O velho barco descia o rio panteão, na zona fronteiriça entre Deheon e as Montanhas Uivantes. Azgher subia no horizonte a leste, anunciando as primeiras horas da manhã e trazendo um calor muito apreciado depois de uma noite atormentada pelo vento frio vindo das montanhas. O destino dos tripulantes era Gorendill, uma cidade de porte médio que fora acometida por um crescimento súbito alguns anos atrás, mas que estagnara-se por conta de eventos recentes. Com o ataque dos minotauros tendo destruído alguns dos principais pontos da cidade e a área de Tormenta rio acima forçando uma reorganização das rotas fluviais, Gorendill tornou-se para os mais pessimistas um sinônimo de frustração, ao que estavam destinados os mortais que sonhassem alto demais.
Mas como sempre, também haviam os otimistas, que combatiam a estagnação com suas melhores armas: ousadia e ambição. Recentemente a Guilda dos Batedores, apoiada pelo prefeito Guss Nossin, estivera tentando trazer grupos de aventureiros para Gorendill, contando com seus serviços para restaurar a ordem nas proximidades da cidade, onde diversos problemas acumularam-se com o passar dos anos. Sua esperança era de, tendo contornado as situações mais gritantes, Gorendill poderia mais uma vez voltar a crescer e tornar-se uma terra de oportunidades novamente.
Como mencionado anteriormente, o pragmatismo também possuía seus agentes. O antigo conselho da cidade, dissolvido pelo prefeito anos antes começa a ganhar cada mais apoiadores entre a população comum, conquistando sua confiança com a promessa de que um futuro sem ambição é um futuro seguro. Atualmente Gorendill é uma cidade dividida, onde parte de seus habitantes anseia pelo novo e a outra parte o rejeita com todas as forças. Mesmo que ainda não entendam muito sobre a situação, os aventureiros a bordo da balsa haviam atendido ao chamado do prefeito, proclamado por diversas cidades através do reinado. Mas ainda que conseguisse ter chamado atenção, os resultados não foram tão promissores quanto se acreditava a princípio. Poucos haviam atendido ao chamado, de modo que ficava claro que a maioria deles já achava aquela uma causa perdida. Talvez fosse apenas má sorte, ou os boatos desencorajadores espalhados pelos agentes do conselho.
Conforme a face de Azgher ergue-se cada vez mais alto nos céus, a velha embarcação continua a navegar rio abaixo, trazendo heróis que, apesar de terem iniciado suas jornadas por diferentes motivações, compartilhavam entre si uma sede por aventura. O condutor da balsa era Hurimm, um anão já velho, com as mãos calejadas por anos de trabalho duro e portando um eterno olhar de poucos amigos. Nas raras vezes em que não estava em completo silêncio, o ancião resmungava sobre tudo a seu redor, inclusive, segundo suas próprias palavras: "a quantia miserável de tibares" que o haviam pago para executar aquela viagem. O único outro passageiro além dos heróis era Áster, um elfo bardo de olhos vivazes e risada fácil, mas que não calara o boca desde que revelara-se como guia do grupo no dia anterior.
- Hahahaha! - Gargalhava o bardo. - Mas que modos são estes, Hurimm? Estes bravos heróis ofereceram-se para ouvir a causa do nobre prefeito!
O anão limitou-se simplesmente a resmungar uma blasfêmia contra Heredrimm e voltou seu olhar para o caminho a frente.
- Não liguem para ele, companheiros! - Disse ele antes de puxar seu alaúde. - Muito bem! Já que estaremos trabalhando juntos de agora em diante... A quem devo a honra de conhecer? Que motivações levam tão distintos heróis à cidade de Gorendill?
Hurimm e Áster