Conjuração em Yuden - parte 3

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Caliel Alves
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Conjuração em Yuden - parte 3

Mensagem por Caliel Alves » 04 Fev 2020, 12:08

Ao se aproximar das muralhas, os besteiros apontaram os dardos. O ginete puxou as rédeas. Uma longa capa o vestia, ocultando o seu rosto. Era entardecer, a jornada foi longa e a cavalgada cansativa. O sargento no comando do posto de observação na muralha emitiu ordem de identificação. O forasteiro sorriu. O yudeniano entendeu aquilo como uma afronta.
― Quem vem lá? Identifique-se ou darei ordem de execução!
― Não reconhece os velhos amigos quando os vê? ― ironizou o recém-chegado.
E desvelando o capuz, Vérsico fez um sinal com a cabeça.
― Ah, é o sargento Vérsico ― disse o interlocutor meneando a cabeça. ― Não faça mais isso, ou da próxima vez não serei tão piedoso.
― Obrigado, meu senhor feudal!
E do adarve, foi dado a ordem para que os soldados subissem os portões. Os correntões e os contrapesos estalaram com uma sinfonia metálica. O yudeniano entrou e cavalgou pelas ruas. Os acendedores de tochas já faziam o seu trabalho.
Se encaminhou até o centro administrativo, na Praça Maior. Lá, a gênese da cidade era o centro do microcosmo comunal. A cidade nascia de um quadrado, e se expandia como um tabuleiro de xadrez. A forma da cidade lembrava os acampamentos militares. Uma pólis planejada para transpor a ordem social, política e religiosa. O urbanismo yudeniano pregava a ordem. A cidade era uma entidade política organizada em grupos integrados pelo funcionalismo. A municipalidade era um agente civilizador. A perfeição da estrutura urbana complementava a imperfeição humana. Kannilar era um complexo agrourbana de produção autônoma. Para gerir os negócios públicos a contento da harmonia e do desenvolvimento urbano, as três classes trabalhavam nesse intento, a saber: os cavaleiros, os mercadores e os artesões.
Vérsico cavalgava as ruas sem essa noção. A imaginação, o sono da razão humana, gerava quimeras em sua mente.
Os dias juntaram pô em suas juntas, e suor em suas roupas. E quando chegou a residência oficial do Conde D’Arcos, um pajem o recebeu. Apeou do cavalo e o animal foi levado pelo servo até o celeiro. Depois o homem acompanhou o militar até onde estava o nobre. Era uma sala ampla e com lareira, tendo aos pés um enorme cão de aspecto preguiçoso, o cavaleiro de Yuden o esperava. Ofereceu chá-forte numa xícara de porcelana. Era incrível como um homem de traços tão grosseiros tivesse tanta fineza em manipular um porcelanato. Dispensando o pajem, ele virou-se para o convidado. O nobre disse com voz pesada:
― Sente-se sargento Vérsico, os dias yudenianos tem clima ameno, mas as noites são frias. ― E apontou a poltrona ao lado.
― Conde D’Arcos, o senhor me trouxe aqui. Moveu algumas peças no jogo para que estivesse disponível não? ― inquiriu o soldado.
― Na verdade, não me esforcei tanto a ponto de ter que implorar. Tenho prestado muitos favores ao longo de minha vida e, seria ingrato quando preciso de certas pessoas e eles me virarem as costas. ― Sorveu a xícara e a pousou na mesa de centro feita em carvalho-negro.
Vérsico quase se engasgou com a bebida, e resolveu a colocar na mesa também.
― O senhor me falou de “perigos inomináveis”. Perdoe minha ignorância, mas de que trata esses perigos? Há possibilidade de insurreição nesse momento?
O homem ao seu lado olhou o fogo crepitar. As chamas dançavam libidinosas, criando um eco brilhante em seus olhos severos. O conde falou:
― Sargento Vérsico, não o trouxe aqui por considerá-lo alguém influenciável ou massa de manobra acéfala. Durante as Guerras Taúricas, você demonstrou raciocínio invejável, mais arguto que muitos nobres yudenianos que vivem arrotando a própria prepotência. Por isso o preferi há muitos, e creio que você ainda não está contaminado com o germe da politicagem.
― Desculpe, mas ainda continuo a não entender qual o meu papel.
― Hei de falar, escute-me e entenderá o meu propósito, o que também é o seu propósito. Você é leal a sua nação?
