Wynn, 1412
Casa dos Maedoc, Valkaria.
Aldred acordou com dor de cabeça. Fazia uma semana desde a última vez que vira Lyane, provocando certa ansiedade. Queria agir, queria sair por aí, avisar aos governos, preparar um contra golpe. Se os puristas tomassem o poder de Yuden, teriam um grande poder para destruir o Reinado. Incontáveis mortes!
A semana foi dura. Aldred passou a fumar cigarros escondido, mas não bebia, não se rendera para a noite boêmia. Não sentia nenhum clima para se divertir. Aliás, fazia tempo que não tinha paciência para os deleites da vida mundana, desde o seus meses lutando contra o Império de Tauron, o relacionamento tempestuoso com Fenyra Hagar, o encontro com os puristas. Não viu ninguém: Ash, Fargrimm ou Jihad. Mesmo sabendo onde Ladon estava e tendo dividido com ele os momentos difíceis contra os puristas, não o procurou também. Não mandou notícias para sir Vladimir de Minsk, perdido em Yuden. Uma semana em isolamento, andando perdido por ruelas para fumar.
Até que acordou com dor de cabeça. E foi levantando-se brevemente da cama para perceber que ela estava sentada sobre ele. Era uma criança de mais ou menos doze anos, cabelos longos, loiros e olhos azuis brilhantes. Na verdade, tudo brilhava nela: o vestido branco com detalhes em azul, sua pele alva e até mesmo seu jeito indiferente,
blasé de alguma forma era brilhante.
Rainha Eterna
Chegou a hora, descendente. Você está pronto.
Maryanne
Pronto para o que?
Maryanne estava à porta do quarto do irmão e vinha lhe chamar para o almoço. Na verdade, queria conversar com ele. Animá-lo, provocá-lo, qualquer coisa para que saísse daquele estado de ansiedade e autodestruição. Sabia que ele começara o hábito de fumar, coisa que o pai deles havia desistido anos atrás porque fazia mal. O corpo ficava lento e menos resistente...
Maryanne havia passado uma semana bem diferente. Visitou sua amiga Millyan um dia, passeou com suas amigas e amigos pela Baixa Vila de Lena, foi ao teatro e até mesmo na Arena Imperial, na esperança de levar Aldred, que acabou recusando. Preocupava-se com o irmão, mas não deixava de viver uma vida leve. Os horrores dos puristas eram um pesadelo agora distante. Lyane poderia aparecer a qualquer momento com as más notícias, convocando-os para alguma missão, ou mesmo guerra. Mas qualquer pensamento nesse sentido era afastado por Maryanne.
Estando à porta do quarto do irmão, viu a criança, a Rainha Eterna, aquela quem os acompanha como uma maldição. Havia nitidamente algo importante acontecendo ali.
Aldred
É... pronto pra que?
Não fez menção de se levantar, não querendo interagir fisicamente com a criança sobre ele. Todavia, ela mesma se pôs de pé em sua cama e apontou para ele num grande gesto teatral.
Rainha Eterna
Para receber um pouco do meu poder dracônico, fazer a jornada.
Aldred coçou a barba intrigado. Maryanne não se furtou em se aproximar.
Maryanne
Mas já não temos? Não é esse nosso acordo? Não é por isso que nos atormenta? Quanto mais poderosos ficamos, mais você fica, não é isso?
Aldred não disse nada, olhou para a Rainha Eterna esperando uma resposta que já suspeitara há muito tempo. Se havia alguma expressão no rosto da criança espírito era o tédio. Mas mesmo assim, ela permitiu-se olhar para Maryanne e explicar algo que parecia muito óbvio.
Rainha Eterna
O acordo era para acompanhá-los, sim... fico mais forte quanto mais vocês melhoram como aventureiros, sim... porém, esse não é o meu poder que usam. É apenas o poder de vocês mesmo. Claro que há meu sangue em suas veias, mas é o seu sangue, querida descendente.
Aldred
Então, agora, eu vou aprender "técnicas" de dragão?
A criança se jogou no colo de Aldred fazendo-o grunhir. Ela tinha densidade, peso e presença. Era como uma criança de verdade.
A Rainha Eterna, então sorriu serena.
Rainha Eterna
"Técnicas", que bonitinho, descendente. É algo assim. Se for bem em sua jornada, vai aprender o meu poder ancestral, sentirá o corpo arder com o fogo dourado, e esse será um caminho sem volta. A partir disso, seu poder só crescerá e em breve chegará aonde poucos dos meus descendentes chegaram.
E então, seu sorriso sereno encheu-se de malícia. Aldred não entendia muito bem o que acontecia, mas sabia que devia tomar cuidado. Afinal, tudo isso está acontecendo porque ele aceitou o acordo em primeiro lugar.
Aldred
E você vai ficar livre de novo quando eu atingir esse poder aí, né? Mas você sabe o porquê do nosso acordo, não é? Eu tive que te impedir e...
A Rainha Eterna saiu de seu colo num salto delicado, pousando ao lado de Maryanne.
Rainha Eterna
Ele quer falar de acordos, descendente, veja se isso é justo. Você quer mudar o nosso acordo? Não pode!
Maryanne também fizera um acordo, anos atrás, antes de se tornar aventureira. Nem ela nem seu irmão sabiam do acordo um do outro. E eles nunca conversaram sobre isso, presumindo que era o mesmo... mas agora, ela tinha suas dúvidas. Aldred olhou para a irmã com a mesma dúvida.
