As Ruínas de Alkav [Finalizada]

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DiceScarlata
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Re: As Ruínas de Alkav

Mensagem por DiceScarlata » 23 Abr 2019, 16:36

Angra Cabelos de Fogo
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*Para aprender a contar histórias, primeiro era necessário saber ouvi-las. Foi o que Angra havia aprendido com as bruxas da névoa, anos atrás. Haviam na verdade muitos motivos para aprender a ouvir as pessoas. Saciar a curiosidade, desenvolver a empatia... até mesmo mérito militar, por aprender mais sobre aqueles que a circundam. No fim? Pessoas eram fascinantes, principalmente, aventureiros*

*Angra escrevia no ar, com um pena e papeis invisíveis, tudo aquilo que aprendia daquelas pessoas maravilhosas*


"Ulster, um hábil especialista. Possui dons específicos com os quais ela jamais sonharia e pode ser a diferença entre sobreviver ou se perder em uma floresta. Sabe como lidar com as caçadas e é um verdadeiro profissional. Quando lhe restar dúvidas, posso recorrer a ele. Em combate, utilizar suas técnicas furtivas, ardilosas e precisas"

"Bryon, reservado. É compreensível, todos tem sua própria história. Parece ser um mercenário, pelas suas vestes e modos. Não demonstrou ser má pessoa e encarou o perigo junto dela. Arqueiro habilidoso. Outras habilidades se mantém ocultas. Trabalharei com o que sei e deixarei que nos surpreenda com o que não sei. Pode ser nosso trunfo"

"Gabriel. Um guerreiro puro. Sinto uma inocência vinda dele, quase cativante. Ele parece carregar um fardo também, algo como o meu ou talvez pior. É sério e pensativo, mas sinto que posso confiar nele. Sua força pode ser nosso futuro em desafios vindouros. Quero conhecer mais das técnicas tamurianas, talvez até mesmo aprender com ele"

"Morrigan... Que mulher fascinante. A magia que flui dela arrepia minha pele e deixa minha respiração pesada e meu peito oco. Mas mesmo tão sombra, a acho tão bela quanto eu jamais conseguiria ser. Principalmente naqueles olhos, que tanto me encaram... profundos com o infinito do céu noturno. Tenho que tomar cuidado para não encarar demais e a ofender. Mas é viciante. Seu poder tornou a última batalha... fácil. Devo lembrar de mantê-la segura em batalha justamente por causa disso. Enquanto outros podem vir a se tornar, Morrigan ja é o nosso trunfo"

"Angra anotava tudo em sua mente. Eram contos e histórias para ela mesma. Não tinha uma memória eidética, mas sabia que coisas importantes, escritas no coração, jamais se perdiam. Agora conhecia um pouco mais deles e sabia que isso seria importante. O sorriso nascia em seus lábios, quando seu devaneio foi quebrado*

"Sua vez, Angra dos grifos*


- Oh...

*Piscou duas vezes, levemente corada pelo encarar daqueles olhos de sombra, mistério e encanto*

- Dos grifos não é... Muito bem. Minhas histórias não são grandiosas e nem tão empolgantes quanto as de vocês... E temo em amargar nosso momento com fatos tristes. Então talvez... Sim, farei como Ulster. Ele nos contou sobre sua primeira caçada... Vou contar-lhes sobre minha primeira professora. Kayla, a dama do escudo do grifo e sobre como ela me ensinou como ser forte. Sobre como ser furiosa.

*Angra sorveu um gole de seu odre de água. Respirou fundo antes de resumir seu passado. As imagens que Morrigam havia criado sobre uma criança sendo afastada de seus pais, lhe trouxe um certo nó na garganta, mas soube como desfazê-lo rápido*

- Minha vida como aventureira começou tardia. Antes disso eu fui uma simples dona de casa hahahaha. Parece que foi a uma eternidade, mas eu tinha apenas 18 anos. Um bom marido, amigos e uma filha... Mas então fomos atacados e perdi todos. O culpado foi um único homem, vestido de negro e com uma lança de mesma cor. Ele levou meu olho...

*Angra tocava o rosto, sob a mecha de cabelo que escondia seu olho ausente*

- E minha filha.

*Não olhou ninguém, já estava imersa no passado, encarando o crepitar das chamas*

- O ataque dele que perfurou meu rosto, eu acreditei que havia morrido... Mas fiquei surpresa quando acordei em uma carroça, atada em correntes. Escravizada... Por minotauros. Foi nesse dia que conheci Kayla.

