Contra Arsenal [Finalizada]

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Mælstrøm
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Contra Arsenal [Finalizada]

Mensagem por Mælstrøm » 20 Mar 2019, 18:54

Manto e Adaga

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O ano de 1406 começou cercado de incertezas. Após a fabulosa vitória de sir Orion Drake sobre a Tormenta em Tamu-ra, uma grande ameaça deixou de existir. Nas sombras, vilões moviam suas peças para ocupar esse espaço. Aproveitando o desgaste político que crescia em grande tensão no oeste do Reinado, seres espreitavam na escuridão.

Na ausência de centenas de deuses menores e outros heróis mortos no grande esforço contra a Tormenta, Arton precisava desesperadamente de heróis experientes.

***

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Residindo em seu casarão em Valkaria, Aldred e Therese viviam seus anos de aposentadoria. Muitos aventureiros que tiveram o privilégio de terminar suas carreiras com vida e todos os membros do corpo intactos, preferiam viver em paz aproveitando os tesouros acumulados dos anos rastejando masmorras. Mas não Aldred e Therese. O casal, antigos membros do Protetorado do Reino, passaram os primeiros anos de "calmaria" criando os dois filhos. Mas quando a mais nova atingiu uma idade satisfatória para saber se cuidar, o casal passou a buscar novas coisas para fazer.

Aldred fazia suas cavalgadas semanais, aproveitando a enorme velocidade de Farrapo, um garanhão exemplar e poderoso, patrulhando o território de Deheon. Therese tornou-se de fato uma acadêmica, produzindo teses e teorias, aprofundando o campo do estudo da mente e dos feitiços do encantamento. Muitas vezes membros do Protetorado os procuravam para aconselhamento. Outros também os chamavam para tentar resolver algum problema, mas o casal recusava sempre qualquer chamado para uma missão ou aventura. Haviam prometido e decidido que haviam parado.

Porém, quando o próprio rei de Tollon, o Reino da Madeira, faz o convite, era difícil ignorá-lo. Solast Arantur era um monarca conhecido por sua bravura e humildade e precisava de ajuda para uma questão importante, revelada apenas na reunião em Vallahim, capital do reino.

***

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A Ordem de Valhalla acolhera muitos membros ao longos dos anos desde sua fundação. Porém, nenhum integrante se tornou tão proeminente como Hildr. Não apenas por seu sangue celestial e sua habilidade de voar com suas asas, mas por sua eficiência em combate portando sua foice mágica e sua capacidade de aglutinar guerreiros que não eram humanos. Em Yuden, a Ordem de Valhalla prosperou nas sombras das antigas florestas de Svalas.

Buckhard, seu mentor e pai adotivo, não escondeu o trágico passado de Hildr e nem quem o provocou. A guerreira, entretanto, foi criada com disciplina marcial e estoicismo impressionante. Apesar de seu sangue celestial buscar plenitude e sacrifício, Hildr foi moldada para ser uma guerreira fria e por isso não se deixava levar por motivações pessoais como vingança. Ela esperava o momento certo, a oportunidade de agir sobre aqueles que a tiraram a escolha de um futuro diferente.

Hildr chegava de mais uma missão quando foi recebida por Buckhard. Ele tinha mais uma tarefa para ela. O próprio rei de Tollon, Solast Arantur, solicitou à Ordem de Valhalla o seu melhor guerreiro para uma tarefa imprescindível. Normalmente Buckhard tomaria para si essa tarefa, mas estava velho e Hildr era reconhecidamente a mais poderosa integrante da ordem. Era jovem e tinha o sangue de celestiais. Algo que poderia agradar ao rei e garantir gordas recompensas.

***

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O Baronato dos Carpas em Callistia estava agitado nas últimas semanas com o anúncio do casamento de Kallyan e lady Marina Wulden do baronato vizinho. Todos os dias, várias carroças de comerciantes se dirigiam para a região, bem como alguns aristocratas menores e cavaleiros errantes. A cidade crescida no entorno do Castelo da Carpa estava começando a ficar inchada de tanta gente. Porém, Kallyan não estava presente em seu feudo há alguns dias.

Aventureiro devoto de Valkaria, viciado em adrenalina, Kallyan era um qareen com algumas décadas de juventude pela frente. Tinha todo o tempo do mundo e o usava para rastejar em masmorras. Estava saindo de uma delas quando recebeu uma carta oficial do governo de Callistia. O rei Planthor Drako queria conversar com ele.

O monarca parecia empolgado ao receber Kallyan em seu salão na capital Fross. O feiticeiro se surpreendeu quando encontrou o patriarca dos Wulden, o pai de Marina, naquela reunião. Joseph Wulden era um homem arrogante e sempre visto com seu traje militar yudeniano, mesmo nunca tendo empunhado uma adaga sequer, fruto de uma reivindicação de um passado yudeniano. Seu futuro sogro havia persuadido o rei para aceitar um convite enviado por outro monarca, o rei Solast Arantur de Tollon. Ele precisava de aventureiros poderosos para cumprir uma missão a ser revelada em uma reunião...

***

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Fazia alguns anos que Ian se tornara um agente do Reinado. Desde o fatídico evento envolvendo sszzaazitas na Corte de Yuden, anos atrás, o jovem ladino ganhou reputação nos bastidores, entre os governos do Reinado. Graças à influência de seu mentor Gaunter, aprendera a lutar e também a se portar como um aristocrata nos bailes de requinte. Algumas más línguas diziam que sua ascensão se devia às informações escusas e sigilosas conhecidas por ele.

Apesar de ter alguma estima e reputação, Ian não era um aventureiro heroico comum. A comunidade de aventureiros poderosos, como o Protetorado do Reino não o conhecia. Aventureiros comuns também não. O povo comum também não. Sua atuação era por debaixo dos panos, movendo-se à espreita nas sombras, usando seus ouvidos para coletar informações e descobrir estratagemas.

Por isso, Ian pôde estranhar quando foi convocado para uma reunião com o rei Solast Arantur de Tollon. O monarca era conhecido por seus modos diretos e o povo de Tollon não gostava de sutilezas e intrigas. Qual seria seu papel nisso tudo? Como uma convocação oficial do Reinado, assinada pelo próprio Rei-Imperador Thormy, não era seu papel questionar ou recusar. Era seu dever cumprir a solicitação.

***

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A última lembraça que teve foi o céu da boca do dragão. Com horror, River viu seu corpo ser mastigado, perfurado por enormes presas. O bafo quente, o corpo rasgando, se abrindo, ossos quebrando e o céu da boca escamoso, viscoso. Breu.

