O combate prosseguiu por um curto período de tempo, até ser interrompido.
Mahasainapati Andrarya
– Já está bom, vimos o que queríamos. Vocês vão começar a treinar, aprender a usar melhor suas habilidades e trabalhar em equipe. A padika Indra irá cuidar disso.
E assim o treinamento começa. Vocês são conduzidos de volta ao palácio e à nova rotina.
O treinamento é duro, espartano. Acordam antes do sol nascer e tomam café da manhã logo antes da alvorada, que se inicia com exercícios intensos e depois treino de combate e uso de habilidades. A parte da tarde é tomada de ensinamentos teóricos e a rotina vai até às dez da noite. À moda dos militares, são proibidos de ostentar barba – ao que parece, somente os militares mais graduados podiam usá-la, o que explicava a aparência do mahasanaipati. O cabelo podia ser deixado crescer, mas tinha que ser cuidadosamente cuidado. Recebem vestes azuis escuras – como todos ao seu redor, passam a ostentar uma cor que indica sua posição social.
Aprendem muito sobre a cultura local também. O Palácio Real localiza-se em um complexo de funções administrativas, militares e religiosas que localiza-se na ilha de Xambala, que por sua vez está no
Daishiya Sagara ou “Mar Interior”, um enorme corpo d’água salgada isolado no interior do continente. No continente, ligado pela gigantesca ponte chamada Asbru (“Ponte dos Deuses”) ou Bifarasta (“Arco-Íris”, pela decoração de pedras coloridas), estava a cidade de Manova, sendo o conjunto normalmente referido como “Xambala-Manova”. Este conjunto era considerado oficialmente a Capital do Império de Agarta, que abrangia a maior parte do continente.
Os agartis organizavam-se em castas rigidamente separadas por nascimento. Casamentos entre castas distintas era totalmente proibido e qualquer criança fruto de um relacionamento destes seria imediatamente morta. Segundo a Sindhu Mahara, havia uma ordem cósmica definida pelos Deuses que determinava qual a função de cada pessoa no mundo. Assim, no topo da hierarquia racial, estavam os
sindhus, responsáveis pelo culto aos Deuses, a administração da Justiça e o conhecimento místico, sendo que disciplinas como Física e Química eram tidas como conhecimentos tão sagrados e restritos quanto a Magia. Os
tautas vem em seguida, usam vermelho e são os militares.
Pardhavas usam azul claro (azul-céu), possuem cabelos da cor do mel e olhos verdes, sendo a casta administrativa, responsáveis pelo comércio e criação de animais,
arabayas são os trabalhadores: construtores, operários, artesãos e camponeses, caracterizados pela cor amarela, cabelos e olhos castanhos, troncudos e robustos. Por último os
yavanas, cuja cor é o verde, são os artistas, incluindo aí os serviçais da elite (havia muitos deles em Xambala) e prostitutas, de cabelos e olhos negros e a mais baixa estatura, embora muito bonitos pelos padrões agartis.
Esta estrutura de cores era vista em todos os lugares. Em Xambala predominava o vermelho e o branco, mas todas as outras eram vistas em afrescos e detalhes. Bifarasta era toda multicolorida com pedras e lajotinhas de cerâmica. Em Manova cada bairro era dividido em cinco distritos e cada um tinha uma cor predominante, indicando o setor residencial de cada casta. Isto era bem visível das torres do palácio.
Os estrangeiros eram muito poucos, somente aqueles com interesses reais junto à Coroa, como embaixadores. Estes tinham que usar uma peça de roupa da cor azul-escuro para identifica-los e não tinham liberdade de ir e vir: em Manova havia um distrito exclusivo para eles (mercadores viajantes, em sua maioria) e só podiam sair de lá acompanhados de guardas tautas. Com vocês não era diferente: receberam mantos azuis-escuros e em todo lugar que iam haviam sempre pelo menos um tauta de feições sérias e olhar frio de sentido nas imediações, observando-os atentamente e respondendo com monossílabos. Vocês eram desejados, mas não eram bem-vindos – isto era evidente.
Os
hilotas eram claramente uma situação à parte. Eram não-agartis condenados à servir ao Império, culpados por vários crimes reais ou ilusórios cometidos por eles ou seus ancestrais. Provavelmente seu maior crime era não terem nascido agartis, mas sim descendentes de populações dominadas e escravizadas pelo Império ao longo dos séculos. Usavam negro e havia muito poucos deles em Xambala, cuja maior parte do serviço era feito por arabayas ou yavanas. Falar dos hilotas era desconfortável e seus treinadores evitavam estender-se sobre o assunto.
Muito pouco foi dito oficialmente sobre outras nações. Nomes como Acaia e Bárria eram citados, mas nenhum mapa fora providenciado para mostrar com clareza onde ficava tais lugares – seus anfitriões obviamente não queriam que vocês soubessem exatamente
onde estavam em relação ao resto do mundo. Mas havia as fontes não oficiais. Uma dupla de sindhus discutindo sobre ameaças estrangeiras. Um pequeno grupo de hilotas cochichando sobre “o incêndio”. Alguns atos falhos cometidos aqui e ali por agartis que obviamente não queriam dizer nada e mudavam de conversa imediatamente. Uma canção chorosa como um blues cantada por uma lavadeira sobre ver o sol nascer no norte e iluminar um campo florido.