***
Cyd, 1412
A caverna dos Dragões Dourados
A viagem até Portsmouth era empolgante. Aldred cavalgava em Atrevido sentindo adrenalina, afeiçoando-se com cada camponês, fazendeiro que encontrava no caminho. Deixava os cabelos revoltos ao vento da brisa, deixava a barba crescer selvagem e, principalmente, cavalgava por muito tempo sem camisa ou jaqueta, para pegar uma cor no sol escaldante do verão. Havia se libertado do torpor e confiado em Lyane.
Aldred viajava com a Rainha Eterna que, desde aquele dia em seu quarto, não sumira mais. Tinha assumido uma presença física e para quem perguntasse, era a filha de Aldred. O que era estranho, pois ele tinha apenas 25 anos e ela, mais ou menos 12 anos. Às vezes brincava que era sua irmã mais nova, mas disso a Rainha Eterna não gostava.
Rainha Eterna
Irmã, não. Filha.
Aldred ria e não entendia a diferença. Ele mesmo não gostava de chamá-la de irmã, mas fazia só para implicar. Afinal, isso lembrava de Maryanne, que ficou em Valkaria. Sua irmã parecia um pouco chateada com a resposta da Rainha Eterna por ela não poder participar dessa jornada.
Rainha Eterna
"Você não está pronta ainda".
Havia dito de maneira fria. Aldred não queria perder a oportunidade e aceitou a tal jornada.
Aldred
Então, eu vou para uma caverna? Putz, tinha que ser em Portsmouth? Apesar de Atrevido ser muito rápido, ainda é longe pra caralho, viu. Bom, devo retornar ainda antes do fim do verão.
Rainha Eterna
Este é apenas o primeiro teste, meu descendente. A sua jornada ainda tem outras etapas...
Aldred franziu o cenho.
Aldred
Por que não me fala logo tudo que tenho que fazer? São em outros lugares as outras etapas? Quantas etapas? Por que em Portsmouth?
Mas ela não respondeu. Nas próximas abordagens de Aldred sobre o assunto, ela ou ignorava ou se distraía com alguma outra conversa desimportante sobre seu palácio antigo.
A viagem porém, trouxe más notícias sobre o mundo. Uma colossal fenda abriu-se na divisa de Yuden e Deheon causando destruição de vilarejos fronteiriços e incontáveis mortes. Aldred não conseguia deixar de pensar que era em parte sua culpa, pois esse provavelmente era o plano dos puristas... e um deles havia escapado na batalha.
Rainha Eterna
Não foi culpa sua. Quem causou esse trágico evento foram os humanos, ninguém diferente.
Aldred aceitava aquelas palavras, mesmo achando às vezes enervante o fato da Rainha Eterna nunca se referir às pessoas como elas são. Sempre "humanos", "elfos", "anão", "qareen"... "descendente". Ela nunca o chamou pelo nome!
A caverna era grande e havia sinais de um acampamento antigo, ruínas de pedra tomadas pela vegetação. Aldred sentiu o coração bater mais forte a medida que entrava na escuridão.
Rainha Eterna
Foi aqui que meu descendente, seu ancestral fundou sua companhia mercenária. Foi nesta caverna que ele atingiu seu ápice de poder... depois, infelizmente, foi ladeira abaixo.
Aldred acendeu uma tocha e viu um interior de caverna bem grande, cheio de vestígios de uma organização militar. Havia até mesmo espadas e escudos enferrujados e um brasão. Os Dragões Dourados.
Aldred
Caralho... é Mark Maedoc. Meu tio-bisavô mais novo... um dos três Irmãos-Dragão.
Rainha Eterna
Ele não era nenhum dragão. Não como você pode ser.
Aldred
Hã... ok. O que eu faço? Vim aqui aprender sobre história? Dá pra ter feito isso em Valkaria...
Ele adorava implicar quando ela mostrava um raro sinal de brabeza. A Rainha, entretanto, não se deixou pilhar. Disse com serenidade:
Rainha Eterna
Eu consigo me conectar com todos os meus descendentes. Todos que possuem meu sangue maravilhoso. Mesmo os mortos, sabia? Eles deixam vestígios... traços de seus espíritos poderosos onde estiveram em seu ápice. Veja.
Havia uma espada cravada na parede. O aço estava todo deteriorado e o cabo em frangalhos.
Rainha Eterna
Pegue e sinta.
A criança fechou os olhos e reuniu as mãos em forma de concha. Uma esfera dourada surgiu iluminando o lugar ainda mais. Aldred arregalou os olhos. Era a primeira vez que via uma manifestação tão contundente dela. Apesar de titubear, ele tocou no cabo da espada. E sentiu.
Respirou como se inalasse o poder. Pequenos flocos de luz dourado surgiram ante a luz da esfera da Rainha Eterna, saindo do cabo da espada, sendo inalado por Aldred. E então, a luz da criança apagou e o ritual estava completo.
Aldred
Eu sinto... algo. Fraco, mas algo, lá no fundo...
A Rainha sorriu, mas dessa vez sem malícia alguma, era a primeira vez que a via sorrir genuinamente. Aldred sorriu também, feliz.
Quando saíram da caverna, foram abordados por mercenários.
