A garota que acompanhava o rapaz observou o objeto que flutuava dentro de uma cúpula difícil de ser descrita. O rapaz, porém, não conversava com ela; parecia conversar com mais alguém, com outra pessoa.
— É um jeito curioso de virar o jogo e proteger o mundo. Não é mesmo, mestre?
A garota aproveitou e observou ao lado, uma cela com barras largas e rústicas com três prisioneiros. O cosmo deles parecia ser consumido aos poucos pelo objeto que flutuava na cúpula.
Uma sombra trêmula mais afastada dos dois naquele cômodo amplo, úmido e pedregoso sumiu.
Amaretsu
O almoço estava muito bom. Kátia sorriu diante do rosto de Amaretsu, analisando a beleza da garota, embora não tenha comentado nada. Todos sentiram-se tranquilos e descansados após a comida, quando então Amaretsu comentou sobre a sensação ruim que se fazia no local, difícil de entender ou identificar.
— Na verdade, estou preocupada com isso ultimamente — Kátia apontou sobre o assunto, como quem já sabia a respeito. — Faz alguns dias que sinto isso, e cheguei a fazer algumas investigações, mas sem sucesso. Começou depois da chuva que comentamos. Aquela noite, inclusive, uma amazona em missão sumiu simplesmente do nada. Perdi o contato com ela sem detalhe algum. Desde então tudo pareceu piorar, apenas.
Kátia permaneceu observando o próprio garfo, brincando com uma ervilha que sobrara no prato de comida vazio. Ela avaliou o que tinha para falar, suspirou e revelou:
— Na verdade, há algum tempo suspeitamos que a Atena desta era está na Universidade. Ao longo do ano passado, um cosmo benéfico latente foi sentido aqui ou ali, mas nunca descobrimos ao certo quem era o detentor. Bolamos uma missão para tentar fechar este assunto semana passada, descobrindo então a possível Atena, mas tudo mudou de rumo. O sumiço da amazona responsável por este plano, uma epidemia de caráter cósmico que se deu àqueles que se expuseram à chuva que comentei, e essa sensação ruim intermitente que tem se tornado cada vez mais forte. Estou com a sensação de que sofreremos um ataque.
Ela suspirou, sem ideias a respeito.
— Nike… pode nos mostrar quem é Atena, talvez. Também pode nos orientar a impedir este ataque. Precisamos nos unir contra esta iminente ameaça. Hoje, a faculdade está 80% vazia. A maioria está acamada em casa ou nos dormitórios internos, e os piores casos estão na enfermaria; os que sobraram são funcionários com cosmo acima da média, e suspeito que isso seja uma forma para não ter sido contaminado pela doença, pois eu, por exemplo, tomei chuva e não adoeci. Penso ser a hora de agir.
Cecilia
— Sim. Eu também sinto. Tenho sentido uma energia estranha aqui, e parece se concentrar no coliseu… o que poderia ser? — Sara se ajeitou, sentando mais ereta, mas fez uma cara de dor, desacostumada ao movimento. — Algo está errado com aquele lugar. Kátia deve ter percebido.
Sara observou Cecilia por algum tempo, pensativa e séria. Parecia enxergar mais do que simplesmente a presença da garota, algo além, talvez como sua própria alma. Ela sorriu, divertida.
— Você está se modificando. Sabe, depois que acordei, passei a enxergar algumas coisas além do cosmo que permeia tudo. Ao seu redor, alguns centímetros, como um contorno, consigo ver sua transformação, no que você está se tornando… seu cosmo vem do corpo e vem dessa projeção, também. Veste reluzente, cabelos soltos, um pouco mais alta, olhos abertos, não sei se enxergam ou não. E como dizer…
Sara esboçou uma tentativa de se levantar, colocando as pernas para fora da cama e pisando no chão. Respirou fundo e, lentamente, ficou em pé. Suas pernas inicialmente tremeram, mas logo ela estava bem. Não estava tão desacostumada assim, e estava melhor.
— Essa Cecilia que vejo se parece mais com você do que você mesma. Ela está chegando em breve, se apoderando do seu destino!
Sara encostou na mão de Cecilia e, por um instante, menos de um segundo, a alemã pôde ver colorido novamente, voltando ao seu radar logo depois. Uma batida na porta interrompeu o momento diferenciado.
— Cecilia, Sara? Bom-dia! — era Safira. — Você está melhor, Sara? O clima está pesado ultimamente, não?
Sara observou Safira sorridente, mas não disse muito.
— Acho que tudo melhorará se vocês puderem investigar o coliseu. Pode ser estranho, mas… podem me fazer esse favor?
Carlos e Tenzi
À medida que Tenzi caminhava na direção que as placas indicavam de onde seria a diretoria, um prédio mais afastado daquela parte do campus, sentiu dois cosmos inicialmente amigáveis, ou pelo menos não hostis. Vinha do outro lado do bloco, percorrendo um corredor. Um deles observava com atenção a armadura disfarçada de Tenzi, e possuía um cosmo muito mais sensível que a outra pessoa, uma linda mulher oriental em vestes mais formais. Se fosse supor, Tenzi saberia que o primeiro era um guerreiro, e a segunda era uma pesquisadora ou outro tipo de especialista.
Talvez fosse muito cedo, ou talvez a maioria dos alunos estivesse em aula ou ocupados em outras atividades, porque naquele momento e naquela região estavam aparentemente apenas os três. Ou será que não?
Carlos e Saja, seguindo rumo ao jovem estrangeiro (pelo seu jeito e trajes não condizentes com uma universidade), pararam por instinto. Algo na região parecia ter mudado, a energia local. Até mesmo o cheiro do ar parecia meio ionizado, como se houvesse uma movimentação elétrica na região.
— Parece um campo magnético repentino… será que vem dele? — disse Saja, ressabiada.
Tenzi sentiu um choque estranho percorrendo seu corpo; inicialmente pareceu um pressentimento ou apenas um repuxão nos nervos da espinha, mas parecia totalmente externo, vindo de fora para dentro. Não estava chovendo, nem havia equipamentos eletrônicos próximos (embora Tenzi não conhecesse muito bem a tecnologia do resto do mundo, então qualquer coisa poderia ser possível), então o que poderia ser? Os pensamentos, porém, ficaram confusos e se esqueceram de tal dúvida. Um calor estranho tomou conta do corpo, e os músculos subiram de temperatura. A respiração ficou ofegante e um pouco violenta, e então era difícil sorrir.
Não sabia o porquê, sentia ódio dos dois que o olhavam. Eram visivelmente inimigos e precisavam ser pelo menos desacordados por suas mãos. Seguindo esse impulso irrefreável, Tenzi partiu para atacá-los com tudo o que tinha. Compasso, porém, não ressoou a esse instinto, mas não importava.
Espaço do Mestre
Finalmente se iniciou o novo capítulo!
Vou usar da ideia do Kaidre para comunicar com vocês no fim de cada post. Por organização, peço que sempre que forem falar sobre algo de regras na postagem de vocês, o faça dentro de um quote no final do texto.
Tenzi está sob efeito de Ódio (é como Fúria, mas quase racional e permite usar PMs) e precisa atacar Saja ou Carlos (ou ambos, se puder) com tudo o que possuir para atacar fortemente de uma vez. No próximo turno haverá um teste de R para tentar resistir a tal impulso. Não posso dizer se ferir Tenzi o retira do transe ou o piora.