Dream era uma parede de gelo. Um maremoto furioso. Era raiva, calmaria e pensamento. Era o contrário do que sempre fora e ao mesmo tempo nunca tão a si mesmo. Aquele era o estado de espírito que ele deveria tomar, antes de fazer o que faria em seguida. Antes de assumir a união paradoxal com sua irmã, que ao mesmo tempo era a si mesmo.
Um dos muitos Smiles que choviam destruição sobre o campo de combate prontamente se destacou da formação, investindo como uma ave de rapina em direção a Masthblasth, ao mesmo tempo em que conjurava uma magia que lhe estufou os músculos. Agarrou a criatura horrenda, que rugiu e praguejou, mas não conseguia oferecer resistência. Em instantes a vontade do príncipe das fadas se fez e Smile carregava o vilão aos céus, muito acima da corte das fadas.
Estes outros, faziam chover magia destruidora sobre a horda. Assim como no primeiro ataque, as explosões se somavam. Não eram apenas ataques independentes de cada conjurador, mas se ampliavam, como uma chama que se alimenta de outra. O barulho era ensurdecedor. Os tremores se espalharam, abalando até mesmo algumas das colinas mais próximas. Os soldados que ainda estavam no Forte Campodouro sentiram o abalo nas estruturas, sem entender de que se tratava. Mesmo a água da chuva ferveu com o calor e com a potência do impacto. Aquilo não era magia da forma como os bardos clamavam em seus suas epopéias, cheias de floreios e brilho. Não era para ser bonita.
Aquilo era poder bruto. Destruição em sua forma mais pura e simples.
Quando os estrondos passaram, o chão nas crateras estava seco. As explosões foram tão fortes que escavaram o terreno até um nível de terra que ainda não estava úmido pela chuva.
Não havia mais sinal da horda. As milhares de criaturas doentes que a formavam haviam sido pulverizadas. Tudo era terra seca e destruição. Ainda passaram alguns instantes antes que a chuva voltasse a cair, como se os próprios deuses estivessem segurando a respiração ante o poder que a corte das fadas apresentou, sob o comando de seu príncipe.
* * *
Por algum tempo, tudo o que seu ouviu foi a chuva. Conforme voltava a cair, ela aos poucos preenchia mais uma vez o ambiente. Até mesmo Masthblasth ficou em silêncio, assimilando a perda de sua horda. Os membros da corte das fadas voltaram os olhos para seu líder, aguardando instruções. Dream abriu a boca para dizer o que faria a seguir, mas não conseguiu. Porque aquilo aconteceu. Dos meio das nuvens grossas do céu de chumbo, muito mais alto do que Dream ou Smile estavam, um vulto surgiu.
Não foi preciso ouvir nada. A mera visão daquilo já era o suficiente. Mas ainda assim o vulto distante emitiu um estrondo.
Era impossível resistir.
Era um trovão e ao mesmo tempo era um frio cadavérico. A vibração daquele urro reverberou em cada um de seus ossos e fez Dream pensar quanto ele era pequeno, insignificante. O quanto era apenas uma forma de vida inferior. O quanto nada do que ele fez em toda sua vida teve qualquer valor. O quanto suas causas e suas paixões eram mesquinhas e minúsculas ante a magnitude daquele estrondo.
Dream sentia medo. Como jamais houvera sentido.
O vulto nos céus foi ficando menor, para alívio da fada. Foi quando ele percebeu que não era aquela presença que se afastava, era ele quem inconscientemente pousava ao chão, em uma das crateras que seus soldados criaram.
Conseguiu olhar de esguelha para sua corte. Uns estavam ajoelhados. Outros choravam sem emitir som, desesperados. Procurou pelo Smile que carregava o monstro disforme. Também ao chão.
Mas o monstro não. O monstro estava de pé.
MasthBlasth estava erguido, olhando fixamente em direção ao vulto. Dois de seus braços monstruosos e cheios de tumores se estendiam para os céus, enquanto o terceiro, um pedaço de carne esponjosa e apodrecida, pendia nas costas, sem ação. O goblin que estava encaixado no monstro de forma profana também olhava para o céu com os bracinhos estendidos. As cabeças humana e goblinoide de MasthBlasth, choravam e sorriam, abobadas.
Dream notou que o medo opressor que lhe abraçava afrouxou. Lembrou um pouco de quem era, de sua importância e do que estava fazendo ali. Ele era Dream, o príncipe do reino das fadas, herdeiro direto da Pondsmania. Seu dever era proteger Campodouro. Evitar que o mal a corrompesse. Ele era o último bastião do bem. Prometera aquilo aos seus amigos. Prometera aos cidadão de Campodouro. Prometera a Isolda e Eleanor. Seu dever era matar aquela criatura horrenda que estava à sua frente, de braços erguidos. E aquele era o momento perfeito para o golpe final.
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