Eram os Leões Vermelhos, que haviam ocupado aquele território há muitos anos, depois da retirada dos Dragões Dourados. Ameaçaram, queriam roubar e provavelmente usar a criança para motivos escusos. Aldred os combateu com ardor, se feriu muito, mas recebeu a ajuda da Rainha Eterna como distração e conseguiu fincar a katana nas costas do último sobrevivente.
Ferido, ele continuou a viagem sobre Atrevido.
***
Salizz, 1412
Casarão em Yuton, Salistick
Um mês de viagem de Portsmouth até Salistick. Aldred atravessou a perigosa região dos clãs bárbaros, palco de uma guerra contra Crânio Negro e seus asseclas da Tormenta: a União Púrpura. A despeito dos perigos, ele conseguiu escapar de grandes problemas. Viajou por florestas fechadas, lugares difíceis para Atrevido, mas que eram mais seguros. Encontrou algumas pessoas, sim, mas eram comerciantes estrangeiros. Deles, Aldred ouviu as notícias do mundo.
Aldred
Guerra? GUERRA? Yuden declarou GUERRA ao Reinado? PUTA QUE PARIU!
Aldred ainda passou algumas horas praguejando enfurecido. A Rainha Eterna cavalgava à sua frente na sela, não mostrava nenhum sinal de afetação.
Rainha Eterna
Humanos... não, todos os mortais civilizados ou não sempre guerreiam, descendente. Esta é apenas mais uma guerra que Arton terá de passar. Não foi a primeira, não será a última. Bem... esta parece que lembrará a Grande Batalha de Lamnor. Quem sabe?
Sua fala era de alguém curiosa com os eventos históricos, lembrava mais sua raça. Dragões dourados, afinal, eram conhecidos por serem estudiosos, ávidos amantes do conhecimento. Mas Aldred não ligava para nada disso no momento.
Aldred
É melhor eu desistir dessa jornada. Lyane deve ter mandado uma carta pra mim e eu tô aqui. Pior, Maryanne pode ter atendido ao chamado e ido sozinha... ela não é tão forte, ela...
Rainha Eterna
Você deve cumprir esta jornada, meu descendente. Você só poderá ajudar o mundo se for forte. Se voltar, terá tudo sido em vão... além disso, minha descendente é forte. Muito forte, viu? Só porque não está pronta AGORA, não quer dizer que não seja forte. Ela se cuida.
E então, como um raio, Aldred realizou de algo.
Aldred
Tu pode estar em dois lugares ao mesmo tempo! Me diga como ela tá!
A criança suspirou apontando para um casarão antigo no final da rua. Yuton era uma cidade grande, com ruas ladrilhadas e tomadas de carruagens e pessoas garbosas perfilando pelas calçadas.
Rainha Eterna
Não sei se percebeu, mas eu não sou mais apenas um espírito. Estou presente aqui. E somente aqui.
Não incomodava Maryanne, mas o acordo com ela mantinha-se de pé.
Aldred deixou Atrevido em um estábulo e foi até o casarão. A Rainha Eterna ficou na esquina de braços cruzados, chamando atenção pelas pessoas que andavam por ali. Era uma criança sozinha, descalça e de ar maduro demais para sua idade.
Aldred foi atendido por um senhor vestindo um colete preto sobre uma camisa de linho branca. Era um homem bem apessoado, com bigodes bem aparados e olhar esnobe.
Aldred
Vim falar com o mestre desta casa. Eu sou Aldred Castell Maedoc III aquele que mandou a carta... Vim comprar a casa. Ela foi de um parente meu, de anos atrás, o senhor...
Elias Hornby
Laenor Maedoc II, sim, sim. Entendo. Eu sou Elias Hornby. Entre, por favor.
Aldred entrou com sua jaqueta fechada, escondendo sua camisa de lutador e os símbolos. Sua katana também não estava consigo, mas com Atrevido. O casarão era de fato antigo, mas bem cuidado, com chão de taco, paredes revestidas com papel de parede de cores sóbrias. Havia uma lareira no primeiro andar e escadas centrais para o segundo andar dos quartos. Aldred analisou tudo rapidamente. Precisava ser convincente.
Aldred
Você conheceu algum dos meus parentes, senhor Hornby?
Elias Hornby
Não pessoalmente. Conheci as histórias... bem, não eram muito boas.
Aldred deu um sorriso sem graça. De fato, Laenor Maedoc II era um homem repulsivo, lascivo e dado às luxúrias. Dizem que teve incontáveis de bastardos e era cruel com empregados. Metido a aventureiro, fazia os outros morrerem por ele para protegê-lo em viagens perigosas. Mas a única coisa que era bom era enganar e iludir.
Aldred
De fato, Laenor II não era flor que se cheire... mas ele era assim porque foi rejeitado pelo avô, sabia? Laenor Maedoc, o primeiro, era seu avô. Um renomado médico... temo que sua história e reputação não tenham sobrevivido aos causos do seu neto. Uma pena.
Elias Hornby
Entendo... bem, recebi sua carta com os valores. Devo dizer que me impressionei... não esperava que o senhor fosse tão jovem.
Aldred
Bem, meu pai tem o mesmo nome que eu. Mas eu sou o Terceiro. Ele o segundo. Enfim, meu amigo, eu tenho um pouco de pressa. Minha carruagem está me esperando para outros compromissos. Veja, antes de firmarmos o contrato, preciso verificar os quartos.
