Prólogo I - O Novo Conde

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Tiagoriebir
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Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por Tiagoriebir » 19 Mai 2018, 23:03

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Muitos anos antes.

— Um hobgoblin?

— Exatamente, pai. E é o líder deles.

— De fato, notável. Já havia ouvido rumores sobre isso, mas nunca se pode confiar completamente nas informações entrecortadas que chegam da capital. Ainda mais quando envolvem assuntos religiosos.

— Mas é verdade. Eu estive lá. Eu os vi.

— É um pouco irônico. A deusa da humanidade ser salva por um grupo liderado por um não-humano.

— Acho que é até melhor assim. Ela é a deusa dos aventureiros também, afinal.

Leon Goretzka III assentiu em silêncio. Havia sabedoria nas palavras de seu filho mais velho. Os dois ficaram lado a lado, ouvindo apenas o ruído do trote dos cavalos por alguns instantes, quando Leon Goretzka IV prosseguiu.

— E eles fundaram uma ordem de cavalaria. A Ordem dos Libertadores. O próprio Rei-Imperador outorgou a eles autonomia para agir no território do Reinado. Sua fortaleza voadora é uma base impenetrável. E eu...

— Você quer fazer parte. Eu sei. Soube disso no momento em que esta conversa teve início. Na verdade, eu sempre soube disso.

— Pai, eu… Apenas com sua permissão… eu... eu iria…

— Basta. Você já é um homem, Leon. Sempre teve o ímpeto de aventureiro dentro de si, por mais que sua mãe se recuse a aceitar. Você já é capaz de tomar suas próprias decisões. E, como homem, também deve ser capaz de lidar com as consequências de seus atos — O tom era sério, destacando a formalidade do que era declarado.

— Pai… Obrigado por sua benção. Eu…

— Senhor — Alan, o capitão da guarda que escoltava o conde e seu filho, se aproximava, o cavalo marrom em um trote manso. — Perdão pela interrupção, mas o entardecer se aproxima, e ainda estamos há um dia de viagem do novo condado. Há um bom campo aberto adiante, que nos dará visão privilegiada ante qualquer um que se aproxime. Podemos armar as tendas lá, se estiver do seu agrado.

— Certo, procedam assim. Descansamos agora ao anoitecer e partimos antes do sol, amanhã.

— Sim, senhor — o soldado se afastou, para delegar as ordens aos outros homens.

Mais tarde, pai e filho caminhavam no entorno do acampamento, aproveitando os últimos raios de sol que o céu lilás do entardecer proporcionava. Cada vez menos os dois tinham momentos a sós e, ao que tudo indicava, depois daquela viagem, seria ainda menos. Por isso, aproveitavam a companhia um do outro.

— E este tal Vitório, o novo conde? O senhor o conhece, pai?

— Não pessoalmente, mas sua fama o precede. Tem o mesmo ímpeto desbravador que você, há alguns anos atuando como aventureiro, prendendo criminosos e derrubando alguns tiranos. Teve atuação de destaque na Batalha de Amarid, salvando vidas de guerreiros valorosos. Seu desempenho em Trebuck chamou a atenção de nossa marquesa, lady Branda Ollen, que intercedeu com o Imperador-Rei para lhe oferecer um título e um condado.

— E ela conseguiu. Lady Branda sempre consegue.

— Sim. Mesmo longe da marca, ela é muito influente. Penso que na verdade, justamente por estar tão perto da alta nobreza da capital é que ela alcança este patamar de importância com o Imperador.

— Não duvido disso. A marquesa já mostrou inúmeras vezes que nos representa. A criação dos novos condados é crucial para protegermos as fronteiras.

— Exato, filho. Este novo domínio fica próximo a Wynlla, que sempre foi uma nação aliada, mas precisamos ficar de sobreaviso.

— Sim. Até porque um ataque dos yudenianos não precisa vir diretamente do reino deles… Mas diga pai… Sei que pode parecer tolice mas… É verdade o que dizem sobre este conde? Que ele é parte… lobo?