River sentiu-se sacolejar pelo mar escuro do éter até encontrar-se com a sensação de queimação formigando as pontas do seu corpo. Sentiu as chamas mornas e a presença divina. Thyatis vinha a ele. Era sua segunda morte e segundo encontro com o deus da ressurreição e da profecia. Suas palavras eram firmes e diretas dessa vez.

Então, num piscar de olhos, estava de volta a Arton. Em algum lugar aleatório, diferente de onde havia morrido. Era mais frio e as árvores tinham formato. Estava nu. Portava somente seu alaúde mágico, caído em algum canto na relva. As palavras de Thyatis agora pareciam uma parte impossível de lembrar de um sonho. Sem ter o que fazer, andou por algumas horas até encontrar uma aldeia que estava recebendo uma feira animada. Os primeiros olhares de estranhamento fizeram a música parar, as conversas cessarem. Uma moça gritou repentinamente e guardas o escoltaram para a masmorra...

***

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Vallahim

A capital de Tollon era o principal centro comercial de Tollon e o que havia de mais próximo, em termos de porte, das grandes cidades existentes em outros reinos. Suas casas eram rústicas como o seu povo. Na Praça Central se localizava o Momumento dos Mortos, uma construção esculpida em madeira na forma de uma montanha. Era uma homenagem a todos os colonos que perderam suas vidas no caminho até as terras de Tollon.

Os aventureiros chegaram à capital ao longo do dia, em momentos diferentes e se dirigiram à sede do Conselho de Tollon, uma imponente, mas pouco ostensiva, construção feita toda de madeira negra. As pessoas das ruas (quase nenhuma mulher era vista) notavam com clareza a imponência dos aventureiros e abriam espaço. Olhares sisudos eram os mais comuns e todos não deixavam de encará-los e ninguém abaixava a cabeça. Este era o destemido povo de Tollon.

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Sede do Conselho de Tollon

O lugar parecia ter um pouco mais de esmero. A madeira negra que revestia o interior do casarão era bem polida, bem como os móveis. Quando o primeiro aventureiro chegou, foi recebido prontamente por um homem robusto, trajando uma armadura de placas de metal sobrepostas sobre um saiote xadrez, com uma barba e cabelos lisos fartos.
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Eu sou o capitão Edmund. Seja bem vindo. O rei ainda não chegou.
Logo, o segundo e o terceiro aventureiro chegaram ao ambiente praticamente ao mesmo tempo. O capitão Edmund se levantou de sua mesa e também o cumprimentou avisando da ausência do rei.

Uma hora depois, um homem grande com uma barriga proeminente, mas braços muito fortes, irrompeu pela sala de espera. Ele era alto, usava uma camiseta xadrez com um suspensório simples e em seus ombros repousava uma pele de urso. O homem passou dando uma pequena olhada para os três aventureiros que ali estavam e acenou comedido. Entrou pela porta oposta de onde chegara, deixando o capitão desconcertado.
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Bem, este era o rei Solast Arantur.
Então, o quarto aventureiro apareceu a tempo de ver os outros se levantando e partindo em direção à sala do rei.

***

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Sala do Rei

Em muitos reinos a sala do trono é opulenta, com um trono propriamente dito, tapetes vermelhos, esculturas, quatros, candelabros e outros objetos de arte. Além de ser apinhada de servos e guardas expostos ou ocultos. Mas não a sala do rei de Tollon.

Este lugar parecia mais uma sala de troféus simples, com algumas cabeças de monstros penduradas na parede, como trolls das montanhas, mantícora e um tríbulo brutal. Havia um candelabro de velas simples para garantir iluminação, um quadro com o brasão de Tollon ao lado de um machado, atrás de uma cadeira de madeira negra. Solast Arantur estava de pé para cumprimentar cada um dos aventureiros para uma apresentação simples com um forte aperto de mão. Depois, ele retornou para sua cadeira atrás de uma mesa pequena com dois pergaminhos enrolados, uma adaga cravada, uma pena em seu tinteiro e uma caneca de cerveja.
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É difícil encontrar gente de confiança hoje em dia. Por Khalmyr, sempre foi difícil encontrar pessoas de confiança! Mas ouvi boas coisas sobre vocês. Sei que Aldred e Therese Maedoc estão entre os melhores aventureiros do Protetorado já produziu. Hildr é uma verdadeira heroína, onde apenas o fato de existir em Yuden já é uma resistência. Kallyan Carpa é um barão, dominador da magia e aventureiro sagaz. Ian Voss é um exímio espadachim, mestre dos segredos e capaz de grandes feitos...
Sua descrição foi interrompida pela batida na porta. Seu capitão aparecera novamente, um tanto constrangido.
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Desculpe interromper, majestade...
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Vamos, diga logo, homem.
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Um homem apareceu aqui... ele diz que...
Solast se ergueu da cadeira com assombro no rosto.
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Que homem, capitão Edmund?
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Não se apresentou, mas ele está usando apenas uma ceroula e carrega um alaúde estranho.
O rei bateu na mesa com um sorriso grande no rosto.
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Mande-o entrar!
Então, River entrou na sala do rei, vestindo tão simploriamente quanto o ambiente que o cercava.
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Os deuses estão conosco mesmo. Esta noite sonhei que durante esta mesma reunião, um homem enviado por Thyatis viria me ajudar. Não sou um devoto lá muito bom, mas vou a todas os cultos. Sei diferenciar um sonho profético de um comum. Muito bem, diga-me quem é você, rapaz.
Após a apresentação do quinto aventureiro, Solast Arantur volta a sentar-se em sua mesa mais folgadamente. Ele sorria satisfeito.
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Como eu ia dizendo, eu preciso de heróis experientes e poderosos como vocês. Quero que vocês busquem um criminoso chamado Emmilian Urich, preso em Ahlen, para ser julgado aqui em Vallahim. Ele cometeu diversos crimes em Tollon e tivemos o azar de que fosse preso naquele reino lá. Já fiz os acordos necessários, mas o "piedoso" rei Torngald Vorlat não tem o empenho de trazê-lo até mim. Preciso que vocês viagem até a fronteira de Tollon e Ahlen e tragam o meliante para cá. Vivo.
A ênfase na última palavra podia chamar atenção.
Nota do Mestre:
Introduções foram simples e diretas para vocês poderem criar e construir uma narrativa própria para encaixar os eventos. Criatividade é sempre recompensada com 1 ponto de ação.

Notem que a cena na sede do Conselho de Tollon eu não escolhi a ordem dos aventureiros que forem aparecendo, com exceção de River. Decidam entre vocês mesmos ou quem postar primeiro. Basta respeitar a ordem dos acontecimentos.

