Hoenheinn pensava que havia passado pelo o pior até aquele momento. Ser engolfado por criaturinhas, desacordado, reerguido e finalmente passar toda uma noite correndo e combatendo aqueles monstros parecia ter sido o pior que o seu oponente tinha a lhe oferecer. Estava enganado. Imaginou que ao adentrar a caverna os riscos talvez fossem menores, talvez o vilão já tivesse despendido a maioria de seus recursos para manter o domínio sob a cidade e isso o tivesse deixado mais fraco. Não podia estar mais errado.
Ao adentrar na caverna de imediato o Paladino de Valkaria soube que não era querido ali, sentiu o único sentimento que Kallyandranoch expressava a seus opositores: Opressão. Conforme avançavam através da caverna e derrotavam mais Kobolds e lobos modificados pela influência dracônica do ambiente, finalmente alcançaram o esconderijo final de Desmond onde esse se encontrava sentado em cima de uma pilha de crânios humanoides. Firmando um olhar com o do homem Hoenheinn gritou por seu nome.
-DESMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOND.
Escondidos nas sombras, apenas o brilho nos olhos das criaturas podiam ser vistos. O barulho de armas e a movimentação das dezenas de centenas de Kobold tomaram conta pelo o tempo de um batimento de coração. Pararam. Esperando a ordem de seu senhor.
-Desmond não viemos aqui para mata-lo, viemos aqui para convence-lo que o que você faz não é apenas injusto para com as pessoas de Menath, é injusto com você próprio. Olhe ao seu redor, o que você vê?
Ruína, solidão, a companhia de não mais que monstros que se movem e o obedecem não por paixão, mas por obediência, sem uma real conexão com quem você é. Você esta sozinho reinando por cima das cinzas da destruição que você mesmo causou.
Entretanto Desmond, nem tudo esta perdido, nas suas mãos ainda existe o poder da escolha. Você não é Dragão, não é besta-fera ou monstro, você é homem. Você é Humano. Em você existe muito mais do que poder, existe ambição, e isso te levou a tomar a decisão que tomou, mas essa ainda não o abandonou. Em você ainda existe a capacidade de se erguer diante de toda dificuldade, em você ainda existe a capacidade de construir e a capacidade de dar e receber amor.
Olhou para Gwendoline, a jovem se colocou ao seu lado e então o paladino continuou.
- Gwendoline dentro de si possui a maior de todas as ambições, Gwendoline possui amor. Um amor puro e verdadeiro por você, um amor que pode ajudar a curar os ferimentos de seu coração e sua alma. Gwendoline lutou contra todas as possibilidades apenas para estar aqui e olhar diretamente em seus olhos e alcançar o homem dentro do dragão.
Desmond, ainda existe um futuro para você fora dessa caverna escura. Um futuro brilhante. Um futuro que vale a pena viver e sonhar. Abaixe suas armas, dispense essas criaturas, abandone o deus dragão Kallyandranoch e volte para Valkaria, ela é uma mãe generosa esperando de braços abertos um filho desgarrado que se perdeu no meio do caminho. Permita que eu o ajude a abrir um caminho. Eu te garanto que a Igreja de Valkaria irá interceder por você caso se arrependa e junto de Gwendoline vocês criarão um futuro promissor e sem igual em Menath.
Escute-me Desmond, o mundo é muito maior, você pode ser a diferença real na vida das pessoas dessa cidade, basta você dar um passo a frente em direção a verdadeiros laços, um futuro promissor e o amor verdadeiro de alguém que te ama... O caminho esta aberto, Desmond, basta percorre-lo. Qual a sua resposta?
Esperava que com aquele discurso, demonstrando a realidade e um caminho diferente para sua própria vida ele pudesse abandonar sua busca por conquista e poder e mais uma vez estava enganado.
O Cavaleiro do Dragão avançou contra eles junto de seus monstros que se escondiam nas sombras. O início foi caótico e uma balburdia sem igual, mas aos poucos os aventureiros se alinharam e puderam superar a massa de inimigos que avançava sem medo. Após aparar diversos dos golpes de Desmond, Joelhada, a espada de Hoenheinn não aguentou e acabou se partindo em uma chuva de aço, entretanto com o que restava da arma o paladino conseguiu desferir um ataque decisivo contra o inimigo, colocando ele de joelhos.
Coberto de ferimentos por todo seu corpo, os aventureiros se mantinham em cima de um tapete feito com os corpos dos Kobolds. No centro de tudo isso se encontrava o causador daquilo tudo. Tomado de ódio Hoenheinn se preparava mais mais um ultimo ataque contra o homem, entretanto...
