Parte 1: O Conselho de Gorendill
Outrora pequena e pacata, Gorendill havia experimentado um rápido crescimento comercial em dez anos. Novos empreendimentos, como o Conservatório Twilight do bardo Mordred, amigo pessoal de Luigi, o Sortudo; a famosa Taverna do Minotauro, gerenciada por Biggorn, um minotauro pacífico que não aderiu à dominação táurica; a Joalheria de Doherimm, onde o anão Orkimm dilapidava gemas exóticas, o Porto da Liberdade, onde muitas mercadorias de Ahlen e do Mar Negro circulam com baixos impostos. Hoje Gorendill é uma cidade de grande porte e desenvolvida.
Tudo isso se deu graças ao prefeito Guss Nossin, um homem já velho, mas com olhares brilhantes e ambiciosos. Após anos governando a cidade com mãos de ferro sem um conselho - prática comum no Reinado - o velho prefeito agora sente a pressão em seu entorno. Famílias burguesas queriam participação nas decisões da cidade, bem como algumas famílias nobres empobrecidas de outras regiões têm chegado ali para exigir espaço, usando a força de seus títulos.
Desse modo, um pacto foi feito. Nobres sem recursos, mas com títulos que podiam fazer uma pressão maior ao prefeito e burgueses ricos, mas sem a legitimidade do Reinado para tomar decisões políticas. O próprio Guss Nossin não era um aristocrata, alguém que ascendeu ao poder em manobras políticas em um espaço que não havia nenhum nobre para impor sua força. Um lugar esquecido por todos, mas que ele colocou no mapa de Deheon.
Agora, Guss não consegue mais impedir as investidas dos nobres e burgueses da região e foi obrigado a convocar um novo conselho. Haveria, então, um evento festivo que daria força de autoridade aos novos conselheiros, todos de famílias nobres sem muita importância de Ahlen, de Deheon e Tyrondir. Mas todos sabiam, eles estavam financiados pelos burgueses. Estavam casados com filhas e filhos das ricas famílias empreendedoras e tinham agora pequenos contingentes de soldados contratados pelo dinheiro e não apenas pela força da lei da vassalagem.
O evento ocorrerá no antigo prédio do Conselho, que estava abandonado às traças, onde mendigos moravam há anos. Agora ele fora limpo e reformado para o encontro dos novos conselheiros que fariam uma festa e uma apresentação oficial ao povo - que faria sua própria festa do lado de fora, nos arredores do prédio.
Sir John Lessard
John cavalgava sobre "Sortuda" pela estrada de Deheon em um campo aberto com algumas colinas longínquas no horizonte, fazendo sobra a uma massa florestal. Ali, sabia, eram as Montanhas Teldiskan, uma cordilheira das Montanhas Uivantes que adentravam no reino de Deheon. O céu estava límpido, mas Azgher era clemente com um calor abençoado. As noites estavam começando a ficar mais longas e mais frias, anuncio do outono.
Após se envolver em uma querela militar em uma região ao norte de Valkaria, John Lessard partiu para continuar suas viagens busca de alguma injustiça para ser corrigida. Queria emprestar sua espada a quem não podia se defender, ser um bastião de luz para aqueles que perderam há muito a esperança de uma vida melhor e derrotar vilões, tiranos e monstros que insistiam em espalhar o mal, espreitando as sombras.
Porém, enquanto ainda viajava pela estrada de Deheon, viu ao longe uma comitiva se aproximar. Eram quatro cavaleiros ostentando as cores e o símbolo dos Lessard de Karst. Estreitando os olhos, John reconheceu seu irmão Aaron. Os cavaleiros que o circulavam eram todos juramentados aos Lessard e sustentavam olhares sérios. Aaron, entretanto, estava sorridente. O sorriso daqueles de quem pediriam um favor.
Começou seu irmão, explicando que não fora difícil encontrar seu paradeiro depois de seus feitos em outro condado. Sem rodeios, Aaon contou a que veio. Gorendill voltaria a ter um conselho formado por famílias nobres e a Casa Lessard tinha grande interesse em estender suas relações com aquelas terras, pois era um dos maiores portos do Rio do Panteão, uma das cidades mais influentes do reino. Atualmente, entretanto, os Lessard não tinham como fixar um conselheiro em Gorendill, mas podia entender como funciona a política da região, quem eram os nobres, quem estava por trás deles e, principalmente, criar relações amigáveis. Aaron gostaria de enviar o próprio John mesmo para entrar em contato com sir Edward Russen, um cavaleiro juramentado de um dos conselheiros, Yohan Paladir. Entendendo que o irmão queria ser um aventureiro, Aaron não pediu que juramentasse sua espada, mas apenas criar laços e entender a região.
