Exploradores do Desconhecido – Introdução
Yron - Norte de Namalkah - Verão de 1404
(Manhã de Astag 26 sob Wynn, 1404 CE)
A noite está terminando em Yron, o brilho da aurora já desponta no horizonte, tingindo os céus escuros de púrpura e carmesim, mas as ruas já estão apinhadas com os viajantes e cavaleiros que tomaram a cidade, vindos de todas as partes do reino e nações vizinhas para participar da Feira de Cavalaria que está acontecendo, um evento que começou apenas como um desafio contra a tradição de Suth Eleghar, mas que em pouco tempo se transformou em algo nunca visto.
As flâmulas e cartazes, espalhados pela cidade, anunciam a competição apenas como a Feira de Cavalaria de Yron, mas os participantes e expectadores logo passaram a se referir a ela apenas como O Torneio, dada a dimensão que as disputas alcançaram, e ninguém tem dúvidas de isso foi obra do conselho mercante que comanda a cidade desde a sua criação.
Desde que foi fundada, a mais de trezentos anos, Yron nunca figurou entre as cidades mais importantes do Reinado, ou mesmo de Namalkah, o que não a impediu de crescer de uma forma que vai muito além de sua imponência.
Nos seus primeiros anos, a cidade era apenas um forte de defesa com um pequeno porto para barcos pesqueiros, ponto de partida para os aventureiros que desbravavam o misterioso Rio dos Deuses, mas logo que as primeiras vilas foram fundadas e novas terras descobertas, a cidade foi ganhando uma importância cada vez maior, até se tornar ponto de passagem obrigatória de todas as mercadorias que vem do Norte e dos reinos de além-rio.
Ser o centro comercial do Norte transformou Yron em uma cidade cosmopolita, onde é possível encontrar todos os tipos de pessoas e produtos, desde mercenários yudeniano, armados com as melhores armas zakharovianas, passando por marinheiros de Callistia, caçadores de Tiranos e outros monstros do Grande Rio, anões da Montanha de Ferro, até viajantes de terras além do deserto, vestidos de seda, plumas e ouro.
O preço dessa diversidade foi o suposto afastamento da cidade das tradições de Namalkah, ainda que não exista lugar no mundo onde um cavalo seja melhor tratado do que Yron.
Felizmente, esse isolamento começou a diminuir quando o governo aceitou a nomeação do príncipe Lucius Sillaerom como membro do conselho regente, restaurando a ligação da cidade com a coroa. Desde então, o príncipe e os conselheiros têm se esforçado para transformar Yron no exemplo de cidade namalkiana.
Uma das iniciativas desse esforço foi a criação da Feira de Cavalaria de Yron, um evento que apesar de ter apenas cinco anos, já ameaça a tradição de encontros mais tradicionais, como a Grande Final das corridas de cavalo, que acontece todos os anos em Suth Eleghar, mas que esse ano, excepcionalmente, acontecerão em Yron.
Leafa de Serena
Você está em uma das sacadas da Torre de Casra, um dos vários fortes que fazem parte do imenso Castillo Angreo, a sede do governo de Yron, observando a cidade acordar depois uma noite quente de verão.
O brilho carmesim da aurora ilumina os céus, tingindo as nuvens de vermelho-sangue, mas no oeste, ainda é possível ver uma centena de estrelas contra o véu da noite, piscando desafiadoramente contra o dia que se aproxima. Bem abaixo de onde você está, a cidade desperta para mais um dia da Feira de Cavalaria que você ouviu tanto, mas que infelizmente não pode observar, pois o trabalho não para na Torre Negra, onde os maiores magos do mundo se reuniam para analisar os mistérios da Tormenta.
Se reuniam porque nesse momento uma grande parte da pesquisa estão sendo realocada para uma nova estrutura, um forte projetado especialmente para conter a misteriosa energia que alimenta a Tempestade Rubra, um trabalho que tem exigido muito de todos, magos e discípulos.
