Os alunos se levantaram, em sua maioria, e se dirigiram para a estante de livros que ficava à direita da sala, logo ao lado de Penélope. Isso fez com que um pequeno aglomero se formasse à frente de Nina, mas agora as coisas foram mais organizadas e houve filas, o que evitou maiores problemas e atropelos. Nina viu que Dafne ainda estava meio grogue e achou por bem orientá-la mais adequadamente.
Nina
...A gente vai ter aula com... O próprio Talude...
Sua colega piscou, apertando bem os olhos. Então abriu-os bastante, forçando as sobrancelhas o máximo para o alto. Parecia tentar ficar acordada. Ou acordar, em primeiro lugar.
Lamentou...
Dafne
Não vai dar pra cochilar nessa aula...
Que infortúnio!
Mas Nina já pensava sobre a voz que ouvira em sua mente há pouco e lhe explicara o que eram Gnomos. Pensou que nem tinha perguntado nada de verdade e incomodou-se com a possibilidade de alguém estar lendo sua mente.
O conhecimento novamente brotou em sua mente.
Sophia
Ideias Vivas não leem mentes, elas vivem em mentes, como ideias comuns, mas também por si só. Ideias Vivas tem a função de transmitir informações necessárias aos seres que passam pela Academia Arcana, deixando-os saber o que precisam. Perguntas não são necessárias, nem palavras, apenas necessidade de informação, e informações. Para esta aula, porém, Mestre Talude requisitou palavras.
De novo! Nina iria se familiarizar rápido com Sophia ou ficaria tonta com aquilo, não havia muita opção. Mas o burburinho da sala e a necessidade de pegar logo seu livro não a deixou pensar muito mais que isso na hora.
Tomou um lugar numa das filas e foi tentando se aproximar da estante. Salazar e Alynor já haviam retirado seus livros e aguardavam para usar a varinha que o professor entregara a Abigail, enquanto Zyrr ainda se demorava. O elfo sombrio passou um tempo observando uma carta que encontrara, enquanto Laura já aguardava para pegar um livro também, ansiosa, logo atrás de Nina.
"Au, au. Au, au, au."
O cãozinho se animava com o rebuliço.
Abigail
Façam fila aqui. O professor me pediu para tomar nota deste procedimento, mas não me deem atenção.
Esta é uma varinha de Marca Arcana, uma varinha de truques. Seu poder nunca se esgota, podem usar à vontade.
A garota falava com tranquilidade, instruindo os jovens. Ao que parece, o professor já escolhera sua assistente. E bem, ao que tudo indicava. Curiosamente, mesmo os alunos de grêmios rivais viam nela alguém adequado para a tarefa. Quando o primeiro aluno da fila começou a usar a varinha, ela pegou uma folha em branco e a apoiou sobre o livro que acabara de pegar, para fazer suas anotações.
Pressionou a pena contra o papel apoiado no livro...
Então levou um susto enorme!
"– Ei, sobre a capa não! Não sabe que marca?"
Derrubou livro, folha, lápis,e tudo mais de sobressalto!!!
Tentou segurá-los, em vão, fazendo com que saltassem das mãos, quase derrubando seus óculos no processo.
E no momento em que os objetos caíram no chão...
"– AI, AI, AI!"
Abigail
Mas que diab...
Conteve a palavra e se abaixou, indo direto àquilo que acreditava ser a fonte da voz que lhe falara.
Abigail
Você fala? M-me desculpe.
Livro
Mímica é que eu não faço, né? Tudo bem, mas não faça mais isto.
Agora apura que o povo tá esperando.
Ninguém reclamou da espera, pois ficaram espantados também. Mas não foram tantos os que haviam visto, pois a fila era longa. A garota recompôs-se e ajeitou-se de outra forma, voltando a anotar o que o professor lhe pedira, desta vez sem incomodar o livro falante.
Os alunos passaram a inscrever suas marcas nos livros que haviam escolhido. A fila andou rápido, Penélope utilizando a varinha com tranquilidade e acionando-a de primeira. Não esboçou nenhuma reação, fazendo parecer que para ela aquilo era algo trivial. Atrás dela, Maria também acionou a varinha na primeira tentativa, mas ao conseguir ficou bem mais feliz.
Maria Lenah
Legal! Haha!