O homem demonstrou um desagrado, mas aceitou levá-lo. Aldred o seguiu pelos cômodos até o quarto dos mestres. Era de Elias, mas já fora de Laenor II e também de seu avô, Laenor Maedoc, o irmão do meio, um dos Irmãos-Dragão.
Aldred tocou na mobília nova sobre um ambiente antigo. E então socou a parede.
Elias Hornby
O que está fazendo? Que absurdo!
Aldred não parou. Mais um soco na parede. Outro e outro. Elias a essa altura temia pela própria vida e saiu correndo.
Aldred
Trás a guarda toda, quero testar meus poderes...
Aldred sentiu-se estranho por falar tais coisas. Não parecia sua voz. Balançou a cabeça e continuou. Mais um soco e a parede abriu um enorme buraco. Por de trás da parede, dos tijolos e da armação da construção, havia uma caixa de madeira cheia de teias de aranha. Aldred resmungou a imundice e pegou a caixa. Abriu. Seu coração palpitando. Uma luz dourada brilhou no peito de Aldred, emanando com o colar dentro da caixa. Energias douradas como flocos surgiram ligando o colar com o coração de Aldred. Ele sentiu algo misturando-se a sua essência...
Aldred
Uuhhh... certo, certo... isso é poder. Poder. PODER.
A luz parou, os flocos de energia sumiram. Aldred estava satisfeito, sorridente e reparou melhor no colar... era um medalhão com um retrato desenhado. Um homem, uma mulher e um bebê. Aldred lembrou que Laenor Maedoc criou sua vida em Salistick depois de perder a esposa e o filho na viagem pelo Rio dos Deuses. Ali ele teria tido seu ápice quando resolveu tocar a vida, descrente dos deuses.
Rainha Eterna
Oh, mas ele devia crer em mim. Afinal, eu era uma deusa.
Cavalgavam para longe de Yuton. Aldred havia evitado a guarda e estava pensativo. Perdera a emoção da adrenalina de viajar numa jornada, pois realizara que era sobre poder. Ele buscava poder e começava a sentir algo diferente dentro de si. Será que esses rituais estavam lhe fazendo bem? Não comentou nada com a Rainha Eterna, pois ela tentaria seduzi-lo com suas palavras draconianas. Incerto, ele seguiu para norte. Haveria de atravessar Samburdia para chegar a Trebuck e cumprir o último ritual. Aquele que lhe daria plenos poderes dracônicos.
***
Luvitas, 1412
Floresta das Escamas Verdes.
Aldred estava barbudo, cabelos desgrenhados, imensos. Sua jaqueta não existia mais, sua camisa estava cheia de buracos. Sua katana e suas luvas de lutador eram seus únicos equipamentos. Perdera a mochila fazia uma semana. O saco de dormir, há mais de um mês, e dormia escondido em cavernas (quando não lutava contra ursos) ou no topo de árvores (apesar de já ter caído mais de três vezes, pois não tinha corda para se amarrar). Comia frutas, embora tenha passado mal por dias quando comeu coisas tóxicas. Havia caçado um esquilo uma vez.
A vida era um inferno verde na floresta dos dragões.
Aldred
Sabia que hoje é o meu aniversário? Tenho 26 anos agora. Um adulto feito, já começando a ficar velho já. Ó, já tenho um fio de barba branca. Acho que vou passar meus últimos dias de vida aqui nessa floresta... vou virar um ranger. Não, druida. Vou rezar pra Allihanna. ALLIHANNAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!
Gritou como se a Rainha Eterna não estivesse ali. A criança estava sentada em um tronco de árvore caído, arrancado da raiz como se fosse nada.
Rainha Eterna
Eu não tenho culpa se você não sabe achar o caminho. Esta floresta é, realmente, um espanto.
Dragão verde
Que bom que gosta da nossa floresta, pequena.
Era um dragão verde! Estava tão mesclado às árvores que nenhum dos dois havia reparado antes. Ele se aproximou ajeitando seu corpanzil entre as árvores. A Rainha Eterna o encarava com certo assombro, algo raro. Aldred estava deitado de costas e se sentou. Não tinha forças para ter medo.
Dragão verde
Tenho visto vocês dois por um bom tempo. Um mês e meio para ser mais exato. Apesar de ouvir suas conversas escandalosas aos meus ouvidos, não consegui entender muito bem... você é descendente dela? O que ela é? O que faz um humano que não sabe caçar, não sabe achar abrigo, não sabe se orientar pelas estrelas, em uma floresta conhecida por ser o lar de dragões verdes? Sério, estou muito curioso.
Aldred riu tresloucado.
Aldred
AHAHAHAAHAHAHAHAHAH EU NUNCA CONSEGUIREI SAIR DE SAMBURDIA!!! AHAHAHAHAHAHA JIHAD! JIHAD ME SALVA!!! AHAHAHAAHAHAH RAINHA VOCÊ MATOU SEU MAIS PODEROSO DESCENDENTE! AHAHAHAHAHA
A criança mantinha a postura, já recuperada pela presença inóspita do dragão verde.
Rainha Eterna
Eu sou a Rainha Eterna, um dragão dourado, deusa de Agadir... ou costumava ser. Estamos em uma jornada, caro primo. Somos primos, não é? Espécies, pelo menos. Dizem que os dragões metálicos são uma subespécie de dragões verdes.