E você, mais do que a maioria, tem perdido noites de sono supervisionando a transferência de diversos artefatos que estão sendo enviados para os cofres de ferro da nova torre, a maioria artefatos menores, insignificantes se comparados com aqueles que sua mentora, Aldridge, trabalha.
Aldridge, a mulher que lhe deu um propósito quando você saiu de Wynlla, deixando tudo para trás.
Enquanto observa a cidade se revelar sob a luz da manhã, vendo o campo de torneios surgir lentamente, no lado sul da cidade, emoldurado pelo Rio Amarante, você relembra a época em que deixou sua casa para trás, quando aceitou o convite de Aldridge para fazer parte de seu grupo de pesquisa.
Assim como você, Aldridge abandonou tudo quando decidiu negar seus direitos de nascença para trilhar seu próprio caminho, chocando sua família ao escolher se unir a Ordem da Luz como conselheira arcana, ao invés de seguir a tradição.
Aldridge foi a primeira pessoa que a tratou com respeito, principalmente pelo fato do convite para segui-la, quando vocês se encontraram pela primeira vez, em Coridrian, ter soado mais como um desafio do que uma proposta. Desde então, você seguiu a maga, aprendendo tudo que podia com ela, enquanto desvendava seus segredos.
Não demorou muito para você descobrir que Aldridge fazia parte de um grupo que enfrentava ativamente a Tormenta, um perigo menosprezado pelos governos do mundo, mas não por seus defensores. O grupo, conhecido como Mão Vermelha, reúne os maiores arcanos e guerreiros do mundo, empenhados em entender e desafiar a Tempestade Rubra.
Aldridge nunca pediu que você fizesse parte do grupo, mas aos poucos os objetivos da maga se tornaram sua vida, e você se viu na fronteira de um mundo que poucos ousam trilhar, sabendo que voltar trás não é mais uma opção.
- Senhorita Leafa?
A voz de Geneva rompe o véu das lembranças, trazendo-a de volta ao seu estúdio na Torre Negra. O vento da manhã faz as cortinas pairarem como espectros sobre a sala iluminada por luzes mágicas, desalinhando os cabelos castanhos da garota, uma das aprendizes da torre, designada para ajudá-la em suas tarefas diárias.
- Senhorita, aqui está a lista de artefatos do cofre nove, como solicitou - ela diz, lhe entregando uma pasta de couro com os registros dos artefatos menores guardados na torre.
Com Aldridge envolvida na remoção dos artefatos maiores, ficou para você o trabalho de supervisionar o transporte de alguns dos itens menores. Não são muitos, pouco menos de uma centena, mas o trabalho certamente vai levar o dia todo.
Anton
Você está cavalgando com Traveller quando os primeiros raios de sol surgem no horizonte.
Uma imensa planície se estende à leste das Colinas do Amarante, um planalto imenso como um reflexo do firmamento, cortado apenas por pequenos riachos de águas rasas, bosques de árvores altas, e uma infinidade de pequenas fazendas e coudelarias, cada uma, uma singularidade em um mundo regido pelo poder das manadas que correm livremente pelo campo sem fim, um poder que até pouco tempo, você não imaginava sentir.
Enquanto corta os campos, seguindo na direção das colinas da cidade, sentido o vento frio da noite dar lugar a brisa fresca da manhã, você lembra de quando esteve no reino pela primeira vez, antes de partir na missão que mudaria sua vida.
Naquele tempo, a ligação que o povo de Namalkah tinha com os cavalos parecia estranha demais para você, uma idolatria que algumas vezes beirava o absurdo, atenuada apenas pelo fato desses magníficos animais serem realmente valiosos como bestas de carga, de transporte e armas de guerra.
Mas quiseram os deuses que você mesmo experimentasse o poder que tanto menosprezou, ligando seu destino ao de um animal fantástico que se tornou uma parte de você.
Traveller, o Andarilho do Deserto.
Enquanto segue pelo campo, vendo a luz do sol iluminar a cidade erguida entre as colinas, você sente a energia do animal percorrer o seu corpo, sente a força de seus músculos se misturar aos seus, sente a clareza de seus sentidos preencher sua razão, até que os dois corpos se tornam novamente um só, limpando qualquer traço de amargura.