Imagino que vocês farão perguntas ao rei Solast Arantur. As respostas serão dadas no telegram.
Dados dos Personagens: Inventário, XP, Riquezas
Imagem - Aldred C. Maedoc II <> PV: 75 (183)¹ CA: 23 (35)¹ PE: 3 PA: 1 <> Eia!: 2 <> Condição: com Farrapo¹
Imagem - Therese Incarn <> PV: 26 CA: 16 PM: 38/0 <> Vínculo arcano: 1 <> Tese Arcana de Graduação: 1 <> Tese Arcana de Mestre: 1 <> Magias preparadas: 2º - Enfeitiçar pessoas (CD 21), cativar (CD 21), detectar pensamentos (CD 21); 3º - Coordenar batalha x2 (CD 22), bola de fogo, imobilizar pessoa (CD 22); 4º - Vidência, invisibilidade maior; 5º - Dominar pessoa (CD 24), cone glacial, marionete (CD 24), voo prolongado <> Condição:
Imagem - Farrapo <> PV: 108 (183)¹ CA: 20 (32)¹ <> Condição: com Aldred¹

Imagem - Hildr Schulze <> PV: 123 CA: 25 PE: 9 PA: 1 <> Luz do dia: 3 <> Condição:

Imagem - Kallyan de Callistia <> PV: 126 CA: 21 PM: 41 PA: 1 <> Desejos: 1 <> Voo 1 <> Condição:

Imagem - Ian Voss <> PV: 67 CA: 36 PA: 1 <> Equipamento de espionagem: a escolher (CD para ativar) <> Dias para renovar: 7/0 <> Condição:

Imagem - River Nero "Fênix" von Merovech <> PV: 75 CA: 20 PM: 24 PA: 1 <> Música de bardo: 15 <> Destruir o mal: 1 <> Cura pelas mãos: 8 <> Condição:

Próxima Atualização: 02/04
Editado pela última vez por Mælstrøm em 15 Ago 2019, 13:19, em um total de 1 vez.

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Aldenor
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por Aldenor » 29 Mar 2019, 18:21

Vectora brilhava no céu de Valkaria naquela noite, trazendo uma enorme escuridão em boa parte da cidade. Aldred sentava-se confortavelmente em sua cadeira de fibras de cipó entrelaçados. Em sua mão, uma caneca de cerveja. Na outra, anos atrás, teria um cigarro. Mas assim como hoje ele trocara a barba cerrada pelo rosto marcado pela sombra, ele havia trocado o fumo pela aumento da dose do álcool.

Observando a cidade flutuante, percebeu o silêncio quebrado apenas pelas cigarras. Foi um arrepio nos pelos dos braços que o avisou a chegada dela. Therese surgiu num teleporte mágico. Tinha olheiras e carregava uma bolsa a tiracolo abarrotada de pergaminhos. Ela jogou o peso no chão e se esparramou na outra cadeira ao lado de Aldred. O ginete fez uma careta para aquela bolsa jogada no chão, pergaminhos escorrendo. Therese era muito espontânea e desorganizada. Aldred era um poço de toques. Conversaram amenidades por algum tempo até que a maga encantadora trouxe os filhos.
Therese
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Aldred vai mesmo se matricular na Universidade de Valkaria, quando Vectora se for.
Aldred
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Escolha do guri.
Therese
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Mas ele queria ser aventureiro...
Aldred deu de ombros, bebericando a cerveja.
Therese
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Acho que aquele mês inteiro de cama fez ele desistir. Ele deve saber que tem ligação... coisa sua família, não é. O retorno do Terceiro fez ele e Maryanne passarem mal.
Eles não sabiam na época, mas quando o exército de deuses menores de Orion Drake destruiu a área de Tormenta em Tamu-ra, o antigo e esquecido deus dos dragões Kallyadranoch retornou ao Panteão, ocupando o lugar de Glórienn, a deusa dos elfos. No primeiro mês do retorno de Kallyadranoch, Maryanne e Aldred sentiam seus corpos fracos, febre e dores de cabeça. Nenhuma magia divina foi capaz de curá-los e a medicina de Salistick conseguiu apenas aliviar as dores. Foi um mês inteiro de repouso em casa no qual ambos saíram um tanto mudados. Therese estudou o fenômeno e encontrou um nexo de casualidade. O sangue dracônico dos Maedoc provocou aquelas mudanças corporais nos dois jovens. O curioso era que o próprio pai, Aldred, não havia sofrido absolutamente nada.
Aldred
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Então, ele desistiu por um bom motivo. Não era isso que tu querias? Agora ele se juntará a Maryanne e serão pessoas comuns. Sem risco de morrer em uma Galrasia da vida.
Aldred deu um meio sorriso e Therese sorriu sem graça. Ela era bastante protetora e saber que seu filho queria ser um aventureiro a deixava intranquila.
Therese
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É verdade. O mundo tem muitos heróis, não precisa tanto de mais.
Aldred terminou sua caneca de cerveja e parou de encarar o vazio, olhando agora diretamente para Therese.
Aldred
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Tu tens certeza disso, Therese?
Silêncio.

***

Uma carruagem chegara nos portões da Casa dos Maedoc. Aldred recebeu um pergaminho com selo oficial com o brasão de Tollon, o Reino da Madeira. Therese estava dando aulas na Academia Arcana naquele semestre e chegava apenas a noite. Era uma convocação, um convite do rei Solast Arantur para discutir os termos de uma missão. Aldred amassou o papel e jogou no latão de lixo dentro de sua propriedade e voltou para casa.

