Desventuras de Um Jogador Solitário [Contos em Arton]

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Lance
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Desventuras de Um Jogador Solitário [Contos em Arton]

Mensagem por Lance » 16 Jan 2014, 07:37

Olá, camaradas !

Esse é o primeiro conto que escrevo. Desci escrever depois de tanto tempo pq acho legal por algumas ideias no papel. E compartilhar com os amigos =)

Alguns fatos aqui citados podem não bater com a descrição cânone do cenário de Tormenta. Afinal cada um aki tem a sua Arton né. Nada realmente relevante. Não se preocupe com isso, aqui o objetivo é ser divertido apenas =)

Desventuras de Um Jogador Solitário

Seis Balas
Não Há RPG No Salão De Jogos
Onde Os Fracos Não Tem Vez
Questão de Perspetiva
Quatro Dias Com Nimb (season finale)

O Um Jogador
Rei vs Deus
A Sombra e a Escuridão
Inverno
Vazio (season finale)

O Coração de Tenebra
O Misterioso e o Comediante
Os Homens Que Não Amavam Bacon
Suas cores: a prostituta, o viciado e o suicida
Editado pela última vez por Lance em 16 Jan 2014, 07:47, em um total de 2 vezes.
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Re: Desventuras de Um Jogador Solitário [Contos em Arton]

Mensagem por Lance » 16 Jan 2014, 07:39

Seis Balas

Seria o meu fim. Estava no deserto, detonado, arrastando meus pés pela areia em cada passo deixando um rastro pelo caminho. Partes de mim tentando sair de dentro do meu corpo, impedidos apenas por um poucos trapos que sobravam de meu traje de gatuno. Já devia estar andando a mais de 10 kilômetros.

Me resta agora viajar em meus pensamentos. Seria tão fácil morrer aqui. No momento em que penso nisso minhas pernas fraquejam e eu desabo de bruços na areia. Em meio a queda, digo duas palavras após dias sem dizer nada. “Malditos seios”.

Quando meus problemas começaram a me ferrar, estava uma noite tão linda quando a própria Tenebra. O céu azul escuro como uma manta, as estrelas brilhando e uma lua minguante que parecia sorrir. Mas eu tenho uma missão a seguir, da qual não posso me desviar, e estava pronto para o próximo passo.

O templo abandonado ao sudeste era uma pista “quente”. Quente demais para ser verdade, deveria ter desconfiado. O decadente cemitério Ib Murom, foi o ponto de encontro com o qaren que me dera a pista do templo: falador, cabelo rosado e de jeito afeminado; ele vestia uma capa vermelha, uma camisa sem manga branca e uma calça preta colada. O local já era famoso entre os marginais, ali o qaren fazia seus negócios: dar informações em troca de favores indecentes. Mas não vamos entrar em detalhes.

Demorei um dia a cavalo para chegar ao templo abandonado. Passei por todo o subúrbio, seguindo a sudeste da capital do reino, passando por toda uma região rural até chegar a uma área isolada. Estranhamente havia resquícios de que um dia aquela região era um bairro razoavelmente desenvolvido. Como um desses bairros esvaziados por alguma praga. Sim, novamente eu deveria ter desconfiado. E cá estava eu, frente ao meu local de destino.

A entrada do velho templo não era nada impressionante. Uma cerca alta, como a de um parque, rodeava a escura estrutura principal, havia apenas um portão e era possível ver de longe o enorme cadeado que o fechava. O jardim entre a cerca e a estrutura tem aquela aparência de abandonado, com a grama alta e lixo espalhado provavelmente jogado pelos poucos passantes do bairro. A estrutura principal tem poucos detalhes, a porta tem duas estátuas de gárgulas ao lado e em toda a estrutura, apesar de ser nitidamente um templo com seu adornos, não possuiu nenhum símbolo ou desenho que remeta a algum dos deuses do panteão. Exatamente como qualquer outro velho templo a Sszzaz que já havia frequentado. Sim, bons tempos, altas minas e bons vinhos. Isso na época de ouro antes da queda por causa dos rubis. Eles podem ser uns traíras, mas sabem como fazer uma festa e tanto. Claro, até a hora do plot twist.

Desmonto e amarro as rédeas do cavalo na cerca. Espero que isso não demore. Me aproximo do portão de entrada e dou uma boa olhada no cadeado que o fecha. Grande, robusto, inquebrável. “OK”, digo. Dou dois passos para trás e salto sobre o portão.

Assim que dou os primeiros passos em direção a porta principal escuto um som de rangido. Não preciso nem olhar para saber. Estátuas que começam a se mexer, tão clichê. Viro e vejo dois gárgulas, que se não estivessem curvados teriam a altura de um ogro, encima das duas colunas principais a se mover como se estivem se espreguiçando, seus olhos agora ficaram vermelhos como rubis e pareciam ter luz própria.

Então o gárgula a minha direita diz, com sua voz de Batman:

_ Alto aí, criatura desviva!

Isso foi ofensivo. Esse palavra nem existe! Ele foi capaz de ver além do meu disfarce. Isso não é para qualquer um, já estive em companhia de grande herois durante longas aventuras sem eles perceberem. Não devo subestimá-lo. Normalmente esse é o momento em que o aventureiro comum se prepara para contra-atacar a suposta iminente investida da ameaçadora criatura de pedra. Eu prefiro perguntar antes.

_ Deixa eu adivinhar, eu despertei vocês ao entrar aqui e agora sentirei a fúria de vocês ?

Um erro comum é acreditar nas informações sobre gárgulas encontradas nos livros. Não que elas estejam erradas, mas apenas não abrangem todos os tipos de gárgulas existentes. Até porque, pela minha experiência, cada uma dessas criaturas é única. E elas não cansam de me surpreender…

Vejo um sinistro sorriso criando forma, que de tão largo parecer tomar conta de todo o rosto, e os olhos vermelhos brilharem tremulando como chamas ao vento. Já estava levando a mão à parte de trás onde fica escondido os coldres das pistolas, entre a curta capa e o traje, quando sou interrompido pela resposta da criatura.

_ A porta só abrirá…_Pausa dramática. …Para aquele que conseguir desvendar o nosso enigma. _ Continua a frase o outro gárgula, o do lado esquerdo. Este tem a voz do Baine.

Em seguida ambos os gárgulas começam a rir alto e maleficamente.

_ Mas que diabos, vocês são gárgulas ou esfinges ?!?_ Ao menos parece que não vou precisar lutar. Sou fã de charadas. _Bem, qual é o tal enigma então ?

Os dois gárgulas contam a história intercalando as frases. Acho que faziam isso para tentar causar um efeito maior de confusão:

_ O palácio do rei Duncan foi violado.

_ A coroa real foi roubada.

