Conto de Campanha II

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LordThwor
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Conto de Campanha II

Mensagem por LordThwor » 10 Out 2017, 22:33

Boa Noite!

Este é outro conto que faz parte da mesma campanha. A história do conto pertence a quarta campanha da série. A primeira campanha (sendo romanceada no wattpad) recebeu o nome de Eterno Maelstrom. A segunda parte Eterno Maelstrom: Continente de Celestia (com material apenas no drive ainda). A terceira parte foi Eterno Maelstrom: O Retorno do Senhor dos Bruxos. A quarta e mais recente parte recebeu o nome de Eterno Maelstrom: O Legado da esperança e da dor. Começamos essa jornada lá em 2002, então, temos muitos textos, personagens, desenhos, mapas e por aí vai. Na medida do possível, vou atualizando o cenário aqui. E quem sabe tocando adiante o projeto Eterno Maelstrom: A Era dos Deuses Exaltados. Vai saber, né? Hoje vai mais um conto. Valeu!

VERDADES E ILUSÕES

O exército estava descansando. O ataque dera ótimos resultados. Tinham espólios de sobra para todos os gostos. Tinha comida, ouro, prata, armas, plantas, bebidas, mulheres e tudo que pudesse dar prazer ao grupo de bárbaros. O espírito deles estava renovado graças a presença do Senhor dos Bruxos no final do ataque. Ainda assim seus corpos não estavam suportando corretamente o cansaço da batalha. Krang, como de costume, estava reunido com seus principais capitães ouvindo bravatas da invasão. Era um momento de prazer para o líder dos bárbaros, pois ele conseguia ouvir o maior número de mentiras em pouco tempo. Achava engraçado ouvir a conversa de seus homens enquanto fazia um desjejum. Embora Krang fosse o mais impiedoso dos bárbaros do mundo, ele sabia ser um comandante confiável a seus homens. Seu principal Tenente era o único que ainda pensava na invasão.
O homem caminhava entre o que restara do ataque e conferia se os espólios haviam sido totalmente retirados e se realmente não havia sobreviventes. A maioria dos seus colegas já estava descansando perto de Krang, mas o tenente caminhava com sua expressão fechada entre os escombros do que havia sido a cidade. Ainda conseguia ver os mais sádicos de seus colegas testarem os limites de dor dos corpos de suas vítimas, via alguns dormirem pesadamente, outros agonizando e até mesmo alguns revezando o uso das mulheres que ainda estavam vivas. Nada disso abalava o homem que andava resoluto. Como última conferência foi até onde seu Comandante aproveitara de seu espólio. Dificilmente Krang deixava para trás seus prêmios, mas uma última conferida não seria o problema. O tenente reconheceu sinais de luta dentro da casa. Certificara-se que seu líder aproveitara da comida e bebida da casa. Não havia sinal de metais, o que indicava que ele também já retirara os objetos que considerava de valor. A única coisa que ainda estava no lugar era o corpo da menina que ele próprio escolhera para seu comandante. A garota estava completamente nua. Seu corpo não escondia as ações de Krang. Havia muito sangue espalhado pela cama e no corpo dela. A concentração de sangue no ventre e em especial no rosto davam uma pequena idéia de como Krang serviu-se de seu presente. O Tenente não se abalara com aquilo. A garota havia tido sorte ao morrer ou a pelo menos ter feito o Krang acreditar nisso.
Já estava saindo da casa quando ouviu um ruído vindo de dentro. Ele concentrou sua atenção em ouvir tudo o que podia. Ouviu uma voz baixa orando. Ele teve a certeza, para sua completa incredulidade, que a voz vinha do corpo da garota. O Tenente acertara. A menina orava baixo e tentava fazer sua prece sem ter as pausas que suas lágrimas acabaram forçando. O Tenente aproximou seu ouvido dos lábios vacilantes da jovem vítima. O corpo dela contorceu por puro reflexo ao perceber a presença de alguém. O Tenente não impediu os movimentos do corpo.
