Tenzi
O corpo falhava. As ligações e reflexos materiais pareciam ir diminuindo. Um medo estranho e gelado tomou conta de Tenzi, mas algo em si falava mais alto. O jovem sabia da ligação que deveria ter com as estrelas. Elas estavam ali para quando ele estivesse caindo. Assim como ele estava ali para quando o mundo estivesse caindo, e precisasse de ajuda.
Tenzi sentia o cosmo de Compasso, tanto da constelação, projetada acima de si, como da armadura, ao longe. Não sabia quanto tempo havia passado ali dentro, mas a armadura já parecia quase pronta, e mais forte do que antes. Tal sensação o animou.
— Hoh… então você pode continuar. Vai continuar se protegendo, sem atacar…? O que sua observação lhe disse até agora?
Ainda flutuando à frente da arma de cosmo que criara atrás, a mestra aguardou por uma resposta.
Amaretsu
Amaretsu violentamente avançou na direção de seu alvo, visando a morte. Sua intenção expressava-se em palavras e gestos. O homem sorriu, embora não fosse adequado para aquele momento. Os lobos foram se colocando no caminho, um a um sendo despedaçados, o sorriso do homem aumentando. O cosmo de fogo vibrava vermelho sangue. Não sabia se recebera a bênção desejada, mas sentia muito poder.
— Olhe bem… isso jamais será o guardião do mundo…
Não foi ouvido. A sequência de golpes envergava o corpo do homem, a partir de suas joelhadas, cotoveladas, chutes, combate de curto alcance com o poder das estrelas. O sangue espirrou para os lados, e o último golpe, no rosto, fez a máscara e alguns dentes voarem, lançando o homem metros atrás. Tudo o que sobrou foi uma Amaretsu ofegante, orgulhosa. Uma sutil dor começou a aparecer em seu peito.
"Parece que ela é serva de Marduk, da cria de Enlil, não é?" No entanto, ela usa nomes diferentes para eles.
"Sim, mas não é bom que isso seja revelado. Só deixará o homem mais forte."
— C-como… p-pode me chamar… de arrogante… orar a um d-deus… que mata… e ch — ele tossiu dentes e um coágulo. — … chamar de justiça… s-s-seu deus… é o inferno… também… caí nessa armadilha.
Sua voz começava a voltar ao normal. Ele ainda estava deitado, o rosto totalmente deformado, mas recuperando-se. Sentou-se, colocando o braço no lugar, que estava numa posição impossível até então por tentar defender um dos golpes de Amaretsu.
— Você é uma marionete. Por não questionar, precisa esconder suas dúvidas jamais respondidas debaixo de violência. Se alguém a questiona, você entra em desespero, porque não tem a resposta, então é melhor eliminar aquele que levantou o proibido. E para camuflar com perfeição, chama de justiça divina, recitando palavras convenientes. É impossível que seu deus a escute. A não ser que você esteja enganando a todos, claro.
O pescoço dele voltava ao lugar, as feridas começavam a fechar mais rapidamente. Ele conseguiu se levantar.
— Não preciso pará-la. Você, sozinha, vai parar a si mesma.
E, com isso, socou o próprio queixo, e da boca dois dentes que já estavam crescendo novamente saíram voando. Antes que Amaretsu pudesse entender o porquê, ao ver o homem caindo no chão e seu sangue voando, sentiu um golpe terrível no próprio queixo por debaixo da máscara, que tirou todo o seu equilíbrio. Seus sentidos ficaram confusos, a boca com gosto ferroso. De alguma maneira, levara o mesmo soco que o homem se auto-aplicara.
— Agora que resistiu ao máximo que podia… vai fazer o quê, criança?
Amaretsu perdeu 10 PVs.
Carlos
Numa manobra desesperada, Carlos enviava o cosmo a cada parte do corpo, sintonizando seu sistema cosmoelétrico ao físico. Assim como fizera justamente a Saja, antes, distribuía a energia pelos membros, pacientemente. Sentia um calor muito agradável que ia anestesiando a dor. O desespero voltou um pouco com o barulho elétrico, mas algo havia de errado.
Saja não parecia estar voando ou saltando na direção de Carlos. Parecia ter sido atacada, na verdade, pois vinha com a coluna flexionada para o lado, como se tivesse sido golpeada na costela. A mão segurava o ponto de dor, e os raios tinham uma cor diferente de antes, um tanto avermelhados. Havia raiva em seu cosmo, ou frustração, indignação.
Ela caiu a alguns metros do rapaz, derrubando três árvores no processo. Soltou um grito audível e desesperador. De repente, parecia fazer sentido. Mulheres eram capazes de tolerar muita dor, mas tinham a estrutura física menos protegida que os homens.
— N-não sinto… minhas pernas… Aaaaaah… por que isso… sempre acontece…
Rastejando enquanto Carlos começava a se levantar, ela o viu. Levantou a mão direita, e das pontas dos dedos diversos raios de cosmo começaram a se concentrar.
Cecilia
"Resistir é uma palavra dificílima. Tudo a que se resiste, cresce. O contrário de resistir é amar. Mas é difícil lutar sem resistir, pois que lutar e resistir são semelhantes. Aquele luta está fadado a perder, porque a derrota é a luta."
"Muito confuso. Então como lutar sem lutar?"
"Não é ensinado. Aprende-se sozinho!"
— Ah, senhora… não confunda as coisas. Você é só o canal… seria muita prepotência se achar o caos primordial. Ele apenas escolheu surgir através de você… então, você tem que simplesmente apagar! Então ele surgirá.
Cecilia sentia que podia mover seu corpo energético, mesmo vendo ali de cima. O vulto levantou a mão direita, que começou a emanar uma energia escuríssima, um cosmo muito denso e podre, de sensação semelhante ao que Ingi manipulava. Então, começou a aproximar a mão da nuca de Cecilia, e uma sensação de urgência tomou conta da visão que a garota tinha.
"Quando não se resiste, você não pensa na ação. Você é a próprio ação!"