Theresa acordou sem enxergar seus arredores. Tentou mover os braços, e eles estavam presos por correntes. Tentou mover as pernas e viu que estavam como os braços. Uma coleira no pescoço completava a última corrente, garantindo que ela não podia escapar de onde quer que estivesse. Estava despida, nenhum de seus equipamentos ainda consigo. Mas não havia muito tempo para pensar naquilo. Não muito longe dela - imaginava por audição - duas vozes pareciam discutir em Goblinoide. Uma delas, mais grossa, claramente ameaçava a outra, sua voz mais alta. Após algum tempo, passos. Um dos dois que discutiam parecia ir embora. Apenas aqueles passos eram ouvidos por ela. Repentinamente, uma mão massiva segurava sua cabeça. A mão tinha garras. Pelo tamanho, Bugbear.
- Os trogloditas dizem não se lembrar, então você terá de dizer. Aonde estão os outros sobreviventes? Eu posso te torturar ou você pode me dar a resposta, ser marcada e enviada para o campo de trabalho de Urkkthrahr
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Ele falava em valkar, surpreendentemente claro e bom. A voz não transparecia emoção nenhuma. Se vendo sozinha, a maga começou à falar:
- O que vocês querem com eles? Já tomaram sua cidade, deixem eles em paz.
- A General não quer a cidade. Ela quer mais. E nós precisaremos de trabalhadores para isso. E há um procurado entre vocês. Um homem grande. Um guerreiro. Ele deve ser capturado
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Suspiro.
- Eu sempre começo pelos olhos. Olhos são os mais fáceis. Vocês dependem demais de visão. Os meus compatriotas também. Sem olhos, ficam perdidos. O rapaz que capturamos aguentou muito antes de falar de seu acampamento.
Rosnou algo em Goblinoide, e passos pequenos foram ouvidos por Theresa. Eles voltaram e entregaram algo para o Bugbear pelo barulho. Ela sentiu o ferro quente se aproximando de seu rosto. De seu olho esquerdo.
- Perguntarei novamente. Aonde eles estão?
A descrição que o bugbear dizia batia com Magnus. Ele nunca havia dito que estava em fuga, mas agora Theresa temia por sua vida. Sobrava para a maga tentar ganhar tempo.
- Não sei onde estão, passamos muito tempo longe dos sobreviventes, nem mesmo sei a quanto tempo permaneci desacordada.
Ela esperava que aquilo fosse suficiente.
- Você acha que está aqui a quanto tempo?
Ele murmurou, mas ainda parecia um trovão.
- Isso pode ser mais fácil. Me dê a localização. Me dê o nome do procurado. Eu sei que ele esteve com você. Eu te marcarei como minha escrava pessoal e estará livre da maior parte do sofrimento no campo de trabalho. Depois de alguns anos, pode até mesmo se tornar duyshidakk, quando pagar sua dívida de raça para com meu povo.
Ela não sabia o que responder. Desde a caverna sua mente havia sido apenas um constante blecaute.
- Desde a explosão daquela maldita adaga não me lembro de nada. Pensei que tivesse morrido na caverna dos trogs, não sei nem mesmo se meus amigos saíram vivos.
Ela não queria dizer o nome de Magnus, mas precisava perguntar o que buscavam com ele. Qualquer informação era útil.
- O que Magnus fez a vocês pra se tornar procurado?
- Ahh... Mag'nus. Esse é o nome. Do homem requisitado pelos clérigos do Ayrrak.
Ele pareceu satisfeito por um segundo. Falava mais consigo mesmo do que com ela. Então voltou à focar na maga, o espeto de ferro incandescente voltando à se aproximar.
- E claramente se lembra da caverna. Aonde é a caverna? Me dê a localização.
- Olha, nem mesmo se quisesse eu poderia te ajudar. Eu não sou desse reino, nem mesmo sou de Arton. Mas espera, se não foi você quem me tirou da caverna como eu cheguei aqui?
Um tapa da gigantesca mão respondeu Theresa. Lábios se incharam enquanto ela cuspia sangue e sentia dois dentes se soltarem.
- Não é se quisesse. Você quer me ajudar. Para seu próprio bem. E se chegou até lá, sabe a localização aproximada. Me diga como era a região ao redor. Características geográficas. De que direção partiram de seu acampamento?