_ O gatuno entrou e saiu do palácio sem deixar pistas ou disparar qualquer armadilha.

_ A coroa foi encontra pouco depois pelos guardas em uma casa de penhora.

_ No local haviam duas pessoas. Quando questionada uma acusou a outra de ser o vendedor.

_ O comprador não pode passar nenhuma informação sobre o vendedor.

_ Do lado de fora três clérigos pregavam.

_ Um é clérigo de Nimb.

_ Outro é clérigo de Khalmyr.

_ E o último é clérigo de Hyninn.

_ Eles viram tudo.

_ Os três, junto com os aventureiros, foram levados a presença do rei.

_ O rei então chama você.

_ Você tem quem descobrir qual dos dois suspeitos é o ladrão.

_ Mas o rei só da o direito a você de fazer uma pergunta as três testemunhas.

_ Infelizmente as três testemunhas estão com roupas comum e é impossível saber qual deles é clérigo de qual deus.

_ Qual pergunta você faria para saber com certeza quem é o ladrão ?


Isso daria uma boa piada. Imagine esses três clérigos juntos entrando em um bar! Hilário ! Ah, Arton, por que tão diversificada ? Hora de dar a resposta ao enigma.

_ Eu perguntaria a uma das três testemunhas: “Se eu te perguntasse se o gatuno é o da direita, você me responderia com a mesma sinceridade com que responde a essa pergunta ?”

Os dois gárgulas se entreolham. E o da esquerda responde.

_ Hum… Parabéns, intruso, acaba de passar pelo primeiro testes. Agora vamos ao segundo enigma…

Ah não! Isso começava a demorar muito e eu não tenho paciência para isso. Decido interromper. _ Pode parando ! Disseram que era só resolver o enigma. Eu resolvi, abram a porta !

Eles novamente se entreolham. O gárgula a direita respira (?) fundo e diz em seguida. _ Está bem. Desculpa ai, ninguém nunca mais apareceu aqui e nós ficamos entediados. Meu nome é Doende e o dele é Duente. Os poucos que vieram antes nos atacavam e nem tínhamos tempo de perguntar._ Ele parecia triste. Deve ser um trabalho entendiante realmente. Duente completou: _Irei abrir a porta, mas tenho q perguntar, tem certeza que deseja entrar ?

A porta abre sem ranger, mas com um forte baque ao final do movimento que solta uma pequena nuvem de poera.

_ Ei ! Ao menos pode nos dizer o que você procura lá dentro ?_ Pergunta, Duente.

_ O Coração de Tenebra._ Respondo sem dar explicações.

Finalmente entro no templo. Com a pouca luz que vem de fora localizo uma tocha logo ao lado da porta na parte de dentro. Uso um pouco de pólvora e ascendo a tocha. O fogo corre por uma fresta fina na parede ascendendo outras tochas por todo o ambiente. O lugar parece ter apenas um ambiente, não há outra porta nem nenhuma janela, mas não duvidaria de alguma passagem secreta. Tudo muito elegante, mesmo obviamente abandonado há um tempo, com algumas mesas redondas e cadeiras almofadadas ao centro, um pequeno palco com um altar e cortinas vermelhas do lado oposto a entrada. Há também camarotes no alto das paredes, estranhamente sem nenhuma escada de acesso. Agora era só achar onde estava escondida a jóia. Era um simples assalto a templo, o que poderia dar errado ?

Enquanto vou seguindo em direção ao altar, o primeiro lugar óbvio para procurar, dou uma olhada pelas mesas. Na primeira mesa há uma jarra com um liquido dentro que não dá para identificar. Em todas há cálices e candelabros, nada de pratos. Nem sinal da jóia ou de compartimentos secretos. Aliás, como bom ladino, caminho com muito cuidado e sem tocar em nada, prestando bastante atenção para não disparar nenhuma armadilha. Com certeza o lugar está cheio delas.

Subo três degraus e já estou no palco. As cortinas esconde um pequeno ambiente atrás, mas nada que chame a minha atenção. O chão do palco é feito de madeira, provavelmente com algum compartimento secreto, como esperado, pronto para ser revelado no momento certo. No altar há vários objetos e símbolos. Algum deles deve ser a pista que procuro. Um agulha comprida chama a minha atenção. Ela está presa a um tubo fino e maleável que percorre preso ao altar indo até o chão e sumindo lá. Sem pratos nas mesas, apenas cálices, lembra ?

Sem chance de eu dar meu sangue para testar isso. Hora de uma solução mais bruta. Retiro a espada da bainha e corto em volto a madeira do chão formando um círculo encabeçado pela região do altar. O barulho é bem irritante. Em baixo da superfície um caixão escondido, ligado ao fio com a agulha na ponta que achei no altar. O mecanismo da agulha-tubo-caixão deve ter sido usado pelos clérigos de Sszzaz em suas reuniões. O caixão não é tão bem ornamentado quanto eu esperava. Por todo o trabalho que tiveram em decorar o lugar, de criar o mecanismo, colocar gárgulas na entrada… Esperava encontrar o caixão bem incrementado, pomposo, do padrão de alguém importante para o clero. Mas não é isso que está lá. O caixão é bem simples de madeira escura, sem acabamento, com dois pares de correntes o rodeando. O caixão é uma prisão. E essas correntes não são do tipo que eu possa quebrar a golpes de espada ou mesmo tiros à queima-roupa. Tem que haver outra maneira. Alguma chave, algum segredo… Talvez nos camarotes.

É lógico que deve haver uma armadilha em alguma por aqui, é um templo de Sszzaz (e sim, eu preciso repetir isso o tempo todo a mim mesmo, não vou baixar a guarda) só a espera de um movimento errado meu, eu sei disso. Mas fazer o que? O caixão é o único lugar onde pode estar escondida a jóia. Uso uma das cortinas para chegar ao camarote mais próximo, com meus altos pontos na perícia “escalar” isso é bem fácil. Primeiro camarote: duas mesas, quatro cadeiras, cálices e candelabros e novamente nenhum prato; observo atentamente os detalhes das paredes e dos objetos mas nenhuma pista. Segundo camarote: o acesso é mais fácil, eu simplesmente pulo e dou alguns passos pela parede e atravesso os 3 metros, ou algo assim, de distância. Nada também. Os outros dois camarotes estão do outro lado do templo, olho estando de pé no parapeito a procura de algum atalho. Encontro outra coisa.