Traveller ficou irritado com você por quase uma semana, depois que você o obrigou a entrar no navio que os trouxe de Bajar para Yron, se negando a deixá-lo montar e recusando sua aproximação, mas a distância logo se tornou insuportável para ele também, e depois uma longa noite sozinhos no ermo, finalmente vocês fizeram as pazes, e que todos abram espaço para a sua passagem.
“E eles abrem”, pois aonde o cavalo prateado vai, uma multidão o segue, fascinada pela sua beleza e força, embora nem tenham as melhores intenções, você tem absoluta certeza. Desde que você retornou do deserto, não passou um dia sem que alguém o abordasse se oferecendo para comprar o seu companheiro, mesmo aqueles que em outros tempos não hesitariam em ameaçá-lo por até mesmo questionar o tipo de elo que vocês compartilham.
O sol já toca as torres do Castillo Angreo quando você se aproxima da cidade, dividido entre seguir pela estrada do sul, que leva para o campo onde ocorrem as provas do Torneio, ou então para o oeste, na direção da cidade, onde fica a Torre da Mão Vermelha.
Uligramm
Andar de madrugada pelos becos de uma cidade que fede a esterco e perfume, não era bem o que você imaginava estar fazendo quando deixou Doherimm para trás, a cerca de meio ano, decidida a salvar um mundo que conhecia apenas de livros e contos, principalmente quando a razão para isso é ajudar um elfo fanfarrão a sair de enrascadas em que ele mesmo se mete.
"Onde, raios, ele se meteu, desta vez?”, você se pergunta mais uma vez, tentando entender por que não o abandona de uma vez por todas, para assim poder seguir seu destino sem preocupações, mas o fato é que lá está você, abrindo caminho por entre bêbados, salafrários e cavalos sem fim, seguindo na direção das docas, onde Erien tem passado suas noites.
“Pelo menos a brisa do rio diminui o fedor do esterco”, você imagina, quando começa a sentir o aroma dos depósitos de especiarias que margeiam as docas, o odor penetrante de peixe fresco, e o cheiro forte de metal quente das forjas dos ferreiros...
O cheiro de metal lhe traz lembranças de quando deixou Doherimm para trás, decidida a forjar seu próprio destino, memórias que agora parecem pertencer a outra vida. Na lembrança, envolta por uma névoa de sentimentos, você olha para trás uma última vez, sabendo que poucos conseguiram resistir a atração que a Montanha de Ferro representa, mas ainda assim, você conseguiu superar a provação, seguindo firme em direção ao seu destino.
“Depois de um tempo, fica mais fácil”, Baradur lhe disse, assim que a caravana entrou nas estradas subterrâneas que levam à superfície, mas na verdade ele mesmo não conseguia esconder o que sentia sempre que se afastava de Doherimm.
A caravana foi o primeiro teste que você precisou enfrentar quando decidiu sair de Doherimm, pois se arriscar nas estradas subterrâneas sozinha era praticamente suicídio, e ninguém estava disposto a segui-la, então você não teve alternativa a não ser deixar seu orgulho de lado e assumir um mero posto como guarda. A escolha, no entanto, logo se mostrou auspiciosa, pois Baradur era um mercador experiente, com uma vasta rede de contatos em Zakharov, Yuden e Namalkah, o que permitiu que você descobrisse muito sobre os acontecimentos da superfície.
Aparentemente, os perigos que você havia tentado alertar o conselho de Doherimm também eram ignorados pelos governantes humanos, que pouco faziam para tentar solucioná-los, preferindo voltar seus olhos para seus insignificantes jogos de poder. Sim, um grande exército havia sido reunido para enfrentar a Tormenta em Trebuck, mas o resultado era tão previsível quanto as consequências que se seguiram, uma instabilidade que ameaça destruir a integridade da frágil aliança que é o Reinado. Como se não bastasse, uma grande Área de Tormenta havia se formado no norte do Reinado, uma ameaça que era ignorada em prol de uma desprezível Feira de Vaidades.