Meu irmão, folgo em alegria ao vê-lo bem e forte.
Perguntado sobre porque o próprio Aaron ir ao seu encontro, se arriscar em uma longa viagem para passar o recado, a resposta foi simples.
Precisava vê-lo com meus próprios olhos, confirmar que estava bem e vivo. Além do mais, acredito que uma ordem de importância deva ser dada mirando os olhos.
- ***
Apella Moore
O céu espalhava-se rosa no horizonte, onde fezes no formado de nuvens tentavam esconder o sol - que possuía um rosto de um bebê no centro. Mas era apenas um dos sonhos de Apella. Na verdade, o cheiro de sujeira vinha do lugar onde estava, um quarto enorme, digno de nobres. As paredes eram de um papel de parede rosa com detalhes em verde e dourado. A cama tinha quatro pilares que sustentavam uma tela. Mas o que chamava atenção era o berço. Uma criança estava ali, de pé, brincando com um chocalho barulhento. No chão havia um tapete ricamente adornado e as janelas eram enormes, de vidro e estavam abertas.
Espalhados pelo chão, havia uma dezena de corpos nus, de homens e mulheres. Mortos, com sangue, urina e fezes espalhados nas paredes e no teto. Apella estava na cama entre dois homens bonitos com cabelos e barba impecavelmente cortados e aparados. Tinham cortes profundos em suas gargantas e foi quando a jovem sacerdotisa do caos notou: estava manchada de sangue dos pés à cabeça, pois o colchão de penas de ganso estava encharcado.
Nenhuma memória sobre aquilo vinha a mente. Exceto, talvez, de como as coisas começaram a acontecer.
Apella chegara a Gorendill, uma grande cidade portuária no extremo oeste de Deheon. Um lugar frio devido à proximidade com as Montanhas Uivantes e cheio de lojas, templos, tavernas e espaços onde bardos faziam suas apresentações. Uma "mini-Valkaria", se podia ser tão ousada. Mas o que lhe chamou atenção foi a movimentação na praça principal. Um homem altivo, com cabelo bem cortado e barba delimitada, em roupas militares condecoradas clamava o retorno da lei a Gorendill. O retorno do Conselho da Cidade. Não precisou de muito para Apella entender a situação da cidade: O prefeito havia dissolvido o conselho há 10 anos e resolveu retornar com ele após a pressão de algumas famílias de nobres sem terras.
Os olhares do homem em roupas militares e os de Apella se cruzaram e não demorou muito para estarem juntos. Ela recebera o convite para uma festa em sua casa e logo descobriu que havia uma parte "íntima" da festa, só para os chegados. A beleza da jovem sacerdotisa foi seu convite de entrada e após isso, uma orgia cheia de simbologia caótica, entorpecentes, bebidas e luxúria. Apella percebeu que ali estavam cultuando Nimb sem mesmo saber.
O militar - seu nome era Tom Galahad - que abraçava o outro homem, Yohan Paladir que era um nobre a presidir o novo Conselho da Cidade.
Disse Tom, abrindo os olhos lentamente. O sangue sumira completamente. Todo sangue e a sujeira desaparecera do quarto, restando os corpos nus de uma noite de devassidão.
Acordou, flor de lis?
Disse Yohan levantando-se rapidamente. Seu corpo esbelto parecia uma escultura. Ele logo pegou suas roupas e saiu dali apressado. Tom tocou sua campainha sobre o criado-mudo e uma mulher de vestido longo e avental, com um chapelão branco para não permitir que visse muitos detalhes apareceu com uma bandeja cheia de frutas.
Oh, céus, dormi demais... tenho um compromisso agora pela manhã com meu cavaleiro.
Ele se referia, obviamente, à relação com Yohan. Aparentemente, ele estava pretendido a casar com a irmã de Tom, lady Elisa Galahad. Enquanto comia uma banana, Tom convidou Apella para a Festa do Conselho, um momento solene onde o prefeito Guss Nossin oficializaria a criação do Novo Conselho.
