Valkaria , 01/01/1411, Tirag
Casa do Prof. Apatari
Kai
Não entendi direito essa parte do Vale ser fora de Arton. Poderia explicar?
Ayodele
- Claro! É... bom, nós vivemos neste mundo, que vocês chamam de Arton e em Yfé chamamos de Niagbaye. Mas há outros mundos, todos conectados à Niagbaye e entre si. A totalidade destes mundos forma o Agbaye, a “criação”. O Vale é um desses “mundos”, embora ele seja pequeno, um kekerebaye.
- Como a Academia Arcana! Isso, um mundo pequeno, como lá. A palavra é... “semipleno”, eu acho.
Os dois aventureiros e o casal de moças discutem mais um pouco sobre a jornada. Então Aldred convida a todos para uma boa “noitada”.
Antes de sair, despendem-se dos donos da casa. O professor chama seu ex-aluno a outro cômodo, com uma desculpa. Ele confabula com o jovem em um tom baixo.
Akahata Apatari
- Escute, Aldred. Tenho uma tarefa extra para ti. Não vou pedir nada antiético, mas caso seja possível – e somente se for possível – assistir à reunião entre os sacerdotes, eu gostaria de uma transcrição da reunião. É algo que me interessa, pois é um encontro entre seguidores de uma mesma divindade, mas que a veem de formas distintas. Pode ser interessante, para meus estudos, saber como eles lidam com esse, como direi, “espírito ecumênico”.
- Claro que se houver alguma parte secreta, ao qual sua presença seja vetada, não há necessidade de forçar. Ayo é minha amiga e se seu pessoal tem segredos, têm direito a tê-los como todos nós. Mas se houver algo público, gostaria que registrasse. Não posso te dar notas, mas farei melhor – irei lhe pagar pelo serviço.
- Particularmente, gostaria muito de ir eu mesmo, mas minhas obrigações aqui me impedem. Em parte a possibilidade de contar com seus serviços foi um dos motivos para tê-lo indicado para o trabalho.
Após partirem, eles vão a uma taverna requintada escondida entre as vielas da Baixa Vila de Lena.
Ayodele
- Olha, que lugar interessante! Os privilégios de um nativo, não é? Sabe, não há muitos goblinoides em Yfé, a raça não-humana mais comum são os orcs e em seguida os nagahs e minotauros. Mas os orcs de lá parecem mais inteligentes do que os que encontrei por essas bandas – embora os poucos orcs que encontrei no caminho fossem bandidos, em sua maioria, então não tenho como julgar.
A noite transcorre normalmente. Ayo, habituada ao regime noturno, permanece “ligada” boa parte do tempo.
Ayodele
- Pela Mãe, olha a hora! Logo Azgher vai dar as caras! Tenho que ir. Nós nos encontramos então dentro de duas noites, na casa do professor, exatamente ao anoitecer. Avisem ao seu amigo, tá? Ah, e lembrem-se de providenciar alguma forma de enxergar no escuro – vão precisar! Você vem, Nat?
Fen
Matt desce para beber, sozinho. O resto da noite passa tranquilamente, sem incidentes. Alcoolizado, ele vai se recolher quase à alvorada e dorme boa parte do dia.
Na noite seguinte, está enfurnado seu quarto quando escuta alguns estalidos na fechadura. Antes que possa fazer qualquer coisa a porta se abre subitamente.
Val
- Oi, querido! Vim te visitar! Nossa, que muquifo esse! Sabe, se fosse um pouquinho mais ambicioso poderia estar dormindo em um lugar bem melhor!
Ela bota uma grande mochila sobre uma cadeira e guarda um par de gazuas no bolso.
Val
- Sabe, normalmente é Tenebra quem gosta de dar presentes – eu prefiro incentivar as pessoas a lutar pelo que querem! Mas...
Ela senta na cama, debruçando-se diante do jovem emburrado.
Val
- … vou abrir uma exceção pra você! Isso aqui é seu – não diga que nunca lhe dei alguma coisa! Se bem que eu lhe dei outras coisas boas... Mas, bom, já que o marrentinho decidiu sair do jantar antes de discutir os detalhes do trabalho, tomei a liberdade de anotar pra você. Olha que mamãe legal você tem!
Ela pega um par de óculos estilosos, tira um pequeno caderninho de anotações de dentro do generoso decote, abre-o e lê com um tom formal:
Val
- “Os aventureiros contratados por Ayodele, Clériga de Alantakun Aye, também conhecida como Mãe Aranha, deverão comparecer amanhã, dia Valag 3 sob Altossol, mil quatrocentos e um anos do Calendário Élfico, na residência do Senhor Professor Sênior da Universidade Imperial, Akahata Apatari, PhD., exatamente ao anoitecer.”