Sem entender claramente o que ela dizia, o homem sacou sua espada e preparou um golpe final. Acabaria de vez com a dor dela. Assim ele estava sendo misericordioso, pois se Krang soubesse que ainda vivia faria uso do corpo até ter a certeza que estava morta ou além disso. A garota parecia entender o que estava acontecendo mesmo sem conseguir ver nada. A oração dela aumentou de tom e velocidade, mas era tarde, pois a espada dele estava em ponto alto pronta para um golpe direto e rápido entre o pescoço e a cabeça dela. Mesmo com todos os anos de batalha sem jamais hesitar no momento do golpe final, o homem reteve seu braço. Ele a ouviu dizer:
- PAI! Por favor, me salve. EU IMPLORO, PAI! DÉRIS! ME AJUDE POR FAVOR! – Pela primeira vez depois de tanto tempo de súplica quase silenciosa, o nome clamado realmente salvou sua vida. O Tenente baixou o braço suavemente sem aplicar o golpe final. Ele estava impressionado com o que ouvira. Ele conhecia o nome que ela chamava. Sabia o motivo dela fazer aquela súplica e não conseguia mover-se pra matá-la. A garota passou a chorar enquanto o Tenente refletia sobre o que ouvira. Após alguns momentos sem ação ele tomou uma iniciativa. Jogou algumas peças de roupa em cima do corpo dela e a pegou cuidadosamente em seus braços. Ela tentou reagir, mas estava fraca demais para uma ação eficaz.
O Tenente levou a garota até Krang. Os demais bárbaros silenciaram com a chegada dele e da menina. O líder dos bárbaros percebeu a tensão de seus homens e deu atenção ao Tenente.
- Quero pedir permissão para utilizar esse corpo. – Falou resoluto.
- Quer levar meu presente de volta? – Inquiriu Krang
- Não é isso. Essa garota não está morta e quero autorização para levá-la até os cuidados de minha mãe. – Insistiu
- Sua mãe? Jamais! Esse corpo me pertence e se ainda há alguma utilidade nele também é minha! – Falou Krang mais alto.
- Ela deu o nome Déris. – O Tenente falou e depois encarou o bárbaro. O Homem fez um silêncio para poder organizar melhor suas próprias idéias. Krang recordava do nome. Ouvira a garota chamá-lo, mas não dera-se conta de que o nome era conhecido do Tenente. O garoto sabia que o silêncio de Krang era uma resposta para a dúvida então insistiu.
- Krang, eu sirvo a você muito antes do que eu possa me lembrar e nunca pedi nada. Peço que deixe-a ir morar com minha mãe, pois a presença dela aqui será um problema para nossa campanha. Deixe-me levá-la até nossa casa e volto para servir sem jamais pedir nada novamente. – Falou o esperançoso Tenente. O bárbaro continuou pensativo. Realmente o Tenente jamais havia feito um pedido por uma vítima, mas também nunca pedira para voltar até sua mãe sem motivo. Krang decidiu:
- Você tem três dias de espera. Partiremos no terceiro dia com um tenente em frente dos homens. Entendeu? – Krang permitira, mas impusera uma condição. O Tenente entendeu o recado por isso foi direto para uma carroça próxima e arrumou suas coisas para a viagem.

A estrada não é a melhor das companheiras quando se está com pressa. Disso, o Tenente já sabia, mas nada podia fazer. Ele tinha a difícil tarefa de chegar até a casa de sua mãe e ainda voltar sem correr o risco de perder seu cargo. Krang tinha poucos momentos de compaixão e bondade, e aquele havia sido um. Era prudente aproveitar. A garota, ao perceber que estava em viagem parou de chorar. O Tenente então permitiu que tirasse a venda que ele mesmo pusera em seu rosto quando entregou a menina ao seu comandante. Ela tentou uns golpes quando percebeu a aproximação de alguém, mas foi completamente em vão igualmente a todos os outros.
