Herança - Ato XVII - O Resgate de Paola

[Tiagoriebir]

— Er... Nick, desculpe — interviu Selene, pondo gentilmente a mão no ombro do paladino. — Eu não quero parecer chata ou desinteressada, mas não é como se tivéssemos muito tempo para ouvir a história dela agora. — A ladina passou a sussurrar no ouvido de Nick — Se ela conhece estes túneis, e se realmente os minotauros estão chegando, talvez seja melhor fecharmos um trato rápido, e deixamos para conhecê-la melhor depois.

Enquanto cochichava, Selene observava a recém-chegada em um misto de curiosidade e desconfiança. Ela mesma não era muito mais alta que aquela goblin estranha.

[Mago Dzilla]

— Lançar zombarias não é um bom modo de fazer amizade. - retrucou Kenlee, tirando uma mecha do cabelo completamente negro da frente do rosto - E manter uma das mãos oculta faz as coisas ainda piores!

A mão humana empunhou o cajado tolon com firmeza, fazendo até mesmo um pequeno rangido da pele suada contra a madeira polida. Os cabelos passaram a uma tonalidade azulada quando lembrou-se de uma jovem na Floresta Nevada que foi à sua cabana no meio da noite pedir ajuda para a mãe que estava em um trabalho de parto difícil. Sabia que a doula da vila já estava lá, então a presença dele só podia estar sendo solicitada por um motivo: risco de morte iminente.

Havia um sentimento... carinho, desprendimento, preocupação... não saberia dizer. Mas a criaturinha diante do grupo devia ter despertado nele aquele mesmo sentimento.

Onde estava aquele sentimento? O que restou de verdade de Kenlee da Floresta Nevada?

— Se precisa de ajuda, basta pedir. Nós mesmos não estamos em condições de recusar ajuda, se nos for oferecida. - disse o toloniano, os cabelos voltando a uma tonalidade cinzenta — Mas poderemos ajudar muito melhor se tivermos chance de sair daqui, e nos escondermos por algum tempo até recuperarmos as forças. Uma luta agora seria desagradável,... mas definitivamente encarável, a essa altura.

[Matheus]

Petúnia segurou a mão de Nick Fish com os dedos, como uma dama.

— Ó nobre paladino dos deuses! Quão abençoada sou por encontrar um varão como tu para me auxiliar! — Petúnia se jogou nos braços de Nick, falando no maior tom de drama imaginavel — Minha história é como a de muitas donzelas do reino! Perseguida pelo meu irmãozinho, herdeiro legitimo de meu pai após a morte do nosso patriarca, agora fujo por Arton como mãe solteira! Outros irmãos não tiveram tanta sorte...

Na fala exageradamente rebuscada de Petúnia era visível o tom de deboche. Ela se separou nick e começou a andar entre os aventureiros, analisando-os de cima a baixo.

— Mas enfim — Continuou em um tom normal, mas com o pequeno sorriso no rosto — Fico feliz por considerarem o acordo, principalmente por sua amiga ali — Apontou para Paola — Não sei se ela aguentaria uma batalha com minotauros furiosos... E eu não tenho nada a esconder, meu caro amigo! Só estava com vergonha de minha unha quebrada, sou muito vaidosa! — Petúnia mostrou rapidamente a mão, mas sem dar tempo para ninguém perceber uma hipotética unha quebrada. — Na verdade eu preciso de proteção, e a maneira com que você lidaram com um baita minotauro daquele, parece que são capazes. Eu só queria saber o que seu amigo manetauro fez para deixar vocês tão furiosos... Sabe, para não repetir o erro dele hehehe

[Mago Dzilla]

— Bem, ele não fez nada tão tolo quanto esconder as intenções que tinha! - rosnou Kenlee — De fato, ele as deixou bem claras: aproveitar-se de nós, sujeitar-nos à própria conveniência, descartar-nos se e quando não mais fôssemos úteis... ah, envolvia algo com escravidão e morte em ignomínia, não necessariamente nessa ordem.

[Keitarô]

— Você parece uma goblinoide bem alegre, Petúnia…

Alyssa observava as firulas da futura mãe enquanto misturava lembranças de seu antigo trabalho com o impacto visual da sala a que haviam chegado. Sentiu algo diferente, que não sabia muito bem explicar: observava as sensações, as memórias. Teve vontade de se sentir triste, mas apenas havia vazio. A tristeza parecia… passar por ela, mas era tão forte que ela só conseguiu observá-la, e não absorvê-la. A chegada repentina de Petúnia favorecia a isso.

— É melhor sairmos daqui e não repetirmos os erros dos que aqui ficaram — seca e direta.

[Matheus]

— Olha, olha, veja bem — Petúnia começou a falar enquanto mostrava as duas mãos — Eu não conheço vocês, sou só uma grávida encontrando estranhos fortes suficiente pra acabar com um grandalhão daqueles. Se alguém apresenta ameaça aqui, com certeza não sou eu.

A meia goblin respirou fundo.