— Ele é uma espécie de lobo, filho. É um moreau, uma raça com traços animais, vinda dos mares longínquos do leste. Se vai se tornar cavaleiro e aventureiro, saiba que metade das lendas que as amas contam quando somos crianças são de fato verdadeiras.

Conde Goretzka inspirou profundamente, sentindo os aromas do campo. Já não viajava daquela forma havia alguns anos e sentia saudades disso. Aquela viagem era uma incumbência dada pela própria marquesa — recepcionar a chegada do novo conde Vitório a seu domínio. A Goretzka cabia, como figura mais importante naquela região, entregar os documentos que outorgam autoridade ao novo conde e presidir a cerimônia de posse.

A noite passou sem maiores incidentes. A temperatura aumentava, indicando o fim da primavera, mas ainda era bastante confortável. Como havia sido ordenado, antes dos primeiros raios de Azgher a comitiva seguiu viagem.
OFF
Pessoal, este é o primeiro ato de Prólogo de nossa história. Eles serão partes mais curtas, que aconteceram antes de nossa história principal, protagonizadas por um ou dois de vocês. Como podem ver, o primeiro prólogo é protagonizado por Goretzka, personagem do Bode.

Nos Prólogos não haverá a mecânica de Pontos de Frequência. Não existe um prazo de resposta como nas partes principais, mas a boa participação e atuação será levada em conta para distribuir eventuais recompensas e Pontos de Experiência que poderão ser usados na história principal.

E então Bode — há um dia inteiro de cavalgada até chegar em seu destino. O clima é favorável, dia claro. Você está acompanhado de seu filho e cerca de dez soldados do condado de Goretz.

O que você faz?
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Goretzka
10/10 PVs | 10/10 PMs
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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por João Paulo » 28 Mai 2018, 10:54

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Aqueles seriam os últimos momentos do Conde Goretzka com o seu herdeiro por um longo tempo e ele não sabia muito bem o que pensar sobre isso. Havia os outros filhos, Simone dava indícios de que logo mais outro Goretzka viria ao mundo, mas Leon era seu primogênito e, pelo caminho que estava prestes a seguir, dificilmente iria arcar com suas responsabilidades para com a família como o próprio conde, e o seu pai, e o pai de seu pai, o fazem há gerações. Era algo inédito dentro da história da família e ele se perguntava por que isso foi acontecer com ele.

Naquela manhã o café foi tomado sem muita pressa e com silêncio. Pai e filho se encaravam e nada diziam. Então, já enquanto cavalgavam, conde Goretzka resolveu quebrar o gelo.

— Você vai ter que contar pessoalmente pra sua mãe — Tentou parecer o mais sério possível — Ela queria que você se casasse logo. Seu medo de casar é tão grande assim para se afastar da família e irmãos? — E então esboçou um sorriso para o filho.

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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por Tiagoriebir » 03 Jun 2018, 01:35

Leon engoliu em seco ante a primeira afirmação do pai, mas em seguida compartilhou com ele o sorriso.

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— Admito que será difícil informar a mãe de minha decisão. Mas mais difícil ainda seria viver com este anseio... esta vontade de saber do que eu realmente sou capaz. Quero servir a uma causa maior, como o senhor. Quero mostrar meu valor, como o senhor fez em tantas batalhas. Mas quero fazer isso sem que meu sangue me preceda. Esta nova ordem... esta parece ser a oportunidade perfeita. Eu quero seguir este ímpeto que sinto, pai. O chamado para servir a algo maior, e não estar preso a apenas um lugar. O senhor me entende?

O conde Goretzka entendia.

Aquele dia passou e, com o entardecer, avistaram também o domínio do novo conde. Os campos eram cobertos de parreiras, com gordas uvas roxas e verdes. O conde sabia, aquela era uma terra de produção de vinho. Dentro dos muros do feudo, viam os aldeões voltarem às suas casas, após o dia duro de trabalho, enquanto se aproximavam do castelo.

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À porta da construção de pedra, dezenas de criados aguardavam a chegada dos Goretzka. Ao desencilhar dos cavalos, pai e filho foram recebidos por uma figura em trajes refinados, que executou uma mesura perfeita.

