Algo mexeu na carteira. Alynor ergueu uma sobrancelha. O que seria?
Salazar
Prazer, Salazar. Ao seu dispor.
Disse seu colega de carteira. Mas Alynor logo chamou o gênio para o assunto que mais lhe interessava.
Alynor estava agitado. Ansioso. Talvez estivesse exagerando. Ora, sua professora lutaria contra outro professor, e daí? Não tinha porquê ficar tão incomodado. Seus dedos tamborilavam impacientes e sua perna esquerda balançava na cadeira com ardor.
O gênio falou com ele.
Raschid
Estão. Mas não tem nada que você possa fazer, relaxe o pelo.
Alynor suspirou pesado, fechando os punhos.
Raschid
Você é chegado dela, não é? Eu me preocuparia com Nereus, não com ela. Aquela mulher é um diabo quando está puta!
De qualquer forma, Elusa e Neevus os levaram a um lugar fora deste mundo. Magia nova. A "cara escondida" está sempre com algum novo truque. Muito útil aquele do dia e da noite...
Alynor tinha ameaçado a corar, com os olhos arregalados quando Raschid insinuou o que todos sabiam. Mas não conseguiu evitar de mostrar um meio sorriso. Ficou aliviado ao saber que as chances de vitória dela eram maiores. Pelo menos era o que ele havia interpretado da fala do zelador. Mas seu colega Salazar decidiu se meter.
Salazar
Eu não me preocuparia tanto com o Nereus, para ser sincero. Não existe força que não pode ser aplacada e controlada e Nereus é um mestre na contenção de magia, por mais que eu admire Drahomira e respeite o quão explosiva ela seja... bem... ela também tem suas limitações.
Alynor
É mesmo, cara? Que Interessante.
Disse Alynor rapidamente, com aspereza irônica na voz. Ele irritou-se por não conseguir deixar o comentário de Salazar solto. Ao respondê-lo, deu importância a ele. Felizmente, o rapaz ruivo passou a olhar para frente numa querela onde Alynor não cabia ou não se importava. Raschid passou a ignorá-lo, mas Alynor já havia feito isso primeiro.
Muitos assuntos, vozes misturavam-se criando uma onda massiva de falas incoerentes. Palavras soltas. Pessoas falavam muito. MUITO. Alynor suspirava e revirava os olhos para aquilo.
Alynor
Por Valkaria, como falam, meu caneco...
Comentou colocando as mãos atrás da cabeça e semicerrando os olhos. Era sua postura clássica. Alynor sempre era o caladão misterioso que não fazia amigos. Não se importava com isso.
Outro barulho na sua carteira. Alynor abriu apenas um olho, intrigado. Ouviu a voz de Salazar novamente e seu cenho se franziu automaticamente.
Salazar
Este Lefiel é um estorvo mesmo.
Se não consegue viver com suas próprias inseguranças, porque vive tentando apagar o brilho dos outros no lugar de fazer o seu próprio se acender?
Inesperado. Sua cara carrancuda deu lugar a de uma confusa, com uma sobrancelha erguida. Alynor endireitou-se na carteira e mirou-lhe de cima abaixo, vendo as roupas caras que vestia. Enquanto isso, Alynor notava como Lefiel antagonizava com uma menina loira na primeira fileira.
Alynor
É... Lefiel é insuportável. Mas é um dos melhores do Dragão.
"
Defendendo Lefiel? Que merda estou fazendo?" pensou e franziu o cenho de novo, frustrado com sua fala. Tentou corrigir.
Alynor
Digo, ele é um arrogante, metido e ambicioso. Por isso que é o "bonzão" do Dragão.
"
Merda! Agora parece que eu valorizo essas qualidades de merda." Pensou irritadíssimo. Seus olhos eram pura raiva.
Alynor
Er... não que eu seja assim, não tenho ambição nenhuma. Só quero me formar e...
Alynor desfranziu a cara. Ficou com um semblante apático.
"
Foda-se essa merda. Agora ele provavelmente pensa que sou um inútil ignorante. Ótimo... bom, foda-se." pensou e voltou a recostar na cadeira com as mãos atrás da cabeça. Inclinado, Alynor mirava o teto.