Felizmente, quando parecia que você havia entrado em um mundo absurdo, você descobriu que Baradur era um agente de uma organização que combatia ativamente os perigos do mundo, ainda que o próprio mundo não a reconhecesse.
Ninguém sabe de onde o nome Mão Vermelha surgiu, alguns diziam que foi por causa dos primeiros guerreiros e magos da ordem, que haviam manchado suas mãos no sangue de seu rei caído, quando fizeram o juramente de defender o mundo contra os mesmos perigos que você temia, mas o fato é que o grupo parecia ser o único engajado ativamente em uma luta que deveria ser de todos. E quis o destino, também, que a caravana de Baradur se dirigisse para Yron, onde fica uma das fortalezas da ordem.
Ainda assim, o próprio destino parecia continuar testando sua perseverança, colocando desafios à sua frente sempre que o caminho se mostrava claro, e um deles foi a chegada de Erien, um elfo com uma jovialidade superada apenas pela sua habilidade com a espada, e com a incrível capacidade de se meter em problemas.
O choque de aço contra aço a traz de volta às docas de Yron, onde uma multidão se aglomera ao redor de dois duelistas, um deles, um humano de meia idade, os lábios cerrados, em fúria, o outro, um elfo de cabelos brancos, com uma expressão astuciosa que beira o insulto, empunhando um sabre rubro.
Erien
As espadas se tocam rapidamente enquanto você e seu oponente giram ao redor da arena improvisada que se formou nas docas de Yron.
- Vai pagar caro, maldito - o homem diz, lançando algumas golpes rápidos contra você, que os apara com displicência, enquanto tenta se afastar de seu alcance, apenas para lembrar dos capangas que cercam o lugar.
- Não há para onde fugir, seu idiota. - o homem diz, perseguindo-o ao redor da arena improvisada. - Vamos, seu imbecis! Peguem-no!
No outro lado da arena, o motivo da discórdia se desespera com a disputa, cujo resultado parece claro dada a desvantagem entre as forças. Rosa Garre tenta passar pelos capangas do marido, que a seguram sem nenhum esforço.
- Giovane, meu amor, não faça isso, não é o que está pensando - ela diz, as lágrimas a deixando ainda mais bela. - Não aconteceu nada. E-eu nem sei quem é esse homem...
Mas havia acontecido, sim, e teria acontecido mais se o marido não tivesse voltado um dia antes de sua viagem até Callistia, chegando no fim da madrugada, desejando apenas rever sua Bela Rosa. Ah, a Bela Rosa, cujo perfume doce você sente mesmo estando no outro lado das docas (ou seria por que ele está grudado em seu corpo?).
- Maldito seja - o homem esbraveja, se lançando contra você como se pudesse ver seus pensamentos.
Grande erro.
A proximidade do inimigo faz com que você esqueça por um breve momento o sabor delicioso dos beijos da Bela Rosa, e antes que perceba, você perfura o ombro do mercador com uma estocada rápida, se arrependendo antes mesmo dele cair.
- Giovanne! - Rosa grita, se desvencilhando dos capangas para ir amparar o marido, caído sobre um grande rolo de corda, o sangue escorrendo como uma vertente pela camisa de seda. - Não, não morra, meu amor, não morra...
O lamento de Rosa é sufocado pelos gritos da multidão, que grita, “Guardas! Chamem os guardas! A guarda! A guarda está chegando!”, chamando a sua atenção para a chegada da milícia da cidade, que tenta romper o cerco.
Você tenta recuar, mas os capangas do mercador continuam tentando agarrá-lo, impedindo a sua passagem. Encurralado, você avalia suas opções para se desvencilhar, até que vê um rosto belo e familiar no meio da multidão:
Uligramm.
Aventureiros
- leafa ♦ PV 3/3 PM 15/15 PE 0.
- Anton ♦ PV 10/10 PM 10/10 PE 0.
- Traveller ♦ PV 10/10 PM 10/10.
- Ulgrimm ♦ PV 20/20 PM 10/10 PE 0.
- Erien ♦ PV 10/10 PM 10/10 PE 0.