Sala do Reitor
Na Academia, Talude observa pela janela de sua sala. Tinha um grimório a seu lado. Abriu-o, folheou algumas páginas. Viu o que havia escrito. Estava satisfeito. Foi até uma mesa onde estava um tabuleiro de xadrez. Aguardou alguns momentos, então moveu uma peça. Do adversário! Quem o visse acharia estranho, mas para ele fazia todo sentido. Exceto pelo movimento executado.
"Ele está ficando mais ousado." Pensou.
Tornou a pensar sobre o que se passava. Logo alguém estava à porta. Não lembrava uma porta de verdade, era espaço condensado. Quem fosse contra ela conseguiria entrar, mas teria que andar milhares de quilômetros. Por sua vontade, ela se abriu, dando passagem a um mensageiro. O sujeito cumprimentou o reitor, entregou-lhe uma carta, então saiu. Talude observou o remetente, abriu-a e leu. Um sorriso com canto dos lábios, desafiador.
"Aceito." Disse.
Outra pessoa à porta. Grativo, um professor da Academia. Lecionava as matérias de Poções e Venenos, além de Ácidos e Corrosivos. Não era um dos favoritos dos alunos, tinha um humor terrível, mas Talude gostava dele; era competente. Ao seu lado, Esplenda, ou Lady Esplenda, como a chamava, seu oposto completo. Um mulher de beleza incomparável, agradável, sorridente e jovial. Lecionava Encantamentos e matérias como Moda Arcana, Boas Maneiras e Etiqueta, Direito Mágico e Esportes Mágicos. A queridinha dos alunos.
Tinha que tomar uma decisão; esperavam por isso. Fez com que a porta se abrisse novamente e voltou a observar o tabuleiro. Ia fazer um movimento. Hesitou.
"E então?" Lhe perguntaram ao entrar.
"Os dois?" Respondeu com uma pergunta.
"Vai longe..." Disse Grativo.
" Poderíamos distorcer no tempo na sala... Onde eles estão, não dá." Esplenda.
O reitor olhava fixamente para o tabuleiro enquanto ouvia. Desistiu de fazer seu movimento. O adversário, que ali não estava, teria que esperar. Mas já devia saber disto, ou não seria seu adversário. Virou-se para os dois que, diferentemente, estavam ali e anunciou sua decisão.
Pouco após, o professor de Grimórios deixou a sala. Fora decidido.
"Incrível o que as pessoas aprontam." Pensou Talude.
Templo de Aulas Teóricas
Salazar parou em frente à porta da sala antes de entrar. Estava curioso.
Pouco ao lado, mais à esquerda, havia um construto parado. Lembrava um golem de pedra e cristal, mas mudava de cor de quando em quando. Partes dele mudavam, adquirindo tonalidades diferentes. Ali, no escuro da penumbra, era opaco na maior parte do tempo, mas achou que se fosse ao sol brilharia com cores cintilantes. De forma geral, suas cores pareciam estar refletindo o ambiente, imitando os padrões de pigmentação que os vitrais impunham ao local.
Analisou-o um pouco de longe e pensou sobre o que seria.
Teste de Conhecimento Arcano foi no e-mail. Sucesso. Resposta entregue em particular.
Então entrou na sala. A turma estava toda espalhada, conversando. Melhor assim. Distraíam-se antes que o professor viesse. Passou por alguns alunos, pediu licença e foi sentar-se.
Alynor conversava com seus agora colegas, bastante animado para quem era. Havia um aluno em cima de uma estante de livros. Driel. Nícolas tentava fazer com que descesse dali, enquanto Tithus ria ao lado, dizendo-lhe que não faria mal algum. Angélica também sorria. Alynor cruzou os olhos com ela por acaso. Era realmente linda. Mas por que tinha que ser casada? Frustrado. Só tinha gente casada naquela sala?
Nina recuperava-se de um susto. Zyrr havia disparado sua pistola arcana bem ali, chamando a atenção de todos. Fizera questão de limpar o "estrago" que Tombinho, o cãozinho de sua companheira de carteira, fizera ao urinar no chão. Sentiu que devia se explicar; os artonianos não estava acostumados a armas de fogo e entendeu que sua pistola mágica deveria lhes parecer uma. Atrasados! Mas, exceto por Nina, logo todos voltavam a se distrair e conversar; a jovem era mais impressionável. Dafne nem se mexera, mesmo com o estouro que o disparo fizera. Estava morta de cansaço, aproveitava cada segundo para descansar.
Em volta, a sala era uma balbúrdia; falatório e movimento por todos os lados.
Talude
Quem deixou esse negócio aqui?!?
Todos olharam para trás quando a voz se projetou ou após um cotovelo assustado avisá-lo para olhar. Silêncio!
No fundo da sala, Talude, o Mestre Máximo da Magia, o arquimago e reitor da Academia, observando o estranho objeto ao qual Nazira e Salazar inspecionaram e que lembrava um grande globo ocular.
Os alunos correram para seus lugares, todos evitando tumulto. Esbarrões não geravam reclamações, de quem quer que fosse.
Rapidamente, estavam organizados, todos voltados para trás.
Talude
Madame Blavatsy...
