Pérola escreveu:
Sangue! Deve ser Mathan, preparem-se!
As palavras de Pérola atraíram a atenção de todos, que ainda observavam as tempestade se afastar para o norte. À meia luz do poente, os humanos na embarcação já não viam muito bem através das águas. Mas para Pérola e Shantass, ainda era como alto dia.
Antes que pudessem pensar, a meio-elfa marinha saltou por sobre a amurada, atirando-se ao mar. Ferannia e o marujo William rapidamente a seguiram e ainda puderam vê-la transformado-se. Seu corpo mutacionava e crescia, tornando-se uma esfera rodeada de tentáculos enegrecidos.
Um polvo gigante!
Izzy escreveu:
HOMENS, MEXAM-SE, BAIXAR VELAS, BAIXAR ÂNCORA!
E PREPAREM-SE PARA O COMBATE!!!
Rapidamente, os homens de Izzy lançaram-se a cumprir suas ordens. William correu ajudar Loveboat a baixar as velas, enquanto Ruperth lançava a âncora sozinho. Era de longe o mais forte deles e não necessitava de ajuda.
Izzy retirou dois mosquetes de uma caixa próximo ao leme. Empunhou um ela mesma e arremossou outro para Mandril, que o apanhou e prendeu-se ao mastro somente com os pés, usando as mãos para fazer mira.
Ferannia avaliou a situação rapidamente. Sacou seu arco. Empunhou suas flechas. E sem vacilar sequer um segundo, coordenou o ataque.
Ferannia escreveu:
Preciso de luz! Shatass, lance sua magia de luz no mar!
Shantass chegara à amurada no mesmo momento em que ouvira as ordens de sua líder. Pensava em auxiliar Pérola. Para ela, com sua visão prodigiosa à noite, ainda não havia necessidade de luminosidade mágica. Mas lembrou rapidamente que para os humanos, o crepúsculo já trazia grandes dificuldades para enxergar.
Mas mesmo se quisesse insistir em ajudar Pérola, não conseguiria. Tão rápido quanto tornou-se uma enorme fera, a mestiça desapareceu por completo à vista de todos, sumindo completamente.
Não havia o que titubear. Gestos arcanos velozes. Palavras mágicas carregadas de poder. E a feiticeira lançou sua magia.
Shatass escreveu:
LUZ REVELADORA, PERFURE AS TREVAS E DÊ PODER À NOSSA VISÃO!
Dizendo aquilo, Shantass acenou apontando para diversos pontos no mar.
Quatro pontos de luz, como pequenas estrelas brancas, surgiram em meio ao nada iluminando as aguas a bombordo da embarcação como tochas sagradas. Ferannia pode ver melhor o sangue que tingia a superfície. No entanto, ainda não via nada abaixo dela.
Pérola não precisava daquela luz. Os meio-elfos marinhos, como as nagahs, também eram capazes de ver no escuro da noite. Para ela, o crepúsculo também era como o dia. E do momento em que mergulhara, já vira tudo o que se passava abaixo das águas. Exatamente por isto, já estava tomada de enorme tensão.
Um arrepio mortal percorreu seu corpo dos pés à cabeça, eletrizando sua espinha. Imaginou que Mahtan logo estaria à beira da morte.
Mas naquele momento, nem ela que já vira tudo poderia imaginar o quão certa sobre isto estaria.
Clique para Ouvir: Tema da Batalha
Mahtan escreveu:
CRIATURA DESPREZÍVEL!!!
O sangue que tingia o mar também preenchia os olhos de Mahtan, o meio-elfo marinho em forma de serpente.Tomado de uma raiva indescritível, só pensava em revidar.
Um instinto irracional como o da criatura assassina que buscava devorá-lo o guiava. Mas era mais inteligente que ela e adotando tática que treinara com Shamyr, nadou para o alto. O movimento arriscado deu aos inimigos nova chance de bote. Mas com agilidade, Mahtan evitou suas presas que fecharam-se sobre si mesmas, abocanhando a água do mar.
Ganhara as costas da criatura, que não conseguira se virar a tempo, e agora poderia atacá-la pelas costas. Shamyr fez o que ele esperava e cercou o selako por baixo.
Do alto, Mahtan tentou abocanhar face e olhos, mas debatendo-se o selako o evitou. De baixo, Shamyr fez o mesmo e rasgou a barriga do animal com suas presas afiadas de salamandra gigante, bebendo seu sangue suculento. Girando o corpo, tentou ainda atingir seus olhos com a enorme cauda, mas encontrou seu crânio duro e não lhe causou nenhum dano.