*Então todos foram envoltos pelas palavras de Angra. A sensação do fogo que ela havia acendido no peito de cada um durante a batalha voltou, mas não ardente e instigante, mas cálida e nostálgica. Ela narrava sobre si mesmo, mas parecia que falava de outra pessoa. As palavras viravam imagens, como num sonho. O sonho do conto de Cabelos de fogo."


"Há fogo dentro de você, criança, tanto que não pôde ser contido ai dentro e passou a queimar eu seus cabelos. Minha linda cabelos de fogo"

E por falar em sonhos bailando com lembranças, naquele dia Cabelos de
Fogo sonhara com essas palavras. Ditos por sua avó, acompanhadas de
uma delicada. caricia em seus cabelos. Sempre que estava triste, ela repetia
para a neta essas palavras, como um mantra. Como se visse naqueles fios
vermelhos, algo muito mais especial do que simples. Mas como todo doce
sonho, uma hora ele precisa acabar... E nos despertar para o pêsadelo que
a vida pode ser a vezes.

Depois da escuridão trazida pelo lanceiro negro, tudo ficou branco. O céu
derramava pequenos fragmentos gélidos sobre a terra, a decorando com
neve. Era a primeira vez que Cabelos de Fogo sentia um frio tão amargurado.
E, pela segunda vez na vida, ouviu o som de uma lança atravessando um corpo vivo.
Desnorteada, tentou se levantar, mas uma fisgada de dor em sua face a atirou de volta ao
chão. Sua visão ainda se acostumava à luz, mas logo percebeu que estava numa carroça
e havia um grilhão em sua perna. Então vieram mais sons. Metal se
chocando, brados de desafio. Na segunda tentativa conseguiu sentar-se.
E a cena que viu a fez resfolegar. Oito mulheres, de escudos erguidos e lanças em riste, formavam
um círculo, cercadas por minotauros com o dobro do tamanho, armados com
grandes machados e gládios. Eles rugiam e xingavam. As mulheres se mantinham
em silêncio, olhares focados. Olhares que Cabelos de Fogo nunca vira.
Quando eles atacaram, os machados colossais encontraram os escudos das
mulheres. E pararam de se mover. Os ombros delas sequer tremeram. No
mesmo instante, as lanças atacaram e nenhum dos homens touro foi capaz de
impedir que elas os perfurassem. Então Cabelos de Fogo notou que havia muitos
mais homens caídos por toda a parte daquele vilarejo congelado.

E nenhum cadáver feminino.

Quando elas se aproximaram, após vencerem a batalha, tudo o que Cabelos
de Fogo disse, antes de desmaiar, foi: “Ensine-me”.

Quando acordei, a conheci.

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Kayla era o nome da líder das Damas do Escudo do grifo e havia impedido que
a ruiva fosse vendida por aqueles minotauros como escrava em seu império além das uivantes.
“Conte-me sua história”, ela pediu a Cabelos de Fogo, enquanto lhe servia um guisado
quente e trocava os curativos de sua ferida. A ruiva contou-lhe que sua filha
fora roubada. Porque ela fora fraca. Porque nada sabia. Por ter sido inútil.
Por isso queria mudar. Precisava. Queria ser como as Damas do Escudo.
Kayla ouviu com atenção e compreendeu. Mas a resposta só veio dias
depois, quando Cabelos de Fogo estava recuperada.

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“Nós, as Damas do Escudo, somos as guardiãs do lar”, explicou a líder,
com um escudo em uma mão, uma espada ou lança em outra. “Lá nas sanguinárias, quando
nossos homens partem para a caça ou para a guerra, somos as responsáveis
pela defesa da casa. E nos especializamos no escudo por uma razão”.

“Matar é fácil. Uma criança com uma pedra pode ser uma assassina.
Mas se proteger? É difícil. Ser boa o suficiente para proteger a própria.
vida, e ainda a daqueles que ama é uma tarefa reservada apenas para as
melhores. E nós somos as melhores. Pois temos a Fúria conosco”. E essa fúria
nos trouxe tão longe, para salvar uma das nossas, aprisionada por estas bestas
para viver em gaiolas de aço e submissão".

“A Fúria é o dom dos bárbaros dos totens sagrados de mergulhar num transe, em
que os instintos selvagens tomam conta dos nossos corpos”, continuou
ela. “Graças a isso, nossa força em batalha aumenta muitas vezes. Os
homens exteriorizam a Fúria explodindo-a, tornando-se verdadeiras bestas
sanguinárias. Já a Fúria de uma mulher é interna. Em vez de descarregá-la, a
concentramos dentro de nós, sem desperdícios. Graças a isso somos
capazes de reagir melhor, sermos mais precisas e até mesmo ignorar a dor.
Veja...”