Enquanto observava o local de cima, no camarote, percebi que o posicionamento das tochas seguiam um certo padrão e que o posicionamentos dos cálices nas mesas seguiam o mesmo padrão. Eram um chute no escuro mas era alguma coisa. Usando o mesmo princípio da tocha, eu encho o primeiro cálice com o líquido da jarra. Os outro cálices começam a se encher junto. Magica nonsense para mim, diga-se de passagem. A medida que os cálices se enchem um barulho de estopim começa a bater ritmado, como um coração gigante acelerando. As correntes do caixão brilham e diversos flashes emanam de pedaços da corrente que se partem.
Um grito forte, alto e estridente ecoa por todo lugar vindo do caixão, enquanto a tampa do mesmo é arremessada longe, partida em alguns pedaços. É quando a figura de uma mulher ,com longos cabelos espalhados para todos os lados, começa a levitar para fora do caixão, com seu vestido que parece crescer do próprio caixão. Até seu corpo estar totalmente de pé a meio metro acima do altar. Em seguida ela levemente pousa, descendo do palco, tocando o chão com seus pés descalços.

Ela, olhos azuis, pele albina, loira com cabelos lisos e longos indo até os joelhos. Um rosto angelical, mas com um ódio diabólico estampado e expressado através do caninos ameaçadores. O longo vestido vermelho sem alça, extremamente colado cobrindo toda a parte de baixo do corpo e continuava até de estender por uns dois metros pelo chão, na parte de cima com um generoso decote exibindo os belos seios. Os seios, fartos, dela balançavam enquanto andava. Andar, que parecia dança, com seus quadris deslizando de um lado ao outro em cada passo. E a cada passo os seios pareciam querer pular para fora do vestido.

_Desculpe inco…

Tento falar com ela, mas sou interrompido por um disparo de bola fogo. Sempre uma bola de fogo. Deu para entender um pouco a situação. Os sacerdotes do templo precisavam de alguém para vigiar o local. Ela provavelmente foi aprisionada aqui, provavelmente vítima de alguma traição. Pelo nível da magia ela é uma vampira de muitos anos. Uma adversário perigosa que seria melhor não enfrentar. Se eu pudesse pegar a jóia e cair fora daqui… Onde diabos estará está jóia ?

Bendito traje de gatuno e bônus ladinos em reflexos ! Felizmente ela ainda deve estar meio zonza por acordar agora e sua precisão não estava lá essas coisa. Consegui rolar para longe da magia e evitar qualquer dano. Tenho que pensar rápido. Quando mais me movimento e quanto mais este combate demora, maior também o perigo de disparar uma armadilha do local. Ela tenta novamente, agora estou preparado e protejo meu salto virando uma das mesas como um escudo. Ela parece ainda mais furiosa. Olhada rapidamente por cima da mesa, dando uma geral no lugar, na esperança de achar o tal Coração de Tenebra. Nada. Droga, onde raios esconderam a jóia ?!

Fazendo sinal com as mãos (tocando a ponta do polegar com a ponta do dedo do meio), ela começa agora a dizer algumas palavras estranhas. Em seguida pequenas criaturas, parecidas com leões negros começam a emergir do solo. Invocação. Não sei o que é mais perigoso, as criaturas ou o fato dela estar recuperando a capacidade de raciocínio. Nenhuma pista da jóia ainda.

O que é esse Coração de Tenebra que tanto quero ? Diz a lenda, é o verdadeiro coração da deusa Tenebra que ela própria arrancou. Assim, ela não teria mais sentimos para atrapalhar seu planos. Ou para ter uma vantagem na batalha contra Azgher. Ou para não sofrer mais pelas traições de Khalmyr. Ou precisou fazer isso para conseguir se vender para Ragnar daquele jeito no livro do Caldela. Sei lá, como sempre a versão depende de quem conta. O que importa é que seria uma excelente arma contra a deusa.

O primeiro “leão” avança e salta, antes que suas garras possam me tocar ele é surpreendido com um golpe vertical de baixo para cima da minha espada. O golpe usa o impulso do saque da espada escondida nas costas criando um movimento único. As criaturas agora avançam com mais cautela. Elas são mais de uma dezena e me cercam, enquanto uma se aproxima de um lado, outra se aproxima do outro. A situação fica novamente tensa para mim. Um clarão chama a atenção. Outra bola de fogo. A peituda aproveitou meu impasse com as criaturas para tentar me acertar. A bola de fogo percorre o caminho em minha direção queimando algumas das criaturas sem dó. Ela já recuperou o raciocínio.

É comum as pessoas acreditarem que dragões, vampiros e todos esses outros seres que vivem centenas e milhares de anos são mais inteligentes que os humanos. Não são. Antes que você comece me chamar de doido, deixe me explicar. Você, ser mortal e frágil, se desafia a cada dia, pois a cada dia seu corpo esta morrendo. Isso o torna mais forte. Não basta viver (ou pós-viver), é preciso ter a experiência de quem lutou e venceu. Envelhecer é a chave para o saber. Este mundo não é dominado pelas criaturas mais poderosas, mas pelas mais inteligentes. Por isso humanos dominam o mundo.

BANG² ! Dois tiros simultâneos cada um acertando um olho dela. Fui atingido pela bola de fogo. Consegui evitar um pouco do dano, mas o estrago foi feio. Com o caminho livro das criaturas e o barulho da explosão, ambos causados pela bola de fogo, consigo aproveitar a distração para acertar dois tiros certeiros, mesmo ainda estando no chão. Ela grita, mas não de dor, de raiva. Levanto. Aproveito parar tentar fazer o máximo de disparos possíveis. Recarregando, atirando, recarregando atirando… Pedaços de carne morta voam. Uma das pistolas emperra, jogo fora rápido e continuo atirando só com a outra. Evito acertar os seios. Consigo fazer um bom dano. Nada permanente, essa raça se recupera rápido. Sem a visão, as magias dela agora eram praticamente inúteis. Continuo atirando de longe, ela ainda é poderosa e não dá para se aproximar de maneira displicente. A própria estratégia dela me deu uma chance de criar e usar uma. Uma estratégia bem simples, mas eficaz.

Minhas balas estão acabando, chega à hora de usar a espada. Ela ainda solta algumas magias, mas nada que consiga me prejudicar. Ambos estamos detonados, mas ela está perdendo a batalha. Então eis que ela usa o que parece ser um ultimo recurso. Apontando para o altar ela ativa uma runa mágica, antes invisível, no mesmo que abre um portal de energia vermelha. Ela segue em direção a ele rastejando de quatro.

Observo a cena. Não tenho a intenção de interferir. Melhor assim. Posso procurar a jóia com mais tranquilidade. Quando sua mão já está quase alcançando o portal, eu sinto uma sensação estranha. Uma energia ressoa ligeiramente com a poderosa magia do portal. Sinto o cosmo de Tenebra. E nesses preciosos segundos antes dela alcançar o portal eu finalmente encontro: o Coração de Tenebra; preso em forma de pingente balançando a frente dos enormes seio e abaixo do braço esticado da vampira que rasteja de quatro. Estava no pescoço dela. A maldita jóia esteve no pescoço dela esse tempo todo ! Como eu poderia ter reparado em tão insignificante jóia com aqueles peitões pulando na minha cara, sambando e fazendo o quadradinho de oito ?!? MALDITOS SEIOS !!!