A distração, no entanto, permitiu que Mahtan tivesse tempo de voltar à sua forma humanoide. Nova tática: com a magia druídica que o grande Oceano lhe emprestava, dobraria a vontade da criatura e a teria sob seu poder. Uma excelente estratégia, para combater um animal marinho.
Para sua infelicidade, havia mais um deles...
De sua esquerda e vindo debaixo, um segundo selako surgiu nadando velozmente, abocanhando-o com violência. Sentiu sua carne ser rasgada novamente, e viu seu sangue colorir o mar de novo. Mas para seu desespero, desta vez as possantes mandíbulas não tornaram a se abrir. Seguindo o mesmo trajeto que o trouxera até ele, o animal nadou em frente, arrastando-o consigo.
Carregava-o para a morte e para cada vez mais longe do pesqueiro, onde estavam seus companheiros.
O primeiro selako ainda teve tempo de lhe morder as pernas, que escapuliram ao seu domínio devido ao movimento que era forçado a fazer. Shamyr reagiu como um relâmpago, e cavalgou em torno do selako abaixo de Mahtan, usando suas patas para tomar impulso em seu corpo e lançar-se em socorro de seu senhor. O monstro tentou abocanhá-la, mas confuso por seu movimento ao circundar seu corpo que também girava, não foi capaz de tocá-la.
Mahtan fitou seus olhos por uma momento, enquanto o selako o arrastava tentre suas presas poderosas, e pode ver como olhava para ele desesperada para salvá-lo.
Comovido com sua força de vontate, e decepcionado com sua própria fraqueza, fez uma prece para seu deus.
Mahtan escreveu:
Grande Oceano, se não a mim, empresta sua força aquela de nós que é uma verdadeira filha do mar.
Empresta sua força a Shamyr...
Talvez Oceano tivesse lhe ouvido. Talvez não...
Mas Pérola ouvira.
E vira tudo o que acontecera, tão rápido quanto mergulhara no mar, transformara-se e camuflara-se como poucos de sua raça podiam fazer. Tudo havia sido muito rápido. E por isto já tinha certeza:
Mahtan iria morrer!
O pensamento causou-lhe um arrepio de horror que percorreu seu corpo dos pés à cabeça através de sua espinha, congelando suas víceras. Lançou-se em direção ao selako.
Agarraria-o com seus tentáculo e estrangularia-o, disto estava certa. No entanto, não tinha qualquer resquício de certeza de que Mahtan ainda estaria vivo até lá.
Pérola escreveu:
MALDITO MACHO INFELIZ, NÃO MORRA OU EU TE MATO POR ME FAZER PASSAR POR ISTO, DESGRAÇADO!
Enquanto isto, na superfície Ferannia, Izzy e Shantass observavam o mar, tomadas de apreensão. Ferannia vasculhava as águas com os olhos de um falcão.
Analisava o mar procurando por um alvo como um predador fareja a presa com seu olfato apurado. O arco retesado ao extremo, esperava por um só movimento, uma só brecha.
Só precisava de uma chance, e então suas flechas mergulhariam em direção às presas e ceifariam vidas até não mais poder.
Izzy, ajoelhada, fazia mira com o mosquete.
Do alto, Mandril também mirava, mas nada via.
De repente um grito.
Mandril escreveu:
À FRENTE, QUINZE METROS POR SOBRE AS LUZES!!!
Ferannia foi a única a avistar a sombra que surgia e se afastava por sob as águas. Reconheceu a forma do selako imediatamente. Para seu mais completo pânico, vislumbrou também uma forma humanoide presa à sua boca.
Como se não fosse impossível, retesou ainda mais seu arco, seguindo a sombra com seus olhos como o falcão segue o coelho que corre pela relva, antecipando o momento do mergulho para o abate.
Shantass entendeu imediatamente o que se passava e com um movimento, iniciou uma dança ritualística carregada de magia que daria força aos seus aliados. Ferannia e Izzy sentiram a mágica percorrer-lhe os corpos e concentrar-se em seus braços, dando-lhes a certeza de poderiam atirar tão rápido quanto nunca mais.
Ferannia escreveu:
UMA CHANCE, SÓ UMA CHANCE MONSTRO DESGRAÇADO, FILHO DA MÃE MISERÁVEL!!!
De volta ao mar, a luta mortal prosseguia.
Mahtan golpeou o selako que o arrastava. Ainda vivia. Ainda lutava. Mas a azagaia não era adequada para aquele tipo de combate, e na posição que ficara preso, só conseguia atingir o crânio duro do animal.
