A noite caía, e agora eles observavam o forte. Driel, com seus olhos treinados e sentidos aguçados, logo reparava que havia algo errado com o local. Um cheiro metálico era espalhado, claramente não natural. A construção com seus muralhas ainda íntegras havia mostrado passar o desafio do tempo, unindo as torres de vigia parcialmente derrubadas e mantendo o pátio protegido de invasores. Um fosso cercava o forte como uma medida extra de proteção, e um cheiro fétido saía do líquido escuro e sujo no fundo do mesmo. O grande portão de ferro estava completamente erguido, e a ponte levadiça permanentemente descida, com um buraco - que Driel e Brianna repararam ser recente - no meio, como se o peso de algo tivesse feito a madeira ceder. Mas não havia sinal de ninguém no fundo do poço. E do ponto aonde estavam, nenhum barulho podia ser ouvido.
E agora, sob a lua, eles encaravam a entrada do forte, aonde nem mesmo pássaros cantavam. Curioso.Algumas horas atrás, estavam na vila ainda. Os goblins derrotados não haviam sido dificeis de se convencer a abrir a boca e falar sobre o que haviam feito, demonstrando que sabiam falar a lingua comum.
- O que? Não, não comida. Aço! Sim, sim, ferro. Lâminas. Que cortam. O chefe pediu. Nóis só obedece o chefe Nargh. Lá no Forte. Sim sim. Não mata a gente.
O cheiro de urina havia feito Driel revirar o nariz sensível, e por fim haviam deixado os goblins irem. Um bando goblin era mais incômodo do que um goblin sozinho. O líder da vila não demorou em pedir para que os três fossem atrás do tal bando. Gaius havia sido rápido em questionar sobre o ladrão da vila, mas o moreau herdeiro do leão disse que ele mesmo lidaria com aquilo depois, e os goblins eram problema maior.
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Klaus
O moreau do gato foi rápido, e logo havia entrado na mesma passagem que o goblin havia minutos antes. Um túnel que parecia ir para sempre se estendia sob a vila, e logo Klaus passou a se arrastar pelo mesmo. Após cerca de uma hora, ele já sentia suas costas doendo. Malditos goblins e seus malditos túneis. Mas então veio o alçapão. Ele empurrou a madeira, e se viu em uma passagem oculta em um porão abandonado. Limpou as próprias roupas, levantando-se e estalando as costas logo depois. Não havia sinal do goblin. Klaus seguiu pela porta aberta, subindo uma série de degraus, reconhecendo a estrutura aonde estava como um torre de defesa. Poderia ser uma boa ideia subi-la até o fim para analisar a área.
Quando chegou ao topo, olhou para o lado e então viu o que deveria ser um guarda... Dormindo. Suspirou para si mesmo em alívio por não ter acordado e evitado mais peripécias. E então seu alívio acabou. No portão da frente, um grupo de seis figuras se aproximavam. Cinco delas eram criaturas estranhas cuja mera visão fez Klaus quase derrubar o que carregava, tomado por certo medo. Criaturas curvadas com uma placa metálica como um escudo corcunda nas costas. Pareciam um esqueleto feito de aço, os espaços entre os ossos preenchidos por mais aço e cabos estranhos que reluziam em um verde doentio. No crânio de aço conectado ao resto do corpo por vários cabos, um único olho - se é que podia ser chamado daquilo - brilhava verde com aspecto vítreo. Carregavam em suas mãos o que pareciam ser canos brilhantes também esverdeados, protegidos por camadas de aço. Instrumentos mágicos, talvez?
O que parecia ser um pequeno "pássaro" - não, não podia ser chamado disso - metálico os seguia. E então, havia a figura maior, que Klaus soube obviamente ser o líder. Uma figura imponente, facilmente superando três metros de altura. Na cabeça careca haviam marcas estranhas tatuadas. Na mandíbula inferior, aparatos metálicos que se estendiam às orelhas como uma placa de armadura que parecia ser parte do corpo. O que era visível do pescoço parecia totalmente metálico, mas o resto do corpo era coberto por uma larga casaca de aspecto estranho, quase líquido em suas ondulações. Os pés também eram claramente metálicos, incluindo os dedos. O homem parecia um golem, mas o rosto era inegavelmente humano. E na mão direita, uma machete, talvez a coisa mais familiar nele. Mas aprecia pesada, não natural, com linhas rubras percorrendo toda sua lâmina. A madeira podre da ponte quebrou sob um deles, mas ele pareceu não se importar, torcendo a perna de forma não natural e a rodando por cima do próprio corpo.
O "pássaro" metálico repentinamente voou em sua direção em uma velocidade que decididamente não era animal, fazendo um zunido estranho quando passou pela torre aonde estava, emitindo uma luz rubra da parte da frente. Fez o mesmo com todo o perímetro do forte, o rodeando, para então retornar aos seus metres. Klaus suava frio agora. O que diabos estava acontecendo ali?
E então, o kobold atrás de si acordou. Ótimo, o barulho daquele pássaro havia o acordado. O kobold o olhou assustado por um segundo, antes de se erguer assustado e tentar alcançar a besta que parecia esconder atrás de si. Mas Klaus era mais rápido que ele. Só precisava decidir o que fazer.
A Iniciativa é de Klaus.