Por fim, mais uma pergunta.
- E... Não é de Arton? De onde é então? Cuidado com sua resposta. Na próxima que não me der algo útil, lhe farei escolher entre partes do corpo para perder. Posso te jogar aos soldados e deixar que se divirtam com você. Preciso apenas da sua língua para que fale. E você vai falar.
A disciplina em sua voz não traía emoções. Parecia mais um Hobgoblin do que um Bugbear daquele jeito. Theresa então ouviu um pequeno gemido ao seu lado, ao que o Bugbear finalmente rosnou:
- Quieta Gretta! Estou quase terminando.
O tapa a pegou de surpresa. A conversa corria de forma tão normal que ela havia esquecido até mesmo que era uma prisioneira. Aquilo havia à lembrado de sua posição:
- Não me lembro de muito. De onde venho não temos tantas florestas, era tudo muito igual, mas próximo da caverna haviam os corpos de nossos batedores coberto de cogumelos e achamos a mensagem de um tal Azaersi, é tudo o que me lembro do caminho.
Ela cuspiu um pouco de sangue, viu um dente saindo de sua boca e continuou:
- Eu venho de Skerry, planeta distante de Arton. Meus pais vieram daqui. Queria conhecer o mundo Natal deles.
Enquanto falava ela tentava ver quem era a tal de Gretta.
- Como eram as árvores? Seguiram à Norte, Noroeste ou Oeste do acampamento? E... Skerry... A General Azaersi gostará dessa informação.
A visão de Theresa pouco a pouco se acostumava com a escuridão, mas nada acima de silhuetas eram visíveis. Porém, a pequena silhueta ao lado de seu torturador parecia ser a tal Gretta. Pela forma, uma goblin, provavelmente idosa.
- Responda o que quero ouvir. Ou sofra as consequências. Será melhor vindo de você do que se os trogloditas recuperarem as memórias.
- Era mata fechada, as árvores cobriam o sol, e depois passamos por uma clareira onde achamos a mensagem. A direção exata não posso afirmar, estava tão fascinada com tudo aquilo que apenas segui a nossa guia.
O Bugbear suspirou.
- Enviarei mais batedores. Eu voltarei depois. Não serei tão piedoso. Se não tiver respostas concretas, irá se despedir de um olho. Fui claro? Gretta, por favor, limpe a sujeira. Não deixe nada, se puder.
Com passos largos, mas sem fazer barulho, ele foi embora. A goblin, Gretta, se aproximou da mulher com um pano, limpando primeiro o chão sujo de sangue e então o rosto da maga.
- Perdoe ele. - ela começou em sua voz esganiçada e idosa. Acendeu uma pequena lâmpada, e Theresa finalmente viu o local. Era o que parecia uma prisão improvisada, claramente dentro de uma barraca de comando. Ela estava dentro de uma jaula, nua e acorrentada. Haviam mais um prisioneiro em outra jaula. Um homem de pele clara tomada de marcas roxas e cortes. Um de seus olhos havia sido arrancado com violência, e ele parecia desmaiado. Havia uma cama do outro lado da barraca, assim como vários potes com produtos de cheiro estranho, provavelmente para limpeza.
- Perdoe Scarvinious. Ele não queria ter de fazer isso. Só dê a informação. Poupe vocês dois. - Ela dizia enquanto limpava os ferimentos de Theresa.
Theresa ficou aliviada quando o bugbear saiu da frente dela. Ela esperava que o resto do grupo tivesse levado os sobreviventes para outro lugar, mas agora precisava achar uma maneira de sair dali. Gretta pelo menos era mais simpática a primeira vista:
- É difícil pensar em perdão depois de tudo o que vi acontecendo em Phaendar.
Suspirou, rezando por seus aliados, e então falou:
- Gretta, você viu quando eu cheguei? Por quanto tempo fiquei desacordada?
- Humanos sempre fizeram pior com nosso povo sob a desculpa de aventuras antes da ascensão do Ayrrak. E Scarvinious sofreu mais do que você ou os outros humanos capturados.
Ela continuou limpando a mulher, e Theresa podia ver lágrimas nos olhos da goblin.