Shamyr esticou-se para morder sua cauda, nadando veloz atrás dele. Mas o movimento serpenteante da cauda a enganou e fez errar. E quando ela ainda tentava um golpe incrível, girando o corpo como uma bola para chicotear com sua própria cauda, foi atingida pela do animal e perdeu-se em meio ao movimento.
Pérola nadava a toda a velocidade, encurtando cada vez mais a distância entre ela e o selako que carregava Mahtan, deixando um rastro de sangue em seu caminho. Haveria tempo, pensou. Já imaginava seus tentáculos tocando a criatura, estrangulando-a com violência, quando viu sua esperança ser roubada pela sangrenta realidade.
O sangue espirrou e tingiu o mar de vermelho por completo.
O selako à frente mastigou Mahtan sem soltá-lo, sem dar qualquer chance de defesa para o o meio-elfo do mar. Sua cabeça caiu para trás, imóvel. Seus braços penderam para baixo, liberando a azagaia que perdeu-se nas profundezas do Mar Negro. Mais abaixo, a salamandra de Mahtan foi abocanhada pelo outro selako, fazendo mais sangue manchar o mar. Abocanhada. Presa. E arrastada como a seu dono.
Pérola soube que só um milagre ainda poderia salvar Mahtan antes que o animal o mastigasse até a morte final, de onde não haveria mais retorno algum, nem por magia de cura, pois ela não teria mais tempo para salvá-lo. Em seu coração, desejou por um milagre. E desejou acreditar em milagres. Mas no fundo já pensava em apenas vingar a morte do companheiro, aniquilando aquela criatura odiosa.
Mas o milagre observava da amurada do pesqueiro.
Com seus braços tremendo, tal era a pressão com que retesava seu arco, Ferannia viu as águas se espalharem em espuma e o monstro emergir do mar com Mahtan em sua boca, fugindo com ele para longe. Antes que Izzy pensasse em disparar uma bala sequer, duas flechas certeiras voaram em direção ao monstro, a segunda ganhando o ar antes mesmo que a primeira atingisse a criatura.
Disparos velozes como o vento e certeiros com um relâmpago que sempre atinge a árvore mais alta.
Quando primeira flecha atingiu o alvo em cheio, ignorando a dureza de seu crânio e fazendo o animal estremecer de dor, a segunda veio logo atrás e atingiu o mesmo local, levando a criatura a nocaute. Ferannia viu Mahtan cair ao mar e o selako parar. Um estouro quase ensurdeceu seu ouvido esquerdo quando Izzy disparou seu mosquete, que mais pareceu um canhão àquela distãncia, atingindo o animal bem no meio da cabeça. Seu crânio explodiu em pedaços onde a bala o atingiu, fazendo partes de seu cérebro espirrarem pelo mar. Não seriam necessários novos disparos. O animal estava morto.
Completamente sem vida!
Pérola agarrou Mahtan com seus longos tentáculos. Ao tocá-lo, o meio-elfo desapareceu por completo, como ela, escapando da visão de Shamyr, que o observava da boca do selako que ainda vivia. Pérola puxou-o para fora da cortina de sangue que pintava o mar de vermelho. Ele sangrava como um bezerro esfaqueado por um açougueiro, deixando o pouco que ainda lhe restava de vida escapar rapidamente. Seu sangue se misturava ao oceano e, apesar dele mesmo não poder ser visto, o sangue que o deixava tornava-se visível assim que abandonava seu corpo.
Pérola praguejou.
Pérola escreveu:
Desgraçado medíocre! Se morrer agora em minhas mãos, juro que vou até o inferno estrangulá-lo de novo!
Pérola nadava o mais rápido que podia em direção ao barco. Seus companheiros observavam o mar e percebiam a agitação próximo do corpo morto do selako. Mas não divisavam o que acontecia. Só Pérola via, mas não tinha escolha senão arrastar Mahtan para o pesqueiro. Não podia pensar em mais nada senão salvá-lo.
E assim Pérola deixou Shamyr para trás.
A salamandra presa entre as mandíbulas tentava atingir seu agressor com presas e cauda. Mas sua posição era ingrata, não o alcaçava para mordê-lo e não o via entre o sangue que tingia o mar para chicoteá-lo com precisão. O selako, por sua vez, só precisa pressioná-la com suas presas. Mordeu-a com força descomunal, seu melhor ataque até o momento.
E Shamyr urrou com a dor do golpe.
