Akira lentamente deixava suas mãos penderem, seu corpo perdia o retesar do combate. Seus ombros baixaram e ele saiu de sua base de luta, figurando numa posição mais confortável. O animal jazia caído, derrotado pela flecha ancestral do jovem samurai Takaharu. O jovem monge não parecia se importar muito por ter errado sua técnica, pois era a primeira vez que a disparava. Dedicou uma olhadela para suas mãos, ainda sentindo o formigar leve do chi fluindo lentamente até sumir.
Os olhares de todos os caçadores para a Rainha Eterna incomodava um pouco a Akira. Era uma criança, era um espírito, e ele estava acostumado, mas não gostava que interagissem muito com ela. Não por ciúme ou qualquer coisa parecida, mas pelo bem das pessoas. A criança dourada tinha um gênio complicado às vezes e podia ser muito persuasiva. Era uma dragoa dourada aprisionada em um corpo infantil.
Porém, o que mais incomodava mesmo era o olhar de reprovação, de mau humor da Rainha criança. Akira coçou os cabelos com um sorriso bobo e sem graça. Ela tinha os braços cruzados e uma expressão de irritação, mas mesmo assim, não demonstrava tanta afetação, quase num ar indiferente.
Rainha Eterna
< Isso é inaceitável.>
Akira mostrou a língua pra ela.
Akira
Eu não me impor-to.
Respondeu em ningo. A criança de não mais 12 anos suspirou e essa foi sua demonstração máxima sobre o assunto.
Rainha Eterna
<Seu treino com o humano idoso não surtiu tanto efeito assim. Foram tantos anos de treino... >
Ela pegou na ferida.
Akira
Você está vendo essas pessoas, Rainha? Eles estão assustados. Você apareceu do nada, fala em varukaru e começa a tentar me incomodar. Não ganha nada com isso. Foi a primeira vez que usei o golpe, o treino foi perfeito, mas o javali tava num dia melhor. Só isso. Supere. E fale em ningo com as pessoas.
Ele se virou para finalmente, para os outros caçadores.
Akira
Não se incomodem, minha gente. Esta é a Rainha Eterna, um espírito da luz que me segue eventualmente. Sou abençoado por tê-la comigo... e pelos seus modos, peço desculpas e que relevem um pouco, pois ela é como eu: uma gaijin.
Na verdade, Akira era meio-gaijin, mas não importava. Ele disse aquilo tudo para os caçadores e para Akabane, que estava ali perto. O samurai Takaharu e o mashin Tezu eram nobres, então Akira se virou para eles por último.
Akira
Meus senhores, esta é a Rainha Eterna, um espírito gaijin de uma dragoa dourada. Em minhas veias correm seu sangue ancestral... mas é uma longa e desimportante história. Peço desculpas por não avisar antes, mas ela me acompanhará daqui pra frente sem fazer aparições repentinas que possam causar distúrbios. Não é? Venha cá.
Disse puxando a menina pela mão e colocando-a em sua frente. Ela tinha um vestido branco com detalhes em azul. Parecia uma menina de verdade, apesar de ser um espírito. A única coisa sobrenatural aparente nela era a incapacidade de se sujar. Descalça, andava incólume sobre a lama.
Somente os mais atentos poderiam notar o olhar de desagrado da Rainha Eterna. Pois em sua face, jazia a indiferença que beirava a arrogância. Ela demorou para direcionar seus olhos para Tezu e Takaharu, só o fazendo um pouco depois, como se os notasse somente agora.
Rainha Eterna
<Oh... vocês estão aí.>
Ela levou, então, um puxão na orelha.
Akira
Em ningo.
Ela ergueu uma sobrancelha em resposta, comedida.
Rainha Eterna
Eu sou a Rainha Eterna. É um prazer em conhecê-los, senhores humanos.
Ela fez uma reverência totalmente estrangeira, puxando as bordas de seu vestido, inclinando o corpo um pouco a frente. Akira sorriu satisfeito, esperando que ninguém mais desse importância àquele fato.