Depois foi a vez de Salazar, que não tinha muita opção. Como Abjurador, o estudo de magias de Transmutação, tais quais Marca Arcana, não lhe era possível. As duas escolas eram diametralmente opostas, e ao estudar uma tão afundo quanto ele fazia, não havia como dar atenção à outra, pois todos os conceitos eram por demais contrários. Seria literalmente suicídio tentar tal coisa, pois minaria a capacidade de focar nas habilidade abjuradoras tal qual lhe era necessário. Aquilo seria, na prática, tomar o caminho de um mago generalista, algo que ele não desejava.
Então havia a varinha. Numa primeira tentativa, falhou. Ficou frustrado, visto que as garotas à sua frente haviam conseguido de cara. Mas tentou novamente e a ativou, inscrevendo no livro sua marca pessoal, uma marca de dragão. Deu sua vez para Alynor, que havia comentado seu espanto por Salazar não conhecer aquela magia, dizendo que para ele tudo bem, já que magia lhe era algo secundário, mas não para Salazar. Obviamente Alynor desconhecia os meandros da abjuração e transmutação. Salazar pensou em talvez lhe explicasse isto mais tarde, se estivesse com paciência.
E chegada a vez dele, Alynor achou que não seria difícil marcar o livro, afinal já tinha estudado o uso de itens mágicos, e varinhas eram um dos mais básicos, segundo lhes explicara Drahomira. Não conseguiu de primeira, mas na segunda deu certo. Nada tão mal, não perdera para Salazar, ao menos.
Então foi a vez de Nina. Pobre Nina... Nem mesmo sabia que não sabia usar varinhas. Nem nenhum item mágico. Poderia ser tão inocente? Mas era e pegando a varinha em mãos, tentava em vão fazê-la funcionar. Obviamente, não obteve nenhum resultado; a garota não tinha a menor noção de como aquilo funcionava. As pessoas atrás começaram a reclamar, mas felizmente uma alma caridosa a salvou.
Salazar
Por favor, permita lhe ajudar.
O aluno que já havia feito sua inscrição voltou e a ajudou. Teve alguma dificuldade, mas conseguiu produzir uma marca para ela. Era um leão, como aquele em seu peito. Ao que parecia, o desenho lhe chamara atenção. Havia também alguns detalhes especiais, que davam à marca o ar singelo de um leão pacato. Nina achou que era uma marca agradável.
Voltando ao seu lugar, estava um tanto envergonhada por aquilo. Muita gente a vira agir de forma tacanha, pensou ela. Todo mundo ia bem, só ela não. Mas ao sentar com Dafne, duas coisas lhe chamaram atenção. Uma era o fato de que o aluno que lhe sucedeu na fila ficou lá mais tempo do que ela. Tentou uma, duas, três, quatro, cinco, seis...Muitas vezes. Alguém pior que ela! O povo reclamava, mas ele não desistiu.
Até que, enfim...
De tanto tentar, acabou realizando uma marca fantástica, cuja luminosidade banhou a sala. Luzes azuis e vermelhas rodopiaram, formando uma Marca Arcana que lembrava um anjo e um lacharel entrelaçados.
Rúbio
Puxa! Nem eu sabia que eu sabia fazer isso...
Ouve risos e o pessoal se descontraiu.
Zyrr levantou-se e foi pegar seu livro, dando uma piscadinha para Nina ao passar.
Zyrr
A menina assustou-se, ficando meio em choque. Era no mínimo curioso como alguém que cresceu num templo de Marah, a Deusa da Paz e do Amor, e há aí uma grande carga de amor sendo praticado nos templos e na religião de Marah, podia ter tanta dificuldade de lidar com algo tão natural para os de sua fé. Mais do que natural! Algo desejado e encorajado!!!
"Quem faz amor, não faz guerra."
Era uma frase bastante ouvida nos templos de Marah, mas Nina parecia vir de alguma vertente muito específica de sua religião ou, por algum motivo, ter se isolado desta realidade. No entanto, ela não teve nem mesmo muito tempo para reagir ou se comover com a Piscadinha Aprimorada de Zyrr. Ao olhar para o lado, viu que Dafne a observava meio assustada.
E lhe disse.
Dafne
Esse bicho comeu meu livro.
Dentro do livro da garota uma criaturinha que lembrava um dragãozinho havia feito seu ninho. Dafne o observa, espantada.
E disse mais.
Dafne
E ele acha que eu sou a mãe dele...