Ela percebeu o ato e virou-se imediatamente para o tenente que conduzia a carroça. Ele observou os olhos da garota. Eram verdes como as folhas das árvores de inverno e isso contrastava de forma muito gentil com a cor de pele dela. Um bronze delicado acostumado com a presença do sol. Típico dos bárbaros das áreas selvagens. A garota já não chorava mais. Estava assustada com aquele homem calculando seu corpo totalmente. No meio da estrada seria fácil tentar escapar dele se tentasse algo, mas em curto prazo seria mais uma tentativa inútil de fuga, pois ela jamais conseguiria superar a velocidade do cavalo.
Instintivamente ela tomou uma posição de luta e cerrou o olhar. Era um desafio na linguagem das batalhas e em geral deve-se temer alguém que faz isso. A garota, ferida, desorientada, cansada e faminta não oferecia risco algum. O Tenente puxou sua mochila e jogou ração para menina. Ela desconfiou, mas ele falou sem olhar para ela: - Se estiver com fome, coma. Se não quiser devolva. – Ela ficou desconfiada, mas a fome pode ser bem persuasiva e complacente quando quer. Ela cedeu de sua posição de luta e pegou a comida. O cheiro da comida, mesmo seca e em pequena quantidade, criou uma besta descontrolada dentro da garota. Em poucos instantes ela engoliu quase toda a porção de um dia. O Tenente também ofereceu água e ela secou o cantil. Depois da refeição rápida ela silenciou olhando a estrada. Foi a primeira vez que ela percebeu que não estava mais amarrada.
- Aquele nome que você falou. – Começou o Tenente. – Quem era? – Ela, por reflexo, encostou suas costas o mais afastado que podia do condutor antes de responder.
- É o maior feiticeiro que as terras selvagens já conheceu. E é meu pai. – O Tenente pareceu tomar um golpe de faca quando ouviu as palavras da menina.
- E ele lhe atendeu? O maior feiticeiro da terra selvagem ouviu seu chamado? – Provocou o tenente.
- Ele... ele... ele deve estar ocupado salvando o mundo mais uma vez. Deve estar derrotando dragões de outros mundos, tiranos poderosos, arcanos imortais e outras coisas mais importantes do que... do que... eu...
- Seu pai não a ouviu e nem nunca lhe ouvirá, criança. E sabe por quê? Por que ele não se importa com você. Se é que sabe que você existe. – Falou de forma bem confiante o Tenente. Isso deixou a garota ofendida.
- Você não o conhece! Ele me escuta sim. Sabe de mim e virá me salvar quando tiver tempo! Você será o primeiro que ele queimará com raios saídos dos seus olhos e depois ele virará um imenso dragão para comer essa sua cabeça oca! – Falou a garota com voz bem alterada. – O Tenente pareceu receber um novo golpe, mas dessa vez mais fundo.
- CRIANÇA TOLA! Não conhece a fama de Déris nessas Terras? Nem mesmo sabe os males que ele causou em todos os lugares pelo qual passou. Tem idéia de quantas famílias ele destruiu? Quantas pessoas ele fez infeliz? OLHE A VERDADE GURIA! – Esbravejou o bárbaro.
- CALE-SE CRETINO! MEU PAI VIRÁ DOS CÉUS E QUEIMARÁ VOCÊ E SEUS AMIGOS BÁRBAROS COM BOLAS DE FOGO DO TAMANHO DA LUA E FARÁ VOCÊ E OS CÃES MALDITOS DE KRANG SE ARREPENDEREM DE TUDO QUE FIZERAM A MIM E MINHA FAMÍLIA! PROVARÁ QUE VOCÊ MENTE, VERME IMUNDO! – Era a primeira vez que a garota reagia e isso lhe deu confiança, pois pôde entender que o bárbaro era ferido com palavras. Talvez ela pudesse enfim vencer uma batalha.
- VOCÊ NÃO SABE QUEM SEU PAI É. CALE-SE VOCÊ CRIATURA ESTÚPIDA. – O homem também gritava.
- VOCÊ NÃO O CONHECE, NÃO PODE FALAR NADA.
