Minsk, o orgulho da antiga Kor Kovith. A terra dos que souberam se adaptar para resistir. O maior marco da cooperação secular entre os reinos de Yuden e Zakharov. Em suas ruelas o comércio prolifera e a diversidade é mais forte, como se uma parte da Arton cheia de mágica e cores se estendesse sobre o bélico exército com uma nação.
No pico da grande colina que se sobressai à cidade, está o Vigia do Poente, o portentoso castelo que serve de lar à casa de Minsk, governantes da cidade desde sua fundação. Uma maravilha inexpugnável da engenharia anã, construída em tempos primordiais e dada aos humanos como um presente de Doherimm, simbolizando uma antiga união entre os dois povos.
Em um dos incontáveis pátios de treino do castelo, dois garotos de cabelos vermelhos combatiam. Na verdade, com quase duas décadas de vida, pouco lhes faltava para serem homens. Ambos tinham o mesmo porte físico, com músculos bem desenvolvidos para suas idades; sinal de que haviam recebido educação de combate desde muito cedo. Sob o sol daquele fim de manhã, os olhos de ambos também tinham as mesmas cores. Quem não os conhecesse poderia facilmente declará-los irmãos — mas todos ali sabiam quem eles eram: Vladimir Minsk XI, o primogênito do marquês Klaus III, e futuro herdeiro da marca; e seu primo, Nikolai, filho da irmã da marquesa Olívia e aspirante a Soldado da Justiça.
Os dois estavam encharcados de suor. O treino regular já havia terminado há mais de uma hora, mas os instrutores há muito tinham desistido de tentar fazê-los parar com o costume de prolongar o exercício. Havia uma disputa de determinação entre os dois; uma rivalidade saudável que os fazia querer superar as próprias limitações e tornarem-se combatentes melhores. Nikolai era um talentoso espadachim, ao passo que Vladimir era especialmente hábil com o escudo. Os embates entre os dois eram sempre equilibrados, verdadeiros testes de resistência, sempre vencidos por detalhe.
E não foi diferente daquela vez. Vladimir fez uma defesa estupenda com o escudo de madeira, cortando o ataque da espada de treino de Nikolai no meio do percurso. O que o herdeiro da marca não havia notado é que essa era a intenção de seu adversário — com a atenção de Vladimir focada no ataque lateral, seus pés ficaram desprotegidos.
Com um chute atrás do joelho, Nikolai conseguiu derrubar o adversário sem muito esforço. Mas isso não significava que ele estava derrotado: era preciso recuperar a mão da espada, ainda presa no movimento anterior, para finalizar; e essa foi a oportunidade que Vladimir aproveitou: abrindo mão de defender do ataque vindouro, ele atacou com o escudo, de frente. Um ataque duro, mas que fez o efeito desejado, desequilibrando Nikolai. Em um instante, era Vladimir que estava sobre ele, imobilizando o tronco com o escudo e o braço de ataque com seu pé. Não havia mais chances a Nikolai.
— Seu bastardo! — Xingou o primo, com um sorriso cansado. — Está certo, hoje você venceu.
Vladimir estendia o braço para ajudar Nikolai a se erguer, quando ambos notaram uma figura ao fundo do pátio, se aproximando. A garota tinha o mesmo cabelo dos dois combatentes. Era Catarina, irmã de Vladimir. Ela ostentava o símbolo sagrado do deus da justiça, a espada e a balança, em um medalhão simples de madeira entalhada; um sinal de que era uma sacerdotisa recém-sagrada. Em suas mãos, um pedaço de papel de cor negra, dobrado. Vladimir sabia o que aquilo significava.
— Devo avisar que, como uma sacerdotisa do Senhor dos Justos, eu agora tenho mais atribuições do que servir como pombo-correio de casais apaixonados, senhor Vladimir — a garota declarou, sorrindo enquanto entregava o papel ao irmão.