— Certo, já percebi que são pessoas razoáveis. Vamos sair desse lugar e depois podemos conversar em alguma taverna, nos apresentar e virarmos os melhores amigos do mundo. Não aguento mais ficar do lado dessa sala sinistra, fiquei mais sensível desde a gravidez — Petúnia pôs a mão na boca, com expressão de enjoada, e começou a guiar o grupo para a saída.

[Armageddon]

- Wamboha, kambahdah - apressou Gard.

Guiados por Petúnia e Togs, o grupo seguiu adiante pelo caminho em direção as profundezas da mina. Kenlee olhou para Selene de soslaio, uma certa preocupação estampada em algum lugar daquele rosto marcado. Ela confirmou com um aceno de que de fato estavam no caminho correto, e para tranquilizá-lo, sorriu. Alyssa e Nick vinham logo atrás, com Gard levando Milena adormecida no colo fechando a pequena comitiva.

Os túneis subiam pouco a pouco e se tornavam cada vez mais estreitos, até ao ponto em que precisaram seguir em uma fila única. Por fim, terminou em uma portinhola trancada. Selene verificou tudo por precaução, mas a velha porta de madeira não trazia nenhum perigo ao grupo. Nick lidou com ela facilmente e logo estavam do lado de fora.

Respirar o ar puro da floresta após todo aquele tempo nas profundezas foi revigorante para todos. Exceto para Togs, que estacou no limiar dos túneis. Haviam lágrimas em seus olhos de goblin. Petúnia também chorava quando se abraçaram, despedindo-se, e o monstrinho regressou pelo caminho desaparecendo da vista de todos.

- Ainda não estamos seguros - lembrou-lhes Kenlee - Ainda que do lado de fora da cidade, estamos muito próximos de Folha Prata e dos minotauros. Encontrar abrigo é urgente.

- Eh sow mie sigwir - falou Gard, e tomou a dianteira. Os demais deram de ombros e partiram atrás do grandalhão. Havia confiança naquela voz.

Gard fez um teste de Rastreio e conseguiu um 5, mesmo com um bônus de +3 por ser um teste fácil, ele conseguiu falhar. xD

A caminhada foi breve, embrenhando-se pela mata sem rumo definido, seguindo as trilhas deixadas ali por caçadores e animais. Gard estava um tanto confuso com aquele ambiente novo, tão verde e distinto das montanhas onde viveu, mas mesmo assim seguiu em frente, determinado. De fato, após quase meia hora de idas e vindas, o grupo se deparou com uma clareira no coração da mata fechada e com uma casa de caçador em ruínas.

- Bem, não é exatamente uma taverna de luxo, mas é melhor do que nada - comentou Alyssa dando tapinhas nos ombros do bárbaro. Ele gargalhou alto, aliviado. Aparentemente, ninguém havia notado que ele também estava um tanto quanto perdido.

E então, grupo. Como vão reagir a esse achado?

[asbel]

—Kassah thriller qüm siminïna nw khōlo nwm eht mölhe. Mhå nøz fæs owkh pòdd.

Gard deu um sorriso amarelo para o grupo. Estava meio enferrujado depois daquilo tudo. Mas havia chegado em algum lugar e isso era bom. Quem sabe ali teriam algum abrigo e a garota em seu colo poderia descansar de forma mais confortável.

Gard se adiantou e foi na direção da casa. Nas Uivantes, onde o frio do meio-dia podia significar a morte, ninguém esperava um convite para entrar em uma casa e se aquecer. Esperar ser convidado para sentar à mesa, sim. Se abrir perto do fogo, talvez. Mas esperar para entrar em uma casa, nunca.

Meio sem jeito, o bárbaro empurrou a porta com o ombro.

—Ow, dh'kåza!

[Mago Dzilla]

Kenlee começou a diminuir o passo tão logo adentraram a clareira, e foi ficando para trás no grupo, os cabelos refulgindo em amarelo. Por agonizantes segundos aquela choupana pareceu-lhe exatamente igual à cabana em que vivera na Floresta Nevada. Reassumindo o controle da respiração, piscou forte algumas vezes e conseguiu ver a cabana arruinada como o que realmente era.

O que não ajudava muito.

Antes que pudesse alertar por cautela, o bárbaro já estava entrando na cabana. Pousou de volta o cajado no chão, frustrado, abanou a cabeça e avançou, avaliando o estado de decrepitude do casebre. Se houvesse o menor sinal de intervenções recém executadas para fazer uma armadilha parecer uma cabana abandonada, ele saberia.

Kenlee usa a Perícia Máquinas para avaliar a casa, tendo prestado atenção até ao ranger da porta que Gard abriu. E se ferramentas tiverem sido usadas recentemente nos arredores, digamos, para abrir uma clareira falsa, também.

[Matheus]

A meia goblin se aproximou da casa, enquanto despreocupadamente observava os arredores. Gostou da atitude ousada do bárbaro de já ir entrando na casa.

— Ih pessoal, não sei se tenho dinheiro para pagar a estadia em um estalagem tão nobre — Brincou Petúnia, enquanto bisbilhotava dentro da cabana por uma das janelas. Ela se apoiou na parede e continuou — Então... No meio desse turbilhão de emoções que foi nosso encontro, ainda não sei nem o nome de vocês! Quem são? O que fazem da vida? Para onde vão? Do que se alimentam?