- Se ele encontrar seus amigos logo, será melhor para todos. Ou talvez um deles o liberte disso. Contanto que este Mag'nus seja capturado, tudo ficará bem. Você foi arrastada até aqui dois dias atrás. Esteve desacordada desde então. Parecia morta.
Theresa não sabia o que responder. Realmente, eram comuns as histórias de grupos de aventureiros que lutavam contra goblinoides como suas primeiras empreitadas. Eram histórias heróicas para eles. Ela nunca havia se perguntado como o outro lado era, e agora estava tendo a prova ao vivo. Vendo que Gretta parecia ser mais aberta a conversar, continuou:
- Quem é este Ayrrak que ouço tanto falar? Ele que ascendeu no lugar da morte no panteão?
Novamente o nome de Magnus surgiu na conversa. Ela precisava saber o porquê dele ser tão importante:
- Por que ele quer tanto o Magnus, o que ele fez com vocês?
- Eu... Eu não sei o que querem com seu amigo, mas foi o próprio Khorr'benn quem emitiu a grande busca por ele. Não é uma busca da Presa de Ferro, é uma busca de todos os Duyshidakk. O Ayrrak é o grande senhor. Nosso libertador e pai. Nosso protetor. Vocês o conhecem por Thwor, mas para nós, Duyshidakk, ele sempre será algo maior. E agora, ele o é para todos. Um dos grandes deuses.
Ela ia começar à dizer mais uma coisa, mas um grito a interrompeu:
- SE AFASTE DA HUMANA VERME! OU IREI ENFORCÁ-LA COM SUAS PRÓPRIAS TRIPAS QUANDO ME LIBERTAR!
Era do homem na outra jaula. Ao ouvi-lo gritar, Gretta deu um salto, pegou suas coisas e saiu dali, levando consigo a única luz e colocando Theresa novamente na escuridão.
- Você está bem? - o homem na outra jaula começou. - Eles não te mutilaram ainda não é? Não se preocupe, logo meu comandante irá chegar. Eles não vão nos abandonar. Ele está vindo. Qual seu nome amiga?
Quase não parecia o homem que segundos atrás vociferava de ódio.
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Haviam conseguido as cavernas, mas haviam perdido Theresa. Quando desceram para o andar de baixo, encontraram salões esculpidos, quartos, móveis rudimentares. Era melhor do que podiam pedir. E estava completamente vazio. Sem sinal dos trogloditas. E sem sinal de Theresa.
Não demoraram muito para se estabelecer ali, e não muito tempo depois o resto dos refugiados foram chegando e se estabelecendo em seus novos lares. Com a falta de Theresa, a liderança parecia passar para Lanna, que se mostrava como a mais equilibrada entre os presentes. Não havia espaço mais destacado porém que o grande salão com portas duplas gigantescas esculpidas na pedra. Um símbolo híbrido entre o de Ragnar e Tenebra estava entalhado na mesma, mas não parecia haver forma de abrir a mesma. Havia um grande quarto, antes pertencente ao líder religioso de Ragnar daquela comunidade, agora tornado centro de comando.
Por dois dias, descansaram. Foi Aubrin, a patrulheira que antes servia de braço direito à Theresa, quem os interrompeu:
- Nossos batedores estão descobrindo aumento de movimento ao redor da área. Talvez tenhamos algumas semanas até que nos achem de fato apenas procurando. Mas nós conseguimos algo. - Ela puxou um mapa, o colocando sobre uma mesa de pedra que antes servia de altar. - Nós achamos o acampamento deles na floresta. É assim que estão nos buscando. Se neutralizarmos esse acampamento, eles perdem o avanço dentro da floresta e ficamos seguros por um bom tempo. Os prisioneiros capturados devem estar lá. Talvez... Talvez até mesmo Theresa.
Ela falava, com pouca esperança sobre o destino da maga.
Aqueles que estão nas cavernas, descrevam o que fizeram nos dois dias. Quem quiser procurar por pertences, armas e itens dos trogloditas pode fazer um teste de Percepção. Quem quiser ajudar na busca por passagens alternativas para as cavernas, para selar as mesmas ou conhecer rotas de fuga, pode fazer um teste de Percepção ou Sobrevivência. Quanto maior o resultado, melhores os achados de suas buscas. Próximo post Domingo, ou quando todos tiverem postado.