A jovem que ainda mantinha fé no cavaleiro se destacou e o abraçou, se colocou entre os aventureiros impedindo sua aproximação. Desejava escapar com ele. Aquele ato fez com que toda raiva sumisse do coração do loiro. Olhava para aquele homem derrotado, senhor de nada, e a única coisa que podia salva-lo era a jovem que o amava. Se lembrou do porque havia vindo até ali e tentou mais uma vez. Olhou por cima do ombro de Gwendoline direto para Desmond.
- Olhe para o quão abençoado você é Desmond, mesmo derrotado, mesmo fraco, em seu pior momento acuado e totalmente enfraquecido você ainda tem alguém capaz de te amar. Vamos, se levante, ainda existe um ult...
Primeiro veio a dor, seguido da visão embaçada. A respiração pesada. Olhou de volta para Gwendoline e do peito da moça, na altura do coração, saia a lança do vilão que a ponta encontrava o seu próprio peito. A respiração ficou difícil e a ultima coisa que viu foi o rosto de Gwendoline logo a sua frente. Ela ainda sorria.
.
.
.
.
.
A volta a Mehnat foi soturna. Em seus braços trazia o corpo já falecido da mulher. Seu ferimento foi curado por Clarissa, ainda estava vivo. Não olhava na direção do vilão. Enfraquecido, os Kobolds não mais pareciam obedecer aos comandos de Desmond, ao menos não por enquanto. Quando finalmente chegaram aos portões da cidade, olhava de soslaio para as ruas agora vazias, algumas pessoas pareciam ter criado coragem para sair de casa. Algumas falavam que viram os Kobolds se dispersando, outras olhavam com espanto e outras com medo para os aventureiros. O paladino viu ao menos um dos velhos derramando lagrimas pela jovem.
Não falava nada.
Haviam salvo a cidade, mas a qual custo? Para Hoenheinn aquilo não se parecia com vitória. Por sua culpa havia acredito que um facínora seria capaz de se redimir perante a possibilidade de ser amado e ter uma vida digna. Havia sido inocente e isso o tinha feito permitir que uma jovem jogasse fora sua vida por um amor perigoso e doentio.
Sentia um amargor em sua boca que demoraria meses para finalmente passar. Sentia vontade genuína de chorar, mas não podia, devia ser para aquelas pessoas um exemplo, um sinal de esperança, um simbolo de vitória.
Subindo as escadas da igreja de Khalmyr, finalmente depositou o corpo da mulher no altar. Falou finalmente para chamarem Audamor. Esperava que ao menos no pós vida ela fosse mais feliz no reino de um deus bondoso.
.
.
.
.
Os dias se passaram enquanto os aventureiros se recuperavam e a própria cidade. O vilão era mantido preso em um calabouço abaixo da igreja, enquanto Lyane esperava as forças do reino de Samburdia viessem. Hoenheinn durante esse tempo ajudava os aldeões a reconstruírem suas casas, daqui a alguns dias deveria continuar sua peregrinação por todo o reinado, Valkaria era generosa, mas exigia que seus representantes levassem sua palavra para longe. Realizar trabalho comum ajudava a ocupar a mente e não pensar tanto nos acontecimentos de dias atrás.
Foi após um dia de trabalho que disse a nobre.
- Faça o que acha certo com relação a Desmond.
E não disse mais nada, agora confiava apenas no discernimento da mulher, mais tarde naquela noite preparava para voltar a viajar. Havia recebido notícias de que um mercador vinha até a cidade, provavelmente Bror havia tido algum sucesso em seu objetivo.
Foi quando falou aos outros aventureiros.
- Não sei qual o objetivo de cada um de vocês agora... eu pretendo seguir até Schkarshantalas e fazer o caminho até Deheon a partir de lá. Pretendo procurar um ferreiro para concertar minha espada e bem... existem mais tiranos no caminho para serem derrubados e pessoas aflitas por algum raio de esperança. O que me dizem?
.
.
.
.
.
Quando finalmente o dia chegou Hoenheinn saiu pela a manhã, deixava para trás uma cidade que não tinha certeza se algum dia melhoraria ou se havia ainda alguma esperança. Temia pelo o vácuo de poder deixado pelo cavaleiro do dragão, mas esperava que o trabalho do mercador fosse o suficiente para manter tudo sob controle. Em seu bolso havia ainda uma carta escrita para Laura. O resultado daquela missão e tudo o que havia ocorrido até então. Olhar para aquilo era um tanto triste.
Por entre as arvores do caminho e tomado pelo o barulho de apenas os seus passos e do farfalhar de árvores a lembrança da jovem que o havia o ajudado e que ele deixara morrer de forma tão trágica voltava a sua mente e ainda o assombraria por muito tempo.
Uma lágrima caiu por um de seus olhos. Ergueu os olhos a estrada a sua frente. Haviam mais um horizonte para percorrer...
Maraton - Seismic
https://www.youtube.com/watch?v=bkoVBcRQ24g