A noite, Therese chegara cansada e foi dormir sem demora. Aldred fazia as jantas naquelas noites e chamara seus filhos para a refeição. Na mesa, Maryanne comia com uma expressão avoada. Aldred filho, entretanto, comia olhando para o pai.
Aldred
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Pai, tu lembra do meu amigo Korn?
Não lembrava.
Aldred
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O que tem ele?
Aldred
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Ele me revelou hoje um segredo... algo que eu nunca imaginei, mas depois pensei que combinava um pouco. Ele fuxicava nosso lixo em algumas noites.
Aldred franziu a testa com desgosto, enquanto mastigava uma batata.
Aldred
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Barbaridade, por que teu amigo faria algo assim?
Maryanne
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Aff, tipo assim, ele é um goblin, dãã.
Aldred
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É, pai. Um goblin maneiro apesar de revirar nosso lixo. Eu já pedi pra ele parar e ele prometeu... bem, eu confio nele. Hehe. Enfim, ele acabou descobrindo uma certa carta... de um rei chamado Solast Arantur, de Tollon. Sabe algo sobre isso?
Aldred pai tirou uma remela do olho. Maryanne ficou boquiaberta.
Maryanne
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Pai! Você jogou a carta do rei de Tollon no lixo? Tipo, nem sei onde fica Tollon, mas deve ser importante, néah?
Aldred
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Não contem à tua mãe.
Mas ela acabava de chegar à sala de jantar.
Therese
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Não me contar o que?
Aldred
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Bem, nada demais.
Maryanne
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Meu pai jogou fora a carta de um rei!
Os dois Aldred's levaram a mão a testa.
Therese
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Quer me explicar isso, Aldred?
Aldred
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Não.
Disseram ao mesmo tempo. Therese ergueu uma sobrancelha. Todos sabiam que ela era uma maga capaz de ler mentes, mas nunca faria isso sem o consentimento deles. Mas claro, ela não precisava.
Maryanne
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Papai jogou no lixo uma carta do rei de Tollon, o amigo goblin do Aldred achou no nosso lixo e contou pra ele.
Aldred
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Sua linguaruda do caralho!
Aldred deu um tapa na nuca de Maryanne o que provocou uma reprimenda dos pais.
Maryanne
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Ah, mas e se for um convite para um baile chique? Muitas chances de conhecer a corte real, bailes lindos, vestidos, comida! Tipo assim, tudo de bom! Meu papai devia ter falado com minha mãe antes de jogar fora.
A despeito dos comentários supérfluos, todos entenderam que a sua última frase fazia sentido. Therese tinha um meio sorriso no rosto, com as mãos na cintura.
Therese
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Vamos conversar.
***

Estavam no quarto, mais tarde.
Aldred
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Estamos aposentados.
Therese
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Não preciso usar magia para saber o que você sente, querido. Você quer aceitar e só não o faz porque tem orgulho demais. Porque um dia prometeu que não seria mais aventureiro e acha que deve cumprir essa promessa até morrer.
Aldred
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De que vale um homem se ele não...
Therese
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... "cumpre o que fala". Eu sei, mas você tem que ter mais jogo de cintura. Você tem um desejo e negá-lo só vai te deixar infeliz. Se fosse algum desejo ruim que fizesse mal às pessoas, seria outra história. Mas é um desejo de ser herói, ora bolas! Ajudar as pessoas! Você mesmo tinha essa dúvida, Arton precisa de mais heróis.
Aldred
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Heróis experientes. O rei não chamaria qualquer um. Não entendo por que ele não chamou o Protetorado do Reino...
Therese
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Não tenho notícias dos bastidores, mas sei que eles andam muito ocupados. Se Solast Arantur convocou um velho aposentado como você, é porque realmente precisa.
Ela riu carinhosamente.
Aldred
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Dois velhos. Ele chamou nós dois.
Piscou para ela.

***

A viagem foi rápida. Aldred preferiu evitar o teletransporte e Therese viajava pelos ares, voando. Farrapo era um cavalo velho, mas ainda muito forte, sem nenhum sinal de cansaço. Diferente do ginete, que sentia os músculos mais fracos, ossos doloridos. Mesmo assim, cavalgar era tão natural quando andar para ele.

Após um tempo viajando, deixando os filhos cuidando da casa, Aldred e Therese chegaram a Vallahim, a capital do reino de Tollon. Era um lugar frio, agradável para Aldred. Therese já não gostava muito de frio. O sério povo tolleniano dava espaço para eles passarem e assim chegaram sem maiores questões à sede do governo.

Foram os primeiros. O capitão Edmund foi educado e direto, Aldred o cumprimentou com um chacoalhar de mãos e Therese com um aceno. Ficaram sentados em cadeiras simples.
Aldred
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Não disse que aceitamos. Vamos saber o que o rei quer de nós.
Therese
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Claro, claro, mas se você não quiser, voltamos de teleporte para casa, certo? Foram muitos dias voando, quase fiquei resfriada por causa do vento.
Aldred
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Mas tu tá empenhada, heim, por Hippion!
Comentou.

Logo, outros chegaram e o rei passou por eles vestindo roupas mundanas demais. Therese ficou constrangida, sentia-se na casa do rei, no seu quarto em seu momento de intimidade. Aldred sorriu, pois gostava de gente humilde que sabia o valor de verdade das coisas.

Entraram na sala e o rei começou a apresentar-se, falando dos outros. Aldred abaixou a cabeça, riscou o chão com a bota, um tanto sem graça por ser elogiado daquela forma. Mas Therese sorriu, com o espírito renovado. Era bom ser reconhecida.

Então, o rei foi interrompido, para o horror de Therese e para o sorriso de Aldred. Aquilo parecia uma reunião qualquer em uma mesa de bar. O último sujeito entrou, uma sexta pessoa convidada. Por fim, o rei apresentou a proposta de trabalho. Aldred fez uma careta e sentiu sua mente invadida.
Therese (em pensamento)
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Parece um trabalho perigoso, mas simples. Somos dois aventureiros experientes e os demais parecem estar à altura. Veja, tem uma mulher com sangue celestial, um agente do Reinado e feiticeiro bonitão. E tem esse outro abençoado por Thyatis. Parece tudo certo por mim.
Aldred (em pensamento)
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Barbaridade, tu já resolveste tudo, não é? Deixe-me pensar um pouco.
E pensou. Pensou. E pensou. Suas mãos sentiram formigamento de antecipação.
Aldred
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Eu aceito, majestade.
Fez um meneio simples com a cabeça. Therese, então, desandou a falar.
Therese
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Muito bem, já que meu marido aceitou, eu aceito também. Mas tenho uma questão de esclarecimento aqui. O Maedoc é ele, eu sou Incarn. Therese Incarn e não tenho Maedoc. Hahahaha. Com isso resolvido, tenho umas ponderações que podem ser úteis aos meus novos colegas: Emmilian Ulrich é um mago nefasto que foi expulso da Academia Arcana por experimentos antiéticos. Posso imaginar que o rei de Ahlen não queira fazer o transporte, pois Emmilian, mesmo preso, é muito perigoso, cheio de contingências. Hum... que interessante. Ele tem magias ativas esperando o momento certo para serem ativadas, não é? Imagino que este seja o motivo do teletransporte não funcionar com ele. Muito engenhoso. Fico muito curiosa para saber o que se passa na cabeça desse crápula. Está em um dos meus novos estudos, analisar a psiquê do chamado psicopata.
Ela sorria e falava as coisas enquanto andava em círculos. Enquanto falava, sua mente conversava com Aldred.
Therese (em pensamento)
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O rei Torngald Vorlat conseguiu muitas vantagens comerciais com o acordo de extradição. Não sei se foi uma boa jogada do rei Solast Arantur.
Aldred (em pensamento)
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Tchê, isso não é da nossa competência. Nossa missão é simples...
Aldred fez uma careta insatisfeito.
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Padre Judas
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Kallyan de Callistia

Mensagem por Padre Judas » 29 Mar 2019, 20:48

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Ambição é Lei, Poder é Virtude, Vitória é Destino. Esta era a divisa no brasão da Casa Carpas fundada por Kallyan. O feiticeiro sabia que se aceitasse ficar quieto em seu canto, contentando-se com seu feudozinho, nunca cresceria de verdade. Nunca se tornaria aquilo ao qual estava realmente destinado. Porque todos os que seguiam a Lei da Ambição e tinham a Virtude do Poder estavam Destinados à Vitória.