Desesperado eu arremesso a espada. Consigo atingir a perna dela e fincá-la ao chão. Como em um requiem de um mestre malvado se vingando pelos jogadores terem estragado o final que ele queria da aventura, sem motivo algum, a vampira arrebenta o colar e arremessa o Coração de Tenebra pelo portal.

_Filha da pu…

Eu corro, meio mancando, com todas as minhas forças sobrando e salto, usando pura força de vontade, para dentro do portal que se fecha assim que eu atravesso.

Horas depois.

Estou no deserto, estourado, arrastando meus pés pela areia em cada passo. Partes de mim tentando sair de dentro do meu corpo, impedidos apenas por um poucos trapos que sobravam de eu traje de gatuno. Já devo estar andando a mais de 10 kilômetros.

Tudo que me resta agora são meus pensamentos. Seria tão fácil morrer aqui. Nesse momento minhas pernas fraquejam e eu desabo na areia. Minhas únicas palavras em meio a queda, e em dias, são: “malditos seios”.

O colar era falso. Talvez uma armadilha da deusa. Talvez o verdadeiro ainda esteja por ai, ou talvez tudo seja uma das enganações dela. Agora, com tempo de sobra, quando penso em tudo que aconteceu no templo muitas coisas não fazem sentido. Talvez eu esteja misturando minhas memórias ou mesmo seja o calor me afetando.

Hoje eu sou chamado de Alastor, o misterioso. Eu já tive outro nome em vida, agora faço parte de um grupo de criaturas autonomeados nêmesis. O humilde objetivo de cada um de nós é substituir um dos deuses do panteão. Eu, Alastor, o misterioso, futuro substituto de Tenebra.

E tudo que tenho para começar essa jornada fácil, aqui neste deserto, são uma pistola e seis balas.
Editado pela última vez por Lance em 16 Jan 2014, 08:02, em um total de 2 vezes.
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Re: Desventuras de Um Jogador Solitário [Contos em Arton]

Mensagem por Lance » 16 Jan 2014, 07:39

Alastor, o misterioso

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Re: Desventuras de Um Jogador Solitário [Contos em Arton]

Mensagem por Lance » 16 Jan 2014, 07:44

Não Há RPG No Salão De Jogos

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Eu sou um jogador. Estou jogando o mais perigoso dos jogos: uma campanha contra um deus. E sozinho.

Nesse jogo não há cartas ou dados. Minha sorte é lançada a cada bala disparada, a cada membro quebrado, a cada farpa aparada…

O quanto é caprichoso esse tal destino por ter me levado justo a uma casa de aposta ?

Chovia e eu corria. O céu cheio de nuvens carregadas faziam o final de tarde parecer noite. Uma chuva fina caía, mas não castigava: torturava. Os insistentes pingos caem em uma frequência quase uniforme, e de tão gelados, eram como agulhas deslizando pelas roupas e penetrando na pele. Com a mão esquerda segurei na cabeça o meu chapéu negro novinho - custou caro, não queria ter que pegá-lo neste chão enlameado. Não tenho o costume de usar tal adereço, aconteceu de durante a viajem para cá, em meio uma das várias parada para pedir informação, um bem informado mercador fez a recomendação do uso do chapéu quando citei qual era meu destino. Foi um bom conselho, todos aqui usam e facilita muito me misturar entre os transeuntes. Qualquer olhar mais atento denunciaria que eu não sou daqui, mesmo com meu traje padrão levemente modificado especificamente para essa cidade, mas felizmente, nesta cidade, é costume (tradução: é mais saudável) cuidar da própria vida. Deve ser esse o motivo que faz eu gostar tanto dessa cidade. Ou isso ou o fato deu poder usar minha melhor versão de Clint Eastwood.

“Bahamas”, escrito na placa de boas vindas acima da porta de entrada do saloon. Sempre um bom lugar para entretenimento em Smokestone, me disseram. Graças a fama do local não demorei muito para achar essa casa de jogos. Paro um instante em pé em frente a entrada para recuperar o fôlego após essa corrida na chuva. Estufo o peito e dou um empurrão com força na porta de madeira sem trancas, aquelas típicas desse tipo de lugar, da entrada. Entro e uso minha cara de mau para encarar a pessoas no local.

O lugar está cheio e todos estão secos, provavelmente estão aqui antes mesmo de começar a chover. Dois passos para dentro, estou ensopado e molhando todo o piso de madeira, como ninguém parece se importar então continuou andando. Ao menos, consegui chegar no horário exato do encontro marcado por ela na carta.

A música é viciante. No canto a esquerda, três elfos de roupas humildes, são os responsáveis pela música: um flautista, um tocando bongô e uma fascinante cantora e dançaria. São ciganos. Ciganos: elfos nômades, sem raízes, sem governos, desapegados aos antigos costumes élficos, seguem sua própria tradição, como sua música e roubas originais bem exóticas. Cada vez mais figuras comuns pela estrada, podem ser considerados os novos elfos, aqueles que não tem o sonho de voltar para o sul. O som é absorvido pela alma e sinto ela sendo marcada, como uma tatuagem marca a pele. Emocionante. É como se a própria música, e não o teto, fosse quem impedisse a chuva adentrar no salão. Admiro fascinado a elfa, ela é linda, com o rosto levemente rubro marcado pelo sol, cabelos loiros desgrenhados e ondulados, suas roupas são tão simples e ao mesmo tempo elegantes, parecem trapos antigos jogados fora por alguma nobre enquanto renovava o vestuário. Esses trechos da música repetidos melancolicamente persistirão em aparecer na minha mente junto com a imagem do sorriso da elfa. Certeza.

Dou aquela olha mais atenta as outras pessoas do lugar. Coisa de latino. A direita ficam duas mesas, seguido de um grupo jogando dados e outro jogando dardos ao fundo.

Um jovem halfling, de semblante sério e bem vestido, leva as bebidas aos clientes com uma maestria e firmeza de um halfling. Racismo? Provavelmente. Mas, a verdade é que as outras raças não se congeminam tanto quanto os seres humanos, esse é um dom único deles. Racismo novamente ? Talvez.

