Aventura - A Sombra da Tempestade
Introdução
Nossa história começa em Sen no Kawa, a Floresta dos Mil Rios, próximo a um pequeno vilarejo chamado Hagure, na fronteira da província de Kumo no Tani, o Vale das Nuvens.
Como todas as províncias do novo Império de Jade, Kumo no Tani é uma terra de riquezas e perigos inexplorados. Seus vales férteis, irrigados pelos incontáveis rios de águas cristalinas que descem das montanhas, são cercados por matas densas e escuras, repletas de lendas e mistérios.
E assim como em outros lugares, as terras indomadas de Kumo no Tani não são habitadas apenas por monstros e outras criaturas sobrenaturais. Animais selvagens de todos os tipos podem ser encontrados perambulando por toda a região, desde cervos e caprinos, correndo livremente pelos campos verdejantes entre os rios, até leões-da-montanha, panteras e ursos negros, que caçam sorrateiramente nas profundezas das matas.
E foi justamente um problema com animais selvagens que levou vocês ao vilarejo de Hagure.
Desde a fundação do feudo, a pouco mais de quatro anos, animais selvagens sempre foram um problema, mas nunca como agora. No último mês, incontáveis relatos sobre ataques de ursos, tigres e javalis selvagens obrigaram lorde Goemon Kumoeda a convocar uma grande caçada contra as feras.
No início, as caçadas eram executadas apenas pelos samurai do feudo, uma tarefa que para eles não era apenas um dever, mas também um prazer, pois significava a oportunidade de participar de uma tradição antiga e nobre. A quantidade de feras, no entanto, logo se mostrou grande demais apenas para os vassalos do feudo lidarem, o que levou lorde Goemon a convocar todo guerreiro ou caçador errante disposto a ajudar na tarefa.
Impossibilitado de participar pessoalmente das caçadas por causa de seus deveres e idade avançada, lorde Goemon enviou seu filho, Takaharu, para lidar com um dos problemas, uma malhada de javalis selvagens que havia surgido próximo ao vilarejo de Hagure. Para lorde Goemon, a tarefa era a oportunidade perfeita para seu filho aprimorar suas habilidades de combate, além de começar a interagir com as pessoas do feudo.
Um grupo de samurai e outros vassalos foi destacado para acompanhar Takaharu em sua missão, dentre eles o enigmático mashin chamado Tēzū. Tezan, o pai de Tēzū, era um velho companheiro de aventuras de lorde Goemon, que não hesitou um segundo em trazer o filho do amigo para Kumo no Tani, para assumir a posição de feiticeiro da corte.
A princípio, a decisão de lorde Goemon foi comemorada por todos em Kumo no Tani, pois a presença de um mashin ajudaria a engrandecer o prestígio do feudo, mas logo que o wu jen chegou, muitos começaram a questionar seu valor. Ninguém parecia compreender por que lorde Goemon havia trazido alguém com tão pouca experiência e virtude questionável, para servi-lo, mas poucos ousavam falar abertamente sabendo o quanto seu senhor estimava o mashin.
A dúvida de seus vassalos quanto ao valor de Tēzū entristecia lorde Goemon, pois ele achava que havia livrado o mashin da discriminação que este sofria na capital, mas mesmo isso não abalou sua convicção quanto ao potencial do wu jen. Lorde Goemon acreditava que Tēzū havia apenas se desviado do caminho da honra, mas que no seu tempo voltaria a seguir a trilha da virtude.
O momento parecia ter chegado quando Tēzū se voluntariou para acompanhar o jovem Takaharu até Hagure, uma decisão que logo se mostrou auspicioso dada a natureza do que o grupo encontrou no vilarejo. Todos os javalis selvagens que foram vistos em Hagure eram perigos e astutos, mas nenhum se comparava ao líder da malhada, uma fera gigantesca que parecia a encarnação do próprio caos. Muitos homens e mulheres habilidosos foram feridos tentando capturar o monstro, cuja natureza era claramente sobrenatural.
Além de samurai e caçadores do feudo, o grupo de Takaharu contava com alguns guerreiros errantes que haviam respondido ao chamado de lorde Goemon, dentre eles o lutador Akira e o enigmático Akabane.
Akira havia chegado em Kumo no Tani há pouco mais de duas semanas, mas já era conhecido por todas as pessoas da província, graças a um curioso mal-entendido.
Logo que chegou na província, Akira acabou topando com o chefe de um grupo de mercenários que passava pelo lugar, e a forma como o lutador derrotou o homem foi tão fascinante que imediatamente começou um boato de que um jovem mestre de artes marciais havia se estabelecido na cidade, e que ele estava desafiando todos os lutadores de Tamu’ra para testar suas habilidades.