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— Milordes. Sejam muito bem-vindos ao recém-batizado condado de Terranova. Que, assim como os bons ventos animam esta terra nos trazendo um justo novo senhor, vossas estadias aqui sejam as mais agradáveis. Me chamo Alphonsus e sou o castelão. Estou à sua inteira disposição, milordes. Seus aposentos já estão preparados, caso desejem repousar após a viagem.

O homem era hábil em lidar com os trejeitos da nobreza, e acompanhou o conde e seu filho pelo castelo.

— Se me permitir, lhes serão servidos nosso melhor vinho e pãos de weiz, um grão exótico, produzido neste condado. Um banquete será oferecido em honras suas e de meu novo senhor, que deve também chegar de viagem a qualquer momento.

Logo, o conde e seu filho estavam à frente de seus luxuosos quartos que, apesar de independentes, eram ligados entre si por uma porta interna.

— Desejam mais algo, milordes? Se estiver em meu humilde alcance, lhes será concedido.
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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por João Paulo » 07 Jun 2018, 10:28

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— Desejam mais algo, milordes? Se estiver em meu humilde alcance, lhes será concedido.
— Sim, Alphonsus. Estou um pouco entediado da viagem que, graças aos deuses, aconteceu em paz, mas preciso me esticar um pouco com o meu filho. Teriam aqui algum pátio de treinamento que possamos usar?

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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por Tiagoriebir » 08 Jun 2018, 19:11

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— Perfeitamente, milorde — o homem bate palmas e rapidamente um pequeno exército de servos surge para carregar seus pertences para dentro dos aposentos. — Nosso pátio está à sua inteira disposição. Tenha a bondade de me seguir, sim?

Alphonsus aguardou que vocês fizessem menção de segui-lo e só então começou a guiá-los pelos salões do pequeno castelo. Vocês acabaram saindo em um dos pátios internos — uma área quadrada de terra batida. O local estava desocupado àquela hora, e um cavalete com armas brancas e arcos de vários tipos está à disposição. Há também alguns bonecos de treino de espadas e, ao fundo, alguns alvos para a prática de tiro.

— Peço agora sua licença, meus senhores, mas tenho de cuidar dos preparativos para o banquete da noite — Alphonsus retoma. — Se desejarem qualquer coisa, os criados estão à disposição — ele estende a mão para duas mulheres e um homem que vêm caminhando, trazendo o vinho e pão antes citados. — Providenciarei para que um banho quente os esteja aguardando depois de vosso treinamento. Estejam à vontade.

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— Obrigado, Alphonsus. Se precisarmos de algo, avisaremos.

Com uma mesura, Alphonsus se retira do pátio ao mesmo tempo em que os servos se aproximam de vocês. Eles trazem bandejas com vinho, pão de weiz, queijo e algumas frutas. Tudo exala o cheiro de alimentos recém preparados. Leon IV abocanha um pedaço do pão e bebe alguns goles do vinho, antes de se dirigir ao cavalete.

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— Quer um último embate antes que eu me vá, é isso? — A frase foi dita com um meio sorriso nos lábios. — Eles têm uma boa variedade de armas aqui. O que vossa alteza vai escolher, meu senhor? — As últimas palavras vieram em um tom jocoso, imitando o jeito polido de falar de Alphonsus.
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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por Tiagoriebir » 27 Jul 2018, 23:59

Pai e filho cruzaram espadas de treino. O mais velho notou que seu filho havia melhorado muito, desde a última vez que tiveram a oportunidade de praticar. O garoto não só estava mais habilidoso, como seu corpo tinha desenvolvido mais força e resistência. Além disso, ele lia os movimentos do adversário e se adaptava, formulando novas estratégias a todo momento. O garoto estava no seu ápice. Se havia um Goretzka que poderia ser um aventureiro, era o menino.

Parte do conde sentiu inveja do garoto, por mais que nunca admitisse isso. Ele mesmo tinha aspirações à vida aventuresca quando teve aquela idade, mas as obrigações de seu nome e título o impediram que fizesse isso. Ele não impediria que o garoto seguisse seu sonho. Mas esperava que ele compreendesse quando fosse chamado pelo fardo que seu nome carregava.