— Me desculpe por isso, irmã… já pedi à Agbara que não fizesse isso…
— Eu estou brincando, Vlad! Pela sagrada balança! É só pensar na Agbara que você já se perde todo! — Catarina e Nikolai se olharam, rindo do atrapalhado guerreiro.
— Não é isso! — respondeu Vladimir, tentando se justificar, sem perceber que só aumentava o gracejo dos outros. — É que tudo com Agbara é… complicado…
— Ai, ai... Sinto que ainda vou casar vocês dois — a jovem sacerdotisa interrompeu, fazendo Vladimir ruborizar automaticamente. — Bom, por mais que eu brinque, a parte de ter minhas atribuições é verdade. Com licença, garotos. — E, com um cumprimento de cabeça, Catarina saiu do pátio, rumo a uma das inúmeras capelas do castelo.
— E não precisa se preocupar comigo — era Nikolai, que estava recolhendo os equipamentos do treino. — Pode ir; hoje é meu dia de recolher os equipamentos. Só, por favor vá tomar um banho antes de se encontrar com a garota! Você está fedendo mais que um trobo!
— Idiota! — Vladimir respondeu ao comentário, acompanhado de com uma pancada amigável na cabeça do primo, mas realmente se afastou do pátio, em direção aos seus aposentos.
Enquanto caminhava, pensava em como as coisas realmente eram complicadas com Agbara. Nunca pode imaginar que se apaixonaria pela pálida filha de um grande comerciante de armas zakharoviano que visitava o Vigia do Poente, quando a viu pela primeira vez, com cabelos muito negros e expressão de desprezo. No começo conversaram por pura formalidade, mas havia qualquer coisa nas palavras e no jeito daquela garota que lhe atraíram.
Alguns dias depois se viu inventando desculpas para visitar a Casa de Armas Cordovero, uma das maiores armoarias de toda Minsk. Na terceira visita sem motivo aparente, a garota o levou para um canto e disse exatamente o que ele estava sentindo por ela. Envergonhado, ele começou a se explicar, mas ela não permitiu, com um beijo. O sentimento era recíproco.
Entretanto, como Vladimir descobriu rapidamente, a garota não se comportava como as demais moças da corte. Ela tinha motivações próprias, gênio forte e não se dobrava para qualquer ameaça ou situação difícil que se apresentasse. Extremamente obstinada e teimosa, era quase impossível convencê-la a fazer algo que não quisesse. Esse era o motivo de várias de suas discussões, mas também, de um jeito ou de outro, essas características acabaram fazendo com que ele se sentisse ainda mais atraído por ela.
Até mesmo o fato de ser uma praticante de magia negra, escola geralmente tomada como maligna, parecia apenas torná-la mais interessante. Ela lhe ensinou que a magia é uma força inerentemente neutra, e que a energia chamada de "negativa" era apenas uma manifestação da existência. Agbara parecia conhecer um pouco de tudo, mas ao mesmo tempo, era difícil de se ler. Às vezes aquela garota era um enigma, como uma fortaleza em cerco.
Assim que fechou a pesada porta de madeira de seu quarto, abriu o delicado papel negro. A caligrafia impecável de Agbara fazia curvas que se desenrolavam em prateado sobre o papel.
Vladimir,
Preciso de sua ajuda em uma pequena aventura.
Alguns depósitos na cidade foram roubados,
incluindo o que está sob tutela de meu irmão.
Ele já acionou a milícia, mas não confio na
capacidade daqueles paspalhos.
Me encontre no depósito sete, em frente
à Praça das Promessas, no início da tarde.
Traga seu equipamento, não sabemos o que
podemos encontrar, e quero ir até o fim nisso.
Com afeto,
— A.
OFF
E tem início o seu prólogo, Padre Judas. Como os demais, este aqui não tem tempo definido de resposta, diferente da história principal. Contudo, será interessante se você conseguir manter um ritmo de atualização.
Se tiver qualquer dúvida, só falar pelo Telegram.
O que Vladimir faz?