A exploração da Tumba de Ummar era uma expedição pequena, apenas para encontrar um presente para sua noiva. Ele avaliou a pequena rosa feita de ouro que tomara do cadáver revoltado do velho clérigo de Hyninn que tentara guardar ali todo o fruto de seus anos de crimes, junto com seu corpo. O sujeito fora enganado pelo próprio Deus – queria a imortalidade, mas a conseguira como um tipo de morto-vivo. Existiria nesta condição enquanto preservasse todos os seus tesouros, frutos dos roubos e golpes que praticara quando vivo. Caso perdesse tudo, se transformaria em pó, destruído para sempre.

Ainda havia tesouros ali para deixar Ummar não-vivo por mais algum tempo. O sujeito era prisioneiro em sua própria tumba – mais uma trapaça do Deus dos Ladrões.
Kallyan de Callistia
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– Volto depois pra pegar o resto, velho. Estou com pressa.
Riu, afastando-se da entrada da masmorra amaldiçoada. Tomou o cuidado de pegar um pergaminho que guardara para esta situação e, com algumas palavras, ocultou a entrada de modo que ninguém a encontrasse por engano.
Kallyan de Callistia
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“Não quero que ninguém ache que pode ficar com meu prêmio, afinal de contas. Claro, se for hábil o suficiente para perceber o truque, desejo-lhe sorte com Ummar.”
Ao chegar em casa recebeu de seu mordomo a carta do rei. Leu-a.
Kallyan de Callistia
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– O que ele quer de mim agora?
Planthor não gostava realmente dele – apenas lhe dera um título e uma propriedade porque seu orgulho de nobre não aceitava que um plebeu de seu país fosse um herói renomado internacionalmente. Agradava à aristocracia saber que um “dos seus” era importante mundo afora.

Antes de partir ao encontro de Sua Majestade decidiu preparar-se adequadamente. Realizou em seu salão de rituais invocatórios os ritos corretos que abriram as portas para Odisseia. Uma criatura magnífica surgiu em um raio de luz. Um anjo.

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Brunhilde
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– Então me convoca novamente, mortal.
Kallyan de Callistia
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– Sim, bela Brunhilde. Desejo vossa proteção mais uma vez.
Brunhilde
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– O Mal aguarda minha lâmina purificadora. Por que devo ajuda-lo, mesmo? Gostaria que me recordasse.
Kallyan sorriu. Eles já se conheciam e já haviam tido aquela conversa algumas vezes. Era praticamente pró-forma, ela nunca se recusara a acompanha-lo, mas gostava de se fazer de difícil. Era um desafio, bem ao gosto da Divindade cuja devoção compartilhavam.
Kallyan de Callistia
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– Porque o Mal estará em meu caminho, isso posso garantir, e sua lâmina terá a chance de purificar muitos vilões.
Ela riu e assentiu. O pacto estava firmado.
Brunhilde
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– Muito bem, sou sua por uma semana. Protetora! Sou sua protetora por uma semana.
Agora foi a vez do barão rir.
Kallyan de Callistia
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– Devo descansar um pouco e recuperar minhas energias. Depois iremos ver meu Rei – tenho certeza de que ele tem uma tarefa pra mim ou não me chamaria.
Partiram no dia seguinte. O rei estava muito animado e Kallyan surpreendeu-se um pouco com a presença do sogro. Carpas acreditava que Lorde Wulden era um típico nobre callistiense a despeito de seus fumos de yudeniano: muita pompa e circunstância, mas pouco conteúdo. Mas parecia gostar dele e isto era bom. Sua filha, por outro lado, era uma mulher bem mais impressionante. Realmente apreciava as raízes militares do Clã – tendo habilidades razoáveis com a espada – e possuía talento para a política cortesã, além de ser muito bonita. O pacote completo.

Humildemente Kallyan aceitou a tarefa de encontrar-se com o rei de Tollon. Era bom fazer novos contatos.

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E eles estavam em Vallahim agora. Entraram no salão e foram recebidos por um oficial a serviço de Arantur.
Kallyan de Callistia
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– Prazer, Capitão. Sou Kallyan de Callistia, Barão de Carpas, a seu dispor. Esta é Brunhilde, Anjo da Ambição e minha guarda-costas.
A celestial cumprimentou o homem com uma reverência leve, agitando suas asas emplumadas. Kallyan se lembrava de ter passado a mão nelas na primeira vez que trabalharam juntos. Quase levou um tapa, mas era uma sensação gostosa, como passar a mão em algo felpudo.

Cumprimentou o casal que já havia chegado antes, ouvindo seus nomes. A mulher já tinha alguma idade, mas era bonita. Entretanto o feiticeiro conteve os galanteios por temor de que o maridão ali presente tentasse lhe dar um murro. Nos botecos de Callistia bulir com a mulher de outro podia render um bucho aberto na base da peixeira.

Por fim o rei chegou. Kallyan gostou do jeito despojado e sem firulas, tão diferente dos modos afetados da corte de Fross. Se seu rei fosse daquele jeito, seria bem mais respeitável. Mesmo assim o barão ficou chocado quando o rei falou do criminoso. Therese foi rápida em discursar sobre o sujeito, mas Kallyan já havia escutado sobre aquilo por parte de sua bem informada noiva: Solast havia negociado caro pela obtenção de um mago maligno. Quanto ódio.

Claro, se fosse Kallyan, teria dado um jeito de sequestrar o dito cujo das masmorras de Ahlen ao invés de fazer um acordo tão desbalanceado. Mas o rei era honesto demais e o feiticeiro o admirava por isso. Gostava de homens que viviam por seus princípios. "Aquele que tem o Poder faz o que quer" era seu lema não oficial. E Arantur tinha poder.
Brunhilde
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– Me parece apropriado que este criminoso desprezível receba uma punição severa por seus crimes!
Kallyan de Callistia
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– Isso aí que ela disse. Eu aceito, é claro.
Kallyan levantou a mão como se estivessem no templo-escola e ele se candidatasse pra ajudar na limpeza da sala.
Off:

Gasto 6 PMs para conjurar Âncora Planar Maior, depois descanso para recuperar meus PMs.

