— Ora, ora, veja só quem tem contatos na Cidade Baixa — brincou Agbara, com um meio sorriso. Então guardou uma amostra do material recolhido e se aproximou de Vlad. — Se este comerciante vende a planta, ele deve ser o único na região. Vamos lá — e pontuou a frase com um beijo.
A dupla rapidamente explicou a Ednard o que aconteceu, sem dar maiores detalhes. Agbara prometeu ao funcionário que contaria a seu irmão sobre a investigação assim que possível. Vladimir pensou no quanto daquela promessa era verdade, mas não disse nada.
Algum tempo mais tarde, o casal ultrapassava a cavalo o portão na grande muralha que separava a Cidade Baixa dos demais distritos de Minsk. Apesar da limpeza e organização das ruas, todos sabiam que aquele era o reduto dos não-humanos. Um lugar para alocar todos os indesejáveis, segundo a filosofia yudeniana. Agbara e Vladimir já haviam vindo a este lugar algumas vezes, sempre em incursões noturnas, com alguns amigos, para participarem de saraus escondidos, em que se apresentavam bardos considerados subversivos pela nação militarista. Por mais que ambos já tivessem ido ao gueto à luz do dia, aquela era a primeira vez que faziam isso juntos.
Aquele era o bairro onde os não-humanos eram reunidos, mas a maioria ainda era humana. Isso era especialmente válido na Pequena Feira, uma rua movimentada, tomada por tendas dos dois lados, cada qual com um comerciante anunciando seus produtos. O cheiro de especiarias exóticas tomava o ar, de um modo diferente de qualquer outra feira de Minsk. Pessoas iam e vinham, fazendo compras, avaliando e falando alto.
À medida em que a dupla se aproximava do local conhecido por Vladimir, os ruídos e cheiros davam lugar ao silêncio e a calma. Logo eles estavam passando por ruas praticamente residenciais, com um ou outro comércio esporádico. Já quase não havia mais pessoas nas ruas, apenas transeuntes apressados, que andavam de cabeça baixa, cuidando de suas próprias vidas.
Entre duas casas particularmente simples, havia um pequeno beco em que mal passavam os cavalos. Os dois desmontaram e guiaram as montarias a pé, até o meio da quadra, onde pararam à frente de uma porta de madeira azul desbotada. Não havia qualquer placa ou sinal distintivo.
— É aqui — disse Vlad.
— Acho que esse é o encontro mais estranho em que você já me levou Vladimir — respondeu a garota, com seu meu sorriso irônico de sempre aos lábios. — Vai ter que me recompensar depois — Disse enquanto amarrava os cavalos à frente.
A porta estava aberta, e os dois entraram. O lugar era uma peça minúscula, ocupada quase totalmente por duas prateleiras que iam até o teto, cheias de frascos de vidro coloridos, mas tão embaçados que não se podia ver o que havia dentro deles. Agbara e Vladimir mal cabiam lá. O cheiro era ocre, como só misturas alquímicas diversas são capazes de produzir. A frente deles, havia um balcão de madeira, também atulhado de frascos. E atrás do balcão, um homem com roupas que pareciam ter vindo de todos os cantos de Arton. Assim como todo o resto daquele lugar, o homem parecia muito velho, mas com sinais de que havia muito mais além da aparência superficial.
— Senhor Efraim — começou Vladimir.
— Jovem Vladimir, se me lembro bem — o homem perscrutava ambos com olhos calmos, mas analíticos. — Em que eu poderia ser útil a você e sua jovem companheira?