A aura ao redor de Kayla mudava. Sua expressão se tornava gélida, em
seu olhar havia uma tempestade. Era possível ver ali um brilho assassino,
que causava arrepios. Não foi preciso uma demonstração para Cabelos de
Fogo saber o quão poderosa ela era. Ela apenas desejou saber como
poderia alcançar aquele estado. E a líder lhe disse:

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“Encontre sua faísca.”


O tempo passou, e Cabelos de Fogo não era a mesma garota. Havia
adquirido músculos com o treino diário com as Damas do Escudo,
enquanto viajava com elas rumo as montanhas sanguinárias.

Todos os dias correndo.
Todos os dias lutando.
Caçando.
Comendo.
Sobrevivendo.

Tornara-se mais resistente e instintiva e já quase dominava o
uso do escudo. Mas não conseguia acessar a Fúria, por mais que tentasse.
Kayla havia lhe avisado que nenhum estrangeiro jamais havia conseguido,
mas ela não desistiria. O Lanceiro Negro era forte. Quando o reencontrasse
precisaria ser ainda mais. Então implorou, mais uma vez:

“Ensine-me”.

A Dama do Escudo assentiu. E, assim, quando Cabelos de Fogo chegou ao lar
da tribo da damas do escudo, foi jogada ao Grande Grifo Selvagem.

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Era uma besta de mais de dois metros de altura. Imponente dos ossos
ao sangue, tinha asas como grande e esmagadores escudos e navalhas mortais no
lugar das garras. Uma divindade local. O patrono das Damas do Escudo. Griphon:
O professor e juiz do destino de Cabelos de Fogo, como o fora de todas as
outras candidatas antes dela. Num abismo sem fundo formado pelo encontro de
quatro montanhas, a ruiva tinha de equilibrar-se em curtos espaços, enquanto encarava
a fera., aquele era o campo de treino final de Cabelos de Fogo.
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“Sobreviva”


Foram as últimas palavras de Kayla, antes de partir.

A criatura atacou uma, duas, três vezes, incansável. E tudo que Cabelos
de Fogo podia fazer era correr e saltar entre rochedos, temendo pela queda fatal.
Tudo o que treinou era inútil. O escudo, ao qual se agarrava tão firmemente,
já não tinha serventia. Em meio ao desespero de morrer, sem jamais abraçar sua filha novamente,
lembrou-se das palavras que tanto ouvira de sua avó, um momento antes da criatura saltar sobre si:

“Há fogo dentro de você.”

"E Cabelos de Fogo finalmente entendeu."

“Tanto, que não pôde ser contido e agora queima em seus cabelos.”

Aquela foi a faísca! A lembrança de TUDO o que perdeu e daquilo que ainda PRECISAVA recuperar.

Muito mais do que um sentimento. Muito mais do que rancor.
Uma imagem mental. Algo em que ela podia acreditar.
Algo que a definia. Sua essência. Então, a cor vermelha que queimava em
seus cabelos, inundou seu olhar com furor. Havia chamas em suas veias.
Havia um vulcão tentando irromper dentro de si. Mas ela não permitiu.
Concentrou-se. Por isso, quando o Grifo atacou, ela urrou e atacou de volta
com seu escudo, causando um impacto, que dizem, ter feito tremer as Sanguinárias.
A fera a fitou por um eterno segundo. Então assentiu em silêncio e desapareceu
no céu.. O teste havia acabado. Ela era
agora, uma Dama do Escudo dos grifos.


*Aos poucos, aquele calor mistico trazido pelas palavras de Angra foi se amenizando, até desaparecer completamente. Não havia mais devaneio, nem imagens... E todos perceberam que ela jamais falou em terceira pessoa, embora tudo tenha sido narrado tão vivido*

- Mas claro, estou exagerando para tornar tudo mais interessante. No fim, apenas aprendi a usar um pouco do poder daquelas mulheres poderosas. Elas me ensinaram a ser um pouco mais forte, mas estou longe de ser o suficiente.

*Angra se aconchegou melhor, com os ombros relaxados, começando um processo de remover a armadura*

- No fim, não sou heroína, nem barbara, nem paladina ou bruxa. Sou uma mãe, que quer a filha de volta... E não vou parar até encontrá-la.

*Aquele foi apenas o começo da história de Cabelos de Fogo. Sua primeira professora e amiga. O primeiro passo em um mundo de problemas. A primeira faísca... em um incêndio que tomaria o mundo todo.

- Alguém pode me ajudar a tirar a armadura?

*E sorriu, simples assim*
Tribo Scarlata


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