Capítulo 1: Riquezas além da imaginação
Eles eram cinco: um golem a serviço de Tanna-Toh, um qareen veterano dos Mosqueteiros Imperiais, um guerreiro minotauro, um hynne feiticeiro e uma goblin ladina. Já estavam juntos há algum tempo e agora chegavam ali após receberem uma mensagem em Malpetrim.
E agora estavam ali. Não fora uma viagem tão difícil: partiram de navio de Malpetrim até a foz do Rio Kaerunir e subiram o mesmo até as Kenora em uma embarcação menor, própria para o tráfego fluvial. Tomaram um afluente perto das montanhas para chegar ao ponto indicado no mapa que acompanhava a missiva. Por fim encontraram a cachoeira – como dito na carta, nenhuma porta era visível dali.“RIQUEZAS ALÉM DA IMAGINAÇÃO”
Saudações.
Eu e meu irmão, Altrius, somos pesquisadores na Universidade de Valkaria e investigamos ruínas envolvendo nosso material de estudo – um tema delicado que não posso tratar por carta. Entretanto meu irmão desapareceu há alguns dias e, sabendo de suas habilidades, um colega na Universidade apontou seus nomes. Ele me disse que seu grupo reúne a necessária dose de engenhosidade, habilidade, força, caráter e, principalmente, conhecimento para compreender e valorizar nosso trabalho, assim como a importância de resgatar meu irmão. Ao que sabemos, as ruínas conduzem a uma cidade perdida e envolve armadilhas, riscos ambientais e quem sabe que tipo de criaturas infestam tal lugar? Mortos-vivos? Aranhas gigantes? Poderei dar mais detalhes quando nos encontrarmos pessoalmente.
Aguardo-os nas ruínas em questão, em Petrinya. O mapa junto indica a posição precisa. A entrada fica sob uma cascata, dentro de uma gruta. Não é possível ver por fora, mas ao entrar há um grande portão duplo negro feito de adamante. Sim, vocês leram direito. Os antigos habitantes ergueram um portão duplo de adamante com seis metros de altura e cinco centímetros de espessura em cada folha. Já imaginem o que os espera.
Peço que não se demorem. A cada dia as chances de encontrar meu irmão vivo diminuem e tenho medo de que já seja tarde demais.
E lembrem-se: “riquezas além da imaginação”.
Cassia Uryah, Estagiária/Pesquisadora do Departamento de Sociologia da Universidade de Valkaria
P.S.: tragam esta carta como prova de sua identidade.
O Capitão Flint havia aceitado transportá-los, principalmente porque a rota comercial que normalmente fazia incluía boa parte daquele trajeto – ele subia o rio levando mercadorias obtidas dos portos litorâneos de Tapista até Ahlen para as várias vilas espalhadas dos dois lados da margem do Kaerunir até o interior da região dos Bosques. E ganhava bem por isso.Cap. Flint
– Bom, pelo seu mapa, é aqui. Vamos esperar só três dias, depois disso iremos embora. Então peço que se apressem e encontrem logo esse pesquisador.
O capitão descobriu que o mosqueteiro era um negociador tão duro quanto ele. Sorriu ao final da conversa.Flaurian de La Roux
– Ora, ora mis ami... Será que não seria eu capaz de conseguir um abrasivo desconto para nossa viagem? Permitam-me tentar...
Mas Flaurian era aventureiro, não lhe interessava o rotineiro trabalho de viajar sempre pelos mesmos portos e o rio, visitando sempre os mesmos lugares ano após ano.Cap. Flint
– Você é bom de pechincha, rapaz! Talvez devesse trabalhar pra mim! O que acha?
Era um pouco difícil chegar ao local: grandes paredões de pedra erguiam-se de cada lado do rio, não dando margem para caminhar, e a correnteza era bem forte. Foi preciso descer uma canoa e remar com força até a cascata. Todos se molharam bastante, mas por fim conseguiram ver a entrada da caverna logo atrás. Desceram em terra firme e avançaram, despedindo-se dos marinheiros que retornaram. Andaram poucos metros na escuridão quase total até verem o grande portão negro diante deles. Ele era de folha dupla e seis metros de altura, enorme e imponente. Sem dúvida era adamante, pela textura e aparência. Parecia pesada, mas abriu bem fácil. Tão logo passaram a porta se fechou e puderam ver como: no alto, preso a cada porta, um complexo mecanismo de roldanas e correntes permitia às portas abrirem com menor esforço, mas as mantinham fechadas quando não eram usadas.