― Até a medula!
Após ouvir isso, o aristocrata decidiu por torná-lo a par da atual condição de Yuden.
Tudo começa no terrível ano de 1390, a primeira área da Tormenta surge em Tamu-ra, a extremo Nordeste de Arton. Uma tempestade elétrica regada a sangue e ácido, em seu epicentro surgem terríveis monstros insetoides, conhecidos como lefeu. O Império de Jade sucumbe. Nesse mesmo ano, Twor Ironfist termina a conquista de Lamnor, o que fortalece ainda mais a Aliança Negra dos goblinoides. Essa conjuntura geopolítica traz novos atores à cena. Dentre eles a ascensão do príncipe Mitkov Yudennach III ao trono de Yuden, logo após a morte do rei e seu pai, Fiodor Mitkov. As circunstâncias misteriosas de sua morte foram abafadas com a necessidade de um novo rei.
Em 1403, Lady Shivara Sharpblade casa-se com o regente Yudennach, um modo de preservar o Exército do Reinado, pois a derrota da rainha de Trebuck na Batalha do Forte Amarid fortaleceu a Tormenta. O militarismo yudeniano se torna um modelo dentro do Reinado. Dois anos depois, o Rei-Imperador Thormy destrona o rei Mitkov Yudennach III. O Exército com uma Nação perde sua figura mais importante, o seu líder militar.
Os lordes locais viam na Casa Yudennach não apenas um braço forte para manutenção do poder, mas um meio de ascensão social através de casamentos arranjados.
Os laços que unem os cavaleiros yudenianos com os Yudennach vão além do patriotismo, é uma questão de família. Quando Shivara cedeu postos importantes das tropas para cavaleiros das camadas mais subalternas, isso gerou um descontentamento geral. O alinhamento político dividiu os soldados. Sua presença abafava as críticas. Agora que ela havia saído de Yuden, indo reinar em Deheon, nomeou governadores tanto para Trebuck como para Yuden, manter as línguas ferinas já não era mais possível.
― Então o senhor acredita que estamos em risco de revolução?
― Sim. A dissensão toma as ruas, soldados rasos de infantaria trocam insultos em tavernas. Nosso novo regente nem esquentou o trono e já estamos em escaramuças ― disse o homem com olhar preocupado. ― Em todo Arton não conheço yudeniano com conduta tão impoluta e postura tão patriótica quando você sargento Vérsico, por isso, solicito seus serviços. Peço para que investigue os rumores de conjuração, descubra nomes, lugares, e nós faremos o resto.
― Serei um espião delator? Com que cara hei de encarar meus companheiros, meu senhor? ― perguntou o soldado.
― De cima! Afinal já será um cavaleiro de Yuden.
Vérsico abriu a boca para retrucar numa impulsividade nervosa, mas calou-se. A proposta era tentadora demais. Se não ascendesse naquele momento na hierarquia militar, jamais haveria outra oportunidade.
― Eu aceito.
― Poderia lhe oferecer mais chá-forte?
O sargento fez que sim com a cabeça. E servindo-se de um sinete, o comandante militar pediu que o servo retornasse. O soldado dormiu na mansão do Conde D’Arcos, prometendo retornar com respostas para a problemática apresentada.
O sono foi inconstante. Sonhou que estava em meio a uma batalha. Uma espada bastarda flutuava no ar e lutava sozinha. Ela feria amigos e inimigos, sem fazer distinção nem de um nem de outro. No fim do conflito, apenas Vérsico restava de pé a enfrentar a estranha lâmina. Quando o sargento cansado de lutar perguntou quem ou que ela era, a espada respondeu: “Eu sou a ganância”. O yudeniano acordou com a cama ensopada de suor. Pediu proteção a Keen, voltou a deitar, mas sem dormir.

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kold
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Re: Conjuração em Yuden - parte 3

Mensagem por kold » 07 Fev 2020, 11:49

acompanhando.
"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós."

Jean-Paul Sartre

Caliel Alves
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Re: Conjuração em Yuden - parte 3

Mensagem por Caliel Alves » 27 Fev 2020, 15:06

Olá, agradeço, devido ao Carnaval não postei o restante.

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