Teste de Carisma +8, rolado 13, total 21. Sucesso. Brunhilde ficará comigo por uma semana, na tarefa de me proteger.

Teste de Conhecimento (nobreza) +18, rolado 7, total 25. Sucesso.
BAÚ DO JUDAS
JUDASVERSO

Alexander: Witch Slayer [Kaito_Sensei]
Dahllila: Relíquias de Brachian [John Lessard, TRPG]
Jonz: Tormenta do Rei da Tempestade [John Lessard, D&D5E]
Syrion: Playtest T20 [Aquila]
Takaharu Kumoeda: Crônicas do IdJ [Aquila]
Yellow: Defensores de Mega City [John Lessard]

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Aquila
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por Aquila » 31 Mar 2019, 16:20

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Ian Voss

Estalagem Rei Escarlate - Vallahin

Ian acordou pouco antes do sol nascer, como sempre acontecia todas as manhãs, independente do quanto tivesse dormido na noite anterior, uma habilidade que seu mestre possuia, e que agora também fazia parte de sua própria natureza, exatamente como a adaga que deslizou para sua mão enquanto despertava, a lâmina afiada refletindo o brilho rubro da manhã.

“Velhos hábitos...”, ele pensa, observando por um momento, o quarto escuro se tornar cinza, e as cortinas de linho se moverem suavemente sob a brisa da manhã, antes de finalmente se levantar. Seu movimento desperta Birna.

- Que horas são? - ela pergunta, meio sonolenta.

- A hora do lobo.

- O que...? Já é de manhã? - ela diz, tentando abrir os olhos para ver a claridade da aurora. - Praga. Preciso ir, agora, ou vou chegar atrasada. - Ela se espreguiça por um momento, como uma gata, e se levanta de um salto.

- Agora? Não pode ficar nem mais um minuto? - Ian se aproxima dela, abraçando-a por trás e beijando seu pescoço.

- Não, sabe que não posso - ela diz, fingindo resistir aos seus avanços. - Algumas pessoas precisam trabalhar, sabia? Nem todos somos herdeiros de famílias ricas, que vivem de renda, apenas aproveitando a vida. Tenho que ir para o castelo... Há muito trabalho a ser feito... Se bem que, um minuto ou dois não vão fazer muita diferença, não é mesmo?

Ela se vira e o beija, um beijo molhado com o gosto da paixão da noite anterior, e por um momento se deixa envolver, mas logo parece reunir forças novamente, e o empurra.

- Não, preciso realmente ir. Quero passar em casa, antes. Vamos nos ver mais tarde?

“Não”.

- Vai depender da resposta do rei - Ian responde. - Se ele fechar o acordo, vamos ficar aqui por mais tempo, mas, se rejeitar, precisarei voltar para Ahlen para resolver alguns negócios.

A resposta não a agradou, mas ainda assim Birna lhe dá um beijo esperançoso antes de ir.

"Velhos hábitos...", Ian pensa, enquanto começa a preparar suas roupas e equipamentos. Ainda havia muito tempo até a audiência com o rei, que a essa hora devia estar indo para a floresta, para trabalhar com seu povo, como fazia todas as manhãs, então Ian foi tomar um banho (meio frio) e refazer a barba.

Assim que o sol se ergueu sobre as árvores da cidade, Ian deixou a estalagem Rei Escarlate e seguiu para a Casa do Conselho, misturando-se a multidão de homens e anões que tornavam aquela cidade tão peculiar.

Casa do Conselho de Vallahin

Não demorou muito para a Casa do Conselho surgir por trás dos edifícios baixos da cidade. O forte de madeira, erguido ainda nos primeiros anos da conquista do reino, se destacava do restante das construções pela imponência e antiguidade, mesmo depois de séculos. Assim que chegou no portão, um sargento da guarda o interpelou.

- Tenho uma audiência com o rei - Ian lhe diz. - Meu nome é...

- Ian Voss.

Ian se vira para encarar o Capitão da Guarda de Tollon, que vem atravessando o pátio do forte, olhando-o fixamente. Enquanto ele se aproxima, o espadachim analisa seu rosto, tentando descobrir o que havia por trás de seu olhar cansado. A última vez que ele e o capitão se encontraram, houve um grande mal-entendido.

- Edmund.

O capitão da guarda para diante de Ian por um momento, o rosto inexcrutável, até que finalmente o cumprimenta com um forte aperto de mão, ao estilo de Tollon.

Após algumas breves palavras, Ian segue o capitão para dentro da fortaleza, até a antecâmara da sala de audiências, onde algumas pessoas já estão aguardando a chegada do rei.

Duas das pessoas lhe parecem familiares logo de imediato, um homem e uma mulher, ambos viajantes, a julgar pelos trajes que vestem, mas o espadachim não consegue lembrar de onde; o outro, no entanto, qareen, sem sombra de dúvida, veste as cores da Casa Carpa, um clã da nova nobreza de Callistia, comandada por um feiticeiro. No entanto, é a figura angelical atrás do qareen que atrai sua atenção.

“Isso está ficando interessante.”

- Bom dia, senhoras e senhores - Ian diz, cumprimentando todos os presentes com um leve aceno de cabeça, preparando-se para conhecê-los melhor, mas antes que possa continuar, o rei surge.

- Majestade - Ian faz uma mesura quando o monarca passa, o suficiente apenas para cumprir o protocolo, pois sabe o quanto Arantur é avesso a esses detalhes.

Sala de Audiências

Ian não deixa de se surpreender quando todos que esperavam na antecâmara são convidados a entrar juntos na sala de audiência, e o rei logo revela a razão.

“Aldred Maedoc e Therese Incarn”, o espadachim pensa, imaginando porque não os reconheceu de imediato, buscando lembrar de todos os detalhes que conhecia sobre a vida e a obra daquela dupla renomada. “Aldred ainda é um guerreiro sem par, e sua bela esposa é uma feiticeira talentosa, não tenho dúvidas”, Ian reflete, estudando os dois discretamente, “mas seus dias de glória estão no passado, então por que foram chamados?” As possibilidades o desafiam, mas antes que pudesse chegar a uma conclusão, a porta se abre para a entrada da uma deusa.