Ia dar de ombros e virar-se, quando alguém o chamou da porta. Ninguém mais dizia nada. Nem um som.
Funcho
Perdão reitor, a Madame..
O sujeito tentou soar cordial, mas sua voz grossa fazia parecer que ofendia Talude. Este o interrompeu, para poupar-lhe do desconforto.
Talude
Sim, são estes ali. Pode levá-los.
Apontou para o globo ocular. Havia outros atrás. Fez sinal de que os levasse todos.
Funcho
Pois não, Mestre.
O pequenino se pôs a retirar os esquisitos objetos divinatórios da sala. Era pequeno, mas os erguia sem dificuldade; parecia afeito ao trabalho braçal. Alguns alunos o conheciam, mas ninguém ousava falar. Era Funcho, um gnomo jardineiro da Academia.
"Mas Lorde Niebling não é o único gnomo de Arton?" Alguém pensou.
"Não estamos em Arton." Ouviu a resposta em sua mente! O aluno se virou para ver quem lhe dissera aquilo, assustado, mas não conseguiu descobrir.
"Deve ser Sophia." Relaxou, dando de ombros.
"Sim." Ouviu novamente. Uma Ideia Viva. Devia estar acompanhando o reitor. Prático. Ao invés de responder a todas as perguntas, ter uma Ideia Viva que já se adiantasse e explicasse tudo resolvia muitas coisas ao se dar comunicados nas salas, não era incomum. Muitos a ouviram também em suas mentes, conforme suas dúvidas lhes surgiam.
Talude continuava a focar nos objetos ali deixados, pensando nas implicações e se alguém os havia usado. E quem.
Talude
Madame.. A senhora sempre brincalhona...
Está certo...
Talude virou-se e tomou o corredor direito entre as carteiras. Tombinho ameaçou pular do colo de Laura, mas esta o segurou. Ao passar, o arquimago se deteve um segundo e passou a mão em sua cabeça e depois sobre o cãozinho. Fez um carinho atrás da orelha. A menina também sorria.
Laura
O reitor tornou a andar e Alynor, ao vê-lo passar, notou que trazia uma caixa em baixo do braço e que atrás dele vinha um um círculo de luz flutuante, acompanhando-o e trazendo alguns objetos sobre ele.
Talude parou logo à frente de sua carteira, o círculo fazendo o mesmo, bem ao seu lado. Do alto, o reitor observava uma aluna. Demorou-se alguns segundos ali.
Maria Lenah
Bom dia, Reitor.
Veio nos falar sobre nosso professor?
Perguntou seu nome.
Talude
De fato, Maria. Mas Maria Lenah? Que belo nome você tem, minha jovem.
Voltou a se dirigir para a frente da sala. Houve o primeiro burburinho. Que ousada, aquela menina! Tratara-o com tanta naturalidade. O reitor da Academia! O nome de Talude invocava respeito, era capaz de mover céus e terras com um movimento das mãos, de fender o mar com seus desejos, e de derrubar um dragão com um olhar. Mas agora abria a caixinha que trazia em baixo do braço e depositava seu conteúdo sobre uma pequena mesa que fez surgir do chão, no canto da sala, bem à frente, enquanto o círculo de luz despejava os objetos que trazia sobre a mesa maior, mais ao centro.
Peças de xadrez. Era o que tirava da caixinha, tranquilamente, dispondo-as sobre o tabuleiro ao final.
Então, terminando, tomou a frente da mesa, mãos cruzadas atrás das costas.
Talude
Sala rústica, mas agradável...
Precisamos substituir aquela porta, no entanto.
Fez um encanto e um vácuo se formou, engolindo a velha porta de madeira da sala. Uma pressão enorme tomou conta do ambiente e foi se condensando no vão que se formara pela ausência do objeto de madeira e um som estridente e aterrador de um universo sendo esmagado tomou conta de toda a sala. Apreensão! Em segundos, uma porta de espaço se formou ali. As paredes em volta foram encantadas para que se protegessem também. Qualquer um que tentasse entrar naquele lugar sem permissão, conseguiria, mas teria que percorrer
mais de oito mil léguas de espaço condensado que agora formavam a porta do lugar. Uma distância extra, para garantir, em relação à porta de sua própria sala, que tinha apenas oito mil léguas exatas.
Li-Lo, a mais próxima da coisa, era a mais espantada.
Li-Lo
..ta que pariu... Coi di loco, velho!
(Fudeu pra fugir agora!)
O Mestre viu o que tinha feito e, satisfeito, anunciou.
Talude
Seus professores, como Raschid lhes disse, estão "ocupados". Mas não vim lhes falar de seu professor.
Falou, olhando para Maria e depois para toda a sala.
Talude
Serei seu professor.
Alguma questão?
Todos se olharam! E então explodiram em perguntas!!
Vocês podem fazer perguntas mais simples para Sophia, a Ideia Viva que preenche o ambiente. Estas serão respondidas de forma bem curta e direta, antes do reitor chegar à frente da sala, conforme o conhecimento de Sophia.
Também podem falar com o Mestre, no final, ou mesmo entre si, quando a conversa começar.
Fiquem à vontade.
