Conto #1 - Mestiço

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Al'drich
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Conto #1 - Mestiço

Mensagem por Al'drich » 24 Nov 2018, 14:30

Lembro dos demônios invadindo minha casa, de meu pai brandindo sua espada velha e enferrujada com toda bravura. Lembro do sangue escorrendo por seu crânio formando uma poça em meus pés, do olhar apavorado de minha mãe ao ser levada pelos vis tiranos da legião. Lembro de correr aos prantos, desesperado, clamando por ajuda, mas os ouvidos do povo estavam surdos perante minhas súplicas enquanto os tiranos acorrentavam e amordaçavam minha tão amada progenitora. Quando finalmente partiram me vi em desgraça, uma tristeza que secou minhas lágrimas, depressão que corroeu minh’alma, envelheceram meus osso e gemidos se ouviram.

Flagelos cobriam-me até o dia do esclarecimento, quando observei ao longe uma mestiça em grilhões carregada para sabe-se lá onde. De imediato uma fúria ardente dominou meu ser tornando-me inimigo declarado do império, a resposta estava comigo durante anos, mas negava tal informação. Não cometemos crimes, somos levados a cativeiro pelo simples fato de existir, sendo puro ou misto, o sangue que corria nas veias de minha mãe converteu-nos em escravos. Fazendo-nos conhecer um medo até então velado e banhado nestes confusos sentimentos cresci com desejo latente em meu peito e uma sombra guiava-me para meu derradeiro fim.

E nessas viagens fui pego em um breve momento de fraqueza e arrogância, deixei ser levado pelas mãos do vilão, quando algemado fui posto a exibição em seu território como um animal, sendo escolhido por meus dentes. Neguei ao máximo a situação, gritei, roguei maldições, mas eles apreciavam o show, riam perante meu sofrer, serrilhei meus dentes desejando do fundo de meu ser que todos morressem. Dirigi preces a todos os deuses na esperança que ao menos um respondesse meu chamado.

Então caiu fogo do céu e vi a imagem de um homem voando sob nossas cabeças, esta cena ficou marcada em minha mente. Ele voou em meio aos legionários e com suas magias colocou uns contra os outros causando histeria generalizada, junto a ele homens e mulheres lutavam em busca de nossa liberdade. Fugimos sem olhar para trás, fomos guiados pela voz do homem de cabelos azuis e logo nos encontramos com barcos, cada um foi deixado em sua terra natal, muitos prometendo pagar suas dividas e mudar suas índoles, porém permaneci navegando, senti que necessitava partilhar de sua missão, sua aura de magnitude me hipnotizou.

Ele me ensinou os mais diversos assuntos, seu conhecimento era abismal, perguntava-me porque um homem tão erudito lutava por uma causa mundana aos olhos de importantes regentes artonianos. Nunca possui coragem suficiente para perguntar-lhe diretamente, mas seus atos logo me trouxeram respostas. Com ele aprendi a usufruir de meu rancor para fazer o certo, de utilizar a fúria para derrotar meus inimigos, por ele apaixonei-me, um sentimento platônico, pois ele encontrava-se noivo. Calei meu fogo no mais profundo abismo da alma, não confessei meu amor, mas mantive declarado todo o respeito e devoção para aquele que devolveu a esperança.

Agora, em memórias póstumas, brado em júbilo por tudo que realizei, sem arrependimentos, pois sei que agi corretamente e finalmente libertei-me das amarras carnais, não os perdoei, e neguei qualquer pedido de misericórdia, mas desejo a continuidade de meus feitos, desejo inspirar todos aqueles que igualmente perderam seus lares, anseio a queda da legião e sei, oh como sei, que todos cairão pela mão do mascarado.

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