendente Ironfist. Um movimento abrupto. Uma das grotescas mãos pressionando o pescoço da deusa, a outra à cabeça – CRECK – O estralo dos ossos se partindo se repetiu três vezes. – RAASG – A carne se rompeu e Ironfist ergueu a cabeça de Glórienn.

Era o fim de um milênio de guerra.

Era o início da guerra que tomaria a tudo e a todos.


(...)



A cabeça latejava quando ele arregalou os olhos e se levantou em ofego. Lembrou de toda a batalha, da punhalada nas costas, queria que não fosse D’erleon, queria salvar o pai... Mas tudo o que via eram elfos desolados em porão de madeira que ia e vinha. Estavam em alto-mar.

- Que bom que acordou, jovem Nerlee. Pensamos que perderíamos você. – Dizia um rosto octogonal de maxila larga, bem familiar: Lennendell, um druida servo de Alihanna e conselheiro real. Ou melhor, Lennendell, mais um sobrevivente.

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