Livro I: Os Heróis da Vila
Parte I: Cáspia
Nova Ghondriann, 11/10/1410, Morag
O dia amanhece sobre a Vila de Cáspia. Os camponeses já saíram para arar as terras, os pescadores lançam-se aos rios e os caçadores embrenham-se nas matas. Um dia corriqueiro, como qualquer outro.Cáspia
Mas há certa expectativa no ar. Porque no dia 14, Aztag, o dia do fogo, será celebrado o 46º aniversário dos Ahggros, o clube juvenil tradicional da Vila. Na verdade o aniversário não tem uma data fixa, sendo celebrado sempre no Primeiro Escudo Pleno de Lunaluz, justamente no dia que é dito que ninguém morre – e onde os ahggros aproveitam pra fazer as maiores loucuras possíveis, desafiando uns aos outros ao perigo, para horror dos pais (que muitas vezes fizeram a mesma coisa quando novos).
Althair Maedoc
Althair acordou cedo em seu quarto na Mansão Galvão. Desceu à cozinha para comer algo e foi recepcionado pela governanta.
Sentou-se e fez seu desjejum. Hoje tinha o dia livre, estava de folga. Tão logo terminou saiu para passear pela Vila e achou por bem visitar alguns amigos. Encontrou um rapaz na Praça Central. Era Gildartz Gören, um guarda que ele conhecera nos primeiros dias em Cárpia e também estava de folga naquele dia.Governanta Karlya
– Bom dia, sr. Maedoc. O café já está pronto.
Gildartz Gören
– E aí, Al? Que é que vai ser da gente hoje?
Evanlynne
Evanlynne terminava de tomar seu café da manhã na Fada Dançarina. Um homem baixo e barbudo saiu de um quarto com um sorriso cortando a face e pouco depois uma pequena fadinha saiu do mesmo cômodo, meio trôpega.
Ela voou em zigue-zague até pousar na mesa da meia-elfa.Bella
– Ai... minha cabeça dói... oi, Evinha.
Falava com lentidão. Com um gesto simples fez surgir um copo menor que um dedal em sua mão e com outro fez a jarra virar-se e derramar a bebida quente no recipiente, com um cuidado impressionante.Bella
– Tem café aí? Que ótimo.
Bebeu tudo de um gole só e saracoteou as asas, emitindo um pó brilhante que caiu sobre o tampo e rapidamente desapareceu. Então abriu um sorriso e arregalou os olhos. Mudara completamente.Bella
– Sempre tenha Pequenos Desejos à mão para essas coisas, Evinha. Lição da tia.
Uma moça entrou na estalagem. Elegante, bonita, bem vestida. A Rainha dos Ahggros, Rosa Marahno.Bella
– Uhu! Isso sim é bebida! Néctar dos deuses! Nem a Árvore do Céu tem coisa melhor – mas não deixe Sua Majestade ouvir isso ou vai transformar todo o café do mundo em mijo de vaca.
Sem cerimônia ela senta-se na mesa.Rosa Marahno
– Bom dia, Eva! Ó, e bom dia Dona Bella!
Ela falava do aniversário dos Ahggro que seria celebrado em quatro dias. Era um evento importante e todos eram convidados – mesmo pessoas que não faziam parte do clube podiam comparecer à parte pública da festa, mas haveria uma celebração restrita depois.Rosa Marahno
– E então, Eva? Pronta pra festa? Vai levar alguém?
Groop da Natureza
Groop acordou subitamente. Dormia como um macaco no alto de uma árvore, em um galho forte e grosso. Olhou ao redor por um instante, notando o sol começando a surgir entre as folhagens, e voltou a fechar os olhos. Podia se permitir dormir mais um pouco, mas logo precisaria arrumar comida.
Praguejou pensando nos malditos garotos humanos que na noite anterior o incomodaram com sua barulheira, correndo com cavalos perto da floresta e depois se embrenhando com suas fêmeas para procriarem. Groop sabia que esses pirralhos chamavam a si mesmos “agros” ou algo do tipo. Eram um pé no saco, isso sim, incomodando os animais e a paz da floresta. Mas era melhor tolerá-los – não costumavam incomodá-lo diretamente, embora na primeira vez que se encontraram eles o tivessem confundido mesmo com um bicho e o provocado. Isso mudou quando ele praguejou contra eles – os moleques fugiram correndo.
Ouviu um som leve abaixo dele e praguejou em silêncio novamente. Aqueles moleques voltavam para incomodá-lo. Preparava-se para saltar no meio deles e lhes dar um susto daqueles quando notou que não eram humanos. O cheiro era diferente, o caminhar era diferente. Então ouviu as vozinhas esganiçadas – não era valkar nem goblinoide.
Levantou-se rápida, mas silenciosamente e olhou para baixo. A folhagem alta movia-se, mas ele pode entrever. Avançavam em fila indiana, bocejando e fazendo aquele som que pareciam pequenos latidos de um filhote de cachorro.
Kobolds.
Não deveria haver kobolds naquela região, Groop sabia. Os humanos da selva que também não gostavam dele, mas gostavam menos ainda dos humanos branquelos da cidade, haviam dito que por ali só havia mesmo animais selvagens e gente. Ele mesmo ainda não tinha certeza, pois estava conhecendo aquelas terras ainda – era um recém-chegado.