- EU O CONHEÇO MELHOR DO QUE VOCÊ.
- MENTIROSO! DIZ ISSO PRA ME ASSUSTAR E DESACREDITAR NELE!
- ELE É MEU PAI! – O bárbaro gritou. A garota não reagiu. Ficou surpresa com a frase do homem. Ele repetiu mais algumas vezes essa frase antes de ter alguma outra iniciativa. Ela tinha dúvidas sobre a verdade do que ele disse, mas refletiu sobre as iniciativas dele durante a conversa e como era atingido quando falavam no pai. Acreditou ser verdade.
- Eu não sabia de você. Não me culpe pelo que aconteceu a você. Isso poderia ter sido evitado se você soubesse a verdade sobre seu pai.
- E seu também. – Apunhalou a garota.
- Meu pai é Krang. Ele me criou, ele me viu crescer, ele me amparou e ele fez de mim um homem. Déris só me deu vida e nem deve saber disso. – A garota não falou mais nada. Pensava em tudo que acontecera a ela. De todas as vezes que chamou pelo seu pai e ele não ouviu. Pensava que a vida do tenente tinha sido difícil e Déris também não o ajudou. Não queria acreditar que sua mãe mentira tanto tempo a ela. Que fizera acreditar numa lenda que era na verdade um grande engodo. Ela tomou coragem para voltar a falar.
- Para onde estamos indo?
- Para a casa de minha mãe.
- Por que?
- Se você ficar entre nós, Krang vai usar o seu corpo até vê-la morrer ou se cansar de você. E caso isso ocorra, você será dada aos demais bárbaros como escrava. Acredite em mim: você preferirá a morte.
- Sua mãe sabe de... nosso... pai?
- Tanto quanto você. A diferença é que ela não crê nas mentiras que lhe contaram, pois nossa vida nunca permitiu. – A garota ia começar a pergunta sobre o que ele sabia, mas ele imediatamente iniciou a história.
- Certa vez, o feiticeiro Déris, jovem ainda e muito sedutor como sempre fora, visitou nossa aldeia. Ele veio com seus amigos de Chelsea e estavam em campanha para derrotar um antigo bruxo. O inimigo do Lorde dos Bruxos. Minha mãe foi escolhida por ele para ser sua vítima. No início ele contou palavras de agrado. Prometeu coisas a minha mãe como casamento e uma vida feliz. Ela era jovem, imatura, insegura e crente demais. Deixou-se envolver pelos encantos dele e tiveram momentos de amor. Da parte dela, era um sentimento verdadeiro. Por parte dele, era só mais uma mulher na estrada.
Ele partiu para a sua jornada. Minha mãe, tempos depois descobriu que estava grávida. O que era uma impossibilidade na situação. Minha mãe era casada com um homem muito injusto que acusava de ser seca e não lhe dar filhos. Por essa razão, ele se sentia no direito de se aproveitar de outras moças da cidade. Algumas vezes usava a minha casa como seu ponto de encontro com essas rameiras de taverna. Fazia para provocar minha mãe. Para culpar minha mãe por não lhe dar filhos. Com Déris foi diferente. Ela conseguiu engravidar. E de um homem que ela amava verdadeiramente. Percebeu que não era ela que era seca, mas sim o infeliz com quem tinha casado. Ele era um homem tão rude que os deuses o impediram de ter prole. Ele não era merecedor disso.
Ao ter a notícia da gravidez de minha mãe, ele enlouqueceu. Não suportava o fato da traição. Teve ciúmes de Déris, por ter conseguido algo que ele nunca pôde. Déris era a prova de que aquele ele não prestava nem mesmo para ser homem. Ele não desfez o casamento com minha mãe, mas as coisas mudaram. Ele nunca mais falava com ela. Desfilava com suas vadias no meio da cidade e até mesmo maltratava quando lhe dava vontade. Ele me deixou nascer, e sua vergonha era grande. Depois que nasci e já tinha quase um ano de vida, ele passou a vender minha mãe aos seus companheiros de taverna. Obrigava minha mãe a fazer os mais sujos serviços com os homens em troca de algum ouro. Ela tentava escapar, mas ele me ameaçava e ela cedia. Para ele, ela tornava-se apenas uma maneira de ganhar dinheiro humilhando a mulher. Isso durou alguns anos. Pelo menos durou tempo suficiente para que eu ainda fizesse memórias daquele tempo.