Enquanto Aldred ria e chorava ao mesmo tempo, o dragão ajeitou-se debruçando-se sobre o chão, apoiando a cabeça sobre os braços. Estava bem perto da Rainha Eterna. Cheirou-a.
Dragão verde
Você não tem cheiro. Mistério. E para onde pretendiam ir?
Rainha Eterna
Trebuck. Mas meu descendente se perdeu há muito tempo. Parece que está perdendo a sanidade.
O dragão verde continuou observando a criança, como se esperasse que ela continuasse a falar.
Rainha Eterna
... er... pode nos ajudar?
Era difícil para ela fazer um pedido. Ela era uma rainha, uma deusa, e conversava com um reles dragão mundano. Aldred parou de rir e limpou as lágrimas. Arregalou os olhos e se deparou com o dragão. Era como se o visse pela primeira vez. Ele sacou sua katana.
Aldred
UM DRAGÃO! VOU TE PROTEGER, RAINHA! MINHA RAINHA! MINHA DEUSA!
E correu como se desse uma carga...
... mas o dragão verde apenas lhe deu um peteleco reptiliano e o derrubou inconsciente, fraco como estava.
Dragão verde
É, ele está louco.
Rainha Eterna
Por favor. Eu preciso. Dele. Vivo. São.
O dragão verde dedilhou o chão com suas garras.
Dragão verde
O que me dará em troca, "rainha"? Seu reino?
Rainha Eterna
Quando eu recuperar minha forma suprema, lembrarei de você... hã...
Veinakus
Veinakus.
Rainha Eterna
... Veinakus. Eu lembrarei de você e lhe recompensarei. Você não tem nada a perder levando duas pessoas para a fronteira de Trebuck. E muito a ganhar se eu conseguir o que quero.
O dragão meneou a cabeça reptiliana.
Veinakus
Está combinado,
Ro Daariv.
***
Weez, 1412
Rio dos Deuses
Aldred acordou certa vez em um navio, navegando no gigantesco Rio dos Deuses. Espreguiçou-se, pegou uma camisa puída e um espelho. Sua espada vivia colada em sua cintura, mais que um objeto, era parte de seu corpo. Pegou um facão, e começou a cuidar da aparência, de frente para um pequeno espelho.
Rainha Eterna
Finalmente. Dessa vez, que tal tirar toda a barba? Sinto saudades do seu queixo.
Ela disse sorrindo, algo raro. Aldred a ignorou. Passou a faca nos cabelos.
Rainha Eterna
Até quando vai continuar me ignorando? Uma semana já. Acha que vou sumir só por que me ignora?
Desde quando acordou numa colina, longe da Floresta das Escamas Verdes, Aldred decidira não falar mais com ela. Estava farto, sentia-se perdido, sentia-se cansado demais. Mas estava em um navio que iria para Trebuck. Iria para lá, mas não com objetivo de buscar poder, como a Rainha queria. Aldred objetivava ver seus parentes. Aproveitar a viagem e depois retornar.
Rainha Eterna
Você só está vivo por minha causa. Eu negociei com o dragão, garanti inclusive a vida de seu precioso cavalo.
Aldred agora começara a cortar a barba aos poucos.
Rainha Eterna
Eu te tornei aventureiro! Te dei propósito! O nosso acordo... você luta, você fica forte, eu fico mais forte...
Sua voz começava a fraquejar. Aldred tirava a barba ainda.
Rainha Eterna
Eu vou me comportar, descendente! Fale comigo!
A criança começava a chorar. Aldred bateu a faca na parede. Estava pronto.
Aldred
Você nunca me disse seu nome verdadeiro.
Ele disse com certa frieza, frente a uma criança chorando. Ela secou as lágrimas aos poucos.
Rainha Eterna
Esse é meu nome verdadeiro. Sempre foi. Existem outras versões... em outros idiomas...
Aldred
O nosso acordo. Você quer que eu te traga plenitude total de seus poderes. Mas eu fiquei pensando muito no inferno verde. Não... eu imaginava já há muito antes, mas eram pensamentos incompletos. Veja, você é um dragão. Dourado, é verdade, tem bondade no coração. Mas ainda assim um dragão. Dragões são seres territorialistas, orgulhosos e, sobretudo muito poderosos. Arton está cheio de criaturas poderosas e tal, como Sckhar. Você seria tipo Sckhar em poder, não é? Você vai fazer o bem? Você vai lutar contra a Tormenta? O que você vai fazer com todos os seus poderes? Vai usá-los para o bem, ou vai ser a rainha de Agadir de novo?
A criança secava as lágrimas e estava com semblante melancólico. Nada disse.
Aldred
Pois é. Eu não sei se devo te fortalecer. Sei que pra isso eu preciso me aposentar e tal, mas... sei lá. Talvez eu deva mesmo parar. Há uma guerra rolando, eu já vi as Guerras Táuricas, Valkaria cair, o Imperador-Rei Thormy capturado... foram dias muito difíceis e eu fui um espectador. Eu queria muito, na época, ter lutado. Meus pais não deixaram. Hahahaha, acho que sou mesmo um filhinho de papai e mamãe. Não sirvo pra guerras.
A criança voltava a chorar.
