CAPÍTULO I – TODOS À BORDO
Um som dissonante de um microfone interrompe a conversa de todos.
O nobre entrega o microfone a um tripulante e o agradece antes de se juntar aos convidados.Tauno Flavius Calatrava
Ru-rum. Testando. Testando. Isso tá ligado?
Saudações, meus ilustres passageiros. Uma coisa que meu pai sempre dizia, era que nunca se devia pedir desculpas pelas suas ações. “é um sinal de fraqueza”, ele falava. Nunca concordei com ele nessa questão. Não se desculpar, para mim, era um sinal de ego inflado, nada mais e nada menos. A força está no que o indivíduo faz, não no que deixa de fazer.
Dito isso, peço sinceras desculpas pelo atraso. Um pequeno erro de contagem de suprimentos, alguns tripulantes a menos devido ao feriado, passageiros de última hora, enfim, o que tinha que dar errado deu errado.
Peço então que aproveitem os sucos e refrigerantes que estamos oferecendo a todos os interessados, conheçam novas pessoas, passeiem um pouco pelo cruzeiro. Qualquer dúvida ou necessidade, dirijam-se à tripulação. Problemas maiores ou mais graves do que “preciso ir ao banheiro”, podem se dirigir ao meu amigo de longa data, Capitão Patrick James, da Brigada Ligeira Estelar, à minha adorada esposa e chefe da segurança, Leona Silveira Calatrava, ou a mim pessoalmente, seu anfitrião, Tauno Flavius Calatrava. Obrigado pela atenção.
Embora tivesse o nome de “cruzeiro popular”, não havia se economizado na estética do cruzador Inara-Montalban. Enfeitado com tapeçarias e paredes vermelhas, candelabros, corrimãos e escadas douradas, e muitas, muitas luzes, o salão principal era acolhedor e seguro. Para os que entravam pelo corredor de acesso, eram surpreendidos ao olhar para a esquerda, e se deparar com uma gigantesca janela para o espaço, gradeada por grandes e espaçosas vigas douradas, dando a ilusão de ser um pássaro cósmico preso em uma gaiola chique. Para os que quisessem ver o espaço mais do alto, ou talvez descansar na viagem, três andares de passarelas encontravam-se na direita, cada um deles contendo centenas de elegantes portas levando a quartos particulares.
O imenso salão principal estava abarrotado com centenas de pessoas de todas as classes sociais. Apesar do salão aberto e sem divisas, os grupos geralmente tinham seus “cantos” preferidos, clubes exclusivos cujas paredes eram os próprios corpos de seus integrantes. Poucos ousavam sair de seus locais de conforto para visitar o território de outras classes, e menos ainda eram bem-vindos. Ainda assim, apesar destes continentes hostis, haviam ilhas de paz, onde indivíduos diferentes encontravam coisas em comum para conversar, uma troca de ideias aqui, uma conversa ali, e até mesmo novas amizades duradouras.
Para garantir a tranquilidade de todos, os seguranças estavam bem equipados e bem atentos a todos os possíveis suspeitos e causadores de distúrbios. Estava presente também alguns integrantes da Brigada Ligeira Estelar, embora os jovens soldados estavam menos preocupados em estarem atentos e mais engajados em conversar e tirar fotos com admiradores.
Em um ambiente tão seguro e diverso, o que poderia dar errado?