A certo ponto os dois pararam. O conde elogiou os movimentos do filho e orientou pontos em que ele ainda poderia melhorar. O filho agradeceu; idolatrava o pai. terminaram o treino e foram a seus aposentos onde, com efeito um banho quente esperava a cada um deles. Ainda tiveram tempo de descansar um pouco antes de terem de começar a se preparar para o banquete que marcava a chegada do novo senhor daquele condado.

Leon Goretzka III estranhou não ouvir nenhuma agitação a respeito da chegada do novo conde, no tempo em que aguardava, mas decidiu dar o benefício da dúvida. Mais tarde, nas primeiras horas da noite, os serviçais terminavam de afivelar sua armadura para a cerimônia, quando enfim ouviu um burburinho. Mas não houve cornetas ou anunciamentos, apenas passos apressados e sussurros. Seu filho surgiu pela entrada conjugada, com a armadura completa sobre o corpo.

— Meu senhor, Alphonsus acabou de me avisar. Houve um ataque. O novo conde deveria chegar antes de ter anoitecido. Um grupo de assaltantes atacou sua comitiva e os levaram para seu esconderijo, nos arredores. Um dos membros da comitiva conseguiu escapar e diz ter uma boa ideia de onde eles estão. Os homens de Terranova estão se organizando para sair nos próximos instantes. Gostaria de sua permissão para me ceder alguns homens de nossa casa, para que eu possa ajudar no resgate.

Por dentro, conde Goretzka sorriu. Uma coisa era certa: o garoto tinha herdado a postura de liderança do pai.
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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por João Paulo » 20 Ago 2018, 09:48

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O conde ficou em estado de alerta. Esse era um péssimo começo para o futuro conde de uma terra. Poderia manchar sua reputação para com os vizinhos e mostrar fraqueza para os inimigos. Algo precisava ser feito e tinha que ser logo.

— Deixaria que escolha os homens que devem ir para a busca, mas lembre-se que uma parte deve ficar aqui. Se atacaram o novo conde, podem estar de olho nessa fortificação. — e antes do filho sair, falou com um sorriso no rosto — E eu vou com vocês. Afinal, era eu quem deveria recepcioanr o novo conde, não é? E já que ele não veio até a gente, vamos até ele.

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Re: Prólogo I - O Novo Conde

Mensagem por Tiagoriebir » 01 Out 2018, 16:52

— Certo pai, farei isso — Respondeu Leon, ante a afirmativa do pai de partir para a busca. Ele hesitou um instante quando o conde declarou que iria com a comitiva, mas devolveu o sorriso. No fundo, deheonianos que eram, ambos estavam empolgados em dividir uma aventura.

Alguns instantes depois, a comitiva já estava organizada. Mulheres e homens de Terranova e Goretz, cerca de duas dezenas, estavam a postos para partir, com os Goretzka à frente. O sobrevivente ao ataque do futuro conde Vitorio foi levado até eles. Ao Goretzka filho, uma criatura como aquela era algo completamente novo: era baixo e atarracado, do tamanho de um anão, e o corpo era coberto de penas. As roupas que usava eram exóticas, ainda que estivessem sujas e esfarrapadas, certamente por conta da fuga. Mas o que mais chava a atenção era sua cabeça, tal qual a de uma coruja. Era um moreau, e estava visivelmente nervoso e preocupado.

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— Meus senhores — ele se aproximou. — Me chamo Hantu. Sou um leal servo do conde Vitorio, o venho acompanhando desde seus dias como aventureiro. Fomos emboscados por muitos malfeitores pouco antes de chegarmos aqui. Por favor, clamo para que vamos logo à sua salvação. Ele e toda sua família correm risco de vida. Suas crianças são pequenas... E ainda há os demais membros da comitiva... Por favor senhores! Minha memória nunca falha. Sei exatamente onde encontrá-los.

O pequeno homem-coruja foi erguido a um cavalo, e lhes foram dadas uma pequena lança e um escudo redondo, de acabamento nunca antes visto pelo conde. Certamente era provindo de um dos reinos de Moreania.
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