"Com licença."
"Toda."
Toda? Toda licença? Licença. O que aquilo significava, naquela ocasião? Com certeza não era algo relacionado a burocracia. Não, aquilo antes não havia sequer passado por sua mente. Na verdade, nada havia passado. As palavras apenas tinham saído. Apenas agora ele pensava sobre o que elas significavam. Mais e mais palavras pareciam surgir em sua mente. Burocracia. Leis. Ele olha para um dos homens ali presentes, um homem de armadura. Ele parecia comandar os outros. Um oficial da lei. Talvez. Provavelmente. Ele não sabia de onde essa ideia vinha, mas seus sentimentos e sensações o convenciam. Ele criava crenças. Crenças. Fé. Deuses. Os deuses são reais. Ele parecia não ter dúvida disso. Os deuses existiam, seu poder era real. Ele olha para uma garota de cabelos negros, que antes não estava ali. Ela parece fazer alguma coisa ao homem caído, aquele que perdera o olho. Magia. Magia? Qual era a diferença? Ele não entendia como as coisas funcionavam, mas aquilo que ele via com certeza era magia. O que significava algo ser magia? Não poderia ser apenas algo que ele não entende ou não consegue explicar. Não, porque ele não entende nem consegue explicar a maioria das coisas. Ainda não conseguia explicar nem mesmo como conseguia explicar o que conseguia explicar. Se não conseguia explicar o que ele sabe que consegue fazer e que vem dele mesmo, como conseguiria explicar o que vem do que está fora dele? Não. Ele não consegue explicar nem mesmo o que estava dentro dele e o que estava fora. Ele percebe isso, pois antes havia definido que o que fazia parte dele era aquilo sobre o que ele tinha controle direto. Entretanto, meros momentos atrás, palavras haviam sido proferidas de algo que ele disse que fazia parte dele sem que ele percebesse ou o fizesse voluntariamente. Seu corpo ainda estava no mesmo lugar de antes, cambaleando e olhando seus arredores enquanto sua mente viajava pelos seus pensamentos. Um homem fazia fogo. Fogo. O que era aquilo? Não parecia algo sólido. Parecia magia, mas ele sabia que não era magia. Talvez tivesse sido feito por magia. Ele tem a impressão de que isso é bastante comum. Mas o fenômeno, na falta de uma palavra melhor, o fenômeno em si não era magia. Era algo mais, ou algo menos. Era como o chão em que pisava. Não, não exatamente. Talvez mais como o ar que respirava. Sim, o ar. O ar estava lá. Ele sabia disso. Mas não consegue imaginar como seria se não estivesse. Começa a imaginar como seria se pudesse vê-lo. Talvez fosse como a água, fluido. Não. Água. O que era água? Ele só conhecia o sangue. Líquido. Vermelho, em dois tons. Um altamente saturado, com uma cor viva. Outro muito mais escuro, quase negro. Vinho é a palavra que vêm a sua mente. Não sabia exatamente por que o sangue que podia ver ao seu redor existia nessas duas cores. Tanto aquele que vinha dos homens verdes quanto aquele que vinha dos beje, existia em duas cores. Mas nenhuma delas era água. Água era outra coisa. Ele não consegue imaginá-la. Apenas sabe que ela existe, como é sua sensação. É como o ar, porém mais densa. Mais fria. Não, não necessariamente mais fria. Calor. Calor não tinha a ver com aquilo. Com o que cada coisa era. Ou tinha? Fogo. Fogo era quente. Isso parece ser verdade. Talvez fogo realmente fosse diferente do ar e da água. Talvez fosse mesmo outra coisa.
Fogo. O homem parece jogar coisas no fogo. Armas. Espadas, adagas. Metal. Metal era como o chão. Sólido. Frio? Não, não necessariamente. O fogo da pira parecia aquecê-lo. Ele ficava alaranjado. Como o fogo. Como o fogo? Será que fogo era como o metal? Não, fogo era quente. Mas o metal estava ficando quente. Será que estava virando fogo? Não, aquilo estava errado. Não sabia dizer o porquê. Apenas sabia que não era isso. O homem do fogo agora pegava uma maça. Não, uma maçã. As duas palavras aparecem em sua mente. Por que duas palavras tão parecidas? Maças não são maçãs. Não são parecidas em nada, porém são descritas de forma muito parecida. Uma é uma arma. Outra é uma fruta. Frutas. Ele não tinha visto muitas frutas. Mas sabia que havia mais delas.