O local por dentro era bem diferente: as paredes, o piso e até o teto eram todos de pedra talhada com detalhes em dourado – realmente brilhavam como ouro! Havia um curto corredor e um tipo de lâmpada de cada lado que jogava uma luz sobre dois jardins que estavam abandonados, ocupados por ervas daninhas, mas ainda vivos a despeito de não terem acesso à luz solar.
Logo adiante há outro portão. Este é de um amarelo escuro, algo entre o dourado do ouro e o vermelho do bronze. Logo acima há uma cabeça humanoide esculpida no mesmo material, com esferas azuis no lugar dos olhos. Parecem acompanhar os aventureiros enquanto estes se movem. Os portões se abrem sozinhos quando se aproximam. Veem-se então diante de um salão. No canto oposto há um poço por onde cai água proveniente de um canto – provavelmente da mesma fonte da cachoeira. É possível ver também uma corda atada a um suporte em uma das colunas.
Uma jovem está aquecendo-se em uma fogueira, mas ao ver vocês ela se ergue rápido e saca a espada.
Moça
– Já estão perto o suficiente! Quem são vocês?
Hadrianus
Hadrianus havia desistido de uma promissora carreira de gladiador para aceitar desafios mercenários pelo mundo e agora membro de uma guilda de aventureiros. A Guilda Naval Vlamingen não era uma guilda comum: não dava suporte financeiro, não fornecia missões, mas dava um teto para dormir em caso de necessidade em Malpetrim. O grupo passava por uma grande dificuldade financeira, mas Hadrianus se identificou com os ideais e fazia parte do bando com prazer.
O minotauro havia conhecido os outros quatro aventureiros durante a viagem de barco e havia trocado algumas palavras. O suficiente para dividir a cerveja e contar um pouco de si. Aprendeu também um pouco deles e adquiriu afeição aos pequenos Magus e Maya. Pareciam irmãos, se não fossem de raças diferentes. Enquanto a goblin era toda mal humorada, Magus era fascinado como uma criança ingênua. Hadrianus gostava de implicar com Maya e seu humor esquisito e de enganar o crédulo Magus com piadas e histórias exageradas.
Já os demais, Hadrianus não tinha muito contato. O golem era quieto, mas falava sempre que alguma pergunta era jogada ao ar, como um bom clérigo de Tanna-Toh. Dr. Nólege era um mistério, do tipo intelectual que nada tinha a ver com os interesses de Hadrianus.
O guerreiro sabia que encontraria desafios e combates mortais em sua carreira de herói aventureiro, mas não estava preparado - e temia nunca estar - para viagens de barco. Simplesmente as odiava. Passou boa parte da viagem enjoado ou bêbado.
Quando chegaram ao lugar determinado, Hadrianus achou que encontraria paz. Mas veio a pior parte da viagem! Teve que andar de canoa e ali não conseguiu manter o desjejum no estômago. Tonto, chegou à terra firme, mas nem tanto, e viu-se diante do portão de adamante. Então, ali começaria de fato a aventura.
O grupo adentrou o estranho ambiente que mostrava algum esmero. Um lugar maravilhoso e brilhante que fez Hadrianus perder um tempo observando. Foi quando tropeçou em algo e viu, num susto, uma bela jovem em frente a um poço. Ela parecia agitada. Hadrianus se pôs a frente dos demais, impulsivo como era.Hadrianus
– Finalmente um lugar agradável. Espero que vocês possam desfrutar disso como eu... Maya e Magus, lembrem do que combinamos: fiquem atrás de mim.
Hadrianus
– Ora, nós somos os aventureiros contratados. Eu sou Hadrianus, "O Imperador", como me chamavam nas arenas... ehehehe. Porque sou parecido fisicamente com o grande Imperador Aurakas. Hehehehe... – Hadrianus se gaba um pouco coçando o queixo. – Aqui está minha carta. Disseram que ela comprova que fomos contratados por... hmmm deve ser você, a tal Cassia Uryah, certo?
Flaurian de La Roux
Vira logo de cara um rival em Hadrianus. Era como ele: Um artista da batalha. Mas seguiram por caminhos diferentes. O minotauro parecia um detentor da força e da resistência, enquanto ele se apoiava na agilidade e na graça. Mesmo assim, se sentia apto a um combate mano a mano com ele. Assim que o vira, fez um cumprimento com a cabeça, um meio sorriso e pousou a mão no sabre. Um convite silencioso.Flaurian de La Roux
– Bonjour... É uma honra estar tal peculiar companhia...
