Arthos
Skerry, Meses Depois
Skerry
O Vazio, a Fronteira Final. Estas são as viagens do Carcará em sua missão para explorar novos mundos, novas civilizações...
Arthos despertou abruptamente de um sonho estranho onde voava nu em um vasto espaço vazio, cercado de linhas luminosas que corriam em paralelo a seu movimento. Embora inesperado, era melhor do que os recorrentes pesadelos de sua irmã sendo perseguida por monstros enormes em uma terra onde tudo parecia ter proporções titânicas.
O guerreiro afastou levemente a mão que estava sobre seu peito e olhou Dnula, a oficial de ciências do Carcará, enquanto esta dormia. Levantou-se e aproximou-se da janela fechada. Moveu uma pequena manivela prateada ao lado e a tampa abriu-se, permitindo-o ver a paisagem lá fora. A escuridão cobria todo o espaço, com os pequenos pontos luminosos – estrelas, ele sabia – pontilhando como pequenos diamantes incrustados no tecido da noite perpétua do vácuo cósmico. Ele estava no Vazio e ainda tentava acostumar com o fato de que somente alguns metros de metal e centímetros de vidro o separavam da morte certa pelo frio congelante e absoluta ausência de ar. Mas ali dentro a temperatura era agradável e a nudez não o incomodava.
Dnula
- Bom dia, rapaz. Bem-vindo à minha terra natal!
A mulher levantou-se, igualmente nua. Seu corpo era delgado, mas bem proporcionado. Alta com orelhas levemente pontiagudas. A maioria dos artonianos pensaria que era uma meia-elfa, mas você sabia que era uma sklirynei, uma nativa do mundo despedaçado de Skerry, cujos restos o valkariano observava pela escotilha.
Ela abraçou-o por trás, pressionando suas costas com seus seios grandes. Então o puxou para a cama.
Dnula
- Não precisamos ter pressa. Skerry não vai fugir e o capitão não vai precisar de nós pelas próximas horas.
.
O mercado era pequeno, o espaço era fechado e apertado, mas o número de pessoas ali surpreendia. Eram muitas, das mais diversas raças e mundos. Arthos não via uma população tão heterogênea desde que partira de sua cidade.
Dnula o puxava pelos corredores, esbarrando nas pessoas – e “coisas” – que passavam por ali. Eram como um casal de namorados passeando, embora o guerreiro não visse a Escrivã do Carcará (que seu capitão chamava em tom brincalhão de “Oficial de Ciências”) deste modo. Eram mais como amantes, mas ela realmente parecia gostar da companhia dele. O que fazia Edvard Orelov perguntar o que ela vira em um sujeito tão taciturno e “de mal com a vida” como ele. Mas todos sabiam o que o preocupava de verdade e o capitão tinha conhecidos dele procurando por informações dela – sua irmã. E era exatamente por isso que estavam ali, aliás.
A mulher conduziu-o por um beco levemente sujo, longe da multidão. Saíram em outra rua, esta bem mais vazia. Havia lojas aqui, mas não a movimentação do centro comercial tão perto.
Dnula
- Nesta rua fica o comércio “especializado”. É preciso conhecer as pessoas certas pra fazer negócios aqui. Felizmente eu cresci na rua logo ao lado!
E ela sorria, marota.
Chegaram a uma loja sem tabuleta. A porta estava fechada e havia uma placa escrita no idioma local que Dnula traduziu como “Fechado”.
Dnula
- É um truque.
Ela olhou para os lados e então sacou uma agulha do bolso. Enfiou-a na fechadura e a porta se abriu. Entraram na escuridão.
Dnula
- Ó de casa!
Uma voz suave e idosa balbuciou algo das trevas. Então a luz surgiu, acendendo-se em um cristal preso ao teto. O Carcará tinha cristais como aquele – funcionavam por meio de um gás alquímico que se iluminava em contato com eletricidade.
Um halfling idoso estava ali, sentado em uma cadeira, com um livro nas mãos. Pelo que parecia, estava lendo no escuro. Mas levantou-se para recebe-los.
- Dnula, querida! Há quanto tempo! Já faz mais de um ano que não te vejo! O que tem feito? Ainda está trabalhando com aquele pirata?
Dnula
- Kamui! Já disse que o Capitão Orelov não é um pirata! Somos uma companhia mercantil legítima que apoia o reino natal de seu capitão contra uma potência agressora! E estamos bem, obrigada. Como vai?
Discutiram algum tempo por amenidades. Ela apresentou Arthos e contou a ele que o velho era Kamui, um nativo de Odisseia (o Mundo de Valkaria, Arthos teve que recordar) que se radicara em Skerry quando ela era uma menina. Se conheciam desde então.
Mas antes de vir para Odisseia o halfling viajara bastante. Ele tinha experiência com os Mundos e talvez pudesse reconhecer as paisagens das visões de Arthos. Ou pelo menos era isso que Dnula acreditava e explicou ao ancião.
Kamui os fez passar a outra sala nos fundos. Abriu-a com uma chave escolhida de um molho repleto delas. Era um cômodo pequeno de paredes brancas manchadas pelo tempo. No centro havia uma bacia de mármore sustentada por uma base do mesmo material. Com um gesto rápido o velho fez a bacia encher-se de água.
Kamui
- Ponha as mãos aos lados da bacia, aqui e aqui. Olhe bem para seu reflexo na água e pense na sua irmã.
Assim Arthos fez. Por alguns momentos nada aconteceu, mas então a água começou a balançar e ele viu sua irmã fugindo de um monstro gigante. Outras visões – tanto a vista no Vale tanto tempo atrás quanto outras provenientes de seus sonhos – surgiam na superfície líquida. Kamui assentiu, satisfeito.
Kamui
- Sim, sim. Eu reconheço este Mundo, sim. Sua irmã está em Jotunheim! O Mundo de Teldiskan, Deus do Clima e criador dos Gigantes! É um Mundo monumental que fica nos limites da Criação. Tem a metade do tamanho de Arton, mas as raças dominantes por lá são todas grandes. Mesmo os monstros. Um lugar horrível para seres pequenos como nós.
- Se você ainda tem visões de sua irmã, isso é um bom sinal. Significa que ela ainda está viva. Tenha esperança!
Dnula sorriu para Arthos e agradeceu ao velho. Deu-lhe um pequeno saco tilintante “da parte do meu capitão pirata”. Eles agora sabiam para onde ir.
FIM