Ele sente sua garganta. Sua língua. A saliva em sua boca. Frutas. Frutas eram comida. Comida era aquilo que ele consumia. Consumia? Sim. Ele precisava de comida. Sem comida, seu corpo falharia. Mas o que a comida lhe fazia? Para onde ela iria? Quando ele a comesse, ela seria parte dele? Não, ele não tem controle sobre ela. Mas ela estaria dentro dele. Não dentro. Entre ele. Entre partes do que ele conseguia controlar. Entre suas costas e seu abdômen. Mas o que havia ali? Não poderia ser vazio. Não, se fosse vazio a comida apenas ficaria ali e nada dela seria feito. Se fosse vazio, não teria o que proteger ali. Seu corpo não falharia se aquele lugar fosse cortado, perfurado, esmagado. Mas seus sentimentos lhe diziam que se algo assim acontecesse, aquelas seriam as consequências. Causas e consequências. Conceitos estranhos, como aquele que antes ele havia pensado. Tempo. Momentos. Acontecimentos ordenados. Um vinha antes, outro vinha depois. Um em um tempo, outro em outro. Alguns aconteciam num mesmo tempo. Mas nunca um acontecimento teria seu tempo antes do tempo daquele que o causara. O primeiro acontecimento era uma consequência do segundo. Não, seria melhor o contrário. Assim ele poderia numerá-los de acordo com o tempo. Primeiro é o que vem antes. Segundo, o que vem depois. E assim, poderia usar os números. Ferramentas estranhas. Pareciam palavras. Tinham palavras que os representavam, claro, mas como as palavras em si, números não pareciam existir de verdade. Não eram como o fogo ou o sangue que vira. Não eram objetos reais, fenômenos ou coisas que os regessem. Eram só uma forma de representar as coisas para organizar o entendimento. De certa forma, ele está aliviado. Ele parece saber de todas essas coisas. Lentamente está entendendo melhor como cada uma delas se liga às outras. Abstrações. Números. Palavras. Nomes. Nomes? Não, ele não sabia nomes. Ele ouvira nomes. Fenyra. Bror. Grunt... Mais tarde, Searinox. De onde eles vieram? Nenhum deles era seu próprio nome. De onde eles vieram?
???:
De fora.
De fora? Sim, de fora. Daquilo que não era ele. A pessoa de cabelos dourados, mulher, era Fenyra. O homem que lutava com os punhos e não vestia seu torso era Grunt. Aquele que só tinha um olho era Bror... Mas, quem era ele?
???:
Jumanji.
Jumanji. Não, não era aquilo. Aquilo parecia errado. Não completamente errado, mas parecia faltar algo. Parecia ago distorcido. De onde viera aquilo? A imagem de um rosto aparecera em sua mente. Quem era aquele?
Jumanji:
Jumanji.
Jumanji. Não era ele. Era o outro. Aquele dentro de sua mente, o rosto que estava ali e lhe proferia palavras. Não era uma sensação. Não, era outra coisa. Não era ele. Ou era? O que era ele?
Jumanji:
Ju...
Ele:
Ju...
Jumanji:
Gen...
Ele:
Gen...
Jumanji & Ele:
mu...jugenmu...go...kono...surike...kaijarisugesugematsufunfaimatsufuraimatsukurunetokoronisumiyapparikojiyapparikojibaibobaibobaiboshuringashuringanugurindaigurindainobomboribombonanojoukyuumechousuke.
mu...jugenmu...go...kono...surike...kaijarisugesugematsufunfaimatsufuraimatsukurunetokoronisumiyapparikojiyapparikojibaibobaibobaiboshuringashuringanugurindaigurindainobomboribombonanojoukyuumechousuke.
Sim, aquele era ele. E novamente, sua boca havia proferido palavras. Não, desta vez, tinha sido apenas uma palavra. Era seu nome. Era ele.
Ele estava ali. Uma taverna. Pessoas à sua volta. Pessoas que já haviam se apresentado. Estavam trocando informação. Era a vez dele de se apresentar. Por isso, havia se apresentado.
Jugenmujugenmugokonosurikekaijarisugesugematsufunfaimatsufuraimatsukurunetokoronisumiyapparikojiyapparikojibaibobaibobaiboshuringashuringanugurindaigurindainobomboribombonanojoukyuumechousuke:
...sou eu.
E agora olhava, olhos em olhos, todos aqueles que ali ainda estavam presentes.