Não encontrou muito espaço para fala apesar, pois o alegre Hynne falava por todos, mas apreciava tal energia. Dr. Nóledge o atraia simplesmente com sua existência. Era sábio sem ter um cérebro. Minérios e magia o moviam, fora a fé. Era impressionante como o mundo permitia que tudo e todos pudessem ter fé então se afeiçoou a ele.
Quanto a goblin... era difícil conter seu preconceito. Nobre. Artista. Vindo de familia, só conhecia os goblins pelos bandidinhos da favela dos quais ouvia falar volta e meia na corte. Nunca havia sequer encontrado um, mas já matara hobgoblins, uma versão maior deles então... Ao se deparar com o gênio ranzinza da pequena... foi difícil manter o sorriso.
Carta recebida, companheiros reunidos, a viagem foi regada a bebidas, risos e o grupo se conhecendo pouco a pouco. Nenhuma faísca com o minotauro, muito interesse no golem, risadas com o Hynne e uma educada distância da goblin. Quando finalmente chegaram ao navio, tendo seu seu trato social, a beleza imortal dos qareen e sua própria experiência com negociações, resolveu tentar uma pechincha com o capitão do navio, talvez em troca de dança e canto durante a viagem.
Era um soldado e um espadachim, claro... Mas sua vida toda apoiou-se em arte, acima de tudo.
E assim foram de canoa, depois caminharam, exploraram até finalmente chegar ao destino, onde uma bela e arisca dama os esperava. Ao contrário do que se espera, não era um paparicador do sexo oposto, tão pouco um mulherengo. Pensaria em casamento com a uma moça amada quando a hora chegasse e quando fosse um mestre de sua arte. Até lá, apenas a aventura importava.Flaurian de La Roux
– Sim, fiquem atrás de Hadrianus... Proteja-os meu caro, eu sigo a sua frente, assim, garanto também sua segurança... – Possuía certo desdém pelo minotauro também... a raça que levou seu rei. – Nólege, Marvelous – já disse que adoro esses nomes? – e... Maya... Por favor, onde nossas armas falharem, confio em vossa força para nos auxiliar. Em nossos curtos passos percorridos juntos, já me vejo ansioso de ver vossos talentos e ao mesmo tempo seguro deles...
Flaurian de La Roux
– É como o Imperador aqui disse... Estamos aqui como desbravadores, protetores, guerreiros e heróis. Nossas habilidades estão a serviço da descoberta, mon cherry. Eis minha carta também.
Dr. Nólege
A verdade está nos detalhes. Dr. Nólege passou a maior parte da viagem de barco observando, andando pelo tablado com as mãos recolhidas e entrelaçadas nas costas, corpo inclinado como um humano idoso. Essas características adquiridas eram apenas um arremedo de seu criador, mas que se tornaram hábitos irrepreensíveis.
Dr. Nólege observava a tripulação, as estrelas, as nuvens, o sol, a lua, o mar, o barco, mas principalmente seus parceiros de missão. A carta que recebera era trivial, continha informações considerando conhecimento prévio do destinatário. Por um mero acaso, o nativo de Terápolis havia estudado sobre aventureiros e seus costumes.
Via no minotauro Hadrianus um guerreiro garboso, força bruta, mas de sorriso fácil. Na goblin Maya uma mulher inteligente, de raciocínio rápido, mas com um problema social similar ao do próprio Dr. Nólege: incapaz de perceber as motivações das pessoas e, com isso, não compreendia os humores. O golem, entretanto, diferente do mau humor da goblin, preferia reagir no silêncio e na observação. Havia muito o que aprender.
Marvelous Magus era um hynne. Havia poucos em Terápolis e todos apresentavam características únicas, que os diferiam do padrão de sua raça. Por isso, Dr. Nólege ficou surpreso com tamanha agitação do pequenino. A única característica comum aos hynnes que conhecia era a curiosidade. Mas não havia método científico ali, apenas uma curiosidade ingênua.
Já o qareen Flaurian de La Roux apresentava modos típicos da cidade. Diferente dos demais, ele demonstrava cálculo em todos seus movimentos. Era como se fosse um personagem de uma peça teatral, um verdadeiro artista. Além disso, vivia do passado. Saíra de sua organização militar pró Thormy Pruss após sua queda. Era um combatente como Hadrianus e logo uma faísca de rivalidade pôde ser percebida por Dr. Nólege. Um instinto primitivo - geralmente manifestado em machos das espécies animais - de competição para determinar o "alfa" do bando. Fascinante.