Aldred
Vou visitar meus parentes de novo. Ver como estão todos. Passar um, dois, três meses lá. Ou depois que o conflito acabar. Você tem que me seguir né? Desculpe fazê-la passar por isso.
Ela chorou e Aldred a acolheu carinhosamente.
***
Weez, 1412
Ducado de Castell, Trebuck.
O Ducado de Castell era uma região vasta. Uma planície com poucas colinas, uma grande floresta entrecortada por um riacho de nascente nas Montanhas Sanguinárias. De fato, a proximidade com o lar dos monstros fez com que a região fosse sempre preparada para as lutas. Soldados, guardas, cavaleiros, aventureiros eram comuns nas terras. Havia marcas, condados e algumas cidades pelo ducado. A "capital" era Castell, lar dos Maedoc desde 1314 quando Antenod Maedoc, o irmão mais velho dos Irmãos-Dragão, vassalo de Grevan Castell, casou-se com Cecília Castell.
Aldred cavalgava com Atrevido sentindo os ventos nos cabelos, o sol queimar o rosto. Lembrava de quando saíra de Valkaria, mas ao invés de adrenalina, sentia alívio. Placidez. A criança eternamente ligada à sua alma cavalgava atrás, segurando-o pela cintura com o rosto colado em suas costas. Não se falavam muito.
Aldred foi recebido pela guarda de Castell, onde foi comemorado. Perguntaram sobre quem era a criança.
Aldred
É filha de um amigo. Estou levando-a para conhecer o mundo.
A Rainha nada comentava. Apesar de visível, ainda era um espírito e não precisava comer ou beber. Então, durante a celebração de mais uma visita de Aldred, a Rainha Eterna ficava em um canto solitário, calada. Alexandra, Alycia e Althair, seus primos, raptaram Aldred da celebração solene, cheio de nobres pomposos para levá-lo a um churrasco a beira de um lago escondido.
Se divertiram bastante, tomaram banho no lago, beberam e a noite chegou. Acenderam uma fogueira para aquecer e contar histórias.
Althair
E teve aquela vez que enfrentei um babacão que se achava o foda só porque tinha uma gangue. Ele era um nobre e tinha uma gangue! Imagina isso. Dei um corretivo nele.
Althair era o mais novo, vinte e poucos anos. Estava começando suas aventuras como guerreiro.
Aldred
Isso foi em Samburdia, certo? É... espero não ter que pisar lá de novo. Urgh!
Alexandra
Já eu fui convidada para um torneio em um feudo lá de Deheon. Krast, se não me engano. Infelizmente não pude ir... era temporada de caça dos ogros das Sanguinárias. Tive que ficar e ajudar nas defesas. Este ano conseguimos evitar mortes.
Alexandra era uma cavaleira, uma paladina de Khalmyr e a mais velha e responsável. Regulava com a idade de Aldred.
Alycia
Ei, Aldred, a filha do teu amigo não quer se juntar a nós? Ela é tão triste e sozinha.
Alycia era a ranger, aquela soturna e idiossincrática irmã do meio. Ela notou o comportamento melancólico da criança Por se identificar com a criança.
Aldred
Ela? Ah, ela gosta de ficar só.
Ele disse tentando sorver o último gole do odre de vinho.
Alexandra
Pois ela perderá a chance de compreender melhor o mundo se ficar naquela carranca.
Althair
Ei, menininha, Aurora o seu nome, não é? Vem cá com a gente. Titio Althair conhece umas brincadeiras maneiras. Vem.
A Rainha Eterna lançou-lhe um olhar de desprezo tão grande que Althair sentiu-se ameaçado. Afastou-se confuso e em seguida, para livrar-se do sentimento ruim, pulou no lago para se lavar. Aldred franziu o cenho e se surpreendeu quando a criança se aproximou da fogueira. Parecia buscar o fogo para se esquentar, mas na verdade precisava ficar perto de Aldred para não minguar e sumir. Alycia havia captado algo.
Alycia
Mas então, Aldred... você soube da declaração de guerra, não é? O Reinado agora acaba de vez. E nós estamos tão distantes... o que veio fazer aqui? Duvido que seja pelo churrasco.
Aldred
Vim me afastar da guerra. Não fui feito pra ela... na verdade, não sei pra que fui feito. Estou querendo descobrir.
Alexandra
Bem, Aldred, acho que você já sabe pra que foi feito, não é? Você sempre soube. Quando veio aqui pela primeira vez com seu grupo, eu já tinha notado que nasceu para isso. Ser aventureiro, ajudar as pessoas. O pobre Lucien precisava de ajuda.
Aldred
Eu acho que passei boa parte dos últimos anos como uma marionete, sabe? Sendo levado para os lados de Arton seguindo o que outra pessoa queria...
Alycia
Não. Você não tava fazendo nada que não quisesse. Acredite, eu sei como é. Nossa família queria que eu fosse conselheira de Alexandra, uma dama de companhia, sei lá. Porra nenhuma que vou trajar um vestido!
Riram na fogueira. A Rainha mantinha-se quieta perto de Aldred, abraçando os joelhos.
Alexandra
Era para eu ser treinada na administração e etiqueta para governar Castell um dia. Até pode ser que eu herde isso tudo, mas eu quero agora é seguir minha vocação com Khalmyr. E você, Aldred, quer ser aventureiro sim. Nenhuma marionete seria tão feliz no que faz.
