A GUERRA DIVINA
O maior dos conflitos da Antiguidade foi travado nas sombras. Chamamos de “Primeira Guerra Divina” e ocorreu na Mesopotâmia, durando mais de 1500 anos. As origens da guerra estão nos povos sumérios que habitavam a Caldéia e criaram grandes cidades como Ur , Uruk, Nipur e Lagash. Como em outras civilizações, os sumérios atraíram as atenções de Éden e Inferno. Assim como foi no Egito e na Grécia, nós mais observávamos do que agíamos – e quando o fazíamos, era de forma oculta e longe das vistas mortais.
O problema é que com o tempo a influência infernal começou a crescer na área, em parte ajudados por vampiros. Ambos os lados começaram a agir com mais frequência, e nós fomos pegos de surpresa. Os demônios tinham grande presença entre os acádios e com a ajuda infernal o Império Acádio dominou os sumérios, abrindo caminho para os demônios nos expulsarem da Mesopotâmia.
Por dois séculos nós resistimos à presença demoníaca. Nosso conflito se refletiu nas revoltas que ocorriam na sociedade mortal e que causaram a queda daquele império. Isso apenas permitiu que o povo amorita estabelecesse sua hegemonia na região e as lutas seguiram-se entre mortais até que a Babilônia de Hamurábi ergueu-se sobre todas, conquistando da Assíria até a Caldéia, unificando os povos mesopotâmicos sob o império babilônico. A partir de então, houve apenas guerra entre infernais e celestiais.
A Guerra Divina se iniciou pequena. Os celestiais a princípio obtinham a dominância no Império Babilônico, vigiando-o contra a presença infernal, mas os demônios se mostraram mais espertos. Eles esperaram, criando seguidores e espalhando o infernalismo pela Babilônia, criando pragas e maldições. Assumindo nomes de divindades daquele povo, os infernais prosperaram sem que notássemos isso. Quando legiões de infernalistas começaram a dominar lentamente o Império, as violências começaram. Os servos do Inferno levaram a uma nova onda de rebeliões e conflitos internos. Estes conflitos apenas disfarçavam a verdadeira guerra, onde milhares de infernais e Celestiais combatiam entre si. Legiões de celestiais desciam à Terra, destruindo seitas inteiras de infernalistas. Os combates fizeram o Império Babilônico ruir – e permitiu o surgimento de um novo terror.
Os assírios, um povo do norte da Mesopotâmia, estavam sob o domínio de vampiros e demônios. Aproveitaram-se do caos que se instalava na Babilônia e dominaram cidades, escravizando suas populações. Sob o domínio infernal, a crueldade assíria apenas aumentou. Os conflitos entre Éden e Inferno, até então ocultos, tornaram-se verdadeiros banhos de sangue sob a luz do luar. As forças da Luz desciam para libertar as cidades dominadas, mas os exércitos de infernalistas e seus mestres demoníacos pareciam capazes de enfrentar qualquer oposição.
Entretanto o Éden prevaleceu. Dezenas, talvez centenas, de milhares de demônios e celestiais pereceram nos diversos conflitos, mas os Assírios caíram do poder em 612 a.E.C. Os babilônicos mais uma vez dominaram a Mesopotâmia, sob o comando de Nabucodonosor. Por um curto período de quase 50 anos houve paz – ou assim pareceu.
A verdade é que Nabucodonosor era um escravo infernal, um fantoche nas mãos de um ser muito poderoso. Ele aprisionou os hebreus na Babilônia, extraindo os segredos que eles possuíam sobre os celestiais, e permitiu que hordas infernais se ocultassem sob a proteção do Estado. Muitos celestiais não desconfiavam do que acontecia, com exceção de Uriel e seus discípulos. Os Príncipes tiveram horríveis pesadelos na noite em que Nabucodonosor morreu e os Guardiões sussurraram nos sonhos de todos os celestiais que um grande mal estava se formando na Terra.
Foi o Príncipe Miguel quem percebeu que um mal terrível do Inferno estava manifestado no mundo material. Legiões de demônios estavam surgindo novamente na Babilônia, tentando mais uma vez manipula-la. Sob a aparente prosperidade trazida por Nabucodonosor estavam Nodos Infernais e cultos infernalistas.
Para encerrar de uma vez por todas a guerra, Miguel usou sua influência entre os magos persas, fazendo com que o Império Persa dominasse a Babilônia em 539 a.E.C. Ocultos pela guerra mundana estavam os Celestiais destruindo os cultos infernais na área.
Tudo deveria ter terminado, mas a guerra ainda duraria mais 200 anos. Misteriosamente, os magos persas e seus governantes foram sendo rapidamente corrompidos. Uriel convocou o Conselho do Firmamento e avisou que a criatura que veio à Terra no dia da morte de Nabucodonosor ainda estava lá, usando seus poderes para destruir as influências celestiais entre hebreus e persas. E revelou que a criatura era Leviatã, o Grande Lorde do Sangue, e que a morte de rei babilônico foi uma farsa, pois o demônio há muito habitava o corpo do ex-governante da Babilônia.
Os celestiais, na luta contra os demônios, incitaram diversas revoltas na Pérsia e em 330 a.E.C. ajudaram os macedônios a conquistar o Império Persa. Ao mesmo tempo, Uriel e Gabriel guiaram pessoalmente uma legião de Serafins e Arcanjos a um templo subterrâneo criado por magos corruptos onde finalmente confrontaram Leviatã e seus poderosos seguidores.
Enquanto os Arcanjos e Serafins confrontavam os arquimagos, vampiros anciões e demônios de alta casta que guardavam o templo, Uriel e Gabriel percorreram os corredores até uma câmara onde Inferno e Terra eram um. Os Príncipes sentiram-se enfraquecidos naquele local, onde Nabucodonosor os confrontou. O corpo morto do rei se partiu e cresceu, revelando a imensa forma draconiana de Leviatã.
A batalha que se seguiu provocou tremores e criou vastas cavernas nas profundezas da Terra. Mesmo enfraquecido Gabriel confrontou Leviatã enquanto Uriel apenas observava. O Grande Lorde de Sangue parecia ter vantagem até que Miguel se manifestou no local e usou sua Palavra para dar poder ao seu irmão. Agora equiparados, Gabriel e Leviatã continuaram a combater sob a terra até que a espada do Príncipe da Guerra decepou a cabeça do Grande Lorde.
Quando a poderosa alma de Leviatã escapou do corpo decapitado, pesadelos tomaram a mentes de todos os adormecidos nas Terras e em outros planos. Gabriel absorveu a alma do Grande Lorde, em um confronto mental que durou horas, mas finalmente a criatura estava morta. Os pesadelos que atormentaram a Criação devido à luta permaneceram por muitas semanas, mas a guerra que durou mais de 1500 anos finalmente havia terminado.