A guerreira-anjo contrai as asas quando passa pela porta, mas logo solta-as novamente, emoldurando seu belo corpo, um corpo fortalecido em uma centena de batalhas.

- Hildr - Ian diz, reconhecendo imediatamente a guerreira cujo nome era notável em Ahlen, onde o espadachim tem morado no último ano.

- É um prazer conhecê-los - Ian diz para todos, quando o rei o apresenta.

Mas as surpresas não haviam terminado, e antes que o rei possa continuar, o capitão o interrompe, anunciando a chegada de uma figura no mínimo estranha.
Editado pela última vez por Aquila em 01 Abr 2019, 19:09, em um total de 3 vezes.

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John Lessard
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por John Lessard » 01 Abr 2019, 08:37

Hildr estava empoleirada sobre um pilar quebrado, nos arredores da ordem de Valhalla, numa clareia oculta que servia como pátio de treinamento para novos recrutas. Havia um lago próximo e ela o contemplava, enquanto se despia, o sangue pingando das pontas das asas brancas, não tão imaculadas agora.

Ela ouviu o barulho da armadura característico.
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- Salaghast disse que havia retornado, por que não reportou?
Ela o olhou com olhos frios.
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- Estou imunda.
Buckhard deu de ombros.
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- Que seja...

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- Um dos nossos trouxe uma mensagem para você, tem o selo real de Tollon.
Hildr arqueou uma sobrancelha, terminou de se despir, ficando totalmente nua, fazendo o guerreiro desviar o olhar.
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- Mas que droga, Hildr, você precisa parar com isso!
Ela deu um meio sorriso e pegou a carta. Quebrou o selo e abriu, leu em seguida.
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- O Rei está me convocando...
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- Surpresa?
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- Talvez. Que seja, partirei ao amanhecer.
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- Nem descansará primeiro? Há tempo e você voa.
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- Voarei devagar.
Depois disso se despediram, a guerreira entrou na água fria e tirou o sangue do corpo e das asas.

***

Após dias de voo, Hildr pousou na frente da residência real, em Vallahim, onde fora recebida por um guarda. O seguiu em silêncio, após um maneio de cabeça, uma vez que ele parecia lhe conhecer. Chegou até a presença de outros convocados. A aggleus tinha curvas provocantes, porém mortais, amenizadas pela armadura clara e ornamentada. Recolheu as asas para passar pela porta, depois voltou a abri-las. Carregava uma foice numa das mãos e um elmo pendurado na cintura. Olhou para o casal de anciões, depois para o sujeito com um cavanhaque estranho. Parou na celestial ao seu lado, a medindo, de cima abaixo. Sua atenção recaiu sobre o último, que disse seu nome. Hildr o fuzilou, de olhos semicerrados.
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- Ahlen? De onde me conhece em Ahlen?
Logo depois disso, o grupo entrou, para ter com o rei. A guerreira não poderia deixar de admitir que era um lugar rústico e simples. Nada que ela desaprova-se, pelo contrário. Ouviu concentrada e agradeceu com um aceno quando o rei se referiu a ela. Não demorou muito para o guarda retornar, anunciando a chegada de um último membro. Era de fato algum de ceroulas... Hildr o mirou e fez uma careta, logo voltando a encarar o rei, ouvindo sobre a missão e as considerações dos demais. A mulher de capuz parecia ter considerações importantes.

Hildr ouviu com atenção e por fim disse:
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- Considere feito, majestade.
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Maggot
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De Volta das Cinzas

Mensagem por Maggot » 01 Abr 2019, 16:23

É engraçado.

Todos sempre dizem que sentem frio com a morte. Como se o abraço cruel que trás o fim fosse gelado. Era o que todos os bardos diziam. E era incrível como estavam errados pelas experiências de River.
E ele podia afirmar que tinha mais experiência que a pessoa normal quando o assunto era morrer.

De costas na grama molhada com orvalho, Arton era um frescor após sua breve ida para Pyra. "Como acabar um turno de trabalho, e então começar outro." River sorria, apesar de tudo. Se tateou. Nu, claro. Havia dado tudo para aquela filha da mãe muquirana.
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- Pelo menos ele deixou a Perséfone.
Esticou a mão até o instrumento musical. Havia vendido suas armas, roupas e aneis mágicos para aquela porcaria de dragonesa em troca da paz da região. Não queria ter que matar a desgraçada. Provavelmente falharia algumas vezes antes de conseguir, e matar não era seu propósito. Haviam marcado de se encontrar ali em dois anos. Esperava poder convencer aquela dragonesa à se converter quando isso ocorresse. Arton era um lugar bom para si viver. Tinham de tudo. Morte era desperdício, morte era ceder à fraqueza. Mas tudo à seu tempo.

Riu enquanto tirava a fuligem de seu cabelo. A melhor parte da dádiva de Thyatis era o retorno intacto. River realmente não estava afim de pagar novamente pela tatuagem de fênix que cobria suas costas. Falando nisso, qual era o recado que a Grande Fênix havia deixado daquela vez? River não conseguia se lembrar.
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- Ah, vou lembrar depois. Espero.
Vagou, nu, por algum tempo, até chegar em uma vila. As pessoas o encaravam. Ele sabia qual seria o resultado daquilo. Quando uma mulher o olhou e gritou, River apenas riu e ergueu as mãos, se deixando levar pela guarda.


_____________

Quando finalmente conseguiu a audiência com a autoridade local, River estava jogando cartas com seus novos amigos, a guarda. Havia conseguido um par de ceroulas e após convencer os homens de que não era ameaça, e um deles até reconhecê-lo de um de seus espetáculos, havia se sentado com eles para uma bela partida de um jogo que definitivamente não era Wyrt. Afinal, Wyrt era ilegal.
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- [...] To te dizendo homem, as duas irmãs. Uma delas seria minha noiva se não tivéssemos cancelado a coisa toda. Pelo bem dela, claro. Eu não era exatamente uma boa figura uns anos atrás. Ainda me encontro com elas toda vez que vou em Deheon. Boa família. Sempre são gentis comigo, viramos bons amigos no fim. Certo, era a vez de quem e quem vai pegar uma cerveja? Água para mim, por favor.
Foram interrompidos pela presença do capitão da guarda. Ele iria levar River ao rei, afinal. Thyatis realmente havia o colocado em algo grande daquela vez.