Aldred ponderou. Pegou o resto de uma linguiça e comeu. O silêncio foi quebrado com a chegada de Althair molhado.
Althair
Ei, você é o herdeiro de verdade, né Aldred? Seu avô é irmão mais velho do nosso avô... Aldred, o primeiro, né? Foi deserdado porque era feiticeiro. Veja que coisa louca, vê se isso é motivo. Hahaha. Melhor pra nós, né primo.
Deu um cutucão em Aldred enquanto se vestia.
Rainha Eterna
Ele descende do ramo mais forte. O sangue é mais forte nele do que em vocês.
Os quatro olharam confusos para a criança. Aldred queria enfiar a cabeça na terra. Ele se levantou puto da cara.
Aldred
Tá bom, chega dessa palhaçada. Essa menina aí é a fodendo Rainha Eterna. Isso mesmo que vocês ouviram, ela é a culpada de tudo, da nossa família, dos Maedoc, tudo. Ela anda comigo porque me usa! Me amaldiçoa! Ela quer ser um dragão de verdade de novo e fazer absolutamente nada com seus poderes, como não fez em Agadir! E acabou morta porque era muito cômoda!
Ela se levantou também irritada.
Rainha Eterna
Idiota ingrato! Você não quer desistir de ser aventureiro! Você tem medo dos perigos do mundo e me usa pra se esconder! Eu quero ser um dragão de novo sim, claro. Quero ser rainha de novo, é óbvio! Mas eu não te uso. Eu quero você do meu lado. Poderoso como eu! Idiotaaaaaaaaaaaaa!
Aldred ficou confuso, mas não mais do que Alexandra, Alycia e Althair. A criança saiu pisando firme na relva com seus pés descalços até sumir como um fantasma. Althair deu um berro alto, Alycia se assustou com o berro e Alexandra franziu o cenho.
***
Aldred estava no mausoléu dos Maedoc, uma cripta feita numa formação rochosa dentro das muralhas do castelo. Alexandra estava com ele.
Alexandra
Eu sei um pouco da história da Rainha Eterna e tal. Se o que você diz é verdade... acho que você deveria poder confiar nela.
Aldred observava as estátuas de Maedoc do passado, começou a massagear a têmpora.
Aldred
Se tu soubesse o que ela fez em Agadir, o acordo que fizemos, as circunstâncias... tu ficaria enojada.
Alexandra o encarou sério.
Alexandra
Aldred. Não sei o que aconteceu entre vocês, de acordo nenhum. Mas essa criança é a Rainha Eterna. Ela é um ser de luz, bondade e conhecimento. Arton só tem a ganhar com o retorno dela. Um dragão, certo, mas um dragão que está do nosso lado. E como ela disse ontem... ela o quer ao seu lado. Acho que vale a pena você rever isso.
E saiu deixando Aldred com a tocha iluminando o interior da cripta. Alguns minutos se passaram.
Aldred
Tá bom. O que eu tenho que fazer aqui pra atingir esse novo poder?
A Rainha Eterna surgiu das sombras com um sorriso lagrimejante.
Aurora
Me chama de Aurora. Eu gostei do nome... Aldred.
O jovem lutador sorriu de orelha a orelha. A abraçou.
Aldred
Rainha. Você será sempre minha Rainha.
A luz dourada brilhou do túmulo de Antenod Maedoc, seu bisavô, aquele que tinha o sangue mais forte. Aldred sentiu o coração bater mais rápido, a respiração pesar e dor de cabeça. Os flocos de energia dourado começaram a surgir da luz e se encaminharam para Aldred. Ele começou a suar. Suas veias começaram a saltar. Seus cabelos começaram a ficar ouriçados, ganhando uma coloração mais clara, beirando o dourado. Seus olhos, antes castanhos, agora desbotavam ao azul cintilante. Mas veio a dor no peito.
Aldred
Uuughhhhhh algo está... ERRADO!
A luz se desfez, a energia perdeu a conexão. Aldred voltou à sua aparência normal e caiu de lado. A recém nomeada Aurora o acudiu tentando levantá-lo.
Aldred
Que merda, não sinto nada... acho que não deu certo isso aqui.
Aldred tentou de novo tocar no túmulo de Antenod Maedoc, mas nada aconteceu. Porém...
"Aldred"
A voz de Aurora o chamava. Aldred virou-se e viu uma a silhueta da criança de doze anos brilhar. E então, uma transformação. Seu corpo alongou-se, ganhou formas. Seus cabelos cresceram um pouco mais e seu rosto afinou. Estava mais alta e mais madura.
Era uma adolescente, tinha algo em torno de dezesseis anos.
Aurora
Funcionou sim!
***
Pace, 1412
Serena, Deheon
A carta de Lyane chegara quando Aldred estava passando por Highter, a cidade flutuante presa numa corrente, em Bielefeld. Um mensageiro arcano, pago pela própria, o encontrara mesmo tão distante. Aldred seguia em Atrevido com a recém batizada Aurora em suas costas, o abraçando. Era uma menina maior e muito mais presente. A personalidade dela também mudara um pouco. Era mais brincalhona e tiradora de sarro.
Aurora
É uma cartinha de amor? Olha que fico com ciúmes, heim? Hahaha, to brincando.