Houve uma rebelião alguns anos antes, em Manova. Os hilotas começaram um incêndio e fugiram para o norte, um lugar chamado Mandara, e agora viviam lá em desafio ao Império. Os hilotas remanescentes em Manova teriam sido todos mortos e um pequeno punhado de servidores ali mesmo em Xambala foram deixados vivos e ilesos, com outro tanto sendo considerada culpada de “conluio” e condenados à morte – mesmo que aparentemente não tivessem participado de nada, dado o isolamento da cidade. Por isso a cidade parecia estar sendo reconstruída, por isso ninguém falava muito sobre os hilotas.
E havia outra ameaça, uma que pairava no horizonte e preocupava os agartis mais do que rebeldes. Apenas uma palavra fora ouvida, mas havia certo respeito – quase... medo... – na voz de quem o dissera quando achou que ninguém mais ouvia: Atlântida.
Indrarasana Ramadavaliputra
– Então é isso! Agora vamos ver se vocês realmente aprenderam. É uma missão simples, encontrar a mantícora que está caçando o gado e aterrorizando os pardhavas. E matá-la. Precisaria de minha tropa inteira pra conter o monstro, mas acho que vocês podem dar conta sem grandes problemas. Se precisarem, toquem o chifre e viremos para socorrê-los. Mas espero que possam dar conta sozinhos.
Indrarasana Ramadavaliputra, padika da 7ª Tropa das Valquírias. O idioma agarti era aglutinativo (como o alemão) e tendia a formar palavras enormes que na verdade eram formadas pela união de duas ou mais palavras. Esta característica era transmissível aos nomes, de modo que eles compunham estruturas aparentemente confusas. O “liputra” indicava o patronímico, ou seja, o nome do pai da pessoa. Assim o nome da padika (posto de um comandante de tropa ou pelotão, equivalente ao Tenente-Capitão do Exército Brasileiro) devia ser lido como “Indra Rasana, Filha de Rama Dava”. Por isso ela era referida como “Padika Indra”. As Valquírias eram uma divisão de elite do Exército Agarti, composta exclusivamente por mulheres tautas treinadas em equitação, alpinismo, natação e combate com sabre e pistola, entre outras habilidades únicas.
A padika havia levado-os para uma região de fazendas entrecortada por bosques. Embora fosse impossível saber onde estavam exatamente, pois que a viagem fora feita inteiramente em uma rukma, haviam levado quase meia hora para chegar ali.
Indrarasana Ramadavaliputra
– O monstro foi visto escondendo-se neste bosque diante de nós. Mantícoras são criaturas raras, se assemelham a grandes leões, mas seu rosto lembra o de um macaco. No passado falavam até que tinha rosto humano, mas isso é bobagem, só uma coincidência.
Maharasana Badaraliputra
– Vocês só precisam se preocupar com as garras e o ferrão na cauda, que além de perfurar como uma lança ainda permite à criatura inocular um veneno tão forte quanto o de um escorpião gigante. Se atingidos, primeiro serão afetados pelo efeito narcótico poderoso que os deixará aturdidos para em seguida morrerem de parada cardíaca. Tomem cuidado. Aqui tem uma dose de antídoto, é muito difícil conseguir dada a dificuldade de capturar tais criaturas vivas.
Os sindhus eram sacerdotes, mas também atuavam no Exército como auxiliares dos oficiais tautas, além de serem os responsáveis pela manutenção dos veículos e da artilharia – pois a tecnologia agarti era mistura com magia, sendo verdadeiramente tecnomágica, e somente os sindhus eram capazes de operar os equipamentos. Tautas tinham que se contentar em empunhar pistolas de pederneira, embora alguns deles (como Indra) possuíssem um pequeno poder mágico que lhes permitia manipular equipamentos especiais (como a pistola da padika, que não precisava ser recarregada e disparava raios elétricos ao invés de projéteis de chumbo).
Assim a posição de Mahara Sana, Filha de Ba Dara, era de assessorar a padika. Era sua subordinada, embora sua casta fosse superior.
Indrarasana Ramadavaliputra
– Seria o ideal capturar a mantícora viva, mas não tentem isso. Não queremos perde-los e é melhor matar a criatura do que arriscar a esse ponto.
– Isto é acima de tudo um treino. O mal que ameaça o mundo é muito maior do que uma mantícora, mas esta tarefa de caça e combate irá servir para prepara-los para a verdadeira missão.
– Mais uma coisa: a mantícora pode imitar diversos sons, incluindo a voz humana. Ela não é realmente inteligente, mas é astuta e usa esta habilidade para atrair presas. E a despeito do tamanho consegue ser bem furtiva, principalmente à noite. É meio-dia agora, suspeito que vocês vão demorar mais de um dia para terminar, então terão que acampar. Lembrem-se de fazer turnos de guarda e espalhar armadilhas e avisos, conforme treinamos. Boa sorte. Alguma dúvida?
Era isso. Após um mês de treinamento intensivo, era hora de por o que fora aprendido em prática.
Off:
Vocês recebem vantagem em testes envolvendo acampamento. Possuem um corno para chamar reforços (chegam em 2 rodadas) e equipamento para acampar, incluindo ração para 3 dias.
Próxima atualização dia 14/12, sábado. Peço que postem até lá. Dúvidas podem ser tiradas no Telegram.
Personagens:
- Dimitrius. PV(20) 20. PM(06) 06. PS(06) 06.
- Edwin. PV(14) 14. PM(06) 06. PS(08) 08.
- Kaito. PV(08) 08. PM(06) 06. PS(02) 02.