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- Continuemos na próxima cavalheiros. Duncan, pode ficar com minhas cartas. Antenor, diga para sua filha que se ela realmente quiser ser barda, pode vir falar comigo, posso ensiná-la uma coisa ou outra. Me passe seu nome completo depois que posso escrever uma carta de recomendação para algumas escolas musicais em Valkaria também. E deixe seu filho voltar para casa homem. E daí que ele fez besteira? Dê-lhe uma segunda chance. Todos merecemos uma.
Foi levado pelo capitão até um salão, aonde várias figuras se colocavam junto ao rei. Bateu os olhos, abriu os braços e fez uma mesura.
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- Mas que bela congregação temos aqui. Vossa majestade, prazer conhecê-lo. River Nero von Merovech. Músico e arauto da Fênix. E seu humilde servo para o que precisar. Aldred, Therese, prazer conhecê-los. Ouvi falar muito dos dois. Ambos parecem fantásticos pela idade, aliás. Mais bonitos que muitas pessoas na flor da idade, e que tenham muitos pela frente. Provavelmente não devem ter ouvido falar de mim. Therese, ouvi recentemente sobre seu trabalho, fascinado. Gostaria de saber mais sobre e se há alguma relação do mesmo com o que faço com minha música. Quem mais temos aqui? Kallyan de Callistia. Prazer em conhecê-lo homem. Nova nobreza huh? Bem vindo ao clube. Espero ouvir bastante de vocês no futuro, uma boa ação para o povo de Callistia de cada vez.
Os olhos lilases de River se moveram pela sala, e bateram em Hildr.

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- Ah. Você eu conheço um pouco melhor. Sua mãe é uma figura admirável. Ouvi dizer que é tão letal quanto é bela. Uma pena. Mas espero que possa tudo dar certo se vamos trabalhar juntos. E você imagino que seja Ian Voss, correto? Estamos com uma verdadeira comitiva de lendas aqui. De quem vamos atrás, Mestre Arsenal?
O rapaz sorria, tranquilo, até as palavras de Roggandin pesarem. Emmilian Ulrich. "Puta que pariu Thyatis." Pensou. "Segundas chances para todos, eu entendo. Mas isso é um teste cruel. Ulrich..."
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- Você o terá senhor. Ele terá um julgamento justo. Ele não irá morrer sob nossa vigília, mesmo que se mate. Até porque não há morte.
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por John Lessard » 01 Abr 2019, 16:35

Hildr pareceu devorar recém-chegado com o olhar e não de uma maneira que o rapaz talvez pudesse gostar.
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- O que sabe sobre minha mãe, homem?!
Estava sério, seu tom, talvez um pouco agressivo.
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por Maggot » 01 Abr 2019, 16:44

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- O que sabe sobre minha mãe, homem?!
Havia tocado em um assunto delicado pelo visto. Ergueu as mãos espalmadas em derrota e pedido de desculpas.
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- Não quis ofender, juro. Apenas como uma nativa de Pyra, sob a chama de lorde Thyatis, pode-se retirar certa inspiração. Peço-lhe perdão e não mais tocarei no assunto se assim desejar. Podemos reiniciar isso? Se vamos trabalhar juntos não gostaria de que nossa primeira interação fosse negativa.
Estendeu a mão, sorriso no rosto, desculpas genuínas.
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- Prazer, River. Músico, viajante, ocasionalmente nobre e como a tatuagem nas costas pode indicar, Paladino de Lorde Thyatis.
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por Aldenor » 01 Abr 2019, 17:00

Aldred estava sem seu chapéu, como manda o costume, por isso coçava a cabeça com a testa enrugada. Therese olhava curiosa para os outros. Anjos, bardos e feiticeiros poderosos. A aggelus encrespou pra cima do peladão, mas ele foi hábil em suas palavras.

Antes que a situação ficasse num clima meio constrangedor, Therese se intrometeu.
Therese
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É um prazer também conhecê-los, senhora Hildr, senhor Voss, senhor Merovech, senhora Brunhilde e barão Carpa. Espero que possamos nos dar muito bem nesta empreitada desafiadora. Peço perdão, majestade, para confabular rapidamente com eles. Certinho?
Rei Solast Arantur
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Claro, aproveitem este tempo, pois preciso que partam o quanto antes.
A simplicidade do homem era chocante. Therese fez uma mesura ao rei antes de voltar-se para os aventureiros.
Therese
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Então, meus estimados colegas. Apesar de sermos aventureiros experientes e com algum renome no meio, eu confesso que não conheço vocês. Acho que seria legal se a gente contasse uns aos outros o que somos capazes de fazer, não é? Planejamento é tudo. Emmilian Ulrich pode estar preso e acorrentado, mas como o barão deve saber, existem meios de burlar a limitação física para a manipulação da arte. Eu sou uma maga encantadora, especialista na mente dos seres sencientes. Adoraria entender como funciona sua música, senhor Merovech. Seria muito bom.
Ela sorriu simpática, fazendo uma mesura.

Aldred bufou impaciente, sentado em uma cadeira com a perna cruzada. Coçou seu queixo com a sombra cerrada de uma barba que não existia.
Aldred
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Sou ginete. Caço, rastreio, mato.
Disse singelamente sem olhar para ninguém propriamente dito.
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Re: Contra Arsenal

Mensagem por Aquila » 02 Abr 2019, 00:05

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Ian Voss

Ian diz o nome de Hildr em voz baixa, mas ainda assim a mulher o escuta e se vira para encará-lo, os olhos faiscando; mas se isso pretendia intimidá-lo, na verdade teve o efeito oposto, incitando ainda mais sua curiosidade. Hildr era uma mulher perigosa, o espadachim sabia muito bem disso, mas se o que ouviu era verdade, seu valor compensava todos os riscos.

- Me chamo Ian - ele diz, olhando nos olhos da guerreira. - Nunca nos encontramos, mas sua reputação a precede, senhorita.

No entanto, antes que o espadachim possa continuar a conversa, o capitão anuncia ao rei a chegada do último membro daquela reunião singular, um sujeito em trajes sumários, carregando um estranho alaúde, com uma magnífica tatuagem da Fênix nas costas.

"Um sacerdote de Thyatis", Ian reflete, analisando os movimentos do homem enquanto ele conversa com os demais. Se o Deus das Profecias estava envolvido de alguma forma, isso podia explicava aquela reunião de pessoas tão singulares, alguns vindos de lugares distantes demais para fazer sentido, mas ainda assim, nada parecia se encaixar.

- Como vossa majestade disse, sou apenas um espadachim errante, minha senhora - Ian diz para Therese, quando a maga pergunta sobre suas habilidades, o que não explicava nada, mas o espadachim não queria falar disso agora.

- Majestade, se me permite uma pergunta, se é uma simples missão de escolta, por que vossa majestade não enviou seus próprios agentes para fazer a troca?
Editado pela última vez por Aquila em 02 Abr 2019, 16:30, em um total de 1 vez.

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