Shamyr escreveu:
BRAAAAAAAÁ!!!
O sangue de Mahtan jorrava caldalosamente. Sua vida se aproximava do fim a cada metro avançado. Shamyr se debatia com força tentando se soltar, mas era em vão. O selako a arrastava através do sangue, pressionando suas presas contra sua carne macia, perfurando-a violentamente. Mas Shamyr ainda estava muito longe de seu fim.
Muito longe de se entregar à morte sem salvar seu dono!
Num esforço gigantesco, que só o extinto de sobrevivência mais primitivo de um animal acuado pela morte é capaz de viabilizar, contorceu-se violentamente por entre as presas do selako, tomando melhor posição. O animal, que já estava bastante ferido, recebeu uma chicotada tão forte de sua cauda no dorso, que desmaiou imediatamente. As mandíbulas afrouxaram.
Shamyr se viu livre!
E liberta, a salamandra abocanhou a face do selako inconsciente com tanto ódio animal que esmagou seu crânio, rompendo ossos e acabando com sua vida definitivamente. Em um movimento final, ainda arrancou parte de sua cabeça, deixando-o completamente desfigurado.
Mastigou sua carne e engoliu-a, alimentando-se de sua presa.
Urrou vitoriosa.
Shamyr escreveu:
BUYAAAAAAAAAAAHHH!!!
Pérola finalmente chegara ao barco.
Lançou Mahtan por cima da amurada com seus longos tentáculos, segurando-se ao pesqueiro com os outros. O baque surdo de seu corpo caindo ao chão assustou os tripulantes, que empunharam armas em sua direção. Mas quando Pérola liberou-o de seus tentáculos, ele tornou a aparecer, para o alívio de todos e comemoração de todos.
Shamyr nadava em círculos, procurando por seu amado dono.
Olhava para todos os lados, freneticamente. Viu pérola ressurgir próximo ao barco, já de volta à sua forma normal. Não queria assustar mais seus companheiros. A salamandra nadou em sua direção e subiu aos pesqueiro pouco após à meio-elfa do mar.
Completamente nua!
William, o mais jovem dos marujos, pegou sua capa que estava a seus pés e, mantendo os olhos baixos para não mirar seu corpo nu, veio em sua direção e ofereceu-a para que se cobrisse. Mahtan ainda sangrava muito e o vermelho manchava cada vez mais o convés da embarcação. No entanto, ao sair da água o sangramento já começava a atenuar. Todo marinheiro sabe disto, a água é um péssimo lugar para se sangrar, o sangue se esvai com muito mais facilidade.
E não coagula!
Shantass escreveu:
Alguém faça alguma coisa, ajudem-no!
Mais problemas.
Nenhum dos membros do grupo possuía conhecimentos de técnicas de primeiros socorros. E nem os aparatos necessários. E nem qualquer habilidade mágica ou de qualquer tipo também. O único capaz de ajudar alguém na situação de Mahtan, era o próprio Mahtan!
Seria este seu fim?
Sim. Se estivessem sozinhos, ninguém poderia ajudá-lo. Mahtan sangraria até a morte e tudo teria sido em vão. Sua vitalidade não era das melhores e a sorte também não lhe sorria nem levemente naquele dia. Não havia escapatória. O sangue corria sem parar. Seu fim era certo.
Mas para sua sorte, havia alguém capaz de ajudá-lo.
Loveboat escreveu:
TRAGAM-NO PARA O PORÃO, DEPRESSA!!!
Elmac, que despertara de seu descanso com o disparo de Izzy e subia para o convés naquele momento, desceu de volta com rapidez.
Deu lugar à Rupert e William, que desceram com o corpo desfalecido de Mahtan. Depositaram-no sobre a mesa. Mestre Smith, que ferido descansava no porão, esforçou-se para levantar e puxou a toalha da mesa, derrubando tudo o que nela havia, para facilitar o trabalho de seus companheiros.
Loveboat, o cirurgião de bordo, despejou seus instrumentos sobre um caixote e iniciou o tratamento.
Fazendo diversas compressas, ordenou seus companheiros que as segurassem firmemente contra os ferimentos de Mahtan. Mestre Smith, acostumado a ajudá-lo, foi rasgando as roupas do jovem com um punhal, liberando seu corpo para o socorro fácil.
Havia perfurações profundas de dentes de selako por toda parte. Era literalmente um milagre dos céus o pobre diabo ainda não ter morrido. Foi preciso a ajuda de Ferannia e Izzy, além de Ruppert, William e do próprio mestre Smith para comprimir todos os ferimentos por onde o sangue lhe fugia.