No grupo da primeira mesa, estão um homem com chapéu parecido com o meu, mas de aba reta e mais larga, vestindo roupas elegantes e barba desenhada, carregando duas pistolas com ornamentos dourados, uma de cada lado da cintura, ele maneja as cartas de baralho com maestria; um jovem careca de pele escura com roupas do monastério, sem dúvidas um visual deslocado para o ambiente, e o fato de não estar portando uma arma o torna alguém perigoso. Um anão com cara de mau, meio magro, de longa barba e cabelo black power igualmente escuros como café, seu chapéu marrom tem algumas manchas, prováveis provas de sua resistência, está vestido com roupas pesadas o suficientes para serem consideradas equivalentes a uma armadura; carrega nas costas um rifle rústico e a maior arma do local, pelo tamanho da boca deve ser capaz de abrir um buraco na carcaça de dragão de aço. Mais duas pessoas, um coroa de meia idade e alguns cabelos branco e um garoto que pela semelhança deve ser seu filho, ambos com um porte físico robusto dos trabalhadores rurais e usando roupas e chapéus típicos do local. Nessa mesa, além de jogar baralho, estão bebendo e discutindo assuntos diversos. A maioria fala alto e ri, estão se divertindo, porém ninguém chega a um estado considerado exaltado.

A segunda mesa tem apenas três senhores jogando cartas. O clima é sério, com apenas uma garrafa por perto e ainda pela metade, o foco é claramente o jogo. Com a cara fechada e a concentração que desempenham, posso garantir: não estão apostando apenas as peças de cobre sobre a mesa. Há algo por trás desse jogo. Os três tem idade avançada o suficiente para transparecer boa parte do cabelo grisalho mesmo com os chapéus velhos lutando para escondê-los. O jogador com o maior número de peças é gordo e bem avantajado. O segundo, tem a barba mais longa, e a alisa de tempos em tempo. O com menor número de peças esta suando como um cavalo de Khubar no Deserto da Perdição, inquieto ele insistentemente tira e coloca o chapéu, se levanta arruma a cadeira e senta novamente, posso dizer que nada esta no lugar certo para ele.

Após as mesas há uma coluna que serve de referência para a mudança de ambiente, ali tem um círculo de pessoas sentadas no chão jogando dados e um outro grupo no final do salão em uma disputa de dardos usando um boneco de palha como alvo - daqueles usados por cavaleiros para treinar. Aqui o pessoal é mais animado e um pouco exaltado. Nada é muito organizado e até um tamurariano conseguiria ver alguns “espertinhos” levando vantagem. Atipicamente, tudo rolando sem sinais de confusão. Na roda do jogo de dados a maioria são goblins, mas vejo também dois kobolds. Jogando dardos são cinco, sendo três bem jovens e seus pais não devem saber onde estão, o outro é o típico tio bêbado de idade bem avançada que conta histórias incríveis para a molecada, e o último é um alto e apático lefou. Nenhum deles chamam muito minha atenção a essa distância.

Ela está atrasada.

A frente da entrada e do outro lado do salão está o balcão vazio. Logo quando encosto na bancada o taverneiro aproxima trazendo um copo na mão. “Dois DespicableMe”, um vinho khubariano com pedaços de uma pequena e arrendonda fruta amarela, típica da região, “estou esperando alguém”, informo enquanto deixo dois tibares de prata na mesa. Estou ciente da regra: aqui você paga primeiro, porque nunca se sabe quando irá tomar um tiro antes de pagar a bebida. Quando chega a bebida percebo, um jovem de chapéu pomposo sentado encostado ao lado esquerdo do balcão, apertando as cordas do seu instrumento - deve ser um bandolim, não manjo dessas coisas. Ele olha relutante para o trio de ciganos, percebo sua ansiosidade para que eles terminem e chegue a vez dele. Tomo um gole do meu DespicableMe e ofereço o segundo para mulher atrás de mim. Finalmente.

_Você não mudou nenhum um pouco, Alastor querido.

Notei a chegada dela quando o cheiro de seu perfume percorreu o ambiente antecipando sua entrada. Vários olhares curiosos são atraídos. Ela está usando roupas largas escondendo a beleza das curvas do corpo, além do cabelo preso, tudo formando formando uma figura masculinizada. Mas, mesmo assim só o fato de ser uma mulher é o suficiente para chamar a atenção. Ela toma da forte bebida oferecida em apenas um gole.

_Taylor, por favor._ O taverneiro levantava uma parte de cima do balcão abrindo passagem para dentro._Vamos conversar lá em cima._Ela me leva pela mão enquanto acena com a cabeça em agradecimento para o taverneiro. Figura de corpo musculoso, único a não usar um chapéu no local. Provavelmente foi um guerreiro um dia. E seu andar manco deve ter sido a causa de estar trabalhando em um salão. Da maneira como foi chamou pelo nome, até ele deve saber o que está acontecendo. Precisava mesmo ela me mandar uma carta tão… sem explicação ?

O “lá em cima” é uma sacada acima do balcão. Uma pequena escada nos fundos leva para lá. Quando termino de subir o último degrau noto uma marca azul no chão, e olhando perifericamente, noto que a marca forma uma runa bem elegante no assoalho. Puxo nos meus fragmentos de memória de uma outra vida tentar reconhecer o encantamento. “Quarto do pânico”, um encantamento de ilusão que onde a imagem e os sons do local são protegidos. Tudo que falarmos ou fizermos nesse espaço será escondido. Me pergunto o que será que ela está mostrando para quem olhar nessa direção. O local é usada para depósito de mercadorias que precisam de acesso rápido para reposição imediata. Também permite uma visão por completa do local. Em meio aos barris de bebidas conversamos.

_Olá, Tarântula. É muito bom te ver de novo. Você vem sempre aqui ? _ Com a palma da mão para baixo, flexiono estendo os dedos apontando para a runa.

Latissa faz parte do círculo interno das sacerdotisas de Tenebra secreto de alto escalão. O grupo é chamado de “Aranhas Negras”, são encarregadas de trabalhar como espiãs, assassinas, negociadoras e mais um monte de coisas que exigem grande capacidade de manipulação e “distintas” habilidades excepcionais da clériga. Ou seja, prostitutas de luxo a serviço da deusa. Cada integrante possuiu um codinome, o dela é Tarântula. Como a aranha de mesmo nome, ela é capaz de “picar” a vítima e assim obrigar ela a dançar conforme a sua música para conseguir se salvar. A música no salão é boa para dançar.

_Não me chame assim... _ Com um sorrisinho acusador no rosto e o dedinho levantado fazendo sinal negativo, ela me corrigia.

_Olá, então…

_Também não use meu nome verdadeiro, por favor. Me chame de Latissa._Me interrompia com o dedinho levantado novamente.

_Tudo bem, tudo bem. Fala logo porque me chamou aqui nesse fim de mundo, Latissa.