Aldred deu um sorriso amarelo para o mensageiro, agradeceu e leu a carta imediatamente.
Aldred
Ela quer que eu vá pra Serena. Deve ser pra contar novidades. Bem... não sei onde fica. Vou voltar pra Valkaria.
Aurora
Isso mesmo, nada de se perder de novo. Acho que não aguento mais ver florestas, quando eu for um dragão de novo eu vou queimar Samburdia inteira!
Aldred balançou a cabeça, mas riu um pouco daquele espírito alegre. Era uma personalidade melhor do que a criança metida de antes.
Quando Aldred chegou a Bek'Ground, encontrou Maryanne montada em seu próprio cavalo.
Maryanne
Aldred! E... hã? Rainha?
Aurora
Eu mesma, a poderosa Rainha Eterna. Mas pode me chamar de Aurora. Foi Aldred quem me deu o nome. Eu gostei. Que cavalo bonito, Mary, qual o nome?
Maryanne
Nome? Hã... mas o que... Aurora? Hã? Aldred!
Aldred
Longa história, eu conto no caminho. Aliás, já que tu tá aqui, imagino que saiba que eu também estava. Mamãe, né? Bem, onde fica Serena? Nunca mais tento viajar sem saber pra onde to indo.
E assim os três se dirigiram para Serena.
Era um lugarejo fajuto, com absolutamente nada, só uma taverna digna de nota. Era o meio da tarde quando os três chegaram.
Aurora
Que lugar sem graça. Vou dar uma volta por aí.
Maryanne
O que? Espere!
Mas a Rainha Eterna/Aurora, não lhe deu ouvidos. Saltou do cavalo e correu descalça procurando alguma coisa por ali.
Aldred
Agora ela pode ficar um pouco distante. Não se preocupe, ainda é um espírito... mas agora é visível.
A viagem até Serena foi esclarecedora para Maryanne. Ficou espantada com as histórias em Portsmouth, Samburdia, Salistick e Trebuck e concordou com Alexandra no que se tratava a Rainha Eterna. Porém, com ressalvas... que poderiam ser discutidas agora, na ausência dela.
Maryanne
Aldred, confio que ela tenha boas intenções, mas acho que ela pode ainda perder o controle. É muito poder... é muito sedutor. Você sabe o que aconteceu com nosso avó, né? Ele endoidou porque ficou indo atrás de poder o tempo todo. É coisa do nosso sangue de dragão. Do sangue dela.
Aldred
Eu sei, Maryanne, mas eu vou estar do lado dela sempre para impedir que ela perca o controle. E acho que tu também, pois a maldição continua em nós dois. Aliás, já te falei tudo sobre o que fiz, mas e você? O que fez esse tempo todo?
Maryanne
Ah, eu tinha decidido que ia treinar para ficar à sua altura. Hahaha, idiota, é. Eu sei. Fui até pro dojo do Satoshi... ele tá sumidaço ainda, nem os vizinhos sabem o paradeiro. Bem, fiquei lá, limpando pra que não ficasse entregue às traças. Treinei bastante e tal, mas percebi que não era pra mim. Eu não sou você, ou a Rainha Eterna, ou nosso avô. Eu não quero poder. Eu quero ficar bem e que as pessoas sejam felizes. Não sei se quero estar "pronta" pra essa jornada aí não.
Aldred entendia e ficava feliz. Ele mesmo se sentia cada vez mais sedento por poder e sabia que era o sangue de dragão falando. Mas sabia também que tinha o controle... ou pelo menos acreditava que sim.
Os dois cavalgaram pelo lugarejo, fazendo um perímetro, só observando o entorno da taverna. Aurora havia retornado e estava cansada. Dessa vez cavalgava com Maryanne.
Aurora
Senti sua falta, sabia?
Ao cair da noite, os três entraram na taverna e logo em seguida Jihad apareceu. Sim, Jihad.
Aldred
Jihad. JIHAD? JIHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD SEU DESGRAÇADO!!!!
O copo de cerveja caiu no chão. Aldred saltou da cadeira e agarrou o feiticeiro, erguendo-o do chão.
Aldred
Caralho, maluco!!!! Parece que não te vejo há anos!!!! Porra, tu não mudou nada! Eu já tenho um pelo branco na cara, putaquepariu!
Aldred o pôs no chão e puxou uma cadeira, apontando para Maryanne e Aurora.
Aldred
Essa é Maryanne, minha irmã.
Maryanne
Ooooiê.
Ela fez um gesto de V de vitória para ele, um pouco tímida.
Aldred
E essa é... adivinha, maluco! É a Rainha Eterna! Lembra que eu falei que era amaldiçoado e pa? Então, agora ela pode ser vista por todo mundo!
Aurora
Oi, eu atendo por Aurora agora, tá? E amaldiçoado? Pô, assim vão pensar que sou má.
Ela piscou um olho pra Jihad e mostrou a linguinha. Aldred praticamente forçou Jihad a sentar na cadeira.
Aldred
Putz, tanta coisa mudou, caralho. Pega uma cerveja aí. Ei, o que tu tá fazendo aqui, maluco??? Poooooorra, que coincidência do caralho!!!
Estava genuinamente feliz por rever o amigo que nem pensava mais em Lyane, guerras e coisa e tal...
Compro um cavalo leve para Maryanne (75 TO) do dinheiro dela.