Zyrr, alheio aquilo tudo, aguardava sua vez em frente à estante. Viu outra aluna, à qual não havia dado atenção, inspecionando um livro com o olhar, a mão estendida para pegá-lo. Parecia intrigada. Por algum motivo, no entanto, mudou de ideia e pegou outro, saindo sem lhe notar.
Quando Zyrr foi pegar o seu, viu que restavam poucos. Pegou um deles e saiu. Percebeu então que havia um fecho sobre ele, trancando-o. Examinou melhor e pensou que talvez fosse difícil abri-lo... Teria sido isso que fizera a mulher evitá-lo? Pensou em trocar.
Olhou de volta para a estante, mas viu que a essa altura já não restavam mais livros por lá.
Zyrr
Bom, se não tem outro jeito...
Entrou então na fila para marcar seu livro e viu que estava atrás de Laura e da garota com orelhas de gato. Após Penélope e Maria ninguém mais havia acionado a varinha na primeira tentativa, mas ao chegar sua vez a garota-gato repetiu o feito.
Parecia ser realmente boa naquilo.
Li-Lo.
Aqui tem mocotó, tá ligado?
Zyrr não entendeu nada do que ela dizia, mas Laura achou engraçado. Até o cachorrinho pareceu rir.
Devia ser engraçado.
Sua companheirinha de carteira seguiu-se à estranha garota e logo acionou também a varinha, o encanto produzindo uma inscrição em seu livro. A figura lembrava um cão de pelagem laranja, o que a deixou contente. Finalmente chegara a vez de Zyrr, que apesar de toda facilidade inerente à sua raça em lidar com itens mágicos e de seu intelecto superior, falhou no primeiro gesto arcano.
Zyrr
(Que deprimente...)
Tentou de novo e então conseguiu realizar a magia.
Olhou em volta. Todos já estavam sentados, folheando seus livros, exceto por Alynor, que foi falar com Nina e Dafne, e por Abigail, que passava o relatório de suas anotações para o Mestre. Pensou em falar com a elfa que lhe dera um olhar significativo anteriormente e por isso se dirigiu até Penélope.
Enquanto isso...
Alynor
Eu sou ... Alynor. E você?
Nina se virou primeiro, ainda se recuperando do espanto com a criaturinha no livro de sua colega.
O garoto tinha vindo se desculpar por algo, mas estava absorta pelo bichinho que Dafne achara Nina não entendeu muito bem.
Nina
A-ahm... ...Prazer, o meu nome é Nina. Essa é a Dafne.
A macabra garota fechava o livro comido naquele momento, trancando o bichinho lá dentro de novo, e o colocou em sua bolsa. Ao se levantar, espichou os olhos, curiosa, para ver com quem Nina falava.
Dafne
Quem é?
Viu Alynor. Mudança na expressão.
Dafne
Ah, o dragonboy. O que você quer, cara? Essa mesa é dos Leões, cai fo...
Não teve tempo de completar a frase.
Tinha um teste de Ladinagem aqui, mas como Zyrr não tem...
Alynor teve dois testes. Percepção notou que a garota tinha tomado alguma coisa alcóolica. Intuição notou que ela ia hostilizá-lo e não era só por isso.
Mas não houve tempo para nada. O livro de Zyrr saltara de suas mãos enquanto tentava abri-lo, ao conversar com Penélope, e tentou morder sua cara. A conversa com a elfa teria que esperar.
Houve espanto, mas Talude saltou de sua mesa e alertou em voz alta e firme.
Talude
Um momento, todos!
Disse, apontando uma das mãos para a criatura, que flutuava à frente de Zyrr, sem mais avançar. Nina estava exatamente ao lado da coisa. Se ela virasse, poderia abocanhar sua cabeça.
Zyrr, assustado.
Zyrr
Mas que diab...
Talude
É um livro monstruoso, sr. Nazzaxynazyrr, uma espécie de Mímico, mas com outras habilidades. Ele o desafio a dominá-lo enquanto imita seu nível de poder, ou não lhe servirá.
Deseja enfrentá-lo? Deve fazê-lo sozinho e imediatamente.
Nisso a porta se abriu para alguém atrasado.
Grizzel
Mas eu nem bem chego e já tá quebrando o pau?
Ninguém mais interferirá, Talude não deixará. Caso Zyrr escolha lutar, role Iniciativa. O resultado da criatura foi 17; se vencer, já pode postar sua ação. E aí?
Dica: não é o Mímico do Bestiário. Avalie o caso com sua própria percepção.