As vozes continuavam. Alynor conseguiu pescar algo. A moça de óculos na primeira fileira, no canto direito, era casada. Espera. Casada? Tão jovem? E parecia ser nativa de um lugar estranho chamado Triumphus. Ele conhecia alguma lenda de lá. Alguma maldição. Ou seria uma bênção? Ele não lembrava. Mas entediou-se. Seus olhos voltaram para Lefiel e ele o via conversar com a mulher de turbante. Seu nome era muito exótico. Provavelmente do Deserto da Perdição, onde havia mais clérigos de Azgher. Mas eles não deviam cobrir seus olhos? Alynor perdeu o interesse com a dúvida.
Outra vez um barulho estranho. Alynor olhou para sua espada escorada pela mochila e a carteira.
Dankovich
Seria sábio da sua parte fazer amigos, aliados. Não ouviu o que sua amiga louca disse?
Alynor suspirou pesadamente, mas conformado. Estava demorando. Pelo menos a espada falara bem baixo (abafado pela bainha), de modo que aparentemente Salazar não a ouvira. O rapaz de cabelos ruivos inclinava-se para frente para falar com Nazira. Alynor aproveitou o momento para puxar a arma para perto de si, colocando-a sobre o colo de maneira discreta. Dankovich ainda estava guardada em uma bainha bem simplória e sem adornos. Totalmente incoerente com a espada de finíssimo acabamento. Era uma espada élfica, a maldição de Dankovich que um dia fora anão.
Alynor
É mais fácil fazer inimigos aqui...
Alynor cochichou. Geralmente não dá bola para o que a espada disse, mas dessa vez ele realmente tinha tentado por em prática a ideia de fazer mais amigos. Mas não gostava do que ouvia. Lefiel estava na mesma sala e Salazar parecia ser mais um metido a besta que acha que sabe pra caralho da vida.
Dankovich
Por isso é importante formar aliados, Alynor. Enfrentar inimigos sozinho é sinal de tolice, uma imprudência boba. Mesmo assim, sabe que pode contar comigo, basta me tirar dessa bainha suja que você me carrega. Apesar de trabalho élfico, eu sou uma alma imponente, um anão valoroso e devia estar, pelo menos, numa bainha decente.
Alynor deu um meio sorriso com o comentário. Sentia-se mais apegado às chatices da espada.
Súbito, Salazar e Nazira levantaram-se e foram para os fundos. Alynor perdera a conversa.
Dankovich
Vá com eles. Dê uma chance às pessoas, Alynor!
Alynor
Shhhhhh...
Ele pôs o dedo sobre a boca e olhou para trás, tentando ser discreto...
Teste de Furtividade +10
Notou que estavam falando algo sobre um objeto. Não dava pra ver direito... estavam sobre ele. Alynor logo perdeu o interesse. Mas já que estava olhando pra trás, viu uma menina pequenininha com uma cara muito fofinha. Um sorriso rasgou forçosamente em seu rosto. Ora, quanta fofu...
Dankovich
Muito novinha para você, rapaz! Você é um homem feito! Pare de infantilidades...
Alynor deu um murro no cabo da espada por instinto e sentiu dor, fazendo uma careta desagradável, virando o rosto para o outro lado. Ouviu os colegas de seu lado direito falarem.
Rúbio
Rúbio, prazer. Não, eu não conheço nenhum gordão enorme com esse nome.
Penélope
Realmente, não teria mesmo porque ter algo a ver. Mas não entendi porque perguntou se eu sou charmosa. Você que tem que ver, ué.
Mas eu estou preocupada mesmo com meu colega, ele já era pra estar aqui.
Rúbio
Quem é o cara?
Penélope
Grizzel. Conhece? Um elfo cabeçudo e nervosão...
Rúbio
Pior que não...
Alynor quase bocejou. Decidiu colocar a espada novamente no canto, escorada na carteira e na mochila. Mas errou o cálculo e ela escorregou, caindo e saindo um pouco da bainha. O suficiente para...
Dankovich
Esse elfo Grizzel... ele é um rapaz fresco?
A arma quis imitar a voz de Alynor, diretamente para Penélope e Rúbio. Alynor arregalou os olhos olhando para os dois... as palavras pareciam ter saído de sua boca...