“Venha me ver. Tenho algo do seu interesse. Com carinho, Latissa. PS.: Local e data de encontro no verso.” Era tudo que dizia a carta. Ela deve achar que tem a minha confiança por ser uma amiga de longa data. Mas na verdade fui compelido a vir, porque no fundo tenho um sentimento de culpa por tudo que aconteceu a ela. Espero que ela jamais perceba isso.

_Te chamei aqui porque preciso da sua ajuda em algo de seu total interesse.

Um momento para a pausa dramática dela. _Alguém roubou um Pesadelo.

_Poxa… um pesadelo é uma criatura muito maneira, eu deveria ter tido um também, é um cavalo negro com patas em chamas, bem bonito de se andar por aí. _ Eu me imagino como o Vingador, de Caverna do Dragão, disparando feitiços, ostentando montado em cima de um. Apesar de saber que nesse corpo eu ficaria mais parecida com a menina do desenho Cavalo de Fogo._Só que isso não é de meu interesse hoje em dia ...

_Não, Alastor querido. Um Pesadelo de verdade...

Agora ela tem minha atenção.

...E a pessoa que fez isso deve esta nesse salão, nesse momento.

Debruço na sacada, com as duas mãos sobre o parapeito, serpenteando com os olhos para cada uma das pessoas no salão.

Há muito tempo, em uma outra vida, eu fui o primeiro, e pensei até agora ser o único, a conseguir roubar um Pesadelo. Se alguém, ainda mais alguém dessa cidade tão pobre em conhecimento mágico, conseguiu roubar um pesadelo só pode ter sido através do meu método. O que significa que alguém mexeu nas minhas antigas coisas. E eu odeio que mexam nas minhas coisas. Por isso ela precisa de mim e também por isso ela sabe do meu interesse em ajudar.

_Qual pesadelo foi roubado ? _ Pergunto sem tirar os olhos das pessoas lá em baixo.

_A raposa. _ Ela diz enquanto cruza os braços e escora as costas na parede.

_Tem certeza que foi uma dessas pessoas ?

_Sim. Veja, estou a muito tempo nessa procura. Os ataques do Pesadelo são fáceis de reconhecer. Foram diversos assaltos realizados com a ajuda da Raposa. Todos nas redondezas de Malpetrim. Como os ataques foram feitos com o pesadelo não haviam pistas a seguir para achar o criminoso. Mas há sempre um caminho a ser seguido em qualquer investigação de assalto: o dinheiro. Em alguns dos assaltos itens valiosos foram roubados, coisas difíceis de se revender. andei pelo submundo, inclusive naquele bar em Valkaria que você tanto gosta, a procura de informações no mercado negro. Consegui informações úteis, e no final descobri que todos os itens roubados haviam sido revendidos por um traficante aqui em Smokestones.

Um pesadelo tem o dom de crescer dentro da pessoa, ele se instala dentro dela e se alimenta de seu medo. Como uma semente plantada em solo fértil estendendo suas raízes. Por mais, que eu por exemplo, possa ser criativo, por melhor que seja a minha imaginação, jamais vou conseguir criar algo tão assustar para outra pessoa quanto um pesadelo que cresce dentro dela.

_ É extremamente difícil fazer esse tipo de traficante falar. Até imagino como você conseguiu tanta informação no submundo...

_Sim, trabalhei muito para isso, querido. Vamos nos concentrar no que importa do assunto. Eu consegui encontrar o tal traficante. Infelizmente ele estava sob efeito de uma poderosa magia e não pode me dar o nome do vendedor. Tudo que consegui arrancar dele foi o local e um dia da semana. Todas as noites no Bahamas, desse mesmo dia da semana.

_Alguém tão poderoso assim não poderia se esconder tão facilmente nessa. O ladrão deve ter passado a Raposa para um portador. Alguém para a carrega-lá em sua mente sem chamar a atenção. alguém altamente treinado e capaz. E esse alguém frequenta este lugar... E como Smokestone é uma cidade sem muitos atrativos…

_É, por causa disso esse lugar vive sempre lotado. E todas essas pessoas aqui - ela vinha aproximando de mim na sacada - são frequentadoras assíduas do “Bahamas”. Me diz vai, com suas habilidades você já deve saber quem é o portador da Raposa...

_Não, não tenho como. Nem há como saber. Pode ser qualquer um disfarçado. E não dá para conseguir uma pista de quem foi sem seguir a todas essas pessoas por semanas.

_Eu estou nessa cidade a semanas, caro Alastor. Não me diga que foi inútil ter te chamado…

Faço ela contar o que sabe sobre as pessoas no local. Sobre os ciganos, pouco se sabe, ou melhor, pouco se tem a saber. São ciganos típicos, eles chegaram a pouco tempo e já teriam partido senão fosse alguns contra tempos (o fato de terem sido roubados e estarem juntando dinheiro para partir). O outro músico, e ainda em espera, é o jovem chamado Indidi Solavanco, um bardo a contra gosto dos pais açougueiros; talentoso e sonhador, busca um dia partir com um grupo de aventureiros. Sendo dessa cidade, nada deve o impedir de conseguir. O dono do bar é Taylor Tacoberry, Latissa sabe tudo sobre a sua vida, o que significa que eu não preciso e não vou querer saber mais nada sobre ele. Taric é nome do jovem garçom acrobata muleke zica, seus pais morreram a alguns anos durante o ataque do golem de mármore.

Na mesa, jogando carteado, temos pessoas bem variadas. Augusto Everwood, banqueiro - na hora de gastar seu dinheiro gosta de fazer viagens, mas sempre volta para cá- o cara com pistola em detalhes de ouro. João e Clark Fuerte Lopez são pai e filho como suspeitei, são criadores de cavalos, os melhores da região, bons e importantes o suficiente para desfrutar o luxo de jogar dinheiro fora quase todos os dias nesse estabelecimento. Porém, eles são muitos ruins neste jogo. O kuririn negão é Louis Lavanda um aventureiro, nascido aqui partiu ainda cedo para o seu treinamento no monastério em Monte Phyton, onde dizem que aprendeu como continuar lutando mesmo que lhe arranquem os braços ou as pernas. O anão é conhecido apenas pelo último nome “MacChado”. Este muito me intriga. Seu visual clama por ser chamado de mercenário. E seu trabalho como guarda-costas, é um perfeito engodo. Não sei se ele seria um mercenário bom o suficiente a ponto de participar do roubo de um pesadelo.