Não preciso nem dizer que é melhor não contar a ninguém o que viu aqui, não é, minha flor de lis?
- ***
Khaled
Grandes salões de baile, cortes refinadas, tavernas agitadas e metrópoles lotadas são o domínio dos bardos. Sem contato com seu pai, um gênio caridoso e gentil, mas muito ausente, Khaled encontrou nas baladas dos bardos o seu lugar. Precisava, então, sair de sua espaçosa casa no meio do nada em Petrynia para conhecer o mundo. Sua mãe fizera o básico: lhe ensinara como as coisas funcionavam, contou muitas lendas e mitos sobre grandes heróis, aventureiros, vilões, tesouros perdidos. Seus amigos e os criados também, com suas crendices, superstições, adoração aos deuses. Além disso, aprendeu a se virar também no combate com Adib, um velho e leal fiel servo de seu pai.
Mas a maioridade havia chegado, o prazo havia acabado e Khaled se viu no meio de uma estrada suja e fria. Uma das primeiras coisas que aprendeu em sua curta carreira de aventureiro era que as histórias e as baladas geralmente davam conta de falar de maravilhas, mágica e mistério. A realidade, entretanto, tinha outros detalhes, notas de rodapé de uma história épica. Havia dor de barriga, fome, minotauros escravistas e ladrões de beira de estrada. Além de escaramuças entre kobolds e goblins ao longo da costa oeste de Arton, que agora se chamava Império de Tauron.
Em um dia, depois de muitos meses de necessidade, Khaled ouviu falar de um Conservatório de bardos, um colégio famoso nas regiões centrais de Arton onde o bardo Mordred lecionava a arte da música. Versado no alaúde e na flauta, o jovem qareen não perdeu tempo e conseguiu se juntar a uma caravana até Gorendill, uma grande cidade portuária do reino de Deheon, o mais importante reino do Reinado. Seria bom deixar as dificuldades e os mau encarados minotauros para trás...
Gorendill despontou sob um céu aberto com um Azgher gentil derramando calor ameno. A chegada do outono fazia as ruas tingirem-se do marrom e amarelo das folhas. O Conservatório Twitight era um prédio largo, embora de pouca altura. Havia um enorme pátio dentro de suas dependências, espaço para dormitório e espaço para as aulas. Ali, Khaled se viu em casa. Aprendeu mais histórias, refinou suas técnicas musicais, afinou seus acordes, reformou sua flauta.
Até que, meses depois, o próprio Mordred o chamou para uma conversa nos corredores do Conservatório.
Você é um dos nossos proeminentes alunos, Khaled. E por isso, vou te colocar na banda que tocará na Festa do Conselho. Você sabe, os nobres que vão se tornar os novos conselheiros da cidade. Eu mesmo estarei lá fazendo minha parte política, bajulando os novos conselheiros... sabe como é, com Guss era mais fácil dialogar, mas não conheço esses novos conselheiros. Vá, faça sua parte, toque bem, toque bonito e faça o nome de nosso Conservatório.
Nota do Mestre:
Esta é uma pequena introdução aos personagens na nova trama. Em seus posts, escrevam sobre de onde vieram, como avaliam as informações passadas e uma ação final - que pode ser simples - para dar sequência à essa pequena introdução.
A ideia de "Encruzilhadas" não é oferecer uma aventura plena, mas servir de ponte para a próxima aventura Briga em Família.
Dados dos Personagens
Apella Moore <> PV: 30/30; PA: 1; CA: 16; PM: 10/0; Balas: 10 <> Canalizar Energia Positiva: 6/6 <> Magias Preparadas: arma mágica, criar água, curar ferimentos leves, curar ferimentos leves, espírito animal I, objeto aleatório, passos longos, passos longos, imbuir cura acelerada <> Condição: Normal
Sir John Lessard <> PV: 39/39; PA 1; CA: 21; PE: 3/3 <> Orgulho: 4/4 <> Condição: Normal
Khaled <> PV: 18/18; PA 1; CA: 13; PM: 11/11; Virotes: 30 <> Música de Bardo: 9/9 <> Voo: 1/1 Condição: Normal