***
O grupo logo chegou ao seu destino, numa espécie de gruta com marcas civilizacionais. Dr. Nólege ponderou e elucubrou uma ou duas teorias sobre o povo que poderia ter construído aquilo, uma ou outra motivação e aplicou métodos para o entendimento. Mas como ninguém perguntou, ficou em seu canto, com o rosto oculto pelo capuz. Um hábito que adquirira desde que chegara a Arton.
Logo, encontraram uma mulher perto do famoso poço. Hadrianus e Flaurian se puseram à frente para a disputa da liderança daquela sociedade de raças distintas em que não havia nenhum humano.
Dr. Nólege não era de falar, mas não queria dizer que se omitia de seus gestos. Apresentou imediatamente sua carta, conforme o minotauro e o qareen.
Dr. Nólege
– Eu sou o doutor Nólege, clérigo de Tanna-Toh.
Marvelous Magus
Aquela uma oportunidade fantástica, fascinante e fabulosa. A carta que havia recebido o convidava para para um aventura para resgatar um senhor das profundezas das terra, perdido nos emaranhados do desespero final. Mas como saberiam de sua existência? Certamente ficaram sabendo de seus feitos recentes. Como se não se bastasse tanta animação, ficou extasiado quando descobriu que iria viajar de barco e ainda por cima, com companheiros tão interessantes. Para que não se entediassem com a viagem então, ele ele falava sobre as coisas e perguntava sobre as coisas. O homem de lata era o melhor de todos... Não falava muito, mas parecia ter a resposta para quase tudo. Hadrianus não parecia muito bem durante o percurso, sempre enjoado e insistia em beber.
Marvelous Magus
– Sabe, senhor Hadriannus, acho que isso não está ajudando muito...
Quando finalmente chegaram, o hynne mexeu em suas vezes a procura de sua bolsinha de dinheiro, contou e entregou a quantia necessária para pagar por sua passagem. Desceram então até uma canoa, em direção a caverna maldita.Hadrianus
– É isso mesmo, Magus, eu bebo porque me alivia do estresse. Burrp (arroto).
Quando finalmente desembarcaram, o hynne não escondeu um olhar de assombro perante o portão e seus mecanismos e então outro quando adentraram no local. Não demorou muito para encontrarem um poço e uma mulher, que estava desconfiada e pronta para espeta-los. O que ele não entendia era o motivo dela estar ali... Como os demais, se apresentou também, com sua carta em mãos.Marvelous Magus
– Qual será a primeira coisa que farão quando chegarem lá? Hein? Eu vou descer da canoa! Aha, viram, era uma piada!
Marvelous Magus
– Saudações, eu sou Marrrrrrrrveeeeeeelous Magus, O Feiticeiro!
Maya
A Goblin revisou seus equipamentos 3 vezes em um espaço de uma hora enquanto estava viajando. E esqueceu de verificar se tinha dinheiro para a passagem.
A Goblin respira fundo, estava irritada por ter sido obrigada a seguir aquela missão. No geral Maya recusaria tais missões, mas foi um pedido direto da Mestra da Guilda.
Os demais membros já eram conhecidos.
Hadrianus, um Gladiador Minotauro e forte. Não tinha problema em andar com ele, só esperava que aguentasse o tranco para que a Goblin aproveitasse alguma brecha.
Nólege, um Golem Divino é nosso principal Curandeiro. Sua proteção era sempre vital em uma batalha, Maya não podia deixar os outros esquecerem disso.
Flaurian era membro dos mosqueteiros, sem mosquetes, imperiais. Maya não tinha problema com ele, mas ele tinha com Maya, e só iria ignorar o preconceito do mesmo em nome da missão.
Magus era nosso conjurador Arcano, junto com Nólege era de vital importância proteger para que seu poder não fizesse falta. E foi a ele que Maya precisou recorrer.
Logo estavam em terra e Maya fazia uma última verificação em seus equipamentos.Maya
– Tanto trabalho em organizar minhas coisas e esqueci que o contratante não pagará as passagens.
Maya sempre fazia isso, em todo grupo era necessário ter alguém para manter o grupo andando e Maya preferia assim quando andavam em ruínas, e esperava que ninguém tivesse esquecido do que cada um era capaz ali.Maya
– Ok, quem lidera?