Na outra mesa de carteado, a da cota da terceira idade, o senhor mais avantajado é Ivan Oswaldo, comerciante de iguarias, com uma rotina de viajar junto com sua família por rotas específicas trazendo e vendendo diversos desses produtos. O homem orgulhoso de sua própria barba longa, é Carlos Brusket um alfaiate com conhecimento para fazer pequenos itens mágicos. Gostaria de perguntar como eles confiam em um mago jogando baralho... Tenho que lembrar de comprar um souvenir dele antes de sair dessa cidade. Um broche no formato de fênix similar ao de um xerife de Azgher, com certeza comprarei. O companheiro deles de mesa, ali suando frio mais ao fundo - também em último lugar em quantidade de peças - é um professor, membro do clero de Azgher, culto de maior influência na cidade. O que não é grande coisa, dado o modo de vida abdicado de fraternidade e, de certa forma, egoísta dessa cidade. Vida de professor nunca é fácil. Ela - Latissa - também não sabe o que é que eles estão apostando. Apesar de me dizer ter visto o de barba longa saindo de manhã da casa do gordinho após um dia de jogo…

Jogando dados, os goblins e kobolds não despertam interesse. Nunca me canso de menosprezar esses seres. Assim como as “crianças” e o lefou. Eles só estão se divertindo. O velho com eles é famoso frequentador de muitos anos, dificilmente esconderia alguma coisa.

_Você está olhando para o lado errado, mulher. _Como diabos eu vou saber quem roubou só de olhar ??

A Raposa, como é conhecida atualmente este pesadelo, é uma das representação do medo do desconhecido. Sei nome atual vem da enigmática pergunta: “Que som faz a raposa” ?
Seus ataques, quando extremos, deixam as vítimas em um insano estado exaltado recitando palavras sem sentido como “Wa-pa-pa-pa-pa-pa-pow!”, “Ring-ding-ding-ding-dingeringeding!”, “A-hee-ahee ha-hee!” e outros. Eu acho engraçado.

_Nesse caso, a arma do crime é mais importante e fácil de encontrar que o ladrão. Esqueça ela, vou atrás da Raposa.

Rolo um barril para perto e o ponho de pé ao lado de alguns caixotes que fazem um encosto. Retiro minha capa e a coloco cobrindo o barril e o encosto.

_Sente aqui, é bom que fique confortável.

Sou Alastor, o misterioso. Encontrei mistérios nessa vida, e em outra, com capacidade para fazer uma mente forte se tornar completamente insana. Mesmo não gostando de admitir, eu tenho medo do que ainda posso descobrir. Ironicamente, quanto mais segredos se descobrem , mais medo se tem dos segredos que podem ser descobertos. Sou um prato cheio e suculento para a Raposa na qual ela não poderá resistir.

_Hora de tirarmos um cochilo. Vamos lá, quero ver se você ainda se lembra de como lançar uma magia simples como sono. Preciso que me invoque no seu sonho.

Afasto algumas outras caixas e me deito no chão de barriga para cima com as pernas cruzadas. Fecho os olhos e sinto o efeito da magia. Estou dormindo.

Passo por um túnel azul, de visual cósmico como um céu estrelado, em alta velocidade pelo percorrendo seu formato espiral. Quando abro meus olhos novamente, estou em outro lugar. A minha frente esta Latissa sentada em um trono com um visual de princesa Leia em O Retorno de Jedi.

_Bem vindo. Qual o próximo passo, querido Alastor ?

_Agora é a minha vez. Ah, e grato por me deixar com minha roupa normal. Pena não poder passar um tempo aqui. Vamos rápido com isto! Ela esta vindo.


Conjuro a magia de sono para fazermos dormir. Antes dela ceder a magia posso ver a surpresa escancarada em seu semblante.

Ela abre os olhos.

_O que você fez ? Eu não imaginei esse lugar. Este não é o meu sonho...

_Não estamos mais no seu sonho
- Estamos no meio da rua de terra em um lugar de Hongari. Boas memórias de lá - Sim. Ainda estamos em seu palácio, só que agora adormecidos lá. Eu estou sonhando dentro do seu sonho.

_Isto é … Não sabia que isso era possível…. Espere ! Desde de quando você é capaz de realizar magia novamente ?

_É a terra dos sonhos. Nos sonhos somos capaz de lembrar de coisas que não saemos.

_Tá… Tudo bem, eu acho. Mas como vamos encontrar a raposa aqui dentro de um outro sonho?

_Para ela não muda muita coisa. Estamos no reino dos sonhos da mesma maneira para ela. E chega de papo. Ela esta vindo novamente e ainda esta muito forte. Nos faça dormir e me invoque no seu sonho novamente.


Repetimos o processo mais umas quatro vezes. Que eu lembre (mal), apenas duas eram necessárias para enfraquecer um pesadelo. Como eu não sou mais o mesmo, achei melhor exagerar. A Raposa se aproxima.

Estamos novamente em Smokestone, do lado de fora do Bahamas. A escolha do local similar ao mesmo que estamos no mundo real é proposital. Eu gosto de Smokestone. Latissa esta ao meu lado, não muito feliz com o visual que escolhi pra ela.

_Sério, Alastor ? Vai me deixar assim nessa chuva?
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_Custa nada melhorar a paisagem um pouquinho. - meu momento de alegria dura pouco - _Não esta funcionando, a Raposa ainda esta vindo e seu laço com o raptor ainda esta forte demais. Mantenha um encantamento de proteção. Vamos ter problemas... _O encantamento é útil para ajudar a manter a estabilidade e coesão do sonho.

A Raposa surge a uma certa distância a minha frente. Estamos parados na rua analisando um ao outro, como um duelo ao nascer do sol. Ela está com a formato humanóide, similar um nativo de Moreania, vestindo roupas dessa região. A estabilidade do sonho começa a ser abalada, a borda da minha visão está trêmula e o chão parece um veículo em movimento. Mal consigo ver a imagem de Latissa concentrada na calçada evocando o feitiço. Meu plano não esta dando certo. Para ser sincero, nem eu tenho certeza de como ela me achou aqui. Tudo que eu sabia é que ela viria de qualquer maneira. Começo a correr na direção contrária dela. Não posso fazer nada. Na perseguição a Raposa ri estridente.

Chovia e eu corria. "Alastor, seu imbecil, você nos colocou nessa posição faça algo", digo para mim mesmo. Nem lembrava que estava chovendo, mas meu subconsciente lembrou. Ah eh, a música dos ciganos não deixava eu lembrar. Ela me fazia esquecer do resto do mundo. Me levava para outro lugar. Agora só escuto a risada da Raposa, ela vai me pegar e sabe disso... Espera. Isso é estranho. Ela deveria ser um construto com uma missão, mas… Tem sentimentos ?? Óbvio ! Afinal, como poderia ser tão boa em causar medo sem saber como é sentir medo ! A música perfeita me vem a mente, aquela capaz de trazer lembranças de lugar onde eu nunca estive. Vamos ver quem vai dançar agora.