Loveboat tirava os sinais vitais do meio-elfo marinho com frequência. Seu coração incrivelmente ainda batia, mas estava fraco como um suspiro. O ar mal entrava por suas vias aéreas. O cirurgião de bordo ordenou que seu corpo fosse arrastado até que sua cabeça pendesse levemente para fora da mesa, inclinando-se para trás. A posição liberou as vias aéreas, facilitando a entrada de ar. Mas após checar-lhe novamente os sinais vitais, Loveboat constatou que seu coração parara de bater.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete... vinte oito, vinte nove, trinta. O marujo cirurgião comprimia as mãos sobre o peito do meio-elfo marinho rapidamente, contando a cada movimento. Ao fim uma pausa. Ordenou que o corpo fosse posto de volta à mesa de forma que a cabeça ficasse apoiada por completo. Então ordenou que a capitã colocasse as mãos sobre sua boca em uma posição que deixasse um espaço em forma de círculo entre elas, e soprasse ar para dentro da boca do druida com toda sua força.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis... vinte oito, vinte nove, trinta compressões contra o peito. Pausa para assoprar o ar boca a dentro. Um, dois, três, quatro, cinco, seis... vinte oito, vinte nove, trinta compressões. Pausa para assoprar o ar. O processo se repetiu várias vezes, a esperança já ia desaparecendo do rosto de todos naquele recinto... E de repente, o meio-elfo tossiu sangue para o alto, sujando a todos que estavam ao seu redor.
Pérola e Shantass, que observavam mais de trás, pensaram que ele iria morrer.
Mas a tosse significava que seu coração voltara a bater. Sinais vitais positivos. O coração realmente batia. Mais alguns cuidados e o pior já passara. Logo, o meio-elfo do mar estava estável, seus ferimentos estancados. Talvez um dia viesse a morrer de uma forma brutal como aquela.
Mas aquele certamente não seria este dia.
Do porão, todos puderam ouvir Shamyr berrando repetidamente, como que pressentido que seu dono sobrevivera.
Shamyr escreveu:
BUYAAAAH, BUYAAAAH, BUYAAAAH!!!
Parecia repetir: "não neste dia, não neste dia, não neste dia".
Ou foi o que todos pensaram, porque com suas ações todos também haviam dito a mesma coisa naquele dia.
Era como se todos houvessem realmente olhado bem fundo nos olhos da morte, desafiando seu olhar com toda sua coragem e então gritado em sua cara, com todas as suas forças...
"HOOOJE NÃÃÃO!!!"
Curiosidade 1: faltou 1 PV para Mahtan atingir os 50% negativos. Ele falhou em 6 testes de Con seguidos e tomou em média 3 pontos de dano por sangramento. E eram apenas 2 tubarões... E ele só emergiu do mar porque decidiu se colocar acima do primeiro selako, o que fez com que o outro o carregasse para o alto em seu movimento... Lembrem do que eu falei sobre desafio, nunca vai ser só pra ganhar XP. Ele não morreu por um milagre. ; )
Curiosidade 2: os selakos eram selakos normais, exceto que eles tinham Agarrar Aprimorado (habilidade especial de monstro, não o talento) e Constrição. De todas as vezes que eles causaram dano, o maior número que eles rolaram no d12 foi 3... É, 3. Exceto a última mordida que a Shamyr levou por Constrição, que foi um 12 para lavar a alma.
Curiosidade 3: nunca na vida peguem Cabeça Quente com um personagem que não sabe combater corpo-a-corpo. Azagaia + agarrado = -6 pra bater. Fora que ele já tem só +4 de ataque no corpo-a-corpo. Pra piorar, ele não podia nem tentar rolar pra sair do agarrão, porque em seu turno tinha que atacar o bicho que deu dano nele. E o bicho SEMPRE dá dano, porque Constrição dá dano automático, sem rolar. Ou seja, também nunca peguem Cabeça Quente e fiquem sozinhos em algum lugar, sob risco de morrer sozinhos. Se não fosse a Shamyr, Mahtan teria virado isca de tubarão fácil, fácil.
Curiosidade 4: Meg estava na gaiola, coberta de pano atrás da escada de novo. Ficou ali quietinha o tempo todo, sem incomodar ninguém. Gente boa ela, não? Hahaha.
O que fazer agora: interpretem livremente, analisando a situação e suas consequências e preparem-se para a viagem pelo mar negro. São 2 dias até as grutas.