Conjuração em Yuden - Parte 9

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Caliel Alves
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Conjuração em Yuden - Parte 9

Mensagem por Caliel Alves » 16 Mar 2020, 19:19

Pela manhã, foi acordado por um servo. O sargento ergueu-se da cama e lavou o rosto. Vestiu-se e caminhou até a copa. Tomou um desjejum muito rápido. Foi ao estábulo, preparou a montaria e seguiu as recomendações que lhe deixaram. O Conde D’Arcos estaria nos campos de Kannilar. Lá praticaria tiro ao alvo.
Cavalgou até o centro da cidade e se deteve numa das suas praças. Uma aglomeração rodeava um pequeno grupo de clérigos. No meio deles, o mais exaltado fazia um discurso. Sua oratória era boa, causando comoção na plateia formada por fiéis de Keen de diversas classes, idade e sexo.
Dizia o clérigo com grande júbilo, sendo acompanhado de palmas e aclamações:
― Os Yudennach enfraqueceram a nação de Yuden. Abriram caminho para deuses estranhos, para que povos de costumes bárbaros convivam conosco ― disse o religioso com todo o proselitismo. ― Daqui a pouco, teremos mestiços entre nós, esses seres depravados como os que se amontoam em Deheon. O que dizer do bairro de Ni-Tamura? Acorda povo meu, Keen não se serve dessas coisas. Não somem a degeneração da raça. Olhem para os nossos atuais governantes! O nosso contingente militar não surgiu da necessidade de um soberano ou de um conselho de homens: somos o Exército com uma Nação! Que estrangeiro entenderá tal coisa?
O eclesiasta continuou o seu efusivo discurso até que finalmente se recolheu junto com seus seguidores mais próximos. Se Vérsico não estivesse vacinado contra aquela apologia, teria se juntado a multidão. Sendo mais alinhado à esquerda, e possuindo uma ojeriza pela família real, não sentiu qualquer empatia pelo clérigo. O sargento continuou seu caminho até que ouviu uma voz conhecida:
― Dê-me uma moeda, dê uma esmola a esse coxo, ajudem esse pobre coitado!
O homem de Collen vinha na direção do cavalo do sargento. Estava tão preocupado em obter suas moedas que bateu com a cara na montaria de Vérsico. O mendigo desabou com bengala e tudo. Antes que pudesse fugir, Vérsico saltou do cavalo e pegou o fugitivo pelo pescoço. O espremeu numa parede próxima como se fosse uma laranja.
― Lembro de ter dito para não atravessar o meu caminho de novo! ― disse o yudeniano se divertindo.
― Perdão, meu senhor! Mas o senhor é quem me atropelou com o cavalo.
O agressor cerrou o punho e o ergueu. O mendicante cruzou os braços em frente ao rosto em sinal de autodefesa. Mas o outro não o agrediu, e disse:
― Quer uma moeda?
― Sim, estou desde ontem sem comer!
― Então trabalhe! ― ordenou o yudeniano.
― Ninguém dá trabalho aos estrangeiros nessas terras. Todos me veem com desconfiança. Embora saiba trabalhar a madeira, nenhuma corporação me concede meios de provisão ― disse o homem aos choros.
Seu interlocutor tirou uma moeda da bolsa. O equivalente para um banho e almoço em uma estalagem. O homem de olhos exóticos tentou capturar a moeda, mas o outro a escondeu rapidamente.
― Você anda pelas ruas, e ninguém aqui dá bola para gente como você ― disse Vérsico ―, significa que pode andar e ouvir a conversa dos outros sem demonstrar perigo. Quer mesmo essa moeda?
― Sim! Eu desejo essa moeda, essa moeda preciosa...
O sargento quase vomitou com o estado de degradação daquele homem.
― Então comece me dizendo: quem é aquele clérigo de língua sedosa?
― Oh, ele é o clérigo Hanael. O mais fiel seguidor de Keen, o vosso deus da guerra.
― Porque diz isso? ― indagou Vérsico.
― Hanael é um monoteísta declarado. Acredita fielmente na supremacia de seu deus e da sua congregação. É fundamentalista e purista radical, embora não defenda a Casa Yudennach. Almeja mais que tudo expulsar os devotos de outras igrejas. Graças a esses pensamentos, ele encontra apoio em diversos lordes locais como o cavaleiro Prasicos ― segredou o mendigo.
― Muito bem, e o que me diz sobre os estranhos rabiscos que vejo em certos lugares?
― Está falando do círculo com o risco na transversal? ― indagou o homem de Collen.
― Sim, o que significa?
― É o símbolo do vazio.
O yudeniano ficou refletindo sobre a nova informação. Deu a moeda ao seu mais novo informante e pediu para que ele ficasse de olhos bem abertos, e que identificasse ao menos um dos pichadores de paredes.

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