Paro de correr e me volto para a Raposa. Vejo sua surpresa ao perceber meu sorriso de canto. Minha vez. Estamos tão fundo no reino dos sonhos que é difícil saber que sonho é de quem. Utilizando a mesma técnica anterior, uma vez mais entro em um sonho. Eu sou o pesadelo agora. E a Raposa é quem está sonhando. Só preciso me concentrar a fundo nisso, acreditar com toda minha alma. Posso ter perdido os poderes meus poderes de outra vida, mas ainda tenho a experiência e o sangue frio vindo com ela, o suficiente para realizar essa tarefa.

A chuva para. A luz do sol volta e fica mais forte a cada instante até que tudo em volta esta se torna chamas. A raposa esta hesitante, não sabe o que esta acontecendo. Aponto minha arma. A imagem de Nimb vestindo a roupa de um juiz de Khalmyr aparece no céu em chamas, ele tem dois dados e os sacode enquanto sorri. Ele lança os dados, espia o resultado e balança a cabeça negativamente em direção a Raposa tomada de terror. Disparo um tiro, a bala corta o ar deixando um rastro negro fumaça pelo caminho. Antes mesmo de ser atingida a raposa cai horrorizada. Funcionou. Ela esta em choque e não poderá mais sair daqui. Está presa no meu pesadelo.

Com dificuldade vou levantando as pálpebras. Minha primeira visão, um pouco embaçada, é o rosto da Latissa dormindo. Nunca a vi tão feia; descabelada e babando. Deixo ela dormir, sei como é desgastante essas viagens oníricas. Poucos minutos passaram no tempo real. Já assistiu Inception, certo ?

O ladrão neste momento está sentindo o elo com a raposa sendo rompido. Isso fará ele sair. Deve ir procurar saber o que acontece. É questão de tempo para ver quem sairá. Aqui dentro não posso agir livremente. Desço as escadas. Os ciganos ainda estão tocando a mesma música. Atravesso o salão e vou de encontra novamente a chuva do lado de fora. Fico escondido nas sombras do outro lado da rua. A noite, recém chegada, combinada a chuva deixa a rua deserta.

Hora de fazer sua aposta: quem irá sair primeiro ?

Alguém esta saindo. Mal consigo reparar na figura saindo quando um zumbido, quase imperceptível em meio ao som da chuva, vem em minha direção, algo acerta meu braço, não pega em cheio, mas é o suficiente para levar um pedaço de carne e sangue pelo ar. Olho para o lado e vejo uma carta de baralho fincada na parede de madeira com sangue escorrendo e gotas se misturando com a chuva. Conseguir me descobrir e acertar, mesclado em meio as sombras e a chuva, mesmo de raspão, não é para qualquer um. Do outro lado da rua vejo o meu adversário, pronto e disparando outras cartas em minha direção. Nem joguei minha iniciativa ainda e já estou apanhando ! “Aparência inofensiva” + “balas nas costas”, esse cara é um apelão!

Rolo para o lado esquerdo para desviar das outras cartas em quando saco minhas pistolas. Reconheço o zumbido acima de mim, das cartas cortando o ar e as gotas d’aguas e o leve som do baque delas acertando a madeira. Essas cartas deve ser feitas de mithril, são leves para serem disparadas com os dedos, afiadas e resistentes o suficiente para passar pela proteção do meu traje de gatuno.

Meu turno. Sempre em movimento. Dou o primeiro disparo, ele consegue desviar tranquilamente. De relance, vi um sorriso em seu rosto. No segundo disparo faço um leve desvio da mira, acerto a placa escrito “Bahamas”, o tiro desvia na placa e acerta de raspão as costas tirando o chapéu da cabeça dele no caminho. Ele pode esconder o rosto, mas sei que ele não está mais sorrindo. Talvez ele culpe a sorte. Acredite, amigo, não existe tiro de sorte, sorte é não tomar um tiro.

Trocamos “tiros” pela rua, correndo paralelamente um ao outro, aproveitando colunas, cavalos e tudo no caminho como cobertura. Estou perdendo. Os disparos dele estão cada vez mais perto de me acertar e os meus cada vez passando mais longe dele. E tenho a desvantagem de precisar carregar, enquanto as cartas são da mão dele sem intervalo de tempo praticamente ! E ainda o baralho dele é infinito! Não dá para me aproximar e usar a espada, seria alvejado impetuosamente.

Augusto Everwood é um homem de muitos níveis. Mais forte, mais rápido, mais inteligente, com melhores armas, não duvido nada até o pinto dele ser maior. Não consigo pensar em nada para vencê-lo, tudo a meu dispor é um punhado de conhecimento inútil. Até reconheço esse sobrenome dele, Everwoods, por exemplo. Os Everwoods foram uma das primeiras famílias coloniais vindas de arton-sul. Praticamente fundaram essa cidade junto com algumas outras famílias. Esse mauricinho querendo pagar de vida loka não me engana. As roupas, as armas o treinamento, e agora sei que até a Raposa, tudo pago com o preço do ouro de sua família, conquistado as custas dos nativos dessa terra. Massacraram os Indies, povo bárbaro habitante dessa Arton-norte. Ele nunca pagou o preço do ferro. Diz uma lenda que durante a batalha as crianças Indies sofriam terríveis pesadelos, e suas mães pediam ajuda a dama da noite para protege-lás. A dama da noite então atendeu ao pedido das mães, tendo a própria descido dos céus e ensinado a elas o segredo para afastar das crianças os sonhos ruins.

Imagino o quão furiosos devem estar essas mães e guerreiros falecidos… Eu ainda tenho o vínculo com o reino dos sonhos enquanto Latissa estiver lá. É, não custa arriscar. De joelhos, finco minha espada no chão para uma oração. Simples palavras de um canção folclórica na língua anã...

_“Dreams of war, dreams of liars
Dreams of dragon’s fire
And of things that will bite

Exit light
Enter night
Grain of sand

Exit light
Enter night
Take my hand
We’re off to the neverland”

O resultado é imediado. Acado de pronunciar as palavras quando criaturas de energias fluem saindo do buraco feito no chão pela minha espada. O som emitido por eles é assustador. Essa é chance de vingança deles. As criaturas, voando rapidamente, arrastam o corpo de Augusto Everwood pelos braços enquanto ele grita e esperneia inutilmente. Sorrio, e a alegria começava a tomar conta de mim quando percebo… Acabo de perdê-lo. Minha única fonte de informações em décadas sobre meus pertences da vida passada. Toda essa viajem e esse trabalho em vão.

Volto pela rua marcada pela batalha. Latissa esta montando em seu cavalo em frente a entrada do salão de jogos. Ela se despede a distância acenando com a mão e dando um sorrizinho. Como essa droga pode se diz um salão de jogos e sequer ter RPG, o jogo mais legal já inventado ??
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