O boato logo se espalhou pelas aldeias vizinhas, e em pouco tempo o nome de Akira era citado nos dojos da capital e de todas as províncias próximas, e quase imediatamente uma peregrinação de lutadores entusiasmados começou a se dirigir para Kumo no Tani, pois todos queriam desafiar o grande mestre.
Porém, nem todas as pessoas acreditavam no boato sobre o novo mestre da província. Gorou Aizawa, um velho lutador que havia se estabelecido no feudo há poucos anos, havia visto a luta de Akira na praça e percebido o que aconteceu, e antes que o jovem começasse algo de que pudesse se arrepender, ele o aconselhou a se afastar para aprimorar suas habilidades. Apesar de contrariado, Akira aceitou o conselho de Gorou respondendo ao chamado que o arauto de lorde Goemon fazia naquele exato momento procurando guerreiros para enfrentar as feras da floresta.
A entrada de Akabane no grupo de caça se deu de uma forma bem mais simples. O bushi havia chegado a Kumo no Tani justamente para enfrentar as feras que estavam ameaçando as vilas, principalmente aquelas que pareciam capazes de desafiar suas habilidades, e os boatos sobre o javali de Hagure instigaram sua vontade.
Parte 1: O trovão antes da tempestade
- Os rastros levam diretamente para aquela ravina, Kumoeda-sama.
As palavras do batedor agitam o grupo de caçadores espalhados pela floresta, acirrando o medo e a excitação que permeava o coração de todos. Parado no meio do grupo, Takaharu Kumoeda sente o coração pulsar com a mesma expectativa que seus vassalos, cujos olhares se voltam para ele, aguardando suas palavras.
Depois de uma longa caminhada pela floresta, atrás de rastros da fera, que tanto mal estava causando na região, o grupo finalmente se deparava com uma pista justamente quando o jovem nobre começava a considerar a sugestão de retornarem para Hagure, para retomarem a caçada apenas no dia seguinte. Agora, no entanto, bastava Takaharu olhar para os rostos ao seu redor para ver que as palavras do batedor haviam reacendido a chama do desafio em seus corações.
- Não podemos perder essa chance – diz Matsui Katara, um dos samurai do grupo de caça, cuja ansiedade transparece no rosto jovem. - Precisamos aproveitar a luz do dia para atacar a fera imediatamente, tono. Se esperarmos mais um dia, podemos perder o rastro...
De fato, ainda faltam muitas horas para o fim do dia, mas o céu azul, que pode ser visto por entre as árvores da floresta, já começa a ficar cinzento por causa das nuvens escuras vindas do Oeste, um anúncio de que o tempo pode mudar no início da noite. Segundo os batedores, o terreno úmido facilitaria a caça ao monstro, cujos rastros ficariam mais fáceis de seguir, porém, a chuva seria uma desvantagem para os guerreiros que precisariam enfrentar a fera corpo a corpo, pois não podiam contar com suas montarias.
- Meu senhor, agora que sabemos onde a criatura está escondida, ela não poderá escapar – diz Togura Nobumaru, outro samurai do grupo, um dos que haviam aconselhado cautela momentos antes.
Enquanto pondera suas opções, Takaharu pode ver que as palavras de Togura agitam os outros samurai de uma forma que as notícias do batedor não conseguiram, mas ninguém se pronuncia. Togura é um samurai experiente e habilidoso, mas muitos dizem que é cautelo demais. Afinal, por mais formidável que a fera seja, não deve ser capaz de derrotar vinte caçadores.
A decisão, no fim, cabe apenas ao senhor da caçada.
Parado um pouco atrás de Takaharu, Tēzū parece ignorar a discussão, pois sua mente está focada na ravina escura, adiante, onde uma presença misteriosa parece se mesclar com as sombras. Desde que entrou em Sen no Kawa, o wu jen pondera sobre a real natureza da fera que lidera a malhada de javalis selvagens, cada vez mais convencido de que se trata de algum tipo de demônio.
Os cães de caça foram os primeiros a sentir que havia algo errado na floresta, evitando seguir os rastros da fera independente da forma de motivação dos tratadores, e os cavalos também se mostraram incomodados com o lugar, embora, no caso deles, eles haviam sido deixados para trás por questões táticas, ainda que o medo de que eles pudessem refugar em um momento crucial tivesse colaborado com a decisão.
No outro lado da clareira, Akira e Akabane aguardam com expectativa a decisão do jovem lorde, cada um imaginando ao seu modo o encontro com o javali atroz. Ao redor dos dois guerreiros, os demais caçadores contratados também parecem ansiosos para enfrentar o monstro.
Nota
Como parte do trabalho, todos os personagem recebem, se quiserem, um conjunto de equipamentos adequado para a caçada. São eles: um arco hankyu, 20 flechas, uma naginata e uma armadura de couro.