Ela remove os óculos e olha sorridente.
Val
- Muito bem! E é isso! Anime-se, Fenzinho, você vai pra uma aventura! Ah, queria ir também! Será que eu vou? Não vou... Vou! Ah, não posso! “Primeira Lei da Aventura: o nível de desafio de uma aventura é proporcional à média do nível de poder do grupo envolvido.”
- Se eu entrasse nessa o nível iria lá para as alturas! Então não vou! Mas vou ficar assistindo! Boa sorte, Fenzinho!
Valkaria , 03/01/1411, Valag
Casa do Prof. Apatari
Após passarem os dias anteriores se preparando para a jornada, os aventureiros se encontram na casa do professor.
Ayodele
- Todos prontos? Vamos lá!
Marama Apatari
- Boa viagem!
Akahata Apatari
- Boa viagem e boa sorte! E, Aldred, não se esqueça do que lhe disse - se puder fazê-lo, ficarei grato. Até a volta!
Cobertos pela noite, vocês cruzam a cidade. Ayo e Nat haviam vindo para a casa do professor no final da tarde (“odeio acordar cedo”, reclamou a sacerdotisa) e a clériga havia se coberto completamente para chegar à residência sem ser tocada pela última luz diurna. Agora, sob as estrelas, ela remove o grosso manto, revelando suas curvas.
Sim, pois a cidade prepara-se para a chegada de Vectora e pessoas começam a chegar de toda Deheon e de países vizinhos. A população, que já era maior pelo Ano-Novo, aumenta ainda mais.
Leva um tempo até chegarem ao Portão Norte. Ayo havia arrumado montarias para si e Nat, mas cabia aos outros três conseguirem suas próprias. Este era o Portão da Queda, o local onde as legiões tapistanas haviam invadido a cidade. De qualquer modo, saem da cidade e partem em direção a Selentine. Embora fosse um aparente desvio de rota, uma vez que a pequena cidade estava na direção contrária ao destino final, era necessário, pois o porto de Selentine servia à Valkaria, uma cidade que, por suas origens particulares, não fora construída próxima a um rio e dependia daquele acesso.
Estrada para Selentine
A jornada leva quatro noites e é tranquila. A estrada é bem vigiada e o fluxo de viajantes é alto, à pé, cavalo, carroças e carruagens. Selentine é conhecida por seus trabalhos em vidro e cristal e o transporte destes produtos requeria uma boa estrada – e uma segurança ímpar, mantida não somente por soldados do reino, mas também pelos guardas contratados pelos mercadores e pelos senhores feudais que se beneficiavam com a passagem da rota por suas terras. Mas os dias são um pouco difíceis – o fluxo de mercadores rumando para a capital, levando seus produtos para serem vendidos a seus pares em Vectora, é intenso e frequentemente os quartos nas diversas estalagens da estrada estão lotados. No final das contas acabam tendo que acampar à beira da estrada – e não estão sozinhos, pois outros também utilizam tais artifícios, mormente os com menor poder financeiro.
Ayodele
- Não esperava por isso. Confesso que não achei que teríamos que acampar tão cedo. Espero encontrarmos alguma embarcação para o sul. O professor me garantiu que sim, pois o rio é a mais importante rota comercial ligando Deheon aos reinos do sul. Bem, confiemos na Mãe e em Ifá.
Selentine, 06/01/1411, Jetag
Vila de Selentine
Diferente de Valkaria, Selentine é realmente uma povoação humana – a presença de outras raças é mínima, embora haja um número considerável de goblins e até alguns elfos. O fato é que a hora em que chegam, em plena noite alta, tudo está fechado, exceto uma estalagem. A atendente, uma goblin, os recepciona ao entrar.
- Boa noite! Bem-vindos à Casa de Kyara. Eu sou Kyara, a estalajadeira. Bem, na verdade essa é minha mãe, Gara, mas eu sou a herdeira - e a estalagem tem o meu nome! O que posso fazer por vocês?
Ayo assume a negociação e faz algumas perguntas sobre os navios que partem para Ahlen. Quando termina, volta-se para vocês.
Ayodele
- Bem, parece que os navios só partem durante o dia. Tsc. Teremos que esperar amanhecer e aí vocês poderiam ir até o porto e arrumar algumas cabines para nós. Eu vou esperar aqui, onde é mais escuro, úmido e confortável. Você fica comigo, Nat?
Ela mexe no cabelo enquanto sorri e pisca para a engenheira.