Certa noite, Krang e seus homens invadiram nossa aldeia. Nenhum homem foi poupado do massacre. Poucas mulheres sobreviveram e as poucas que conseguiram tinham destinos como o seu. Viravam escravas das vontades dos homens. Minha mãe, mesmo maltratada, ainda tinha muita beleza e Krang escolheu para si. Eu era pequeno ainda, mas o ódio por ter um homem ruim para minha vida me fez reagir. Peguei um punhal e corri contra Krang antes que ele pudesse tocar minha mãe. O bárbaro foi surpreendido por mim, mas me deu apenas um golpe. Continuou a grotesca cena de possuir minha mãe a força em minha frente. Foi impedido pelo marido dela. Mas você acha que ele veio salvar minha mãe? Não! Claro, que não! Ele ofereceu a Krang dar minha mãe em troca de sua vida. E antes mesmo que ele pudesse responder eu corri com o punhal contra ele e o golpeei tantas vezes quanto minha raiva permitia.
O bárbaro desistiu de usar minha mãe e me tirou de cima do corpo daquele maldito. Krang nada disse, apenas me olhou seriamente. Eu tentei morde-lo e golpear com todas as minhas forças, mas ele apenas riu de mim. Ele ordenou a seus homens que eu a minha mãe faríamos parte do grupo e que minha mãe era propriedade dele. Quanto a mim, era criado pelo próprio Krang para ser um matador. Algo em mim fez ele acreditar que eu seria um grande matador como ele. Minha mãe, não era tocada por mais ninguém a não ser o líder dos bárbaros. Em pouco tempo percebi que minha mãe começara a nutrir prazer ao invés de dor quando ele a tomava. Krang tinha seu jeito bárbaro, mas ainda assim não maltratava minha mãe igual ao marido dela. Sabia ser gentil com ela e me respeitava. Sabia que minha mãe aceitava se entregar a ele e permitir ter prazer, pois ele me cuidava como a um filho. O que meu antigo pai jamais fez.
Então, com a derrota do Lorde dos bruxos para seu rival, as coisas mudaram. Krang não tinha mais missões e sim atividades de sobrevivência de seu exército. Ele resolveu que o mais seguro para minha mãe era viver na terra natal dele. Ela aceitou. Viver em campanha não ia ser fácil para ela e nem mesmo o poderoso Krang conseguiria segurar seu exército se eles quisessem aproveitar da fragilidade de mulher dela. Foi então que fomos morar na cidade natal dele. Um lugar horrível para as pessoas comuns, mas nossa casa era um lar perfeito. As pessoas nos respeitavam pelo fato de sermos protegidos de Krang. Nunca mais minha mãe teve que se deitar com alguém por dinheiro. Krang providenciava comida, abrigo, dinheiro e conforto para nós. Vinha sempre após uma batalha para saber de nós e renovar os estoques da casa. Posso dizer que descobrimos a felicidade graças a ele. Com meus dez anos, Krang me recrutou para seu exército. Eu já conhecia as coisas por ter sido treinado pelo líder, mas não tive como negar o convite. Minha mãe também aceitou. Krang tinha sido generoso demais conosco, tudo que fizéssemos sempre será pouco se comparado ao que ele faz por nós. Então me juntei a guarda dele e me tornei seu tenente. Não por ser considerado por seu filho, mas porque sou competente para o serviço. Acho que você deve ter percebido. – Ele fez silêncio após isso e fitou somente a estrada. A garota nada pôde dizer. Então tentou contar a sua história.