Os kobolds não pareciam tê-lo notado e o goblin bem poderia deixa-los seguir seu curso e cuidar da própria vida. Era algo que precisava decidir.
Henrique Maxwell Jr.
E com alguns gestos simples Crona desapareceu. Henrique não fazia a menor ideia de onde ficava aquele lugar – nem mesmo conseguia pronunciar a palavra direito – sua avó apenas havia lhe dito que ficava em Lamnor. Mas não era incomum que a velha maga viajasse para algum lugar estranho. O povo da Vila acreditava que era uma mulher reclusa, cansada da vida, mas Henrique sabia muito bem o quanto ela ausentava-se de casa em misteriosas viagens. Ela até se metia em aventuras, às vezes! E sempre voltava falando de outros mundos, lugares estranhos, monstros únicos. Frequentemente trazia algum material alquímico novo, o pedaço de alguma besta sobrenatural. Além de ouro, prata e outros artigos preciosos que guardava em um baú no porão que não tinha fundo.Crona
– E enquanto eu estiver em Teyukdttuguyzyz cuide de tudo por aqui, está bem? Tchau, Rick!
Era uma mulher muito inquieta, isso sim!
E ali estava Henrique Maxwell Jr., sozinho em casa. Algum adolescente normal poderia pensar em dar uma festa de arromba, mas o rapaz apenas suspirou. Havia combinado de tomar café com alguns amigos na Fada Dançarina e precisava se apressar. Não se preocupou em trancar a porta – aquela era uma vila tranquila onde as pessoas não temiam ladrões e qualquer um tolo o bastante para tentar roubar o lugar teria que se ver com as centenas de armadilhas e criaturas mágicas que o protegiam.
Desceu à Vila montado em seu cavalo e ostentando o chapéu de vaqueiro com a fita prateada que o identificava como um Ahggro. No caminho deparou-se com seu líder e melhor amigo: Cláudio Galvão, Capitão dos Ahggros. Com ele havia outras cinco pessoas: a Tenente Celestian Lolth e seu namorado, o Cavaleiro Kilt Gilgar, assim como o Tenente Thomaz Millstone e suas duas namoradas, as gêmeas Estela e Luna Phar. Estas duas não eram ahggros, mas sim Princesas da Corte. Todos ali compartilhavam o fato de serem os mais velhos entre os Ahggros, estando com dezenove anos e prestes a abandonar o grupo. Aqueles eram seus dias finais de irresponsabilidade e liberdade e havia certa melancolia no ar.
Cláudio abriu um largo sorriso e acenou. Juntos eles começaram a cavalgar lentamente até a estalagem. Rick sabia do que o amigo falava: a festa de aniversário dos Ahggros, que seria comemorada em algumas noites. Era um momento importante, um divisor de águas.Cláudio Galvão
– Bom dia, Rick! Pronto pra festa?
Todos se calaram por um instante e Estela, sentada na garupa do cavalo de Tom, apoiou a cabeça em suas costas.Ten. Thomaz Millstone
– É... esta será nossa última festa. E semana que vem eu faço aniversário...
Red
Red bocejou e espreguiçou-se. Não importava quanto tempo se passava, ainda não se acostumava com aquela cama dura – embora fosse melhor que dormir na rua.
Sentou na cama e olhou para a porta. No corredor havia o silêncio, mas ela tinha ouvido vozes. Um homem apareceu. Negro, alto, careca. O Xerife Clint Wayne trazia uma bandeja contendo um sanduíche e um copo com alguma coisa – Red notou que era gorad quente. Não era exatamente barato...
Com a mão livre destrancou e abriu a cela. Botou a bandeja sobre uma mesinha que havia ali dentro.Xerife Clint Wayne
– Levante, Red! Ó, já está de pé! Bom, bom.
A cadeia de Cárpia era um bom lugar. Limpo, bem cuidado – não era uma masmorra como em cidades maiores. Se não fosse pelas grades as celas iriam parecer quartos comuns. Havia muitos poucos crimes por aquelas bandas e a maioria dos presos eram bêbados e baderneiros que ficavam ali pra “passar a noite”. Uma vez a cada dois meses um clérigo de Khalmyr vinha para julgar os casos pendentes e a maioria dos réus esperava em suas casas mesmo – apenas não podiam sair da vila. Algumas situações nem iam para o Tribunal – o Xerife aplicava ele mesmo a punição (prisão, multa, advertência – ninguém se lembrava do Xerife usando sua arma alguma vez) e a vida seguia em frente. Era a justiça da estrada a qual o veterano paladino estava acostumado.
Saiu, deixando a porta escancarada.Xerife Clint Wayne
– Tome seu café e venha ter comigo no meu escritório, ok? Precisamos ter aquela conversa.
Off:
Começamos, então. Data de atualização é 17/02, domingo. Peço que postem até lá.
Se alguém não conseguir, jogarei a atualização para o próximo fim de semana. Lembrando que o ritmo deste PbF, pelo menos por enquanto, é semanal.
Personagens:
- Althair. PV(10) 10, PM(10) 10. T$ 40. PE 0.
- Evanlynne. PV(05) 05, PM(06) 06. T$ 00. PE 0.
- Groop. PV(05) 05, PM(15) 15. T$ 50. PE 0.
- Henrique. PV(10) 10, PM(20) 20. T$ 90. PE 0.
- Red. PV(05) 05, PM(05) 05. T$ 100. PE 0.