Haviam alguns brasões e tapeçarias na parede, que foram facilmente arrancadas por Selene. Enquanto isso, Gard e Alyssa juntos conseguiram remover a luminária do teto, ficando agora com duas correntes e com aquela espécie de rodado repleto de sulcos onde repousavam velas de gordura já parcialmente derretidas. O sebo escorria pela borda e era recolhido para ser reaproveitado depois.
- Eh, akiah ghora souf'altha phogu - falou Gard segurando a pesada luminária com o antebraço, como se o objeto fosse uma espécie de escudo. Havia um sorriso sincero em seu rosto.
Alyssa também estava contente em ajudar o companheiro. Diferente de Selene, que estava especialmente chateada com Kenlee e preferiu permanecer em silêncio. Passou as tochas improvisadas para cada um dos demais companheiros e, com um movimento amplo e um tanto ríspido do Manto, aqueceu cada uma delas ao ponto de queimarem, assim como as lamparinas na luminária. Em instantes, todo o cômodo antes lúgubre estava iluminado, até mesmo aconchegante.
Kenlee, por sua vez, estava alheio àquilo tudo. Após abrir uma brecha no portão principal do prédio, permitiu que o lince se afastasse dali, sorrateiramente, através das ruelas da cidadezinha. Conforme caminhava, ficava cada vez mais claro que estavam, de fato, em Folha Prata. Porém, assim como havia acontecido ao prédio, todo o lugar estava limpo e renovado. Haviam canteiros bem cuidados, e as ruas principais haviam sido forradas com cerragem nova.
A construção do templo parecia progredir muito bem, mas não era isso que mais chamava sua atenção. E sim a população que agora avançava através das ruas, notoriamente, quase apenas formada por homens. As vozes provinham deles, que estavam juntos, apoiando-se, com tochas e machados nas mãos. Ouviu um rosnado próximo, e encolheu-se permanecendo o mais imóvel possível entre as folhagens.
Era de fato um lobo. Talvez pela visão vinda de baixo, parecia ser maior e mais ameaçador do que qualquer outra fera que já pudesse ter visto. A criatura cheirou e lambeu o gelo do qual o lince era feito, mas logo perdeu o interesse nele e correu mata adentro. Outros o acompanharam, sem dúvida. Enquanto isso, o povo se aproximava. Diante deles, um homem grande e austero, apenas de botas, calças e suspensórios,com uma barba farta e olhar severo comandava. Trazia uma tocha e um machado nas mãos.
- Vamos logo! Essa foi a gota d'água!
- Não devemos nos apressar - implorou um outro, muito menor e vestido com longos trajes de dormir - Ninguém deve ficar para trás! É perigoso!
- Quem ele pegou desta vez? - perguntou um terceiro, também com aspecto de lenhador, abotoando uma camisa muito manchada de café e suor.
- Foi minha filha! - respondeu outro integrante da comitiva, também apenas de calças e descalço - Pelo Panteão, se aquela coisa fizer algo com minha preciosa, ele irá sofrer!
Kenlee voltou-se para os demais, vendo no rosto de Alyssa que ela também ouviu parte da conversa. Aparentemente, uma criança havia sido sequestrada. Sem dúvida, foram os gritos e rosnados que o grupo ouviu anteriormente.
Segue o roleplay. Todo o grupo está dentro da prefeitura ainda.