Conjuração em Yuden - Parte 4

[Caliel Alves]

Para evitar chamar atenção, dispensou o cavalo e vestiu uma djallaba. Vérsico seguia pelas ruas em direção a sua casa, onde os seus pais ainda moravam. Tinha notícias de que o velho armeiro se tornara poderoso na cidade. Mas o seu maior desejo era visitar a mãe. De repente, sentiu sua túnica ser arrastada. Virou-se segurando o cabo da espada.
― Meu senhor, tenha piedade para com este enfermo. Dê-me uma moeda.
― Para um mendigo você fala bem demais ― disse o sargento arrastando a barra do pano das mãos do suplicante. E sacando a espada devagar, colocou a lâmina embaixo do queixo do homem, mas ele segurou a sua ponta antes que o metal o ferisse. Vérsico exigiu: ― Abra os olhos!
― Vocês yudenianos não respeitam nem os cegos ― retrucou o mendigo.
― Para um cego, você tem ótimos reflexos. Vamos, abra-os! ― triplicou Vérsico.
O homem então abriu os olhos. Seu olho direito tinha uma pupila azul e cristalina como uma safira. Já o seu olho direito era vermelho como um rubi. Vérsico riu-se.
― Um homem de Collen! Vocês com seus olhos exóticos não viram os minotauros se aproximando pela traseira? ― ironizou Vérsico.
― E vocês “Exército com uma Nação” com suas afiadas espadas e gloriosos machados de guerra não conseguiram rechaçar os taúricos? ― rebateu o mendigo.
― Poupe sua língua de ser decepada por minha espada. ― Vérsico embainhou a lâmina novamente. ― Sabe que se eu resolver puni-lo por sua insolência, teremos um vagabundo a menos nesse reino?
― Bem conheço a justiça das leis de Yuden. Deixe-me ir.
Erguendo-se e escorando pelas paredes de pedra, saiu com os olhos fechados, tateando. No lugar onde o homem de Collen estava, tinha um estranho símbolo feito a carvão: um círculo cortado por uma linha transversal.