— Infelizmente os rumores são verdadeiros, Anahk Zelai, como meu colega bem adiantou. Os enfrentamos em Campadouro e encontramos sinais da passagem deles por outras vilas antes de chegarmos aqui. Recomendo que reforcem a segurança da cidade.
— Farei isso — a mulher respondeu, assumindo em um tom um pouco mais sério, que Goretzka reconheceu. Era o olhar de um líder que teme pelo seu povo. Chamou um dos guardas que estava fora da casa e lhes disse algumas palavras em um dialeto parcialmente incompreenssível, que misturava alguma linguagem bárbara com valkar. Do pouco que o conde entendeu, conseguiu discernir que ela falava algo sobre reforçar a guarda. O homem fez sinal de entendimento e saiu em seguida.
— Não necessariamente — desconversou o Conde — Mas acreditamos que algo na floresta pode nos ajudar. Vocês já ouviram falar nas Fadas do Fogo?
— Fadas de fogo? Talvez esteja se referindo aos pequeninos dos pântanos. Todos por aqui já ouviram falar deles. Apareciam, ocasionalmente. São criaturinhas pequenas e brilhantes, que voam. Os antigos costumavam fazer lanternas do pântano com eles. Consistia em prender um deles em uma pequena gaiola, para usar como meio de iluminação. Infelizmente, ninguém sabia o que elas precisavam para sobreviver, então elas acabavam morrendo dentro das lanternas, depois de um tempo. Mas hoje em dia ninguém mais faz isso, porque elas estão cada vez mais raras. Vocês acham que eles podem estar relacionados à cura da doença?
O conde revelou parcialmente algumas das informações que tinha sobre uma possível ligação das fadas com uma provável cura para a doença e até mesmo tentou descobrir mais informações sobre onde encontrar as fadas, mas Zelai não sabia mais como ajudar. As fadas sempre vinham até perto do vilarejo; eles nunca foram atrás delas, porque aquele era o modo de Tuhinga.
Não se passou muito tempo até que o grupo se desse por satisfeito pela refeição recebida. Vladimir e Caelynn foram trocar mais um pouco da caça que o grupo trazia por alguns suprimentos que acharam que poderiam ser necessários para o restante da viagem, enquanto os homens terminavam de acomodar os cavalos e a carroça em um lugar que estava longe de ser um estábulo, mas que era apropriado para que os animais recebessem tratamento.
Enquanto os demais negociavam, Anahera se mantinha quieta, tentando chamar o mínimo de atenção, mas não foi capaz de despistar a serpente de Zelai, que se chegou muito próxima da curandeira. Anahera não sabia o que fazer para enxotá-la sem fazer barulho e, quando a serpente já quase tocava os pés da sacerdotisa, a própria Zelai surgiu, pegando o animal nos braços, acomodando-a novamente sobre os ombros.
— Me perdoe por isso querida. Eu — ela disse enquanto se erguia, mas parou quando vislumbrou o rosto da clériga de Kurur Lianth.
— Que vocês encontrem a cura. Que Luna esteja com você. — Sussurrou a mulher para Anahera, antes de voltar a sorrir e não mais olhar para ela.
Logo o grupo estava pronto para prosseguir. Despediram-se de Zelai e de alguns haitantes de Tuhinga que lhes ajudaram e, com água pantanosa nas canelas, seguiram por algumas centenas de metros até retomarem o ponto onde haviam deixado o corvo negro enfeitiçado pela velha Sovnya, acomodado no galho alto de uma árvore tortuosa. O animal grasnou e estendeu as asas, e comeu mais um dos insetos gordos oferecidos por Anahera, antes de prosseguir seu caminho, que guiava o grupo rumo ao coração pantanoso da Floresta dos Basiliscos.
FIM DA PARTE 9
Em breve, nossa aventura continua!