- Eu e minha mãe vivíamos na aldeia. Ela era solteira e disse que havia tido um filho graças a um aviso de anjo. Poucos acreditaram, mas para mim ela contou a verdadeira história. Disse que meu pai era um grande feiticeiro e que se eu chamasse por ele, ele me atenderia onde quer que eu estivesse. Krang foi mais forte que o poder mágico de meu pai. Você e seu exército destruíram meu lar. – a garota começou a chorar novamente. Estava confusa. O seu irmão acabara de lhe dar mais sofrimento do que qualquer outra coisa no mundo e ainda assim ela não conseguia nutrir ódio por ele. Pelo menos não agora que ela sabia da história verdadeira de seu pai. A garota então saiu do canto e atravessou a pequena carroça. Sentou ao lado do condutor e lhe deu um carinhoso abraço. Os dois verteram lágrimas, mas nada falaram. Até o final da viagem foram sentados um ao lado do outro sem nada dizer.

A aldeia era simples demais até mesmo para a garota. O tenente desmontou da carroça e algumas pessoas vieram ao seu encontro. Ela via o quanto ele era realmente querido naquele lugar e como se sentia em paz ali. De repente, os amigos se afastaram e uma mulher de meia idade se aproximou. Ela não era feia e velha, era muito bonita de olhos escuros, pele clara. Estava vestida diferente das outras mulheres, com mais jóias e muito mais pompa. A garota presumiu que era a mãe do tenente e teve a certeza ao vê-los se abraçar.
- Então meu filho, resolveu casar e veio apresentar a sua mãe a garota de sorte? – Sorriu a mulher docemente para a garota.
- Não mãe. Não desta vez. Essa garota aqui é filha de Déris. - A mulher se surpreendeu ao ouvir falar naquele nome. Olhou a garota e provocou:
- O que ela faz aqui, então? Trouxe para vendê-la? Dar aos homens?
- Não mãe. Ela sobreviveu a um de nossos ataques e de Krang. Mãe, eu trouxe ela aqui, pois a campanha não é um lugar seguro pra ela. – A mulher olhou para garota novamente com bastante ternura. Algo nas palavras do rapaz mexeram com os sentimentos da mulher. Ela segurou as lágrimas.
- Qual o seu nome?
- Marian.
- Eu me chamo Lílian e este é meu filho Garrod. – O rapaz curvou-se em direção a garota.
- Mãe, preciso voltar para a campanha. Aqui está o ouro para essa
temporada. Que sirva para vocês duas a partir de agora. Cuide dela mãe. – A mulher não respondeu, apenas abraçou seu filho e dessa vez permitiu que as lágrimas caíssem. Ela pensara em sua vida difícil e a de seu filho. Déris estava deixando mais uma coitada a viver de sofrimentos e ilusões. Ela imaginara quantas ainda seriam enganadas por ele? Quantas já não foram enganadas como ela? Sem falar mais nada, apenas abriu os braços em direção a Marian. A garota correu para perto dela e também chorava muito.
Garrod deu as costas para as duas e se preparou para a estrada. Como de costume, não olhou para trás, apenas gritou um Adeus e tomou caminho para o acampamento do exército. Lílian e Marian ficaram abraçadas por mais um tempo. Parecia que sem dizer nenhuma palavra as duas se entendiam e trocavam novas informações. Lílian sentia dor pelo passado da menina e Marian chorava por perceber que alguém finalmente compreenderia seu mundo. Parecia que Lílian conseguia ouvir essas palavras silenciosas a ponto de dizer.
- Filha, dessa vez tudo será diferente.
- Eu acredito.
- Eu prometo! Krang e Garrod darão um fim nessa trajetória de infelicidades que o Déris provoca por onde passa.
- Eu acredito, mãe! – a garota conseguiu falar ainda abraçada a mulher.
- Déris, seu maldito! Pagará pelo sofrimento de tantas pessoas! Um dia, seu cão bastardo! Um dia! – Prometeu com muita raiva a mulher. A garota apenas abraçou e em pensamento se perguntava apenas uma coisa: Será que Déris a ouviria se ela chamasse daquele lugar tão distante?

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